Depois de saírem das mãos trêmulas de Vanessa Taylor, os personagens da série retornaram para as mãos de seus guardiões originais, David Benioff e D. B. Weiss, que parecem saber um pouco melhor o que fazer com cada um deles. Além de ser responsável pelo roteiro, Benioff também atuou como diretor pela primeira vez, e devo dizer que o resultado não foi nada desapontador. Embora não tenha sido perfeito como o aclamado “Blackwater”, “Walk Of Punishment”foi, sem dúvidas, um dos melhores acontecimentos da série até então. Ou, pelo menos, um dos mais controversos.
O texto abaixo NÃO CONTÉM SPOILERS DOS LIVROS.
Vamos começar falando da abertura? Sim, por que a tensão já começa por aí.
As características principais dos novos personagens ali apresentados são ressaltadas por meio de um recurso simples: os disparos das flechas, que evidenciam o despreparo de Edmure e a experiência de seu tio, o Peixe Negro, que sabiamente examina a direção do vento antes de atirar, e acerta.
Varys e Mindinho sempre estão disputando entre si, por isso ambos esperavam sentar-se mais perto de Tywin. A Aranha faz o primeiro movimento, mas, por ser mais comedido, acaba sendo ultrapassado pelo oponente sem escrúpulos enquanto Pycelle senta mais longe. Cersei, como boa filha que é, carrega sua cadeira e a coloca ao lado do velho, deixando a última para Tyrion que, como sempre, é o mais atrevido, e coloca a cadeira em frente a do pai, claramente desafiando-o a lhe dar a atenção que merece, ainda mais depois da conversa nada amigável que tiveram em “Valar Dohaeris”. E o anão é quem quebra o silêncio na sala.
Vocês lembram-se da Lysa, certo? A irmã de Cat, tia de Robb, viúva de Jon Arryn e mãe do pequeno Robin. Aquela que manteve Tyrion como prisioneiro no Ninho da Águia durante alguns episódios da primeira temporada. Aliás, Tyrion foi parar lá por culpa do próprio Mindinho, que aparentemente mentiu para Cat a respeito da adaga usada para assassinar Bran em “The Kingsroad”. Será que ele esqueceu?
No primeiro episódio da temporada, quando o Duende exigiu que o pai lhe entregasse Rochedo Casterly, Tywin deixou claro que lhe daria tudo, menos aquilo, e nesse “tudo” estaria incluído um novo cargo. Bem, um Lannister sempre paga as suas dívidas, e Tywin então cumpriu sua promessa, tornando o filho o novo Mestre da Moeda depois da saída de Baelish. Seus inimigos declarados, Cersei e Pycelle, se divertem com aquilo, pois tem certeza de que Tyrion falhará em sua nova missão. Mal sabem eles que essas duvidas só o tornam ainda mais forte. Ele ama desapontá-los.
A estrela da noite nos foi apresentada pela primeira vez na sequência seguinte. Não, eu não estou falando do Regicida, mas sim da canção “The Bear And The Maiden Fair” (O Urso e a Bela Donzela), que nessa primeira vez foi entoada pelo vocalista da banda Snow Patrol, Gary Lightbody, em uma participação como um dos membros do grupo do Locke. Essa versão da música foi um pouco diferente daquela que ouvimos no final e que causou uma discussão enorme entre os fãs. Só que vou falar dela mais pra frente. O foco agora está no diálogo entre Jaime e Brienne. É sempre tão natural eles dois interagindo um com o outro. De certa maneira, a Brienne passou boa parte da sua vida tentando fugir do que era, uma lady de sangue nobre. Mas o Jaime sabia que naquela noite as coisas seriam diferentes, e ela também. Por mais forte que fosse, ela não poderia lutar contra um bando inteiro sozinha. É aí que seu companheiro a aconselha a se entregar e deixar que eles façam com ela o que bem entendem, contanto que ela fique viva. Isso nos faz refletir um pouco sobre a condição das mulheres em Westeros.
Foi a primeira vez que Jaime mostra alguma preocupação pela sua antiga captora… Ou talvez seja só pena. No fim da conversa a Brienne pergunta ao Jaime o que ele faria se fosse uma mulher, e isso levantou outra questão perturbadora na minha mente: Se Jaime fosse mulher, ele seria outra Cersei? O que vocês acham? Imaginem duas figuras daquela no mesmo continente. Pobre Tyrion…
Arya e a Irmandade ainda encontram-se na mesma estalagem em que estavam no capítulo anterior, que por sinal é a mesma estalagem onde ela esteve com o pai e a comitiva do rei Robert Baratheon quando todos estavam indo para Porto Real no segundo episódio da série. Tanto que ela confronta o Cão de Caça perguntando se ele recordava-se daquele dia. O dia em que ele matou o antigo amigo dela, Mycah, o filho do carniceiro, a mando do Joffrey e da Rainha.
