O texto a seguir possui spoilers do livro A Tormenta de Espadas que ainda não foram abordados na série de TV. Leia por sua conta. Foram adaptados para este episódio cenas dos capítulos Jaime IV, Tyrion II, Samwell II, Arya VI, Daenerys III e Tyrion X (este último de A Fúria dos Reis). Para encontrar o conteúdo geral destes capítulos, clique aqui.

Para se vingar, é necessário mudar aquilo que você é? Será mesmo que não há elegância na mostruosidade dos nossos atos quando nos propomos a praticar a vingança? Neste, que foi o episódio mais bonito de Game of Thrones desde Blackwater, assistimos a um belíssimo mural de temas e ações bem filmados e bem construídos com essa temática da vingança. Com direção do inspirado Alex Graves que estreia em Game of Thrones, e roteiro de David e Dan (não levem isso tão a sério porque nessa temporada a montagem das cenas foi modificada na edição final, então em todos os episódios temos cenas escritas por várias pessoas diferentes), “And Now his Watch is Ended” deixou todo mundo sem fôlego e emocionado. É a primeira vez na série que eu vejo que quase todas as cenas, embora com tons emocionais tão diferentes, tenham ficado tão bem ao lado uma das outras.

Na primeira cena somos apresentados a condição de Jaime, que tenta se equilibrar em seu cavalo em um estado febril e delirante de dor e humilhação. Toda a estrutura medieval de ter um membro amputado e estar em um ambiente hostil, sujo e violento é insana. É aflitivo e grotesco. É uma linha narrativa viva de construção de personagem, como raramente vemos na série, apesar de que no começo da cena e em alguns outros momentos, Nikolaj é bem passivo em relação a dor que ele deveria de fato estar sentido. Mas, apesar de tudo isso, a cena foi realista demais e muito impactante, bem como é descrito em Jaime IV, capítulo que serviu de base para todas as cenas Jaime/Brienne deste episódio. É nesse capítulo que Brienne é quase estuprada novamente, que Jaime fica gritando “safiras!” e que o regicida narra o dia em que Aerys queimou Lorde Rickard Stark vivo enquanto Brandon morria tentando salvá-lo. E também é nesse que eles finalmente chegam a Harrenhal, que sabemos que acontecerá no capítulo que vem.

E o horror no olhar e na voz de Brienne, que traduz o peso de carregar o mundo nas costas. Todos esses temas que são tão fortes no arco destes dois personagens são tão genuínos que nenhuma frase de efeito parece ser maior do que eles. E novamente, isso é algo bastante raro nesta série. E pensar que pra ela o pior ainda está por vir é devastador. E de novo pessoal, essa edição de som nas cenas de ação estão realmente boas! Quando puderem assistir novamente, prestem atenção no som das espadas, socos, chutes. É muito bem feito.

Interessante que essa história do Varys tenha saído ali dos confins de A Fúria dos Reis (adaptação de Tyrion X). E isso me lembra o quanto esses dois personagens ficam próximos nos livros, por questão de necessidade, interesse mútuo (na época Tyrion era Mão), o lance com Shae e Symon Língua de Prata e etc. Mas na série temos esse momento “segredo de seus olhos“, que coloca sem dúvida o personagem de Varys em uma perspectiva nova para aqueles que não entendem muito bem qual é o papel dele na história até então, e do que ele é capaz. Por que… bem, sua relação com Tyrion começa em A Fúria dos Reis e todo mundo sabe que na temporada passada algo da essência da maioria dos personagens se perdeu. Em pequenas cenas como essa eles tentam encontrar essa essência. Mesmo assim, vale lembrar que no personagem de Varys dos livros, há uma áurea de mistério muito grande. Talvez em relação a sua origem, que é contada por ele e pode ser apenas parte da verdade. Mas principalmente por quem Varys é hoje, e o que ele faz por trás das paredes, sussurrando e soltando seus passarinhos. Porque é necessário eliminar todo esse sensacional recurso da história pra ousar produzir uma cena em que ele claramente mostra o que quer para Lady Olenna, Ros e Tyrion.

E uau, de novo uma cena com espelhos… Algo como “este é quem eu sou” ou “olhe também e se verá refletido aqui, no mesmo espelho que eu, com as minhas mesmas maluquices de eunuco”.

Toda a história da castração de Varys, o misticismo, a voz, o bruxo e a entrega da masculinidade tem muita semelhança com o fato de que Craster entregava seus filhos homens aos White Walkers, né? Weird.

