Demorou, mas saiu. Nesse texto eu falo um pouco das minhas impressões a respeito do episódio que foi considerado por muitos como o melhor da série desde o épico “Blackwater”, “And Now His Watch Is Ended”, que foi dirigido pelo “iniciante” Alex Graves e que mais uma vez bateu todos os recordes de audiência.
Lembrando que esse texto NÃO CONTÉM SPOILERS DOS LIVROS e é destinado principalmente para aqueles que não terminaram ou sequer começaram a leitura dos mesmos. Se você já leu ou não se importa em saber o que vai acontecer, confira a análise com spoilers da Ana, que em breve deve estar saindo.
Vamos lá:
Segundo Brienne de Tarth, o mundo real é aquele onde as pessoas perdem as coisas com as quais elas mais se importam. Nós todos sabemos que isso é verdade, especialmente quando se fala do mundo em que eles estão. Bran perdeu os movimentos das pernas, Varys perdeu seus documentos e Tyrion quase perdeu o nariz e a vida na Batalha da Água Negra. Sem dúvidas esses três estão entre os personagens mais queridos e admirados pelos fãs da saga, e nesse episódio Jaime começou sua escalada rumo ao pódio.
A primeira cena tem, claramente, o intuito de fazer com que o telespectador sinta empatia e pena do Jaime, um personagem que até então não tinha se mostrado digno de tais sentimentos. A mão foi pendurada em seu pescoço pra lembrá-lo de que ele agora não é nada além de um prisioneiro; uma moeda de troca, e o close da câmera dado sobre ela por mais de uma vez também serviu pra nos lembrar disso. Em Game Of Thrones ninguém esta salvo de coisas como mutilação ou até piores. Nem mesmo o filho de Tywin Lannister.
Mas ele ainda é um orgulhoso leão do Rochedo. Um homem que prefere morrer do que viver longe da realidade de ser um dos maiores espadachins que o mundo já viu. Já Brienne que perdeu o rei a quem servia e amava, quer viver e consegue convencê-lo disso. Ela salva a vida dele assim como ele salvou sua honra no episódio anterior, quando ela esteve prestes a ser estuprada por Locke e seus homens.
É engraçado ouvir Brienne acusar o Jaime de estar “agindo como uma maldita mulher”. Nós sabemos que ela não é uma mulher nada convencional. Então será que aquilo não passou de uma ironia do tipo “Cara, eu sou mulher e donzela, a única no meio do bando, e não estou chorando e nem pensando em desistir”? Bem, nesse caso o Jaime poderia responder: “Você não perdeu sua mão da espada e não foi obrigada a beber mijo de cavalo”.
Talvez a fala tenha sido uma demonstração do descontentamento da personagem para com sua condição natural, o comportamento submisso de algumas das mulheres “convencionais” de Westeros e o papel que elas desempenham naquela sociedade.
Outro que anda caminhando em passos lentos e dolorosos rumo à redenção é o Theon. Como telespectadores, muitos podem ter ficado com a sensação nada agradável de que os dois últimos episódios em que acompanhamos a tortura e a fuga dele não passaram de pura enrolação. Mas vamos ter paciência, algumas coisas importantes aconteceram aqui.
Acreditando que seu “salvador” foi enviado pela irmã, Theon revela que os meninos Bran e Rickon não foram mortos por ele em Winterfell. Apenas nós e os homens que o acompanhavam naquela ocasião sabiam disso.
Também vimos pela primeira vez ele se arrepender abertamente por ter traído os Starks. Mas isso aconteceu por amor àqueles que foram como sua família durante anos ou por raiva do pai que, segundo seu novo amigo, estava por trás de sua captura? Seja lá qual tenha sido o motivo, só os Deuses podem dizer se ele já sofreu o suficiente pra pagar pelos seus pecados. E dessa vez eles disseram “não”.
Em “Dark Wings, Dark Words”, fomos levados a crer que o Corvo de Três Olhos era uma representação do próprio Bran. Agora vimos o garoto tentando alcançá-lo, até que a queda o impediu. Essa foi uma clara referência à queda que o deixou sem andar em “Winter Is Coming” e uma ótima oportunidade de ver Michelle Fairley atuando já que a verdadeira Cat esteve ausente durante o capítulo, assim como seu enteado favorito Jon Snow e alguns outros personagens.