Maisie Williams, Ben Hawkey e Joe Dempsie sempre foram ótimos juntos, mas na cena de despedida do Torta Quente eles se superaram, talvez por ter sido a cena mais relevante deles como um trio e não apenas focada na Arya. É bacana perceber o quanto eles se tornaram amigos mesmo em meio à tantas desgraças.
Pelo visto, os rumores que a Arya espalhou a respeito do irmão na segunda temporada realmente chegaram aos ouvidos dos Lannisters. O jovem Martyn, prisioneiro de Edmure em Correrio, pergunta se eles são mesmo verdadeiros e a Talisa confirma. Não há muito o que discutir aqui, a cena é bem curta e direta. A participação desses garotos será importante mais tarde.
Assistir a Michelle Fairley atuando é sempre um prazer, ainda mais agora que ela está muito bem acompanhada pelo Clive Russell. Eles parecem mesmo ser da mesma família. Aqui nós ficamos sabendo um pouco sobre a relação deles com o falecido Hoster e vemos a Catelyn finalmente assumir que não acredita inteiramente na sobrevivência de Bran e Rickon. Sua última esperança de reunir o restante de sua família agora reside nas mãos de Brienne… Tá, e nas mãos de Jaime, o que faz com que suas chances tenham sido consideravelmente reduzidas depois desse capítulo.
Enquanto Starks e Lannisters estão em guerra, em muitos lugares do mundo absolutamente nada está acontecendo… É verdade em Pedra do Dragão. Lembram quando eu disse lá em cima que David e Dan sabiam o que fazer com os personagens? Isso parece não ter funcionado bem com Stannis.
Ou a Melisandre é realmente muito, mas muito boa de cama – uma versão feminina do Pod – ou os nossos roteiristas esqueceram-se de como era o Stannis. Um homem forte que não se curvava perante nada e que no episódio final da última temporada quase matou a sacerdotisa, agora aparece implorando de maneira ridícula para que ela não o deixasse. Sinceramente, acho que a única coisa que salvou essa cena foi a boa interpretação dos atores – que estão entre os melhores do elenco, em minha opinião. Mas se o texto continuar seguindo essa linha “- Eu vi nas chamas que tal coisa vai acontecer… – Beleza.”, temo que no futuro nem mesmo isso seja o suficiente.
Depois das boas cenas de abertura da temporada envolvendo a Patrulha, Jon e os selvagens, esse núcleo todo também ficou meio paradão. Quando o exercito de Mance chega ao Punho dos Primeiros Homens e encontra apenas cavalos mortos onde a águia de Orell antes tinha visto homens, ele deduz que todos tenham virado corpos de olhos azuis. Aproveitando-se disso, o rei selvagem decide enviar Tormund e mais alguns homens, incluindo Jon, escalarem a Muralha e esperarem pelo sinal para que assim ataquem Castelo Negro juntos de ambos os lados. Essa cena serviu mais como uma promessa daquilo que ainda está por vir. No mais, o movimento da câmera usado para mostrar a obra de arte dos Caminhantes Brancos do alto a medida que se afasta do grupo no centro foi realmente muito bem pensado… Always the artists.
Não muito longe dali, os homens da Patrulha retornam á casa de Craster, o selvagem que lhes ofereceu abrigo no início da segunda temporada. A piada feita com Sam durante a refeição é a deixa para que ele saia da cabana e reencontre a Gilly – uma das filhas/esposas do velho por quem ele se apaixonou, que justo nesse momento está dando a luz ao seu filho. Isso mesmo, é um menino. E em “The Night Lands” nós descobrimos o que o Craster faz com os meninos…
Outro ponto alto do episódio foram as cenas do Theon. Depois de ser finalmente libertado pelo espião de Yara, ele foge em direção a ela. Só que a felicidade dele nunca dura por muito tempo. Os homens logo o encontram e começam a caçá-lo no meio da mata como um animal. Devo dizer que essas foi uma das mais tensas cenas de perseguição a cavalo que eu me lembro de ter visto. Muito bem filmada. Até que ele é capturado, e quase estuprado, antes de ser novamente salvo pelo cara das vassouras, que se revela um arqueiro muito superior ao Edmure, quase um Peixe Negro.
Alguém mais achou aquilo um pouco estranho? Aliás, até então tudo tem sido um pouco estranho quando se trata deste arco em particular.
O alívio cômico ficou por conta de Tyrion, Bronn e Podrick. E a sequência também serviu para que a HBO preenchesse a cota de nudismo deste e do último episódio. Mas além das belas visões de Ros e das novas meninas do Mindinho – dentre as quais estava inclusa a famosa contorcionista Pixie Le Knot, responsável pelo nó Meereenense (piada interna dos roteiristas que apenas aqueles que leram os livros puderam entender), houveram outros pontos importantes pra história nos diálogos travados entre os personagens.