 

Uau. Esse sonho do Bran foi sensacional. Mais uma cena que não tem no livro e que ficou ótima. Cat ali representando as últimas memórias que ele teve da mãe, misturada com a saudade de casa e o horror de cair. O fato de que Bran gosta de escalar e até mesmo se arriscaria a fazer isso novamente. O simbolismo de que, pra “voar”, Bran terá que se desapegar de muitas coisas e tudo mais. Todo esse arco de Bran começa a representar um pouco os capítulos dele em A Dança e eu me arrisco a dizer que, se algum dia a série começar a mostrar flashbacks da história, será através dos sonhos dele. Só acho que Jojen sonhar junto dele ainda é um conceito esquisito pra mim. Eu pessoalmente não gostaria que ninguém se infiltrasse nos meus sonhos. Sem Bran começar a se interessar por Meera de maneira mais expressiva, Jojen também invadirá seus sonhos? Isso é… estranho. Sei lá.

Podrick Pane, Deus do Sexo. Isso não pode ser algo gratuito. Eu me recuso a acreditar nisso. Ros dizendo que foi algo “difícil de descrever”… prefiro mesmo acreditar que há algo aqui, mesmo que não tenha. Talvez a cena só tenha servido pra mostrar que TUDO chega aos ouvidos da Aranha. Mas aí ficamos sabendo que Mindinho está com a cabeça em outro lugar e se preparando para ir ao Ninho da Águia. Esse lance do inventário do navio foi muito legal. Metade das fugas aluciadas em As Crônicas de Gelo e Fogo teriam sido evitadas se em dado momento alguém apresentasse o inventário dos navios aos Lannister, por exemplo.

É muito triste ter que aprender história com Joffrey. Mas é MUITO LEGAL conhecer o Grande Septo de Baelor por dentro. Que design de interiores inspirador! É uma mistura maluca de vários templos e culturas dentro de um só lugar. E ele é muito maior do que várias locações das cenas que vimos até agora. Acho que boa parte dessa cena é CGI e que daqui pra frente, muitas cenas se passarão nesse cenário, lembrando que O Festim dos Corvos é basicamente um livro que contempla as religiões.

 

Enquanto Margaery precisa mentir pra ser aceita, é muito bacana como Cersei e Olenna apesar de tudo são estritamente sinceras uma com a outra. Cersei não poupa esforços pra falar sobre como Robert mereceu o que teve, e Ollena não poupa ao dizer na cara da rainha que seu filho provavelmente vai morrer, que ele vai merecer e que provavelmente vai ser a própria Ollena que vai dar um jeito nisso. Isso é, no mínimo, brilhante. Não só a cena, como a cara que Cersei faz.

Eles fecharam o septo para que o rei e a rainha o visitassem, certo? Parece um lugar muito bem conservado para toda essa gente… E outra coisa. Embora a cena da revolta durante a partida da Myrcella seja bastante acurada, o povo de Porto Real não culpa Joffrey necessariamente pelos problemas do reino. Ele é amado por parte do povo. O povo odeia mais Tyrion do que ele, algo que infelizmente não tivemos a oportunidade de ver na tela no ano passado. Quem sabe agora que Tyrion é mestre da moeda as coisas mudem…

O arco de Theon ficou mais claro, finalmente. Roose pediu que o filho bastardo capturasse Theon, e isso foi exatamente o que ele fez. Eu conheci o Alfie Allen ontem de manhã e tenho algo a dizer: não é possível que Theon e Alfie sejam a mesma pessoa, o que torna o ator uma das coisinhas mais brilhantes da televisão. A gente sempre tem essa sensação de que o Theon é um porra louca, e de que o ator também é. Assim como Osha e Natalia Tena, que também conheci pessoalmente e que, nesse caso, é bem verdade. Mas Alfie não, Theon não está nele de graça, mas ele cria isso na TV. Nessa cena em que ele conversa com o “garoto”, ao observar o semblante do personagem e o jeito de falar e o jeito de olhar… é outra pessoa. É MUITO encantadora a maneira como Alfie atua.

Pelo Sete, Theon vai sofrer muito nas mãos desse garoto. Essa série é cruel. E novamente, assim como nos livros, o bastardo Bolton terá esse segredo de Theon, de que Bran e Rickon estão vivos. E ah, algo muito intrigante: o fato de que Theon realmente achou que aquele lugar fosse Deepwood Motte (Bosque Profundo), lugar que realmente percente a irmã dele nos livros até A Dança.

É importante é apontar o quanto Brienne coloca na cabeça de Jaime a
sementinha da vingança, e é como a relação dos dois vai se fortalecendo. Viva, fique firme. Viva e vingue-se. O que é basicamente a mesma
mensagem que Tyrion busca ao procurar Varys neste episódio, o que Arya
dá de presente a Sandor, o que Daenerys “dança” na Baía dos Escravos.