A inclusão da cena no episódio pareceu quase acidental, mas fora isso ela foi muito bem executada. A série tem acertado muito quando se trata da atmosfera alegórica e sobrenatural dos sonhos de Bran. É sempre intrigante e prazeroso assistí-los
Outro tópico marcante em “And Now His Watch Is Ended” foi a vingança. É isso que leva Tyrion aos humildes aposentos de seu velho amigo Varys: vingança pela tentativa de assassinato sofrida na Batalha da Água Negra que, segundo o próprio Mestre dos Sussurros, foi encomendada pela rainha.
O Duende não consegue o que ele quer, mas nós conseguimos aquilo que vem sendo prometido desde “Blackwater”. Quem aí nunca quis ouvir a história de um dos personagens mais misteriosos de toda a saga? A história do Varys é de alguém que realmente teve paciência e sangue frio pra conseguir o que queria: influência. Só assim ele pôde realizar sua vingança. No final da sequência ele revela o homem que cortou seu membro, preso como um inseto numa teia. Não é a toa que ele é conhecido como “a Aranha” por todos os cantos do mundo… Sinistro.
No último episódio da segunda temporada nós vimos o Varys propor que a Ros passasse para o seu lado. Essa foi a primeira vez que vimos os dois juntos já como aliados. Ela revela a ele parte da conversa que Mindinho teve com Sansa em “Valar Dohaeris” e também menciona o feito extraordinário de Podrick em “Walk Of Punishment”. A maneira que os roteiristas incluíram essa menção aparentemente desnecessária no texto fez com que eu me perguntasse se isso pode servir pra algo importante no futuro. Ou talvez eles estejam apenas prolongando uma piada que perdeu a graça já a algum tempo.
O que acontece quando o inexistente encontra o decrépito? Me faltam palavras para elogiar o trabalho de Diana Rigg e Conleth Hill. O diálogo entre Varys e Olenna é sensacional. Além de muito bem escrito ele foi cheio de sutilezas e sacadas geniais. É claro que os personagens ajudaram muito.
Todo mundo sabe que o Varys sempre teve uma espécie de rixa antiga com o Mindinho. Nessa conversa ele desmente tudo isso, e traz argumentos que nos fazem acreditar que sua lealdade ao reino seja mesmo genuína, como ele afirmou a Ned Stark quando este estava preso nas masmorras em “The Pointy End”.
Além dos dois maiores conspiradores dos Sete Reinos, quem também parece estar preocupada com o destino de Sansa é a Margaery, demonstrando um certo esforço pra ser sua amiga. Mas ela estaria fazendo isso por amizade ou para tirar a rival do caminho? Afinal, Sansa é linda e já foi prometida ao Joffrey. Talvez a Margaery enxergue isso como um perigo.
Também é possível que essa aproximação seja por interesses familiares, tanto que a Margaery oferece a Sansa a possibilidade de casar-se com seu irmão, Loras. No diálogo com a Rainha dos Espinhos, Varys diz que Sansa será a chave para o Norte no caso de Robb Stark cair, e por isso despertava o interesse de muitos, inclusive, possivelmente, da Casa Tyrell… Mas vocês conseguem imaginar o Loras como Protetor do Norte? Acho que não.
Só mesmo aquele fantástico Septo de Baelor pra me fazer tirar os olhos da belíssima Natalie Dormer por alguns segundos. A direção de arte realmente arrebentou nessa. E como se a visão interna não fosse o suficiente, ainda nos presenteiam com o vislumbre da parte exterior da estrutura que parece simplesmente fantástica, completamente diferente daquilo que vimos em “Baelor” durante a execução de Eddard.
Além de algumas histórias contadas pelo rei a respeito de Aerion “Chamaviva” e Rhaenyra Targaryen, nós ouvimos uma conversa interessante entre Cersei e Olenna Tyrell, duas mulheres descontentes pelo fato de serem subjugadas em detrimento dos homens. A diferença é que uma delas aceita e sabe lidar com isso de maneira majestosa, a outra não. Desconsiderando fosse esse fato, bem que a Olenna poderia ser vista como um reflexo não muito fiel do que a Cersei se tornará no futuro. Mas acontece que ela não tem nem a metade da inteligência que acredita ter, e seu pai sabe disso.
Achei inteligente a escolha da frase usada para desmerecer a rainha. Foi a mesma que ela usou para desmerecer o irmão mais novo em “Valar Dohaeris”, lembram? E essa cena dela com o Tywin propositalmente nos leva de volta a cena dele com o Tyrion vista naquele mesmo episódio.