Primeiro, Tyrion confronta o Mindinho a respeito de Barra (a pequena filha bastarda do rei Robert, que foi assassinada dentro do bordel em “The North Remembers”), e este, por sua vez, manda uma indireta a respeito de Shae. Um atirando os podres do outro, é sempre assim.
Na cena seguinte ele descobre que o Mindinho esteve pegando muito dinheiro emprestado do Banco de Ferro de Braavos, que financia os inimigos do beneficiado pelo empréstimo caso este não seja pago. Mas a maior descoberta vem depois, quando Pod volta do bordel e devolve a Tyrion o dinheiro que ele deu ás meninas. Ou seja: Elas gostaram tanto do rapaz que não aceitaram ser pagas pelo tempo que passaram com ele. Uma pena que a cena é cortada antes que nós possamos escutar quais os segredos do mestre.
Acho que faltou um pouco de explicação sobre o que aconteceu com a Daenerys depois que tentaram assassina-la em “Valar Dohaeris”. Mas ok. Ao invés disso já nos mostram ela andando em direção á estátua gigante da harpia, uma das coisas mais lindas que já vi na série em termos de CGI, onde ela se encontrará com Mestre Kraznys, acompanhada de seus dois conselheiros. Antes de chegar, Sor Barristan, que se demonstra contra as opiniões de Jorah a respeito dos Imaculados, fala a khaleesi sobre seu falecido irmão, Rhaegar, dizendo que ele foi uma das pessoas mais gentis que conheceu, amado e respeitado pelos seus homens. Um versão totalmente diferente da que ouvimos do Robert na primeira temporada.
Dan Hildebrand é ótimo como Kraznys, e os roteiristas acertaram quando lhe deram uma nova oportunidade de aproveitar-se da aparente ignorância de Dany em relação a sua língua pra chacotas com ela. Embora curta, a negociação que se segue também é muito bem escrita e cheia de minucias, até o momento fatídico quando Daenerys oferece um dos seus dragões em troca dos 8 mil soldados escravos de Astapor… E oferece o maior e mais forte deles.
Alguém mais se divertiu com a Dany reprimindo o Jorah apenas com o olhar?
Como prova da boa vontade do Mestre, Dany também exige que ele lhe entregue a belíssima Missandei, afinal, depois que suas aias morreram em Qarth, ela precisa de alguma companhia feminina além dos dois velhos barbudos. Além disso, a Missandei sabe falar a língua local tanto quanto a língua comum de Westeros. Eu quero ver o Kraznys fazer piadinhas da próxima vez… Mas peraí… Quando a Missandei fala “Valar Morghulis” a Dany responde com o significado: “Todos os homens devem morrer”. Talvez ela entenda mais de valiriano do que o Kraznys imagina.
Nessa sequência também viemos a saber o significado do nome do episódio. Walk Of Punishment, ou Caminho da Punição, é o nome dado ao trajeto onde escravos que desrespeitaram seus mestres de alguma maneira são crucificados e expostos para que os outros escravos vejam e saibam o que acontecerá com eles caso cometam os mesmos “delitos”.
Mas fora isso, vimos muito sobre punição nesse episódio, não? Theon pagando pela traição cometida, o Cão sendo arrastado como prisioneiro no mesmo lugar em que matara o filho do carniceiro e Jaime, que no final perde a mesma mão com a qual empurrou Bran da torre em “Winter Is Coming” e (na verdade ele empurrou o Bran da torre com esquerda, mas o corte serviu como punição pra isso também) a mão da espada com a qual perfurou a barriga de Aerys Targaryen, ganhando assim o apelido de Regicida.
E que cena, meus amigos! Eu não preciso nem falar das atuações que foram excelentes, incluindo a do Noah Taylor (Locke).
Depois de salvar a honra de Brienne, talvez a única atitude admirável dele durante toda a sua trajetória, ele recebe uma mão cortada como pagamento. Game Of Thrones tem dessas… A exemplo de Stannis, que cortou as pontas dos dedos de Davos por ele ser contrabandista mesmo depois deste ter salvo sua vida no cerco á Ponta Tempestade alegando que “Uma boa ação não apaga aquelas ruins”…
Quem sabe agora o Jaime também não se regenera, não é mesmo?
Depois do corte, a versão de “The Bear And The Maiden Fair” gravada pela banda Hold Steady começa a tocar nos créditos finais, o que dividiu a opinião dos fãs por ser uma música muito moderna para estar na trilha sonora de uma produção medieval. Eu particularmente gostei, e entendi qual foi a intenção dos produtores, que eles explicaram aqui.
Enfim, como eu já disse e repito: “Walk Of Punishment” foi um dos melhores momentos da série desde a sua estréia, com diálogos marcantes, cheios de peculiaridades, e tomadas sensacionais. Não foi a toa que bateu todos os recordes de audiencia no último domingo.
Mas agora eu também quero saber a opinião de vocês… O que acharam? O espaço de comentários está aí pra isso.