Jaime continua sendo o cara que aleijou Bran e Theon continua sendo o cara que matou os filhos do moleiro. Há realmente redenção pra isso, pessoal? No caso do Theon a coisa é realmente muito mais assustadora, pelo que ainda vai acontecer com ele. Mas qual é essa mágica que nos faz torcer por Jaime, no final das contas?

Fico pensando que essa redenção dos personagens é muito curiosa, e é um tema tão recorrente, né? É como se, no final do último livro o R. R. Martin explicasse que só escreveu essa história porque matou uma criança sem querer anos atrás e, através dos livros, gostaria que as pessoas soubessem o quanto um crime desses pode ser ok, porque há coisas maiores no mundo do que o assassinato de crianças.  (E daí ele foge para as Bahamas e nunca mais é visto.)

Tywin está fazendo tudo o que pode Cersei, TUDO o que pode pra ter Jaime de volta. Ah, a vingança. Veja aqui como as duas cenas que mostraram ele escrevendo as cartas do Casamento Vermelho são idênticas. Nas duas, Tyrion e Cersei pedem a ele coisas que são superficiais pra ele em um momento em que ele está tentando ganhar a guerra com lindas cartinhas. Quanto a tratar os filhos desse jeito, bem, ele tem suas razões. Margaery está sendo esperta mas Cersei deveria estar sendo mais. É isso o que Tywin quer que ela entenda, e isso é o mínimo que ele espera dos filhos. Mas é interessante lembrar da cena do livro em que Joffrey começa a destratar o avô, chamá-lo de covarde por ter virado a casaca contra Aerys. Será que a TV mostrará isso?

 

É bacana a maneira como a Diana Rigg dá vida a Olenna Redwynebrilhantemente, cheia de espinhos, e sem deixá-la caricata como é nos livros (o que não é um problema, mas na TV ficaria bastante alegórico). Eu curto bastante as brincadeiras com os espectadores que existem no roteiro, como essa “zoeira” que ela faz com o símbolo da própria casa. Ninguém (ok, algumas pessoas) escolhe os Tyrell como casa. As pessoas preferem mesmo ser leões, lobos e lulas gigantes e dragões. Não há misticismo na casa Tyrell, como há nos Stark troca-peles, na religião do Deus Afogado e em uma casa que tem dragões. Não dá pra se competir com isso, e no entanto as teorias de conspiração dos Tyrell são muito vivas nos livros. O fato de que eles querem Westeros pra eles, e como são inteligentes, astutos e elegantes. E vai ser muito legal ver os Martell chegando a Porto Real no ano que vem, mostrando quem essas rosas são.Sabe o que é muito legal? Na cena em que Varys e Olenna andam pelo pátio os passarinhos cantam ao fundo, hehehe.Mas nos livros Varys jamais se alia aos Tyrell, e não move um dedinho pra ajudar Sansa. E cara, é tão mais óbvio na série que Robb Stark vai morrer. As pessoas já contam com isso nos livros também, mas na série é muito mais evidente(principalmente a partir da segunda leitura). Não acho que o personagem do Willas seja necessário e faz bastante sentido Loras não estar na Guarda Real. Quando Jaime chegar, as coisas irão mudar.

Temos duas atrizes jovens e lindas. Vamos deixá-las atuar? É claro que vamos. Sabe, eu realmente não sinto falto de ter um represeiro ou uma Árvore Coração dentro dos limites da Fortaleza Vermelha, porque isso torna as do Norte muito mais legais e exclusivas. E isso faz de Winterfell um lugar pra se querer voltar, imediatamente. E Sansa rezando em um toco de árvore mostra o que há pra ela naquele lugar, mesmo que os deuses dela sejam os da mãe, e não os do pai.

Quando Edd Doloroso fala que é bom o cheiro do Bannen queimando, ele realmente quer dizer isso nos livros. Porque ele e todos ali sentem fome, muita. Essa cena (e a do começo que mostra Rast sendo sinistro) são adaptações de Sam II acrescentando o fato de que o motim para matar Mormont é um arranjo que no livro é mostrado logo do prólogo. Adoro o Mormont, adoro o James Cosmo. Ele será eternamente o Velho Urso. E é por isso que acho que ele merecia um final melhor, com direito a uma despedida para Jorah em nome de Sam, e com mais clima. E principalmente ver alguém citar os direitos de hóspede.

E bem, vamos a Rast. Rast, o personagem que incorporou
todos os patrulheiros babacas na série. Jon já tinha dado vários paus nele. Só não entendi porque escalaram o Burn Gorman
pra fazer apenas um ou dois episódios. Qualquer um poderia ter feito o que ele
fez, e o ator é muito bom e poderia ser mais aproveitado em outras
ocasiões.

