O texto a seguir possui spoilers do livro A Tormenta de Espadas que ainda não foram abordados na série de TV. Leia por sua conta. Este episódio adaptou pedacinhos (realmente pequenos) dos capítulos Jon V, Catelyn V, Dany IV, Arya VIII, e Jaime VI. Para ver o conteúdo geral destes capítulos, clique aqui.
Estamos vivendo em uma época em que temos um autor vivo, realizando uma obra incrível, que com certeza te emociona a cada dia, querido leitor. É por isso que você está lendo esse texto. Mas o que acontece se colocam este autor, que você aprendeu a amar, colocando-se na posição de alguém que não tem controle sobre sua própria obra? “The Bear and the maiden Fair” dirigido pela Michele Maclaren e, dizem que, escrito pelo R. R. Martin, entregou um episódio bonito e intrigante, mas integralmente passivo, contemplativo e desequilibrado. De longe algo que ninguém esperava. Mas sabe, é Game of Thrones. E nesse meu caldeirão de descontentamento (que eu sei que não reflete a opinião de grande parte de vocês, queridos leitores) a opinião é parcial. Há nesse caldo de sentimentos e personagens, mensagens e temas que são importantíssimos para a história do livro A Tormenta de Espadas. Por que ao assistir novamente ao episódio durante as reprises, eu me lembrei de todos os dias em que passei lendo capítulos inteiros onde eu julgava que nada estava acontecendo. E esse talvez tenha sido um capítulo em que o roteiro da série realmente tenha se esforçado pra alinhar tudo para a grande figura do final da temporada. Bem, vamos lá.
O personagem de Orell ainda terá um papel interessante pra desenvolver na história de Jon (vimos o rosto de Jon rasgado pelas garras da águia nos trailers) mas o que eu achei mais interessante no personagem dele neste episódio é o quanto ele é só mais um cara que “não sabe de nada”. Ao tentar alertar Ygritte sobre quem Jon é, ele não percebe que ela sabe de tudo, e meio que gosta de Jon por tudo isso. Mas eu realmente gosto sempre que a postura dos selvagens se mostra agressiva em relação as outras pessoas. Porque acho que isso é muito bem desenvolvido em A Dança dos Dragões e acho que não a ninguém melhor do que Jon pra enfrentar esse tipo de bobagem e aprender a lidar com isso.
E olha, sair da Islândia e ir para Belfast fez bem pro elenco. As cenas dos selvagens neste episódio foram muito boas e os atores estavam em outro clima. O frio importa e eu me arrisco a dizer que atrapalha o desenvolvimentos dos atores sim. O que é irônico, porque é isso o que acontece “quando o inverno chega”.
Temos aqui a adaptação de Catelyn V no que diz respeito a “tempestade de outono” que faz com que a comitiva de Robb se atrase para o casamento. “Autum Storm” foi o primeiro nome que George anunciou para este episódio, seguido de “Chains” e “The Bear and the Maiden Fair”. Algo fundamental para esse capítulo é o fato de que nem Peixe Negro e nem Jeyne Westerling deixaram Correrrio para ir ao casamento, aspecto modificado para a série.
Há algo de absurdamente sombrio nessa cena. São vários “algos”, a bem da verdade. Primeiramente todas as teorias que o nosso amigo Rafa Bacellar colocou neste post especial sobre a provável genialidade dos produtores ao usarem Talisa na série, ao invés de Jeyne Westerling. Mas essa revelação de que Talisa estaria grávida de Robb é algo que é extremamente intrigante. Tanto pelo fato do que um herdeiro direto do rei do norte poderia significar, quanto pelo fato de que apesar de todas as teorias que nossa amiga Lidiany colocou aqui. Mesmo que a diferença do tamanho dos quadris de Jeyne poder ser apenas um erro de continuidade dos livros, George e os produtores quiseram fazer algo novo aqui.
Aliás, vale lembrar que é nesse capítulo do livro que Robb legitimiza Jon como herdeiro de Winterfell. Se Robb tiver um filho, isso anula uma das coisas mais legais que temos no livro, não em termos do avanço da história em si, mas na construção do personagem de Robb, que ama o irmão e fez isso pela família. Aliás, esse é um excelente capítulo do livro. É um dos meus preferidos. E nele Sansa já está casada e Catelyn e Robb sabem. Me pergunto se eles chegarão a saber na série.
A gente tem em Game of Thrones hoje algo que busca ser bastante literal e menos arriscado, menos plural. Porque talvez nos livros, George deixe propositalmente pontas soltas pra resolver depois, e a série pode resolver isso porque eles estão fazendo em três anos algo que George demorou uns quinze. Na minha opinião, esses problemas tem mais a ver com a problemática de contar essa história do que ficar apontando que Kit Harington é um péssimo ator, ou que Robb e Talisa são algo muito clichê. E vocês sabem porquê? Porque o que é bom em Game of Thrones está sendo repetido a exaustão. Como vimos por exemplo Tywin e Arya no ano passado. Era brilhante, mas era igual episódio por episódio. Assim como Ygritte e Jon no ano passado também. E esse ano essas “repetições” estão acontecendo de maneira completamente desequilibrada, com Theon e Bran e tudo o que acontece com eles, episódio por episódio. Enfim.
