O Mother Jones Media realizou uma interessante entrevista com os produtores executivos de ‘Thrones’ na última quarta-feira. O repórter sem dúvida é um fã dos livros que resolveu questionar alguns pontos polêmicos como a fidelidade ao texto original, a resposta dos fãs a isso e o trabalho de adaptação de maneira geral. Alguns pontos já havíamos visto em outras entrevistas, mas a leitura vale a pena. Segue a tradução integral:
Então, o que os motivou a adaptar o trabalho de Martin para as telinhas?
B&W: A leitura dos livros é uma experiência viciante. Nós tivemos essa noção de que uma adaptação da HBO poderia replicar isso. Basicamente, queríamos ser os caras a topar fazer isso.
Quanta obrigação vocês sentem em relação a material original?
B & W: Não temos nenhuma restrição contratual com relação à narrativa. Mas buscamos esses livros e trabalhamos para que virasse uma série por quase quatro anos antes de chegarmos a filmar o piloto. Abrimos mão de outras oportunidades, porque amamos os livros e queríamos fazer-lhes justiça. Então, para nós, essa é a adaptação dos livros de acordo com nossas noções de justiça, que não são as mesmas noções dos fãs mais fundamentalistas dos livros . O que é bom para nós, porque se os fundamentalistas estivessem fazendo essa série, não haveria uma série.
Os livros têm muito mais personagens do que você jamais poderiam incluir em uma série. Houve algum deles que vocês acharam particularmente doloroso de cortar?
B & W: Não. Como você diz, sabíamos que não havia maneira de incluir todos. Muitas vezes fundir vários personagens pode ser mais divertido do que escrever cada uma separadamente.
O que os fãs de Martin acham do trabalho de vocês, de modo geral?
B & W: David Ben-Gurion disse uma vez que onde há dois judeus, há três opiniões e isso se aplica a um grupo que lê e relê com a paixão os textos sagrados do Talmude. Então, acho que a resposta mais simples é: “Varia”. Mas estes dois fãs do Martin aqui amam a série, e em nossa pesquisa reconhecidamente não-científica da base de fãs dos livros, o nosso trabalho parece ter sido recebido com mais amor do que ódio, o que nos faz felizes.
Como é que uma dupla de “romancistas que se transformaram em roteiristas” conseguem se transformar em “show-runners,” profissão que foi resumida pelo colunista do Los Angeles Times como” uma das mais incomuns e exigentes descrições de emprego do mundo do entretenimento“?
B & W: Há uma frase de Beckett, bem, há um milhão de grandes frases de Beckett, mas há uma relevante: “Tente novamente. Fracasse novamente. Fracasse melhor.“. Isso descreve a nossa experiência de aprendizagem no trabalho.
Contem-me um pouco sobre o dia-a-dia de vocês?
B & W: Em um dia de produção nós começaríamos assistindo a primeira montagem (geralmente a principal) para ver como a cena está se saindo e se precisamos fazer quaisquer alterações. Para cenas particularmente difíceis nós ficamos no set o dia todo. Caso contrário, podemos gastar algumas horas revisando páginas, ou em reunião com diretores dos próximos episódios para ler roteiros, ou sentados com a equipe de VFX ou com o departamento de arte para rever artes conceito, ou ir para o departamento de figurino [com a designer de Michele Clapton] para olhar as novas criações.
Suponho que a resposta a Game of Thrones ultrapassou as suas expectativas?
B & W: Quando a HBO estava pensando se deveria ou não aprovar a produção do piloto, continuavamos a dizer-lhes que o show seria um grande sucesso. Mas nunca tinhamos feito um programa de TV antes, então nós realmente não sabíamos do que estávamos falando. Não sabíamos mesmo. Nós pensamos que era mais provável que não, que nós estávamos sendo ridículos. No caso raro em que acabamos não sendo ridículos como imaginávamos, é sempre uma surpresa para nós.
Por que vocês acham que a série atrai um público além do de fantasia?
B & W: As clássicas séries da HBO (Os Sopranos, Deadwood, The Wire) pegaram gêneros estabelecidos e cansados e encontraram uma maneira de revigorá-los. Nunca houve um gangster tão complexo e fascinante como Tony Soprano, ou um vilão western tão compulsivamente assistível como Al Swearengen, ou uma temporada tão bela quanto o quarto ano de The Wire. Com GoT, esperávamos apelar para as pessoas que nunca ouviram falar de zumbis e wargs, que não conheciam uma espada bastarda de uma alabarda. No final do dia, é tudo sobre os personagens. Tyrion Lannister, Arya Stark e os muitos outros personagens nos livros de George e na nossa série não são amados porque eles vivem em um mundo onde os dragões são reais. Eles são amados porque eles vivem coisas pelas quais nós passamos: eles se sentem como estranhos, mesmo quando pertencem ao lugar. Eles amam as pessoas que não os amam de volta. Eles têm medo do poder, eles anseiam pelo poder, eles acabam tendo esse poder apesar de tudo o que eles representam, e acabam gostando disso.