Ficaria bem mais fácil retratar a
situação se eles estivessem exaustos da fuga dos White Walkers, e
realmente famintos e congelados. Filmar na Inslândia em condições tão
perigosas e eventuais prova que a produção dessas cenas da Patrulha da
Noite está sendo muito comprometida. Tanto o núcleo de Jon quanto o de
Sam não estão sólidos. E é fato: foi impressionante o take em que Rast esfaqueia o Senhor
Comandante no chão. Bem, de repente no episódio que vem ainda veremos um
fechamento para esta cena.

Sam fugindo com Gilly e o bebê foi divertido. Os berros do bebê não só são fiéis aos livros como são realmente assustadores e irritantes. Andar com um bebê naquela neve toda e fazê-lo chegar vivo do outro lado na Muralha é a coisa mais surreal que o Martin já inventou.

Quando Beric começa a falar sobre ser um fantasma a câmera lentamente segue em direção a ele: “É isso o que somos. Fantasmas. Esperando por você na escuridão. Vocês não nos veem, mas vemos vocês. Não importa que manto usa: Lannister, Stark ou Baratheon. Se você molesta os fracos, a Irmandade sem Bandeiras te caçará. Aye.” É bacana a maneira como Gendry fica inspirado com aquilo, como Arya fica com os olhos marejados e lembra-se de Mycah e finalmente vinga-se, mesmo que essa vingança seja vazia. É como todos os nomes pelos quais ela reza. Nada daquilo vai trazer pra ela o pai e a casa de volta.O começo dessa cena foi incrível, e é uma pena ter sido jogada do meio de um episódio que não teve espaço pra isso se desenvolver. Também é uma pena a falta de mais contexto pra esse núcleo. E bem, Richard Dormer é ótimo, mas o Beric dos livros a essa altura parece mais um espantalho humano, todo remendado, né? Aqui não. Mas ok. Essa cena inteira é adaptação de Arya VI, incluindo a parte que estão indo para o Monte Oco vendados. E é nesse capítulo que a luta Cão X Dondarrion se desenvolve, coisa que veremos no episódio que vem.

Ok. Até aqui tínhamos um ótimo episódio, muitos sentimentos, sofrimentos, antecipações e deleites para os olhos. Mas a cena fundamental ainda estaria por vir, tomando aí sete minutos do episódio (enquanto o rumor era de que na verdade a cena teria muito mais tempo em tela). Dany III é um capítulo extremamente caricato, e todo mundo que o leu pela primeira vez ficou bastante emocionado. Vou me abster de fazer qualquer comparação a não ser esta: as condições culturais de Astapor. Não são somente pessoas vestindo tokar com chicotes na mão. A harpia está ali por um motivo, etc. Mas olha, que cena bonita….

Gostaria de destacar o semblante de Dany quando ela ganha o chicote. O alívio e a excitação contidos. Depois o desespero de Drogon vendo sua mãe dando as costas pra ele.

Além da língua valiriana criada pelo David J. Peterson com tanto carinho ter ficado tão líquida, sexy e autêntica na voz de uma Targaryen, Daenerys pela primeira vez se pareceu com um dragão, justo, ousado, manupulador, terrível e belo. As tomadas, a fotografia, tudo foi muito grandioso. Por mais que o fogo de Drogon ainda seja pouco perto do que vemos no cinema com dragões menores do que ele, o amor pela personagem e pela história fez tudo isso parecer perfeito. Rápido, mais perfeito.

E então, com a trilha sonora perfeita batendo nos ritmos dos nossos corações (hahaha que brega), Dany marcha para o amanhã, com seus três filhos, oito mil soldados, milhares de escravos libertos, seu urso, seu sor vovô, Missandei e seu khalasar. Mas então… onde teremos dinheiro pra alimentar todas essas pessoas, Daenerys? E sabe o que é MUITO engraçado? Depois disso começam os créditos, e então inúmeros nomes de pessoas da produção da série aparecem ali, sem fim. O que me fez pensar exatamente a mesma coisa.

Depois dessa cena e a partir de agora é bem legal rever o vídeo da história e tradição de Valiria e os Dragões pra entender um pouco de onde surgiram os Targaryen, e porque Dany conhece esta língua.
[PODCAST] Não esqueça de
enviar o áudio de suas impressões do episódio para participar do
Masmorra Cast no final da temporada. Vale lembrar que você só pode
mandar um áudio durante toda a temporada, então, se você curtiu bastante
esse episódio, corre lá.

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x] Em
todas as minhas resenhas sempre garimpo imagens e gifs do Tumblr pra
ilustrar o texto. Aqui você encontrou imagens retiradas de sites como o capsofthrones.
O trabalho desses tumblrs na criação e tratamento dessas imagens é
muito bacana, bem feito, completo e especial. Não deixe de
acompanhá-los.