Engraçado também é perceber como todos tem ciência da besta louca que é o Joffrey, ate mesmo os membros da sua família. Seu avô esteve o tempo todo procurando por alguém que controlasse seus impulsos, mas como nem a Cersei e nem o Tyrion foram capazes, ele “deposita toda sua confiança” em Margaery.
Aliás, o que o Tywin tanto faz com aquelas cartas?
É do arco dos Patrulheiros na Fortaleza de Craster que tiramos o nome do episódio. “And Now His Watch Is Ended” ou “E agora sua patrulha termina”, é um frase dita quando um patrulheiro morre e é claramente derivada do juramento da Patrulha, onde os recrutas dizem: “Night gathers. And Now My Watch Begins”. A própria tradição da Patrulha foi quebrada nessa noite quando Rast e um outro patrulheiro faminto iniciaram a revolta que acabou tirando também a vida do Senhor Comandante Mormont e do selvagem Craster enquanto Sam fugia com uma de suas filhas e seu bebê.
A cena foi rápida e um tanto confusa. A morte do Jeor pareceu quase banal. Mas acho que os produtores optaram pelo realismo nessa passagem. E também pela ação, é claro. Isso nós tivemos de sobra.
Mas a palavra “watch” também pode ser traduzida como “vigilância; atenção; cuidado e etc”. Se formos enxergar por esse lado, é possível que tenham existido outras referências ao título espalhadas nos outros núcleos. Como por exemplo, a longa espera do Varys por vingança, que termina com a aquisição do feiticeiro que o cortou; ou no lema da Casa Tyrell rejeitado por Olenna, “Crescendo Fortes”, que provavelmente se refere ao jogo deles, cujos resultados são geralmente colhidos a longo prazo. Afinal, influência cresce como uma erva. É uma mera questão de paciência…
Outra que se encontra prestes a conseguir sua vingança é Arya, que ao chegar no esconderijo de Beric Dondarrion tem a oportunidade de ver o Cão ser julgado pelos crimes que cometeu, incluindo a morte de seu amigo Mycah em “The Kingsroad”. O intérprete do comandante da Irmandade mudou desde sua aparição em “A Golden Crown”, mas Richard Dormer me pareceu suficientemente badass para o papel.
Essa parte na verdade foi uma preparação para aquilo que ainda está por vir. Ela serviu mais para introduzir o bando na história do que pra qualquer outra coisa, com explicações bem escritas sobre eles, a fé no Senhor da Luz e etc.
É claro que eu não podia deixar de falar da Daenerys. A última sequência desse episódio foi, sem sombra de duvidas, umas das melhores coisas que eu já vi se tratando de produção televisiva. Os efeitos especiais responsáveis por Astapor, Drogon e aquela imensidão de homens enfileirados realmente foram dignos de cinema. O modo como Daenerys espera Kraznys entregar o exército em suas mãos para só então revelar o seu plano foi genial. Acredito que muitos de vocês não-leitores realmente chegaram a acreditar que ela fosse entregar um dos seus filhos. E pra quem tinha dúvidas a respeito da atuação de Emilia Clarke, ela deu um show.
A música tocada ao fundo – uma variação mais pesada da faixa “Mother Of Dragons” encontrada na trilha da segunda temporada – aliada aos sons da marcha dos Imaculados influenciou de maneira definitiva para que o resultado final fosse alcançado. Ponto para o compositor Ramin Djawadi mais uma vez.
Tudo pareceu perfeitamente calculado, incluindo o tempo de duração da cena, infelizmente. Alguns rumores indicaram que a cena tomaria metade do episódio. Mas talvez ela tenha sido intencionalmente reduzida para que os cérebros do público ficassem como eu, que ao final daqueles quase 7 minutos ansiava desesperadamente por um pouco mais de fogo, sangue e valiriano. Muito valiriano.
É meus amigos, aquelas tomadas incríveis poderiam pertencer ao final de qualquer temporada se estivéssemos falando de uma outra série medieval qualquer, mas isso é Game Of Thrones, e esse foi apenas o quarto episódio. Muita água ainda vai passar por debaixo dessa ponte, e nós estaremos aqui assistindo.
___________________________________________________________________________
ATENÇÃO: Theon pode não ser o único a terminar a temporada na masmorra esse ano. Se você quer participar do MasmorraCast da terceira temporada de Thrones, clique aqui e saiba como enviar o seu áudio!