Com qual personagem vocês mais se identificam?
Benioff: Theon Greyjoy, especialmente como é interpretado pelo Alfie Allen. Em alguns aspectos, ele é o personagem mais complicado em uma história repleta de personagens complexos. Ele está assustado e sozinho e inseguro e coloca uma máscara nessas vulnerabilidades com bravatas, desprezo e arrogância. Ele me lembra de pessoas de 25 anos de idade que eu conheci. Ok, ele me lembra do cara de 25 anos de idade que eu era. Mas sem esse lance de assassinar crianças.
Weiss: Todo mundo começa a temporada como Tyrion, mas no final da produção, somos todos Hodors.
As coisas ficam mais fáceis a cada temporada?
B & W: As coisas não ficam mais fáceis. Nós pensamos que seria assim. Mas elas não ficam.
Como podemos comparar a 3ª temporada em relação as duas primeiras?
B & W: É definitivamente a mais minuciosa. Estamos filmando em cinco países, com três unidades e o maior elenco do que já tivemos. Não é DeMille, mas na época de DeMille não havia replicação multidão em VFX, não é?
Vocês tiveram que abandonar algum elemento, porque ele era muito caro, ou tecnicamente assustador?
B & W: Nós desenvolvemos um bom senso do quanto a nossa fonte é grande, portanto, cenas ou elementos que estão completamente fora do nosso alcance normalmente não passam do estágio inicial de concepção. Há sempre cenas que precisam sair, mas geralmente não por serem muito elaboradas.
Vocês disseram em uma entrevista que estavam morrendo de vontade de chegar ao livro 3 da série, pois há uma cena que, se fossem capazes de produzir, basicamente fariam suas vidas mais significativas. Como foi?
B & W: Achamos que conseguimos, mas ainda não sabemos.
Que novos personagens e atores que você está mais ansioso para nos mostrar?
B & W: Escolha difícil, mas, se tivesse que escolher um diríamos Dame Diana Rigg como Olenna Tyrell. Esperávamos que ela fosse incrível, mas ela foi melhor do que isso.
Quais são os prós e os contras do uso de diferentes diretores em diferentes episódios?
B & W: Fisicamente não há como utilizar o mesmo diretor para todos os episódios, porque nós filmamos duas ou três unidades por dia ao mesmo tempo. Quando filmamos na Croácia e Marrocos também estamos filmando simultaneamente na Irlanda do Norte. Se fizessemos como um longa-metragem com um diretor, teríamos que ter o dobro do tempo em temporada e o dobro do nosso orçamento.
Você voltaram recentemente da Islândia. Quais imprevistos que vocês passaram por lá?
B & W: Certa vez estávamos filmando em um lago congelado e ouvimos uma rachadura enorme e toda a equipe correu para a praia. Isso foi divertido. E há o fato de que nossos membros islandeses da equipe nos forçaram a comer tubarão fermentado. Mas o maior desafio são as 37 peças de roupa que você precisa vestir de manhã, se você não quiser ser congelado até o final do dia.
Ok, eu gostaria de saber a opinião de vocês em relação ao conteúdo sexual. As pessoas realmente prestam mais atenção aos pontos da trama intrincados entregues durante uma cena de sexo?
Benioff: Pessoalmente, eu presto menos atenção a pontos da trama intrincados entregues durante cenas de sexo.
Weiss: Sim, essa é uma linha difícil de se caminhar. Sexo pega a atenção das pessoas. Mas uma vez que tem a sua atenção, ele tende a não deixá-la.
Percebi que Game of Thrones pode durar oito ou nove temporadas. Isso significa colocar em espera a escrita do romance por uma década?
B & W: Sim, se vivermos tanto tempo e a HBO continuar querendo fazer a série. Nós temos a oportunidade de contar uma história coerente, que tem a duração de 80 horas. E, enquanto uma tela desse tamanho apresenta todos os tipos de problemas de narrativa, ela também nos permite passar mais tempo com esses personagens que amamos, como jamais conseguiremos novamente. De vez em quando nós paramos cinco minutos para pensar sobre essa questão dos livros. Mas, principalmente, ficamos apenas felizes quando temos que ler um deles.
Finalmente, gostaria muito de saber o que vocês acham sobre estes de anúncios que produzimos época de eleição passada …
B & W: Esse anúncio levanta uma série de questões interessantes para a campanha Targaryen, e ainda veremos uma resposta pra ele.
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