Como o Orell é algo exclusivo da série (já que o Orell de verdade a essa altura só existe na águia), a gente tem aqui uma nova dimensão da personagem da Ygritte. Que é um outro homem lutando por ela. Mesmo que esse homem, vejam só, tentou cortá-la fora da corda durante a escalada. Deixando essa inconsistência de lado, eu acho que uma mulher como Ygritte, sendo linda, abusada, feroz e forte como ela, deveria mesmo ter um montão de homens querendo roubá-la. Principalmente no caso dessa série que só me coloca uma mulher no núcleo do Mance. Sei que teve muita gente que não gostou desse clima de romance no ar, e de tudo ser por causa de sexo. Mas não podemos ficar repetindo esses temas. Temos muito temas em Game of Thrones sendo repetidos a exaustão, bem como cenas. Mas falo disso melhor na parte de Theon ali em baixo.
As cenas da Sansa com a Margaery são sempre tão femininas e bonitas… E as atrizes são muito dedicadas a seus papéis. É muito bonito. Mas temos aqui uma situação muito diferente, né? No livro Sansa fica sabendo sobre sua união com Tyrion na manhã de seu casamento, e ela é basicamente forçada até o altar, privada de todos os seus direitos básicos e ainda leva zombadas mil da rainha Cersei. Na série, Sansa tem amigas, e Margaery é tão legal que realmente acreditamos que, apesar de tudo, os Tyrell enfrentam os problemas de maneira muito delicada e astuta, sendo realmente gentis apesar da ganância e da esperteza. A gentileza é verdadeira. E de certa forma é muito legal ver a moral de Tyrion ser levantada, porque é como se fosse a voz da audiência. Todo mundo aqui fora vai querer se casar com ele se a Sansa não quiser.
Essa deliciosa interação do Tyion com o Bronn parece ser uma das preferidas do Martin. Sobre essa cena em especial, acho que a mensagem de Bronn cai como uma luva a todos, mas principalmente para Robb, que é quem está a todo tempo se esforçando muito e preocupado em não tem inimigos. A fraqueza ou passividade de Tyrion nesses últimos episódios incomoda um pouco, pra um homem tão inteligente, espirituoso e curioso.
De longe dois dos melhores atores do casting, essa cena apesar de parecer o clássico “tapa na cara” que Joffrey leva em toda temporada tem em sua atuação um tempero muito gostoso de digerir. E acredito que isso venha do fato de que os dois ainda não haviam interagido apropriadamente na série. Especialmente aqui, há um erro histórico (bobo) cometido pelo próprio escritor da saga. São aproximadamente 200 e não 300 anos a idade da morte do dragão Balerion.
Algo ainda importante sobre os dragões, é esse lance de que Joffrey e Tywin conversam livremente sobre isso enquanto nos livros as únicas pessoas preocupadas com isso são Tyrion e Varys. Embora acho que Tywin cumpriu bem seu papel até aqui, desse político que está cego para aquilo que não quer ver (tanto a muralha de gelo quanto os dragões de fogo).
Temos muitos elementos bastante diferentes do texto original dos livros, contando com o fato de que estão misturando Meereen com Yunkai. Dany se recusa a ficar com o dinheiro de Grazdan no livro. Na série ela faz a maneira dothraki. E o fato de que Dany alimenta as ferinhas com carne crua, sendo que aprendemos na segunda temporada que os dragões gostam de seu jantar bem torradinho. Talvez nesse caso tenha sido um problema com a computação gráfica da cena. Essa é uma adaptação de Daenerys IV, que infelizmente não é bem calculada por conta dessa mistura. Todo mundo, até mesmo os leitores, estão com essa sensação de que não há motivo real para que Dany queira libertar os escravos.
Na série ela viu meia dúzia de homens crucificados e ouve falar de escravos. No livro Dany é constantemente jogada para a aflição do povo, e Martin nos leva a crer que qualquer pessoa no lugar dela não faria diferente. A motivação e os pensamentos dela, de querer ajudar, de querer cuidar, são muito genuínos. Mas na série temos a sensação de que ela deve pegar os navios e se mandar logo. E uau, Marrocos é linda!
Que cena simbólica, hein? Martin fez questão em dar um close na jóia que Tyrion dá a Shae. A garota Shae é uma prostituta e, portanto aceita a condição de Tyrion nos livros. Aceita também presentes, acomodações, sexo, carinho e tudo o que ele puder lhe dar, porque são coisas que ela, como mulher adulta e estrangeira, nunca teve. Na série, a romantizada Shae sente ciúmes e cobra. No final das contas, acho que é muito fácil Shae culpar Tyrion por um destino que já estava traçado pra ela. Não tem como Shae ser muito mais do que isso, e Tyrion fez com que ela chegasse longe, mais longe do que qualquer outra pessoa na posição dela. Mas a Tyrion é necessário perder tudo para dar valor a certas coisas. O que acontece com todo mundo, inclusive eu e você. Já disse isso aqui e repito: se ele quisesse, ele poderia dar o fora dali e fugir com Shae. Mas ele não quer. Ele gosta de ser um Lannister, gosta de tudo aquilo. Oh, well.
Mesmo que na verdade Melisandre não deveria passear pela Baía do Água Negra como se não fosse perigoso em vários níveis, essa cena é uma pequena pérola dentro de um episódio tão estranho. Ficamos sabendo aqui um pouco sobre o passado de Mel (algo que vemos apenas em suas visões em A Dança) e é revelado a Gendry sua hereditariedade real, algo que ele nunca chega a saber de verdade nos livros, a não ser por uma confusa passagem em O Festim dos Corvos que não deixa isso muito claro. Além da impressionante paisagem destruída, tipo de coisa que realmente apenas a série consegue nos proporcionar (e quando tem vontade). Esse arco é empolgante e um pouco sinistro. Aliás… Bryan Cogman, editor de roteiro de Game of Thrones disse dia desses que foi R. R. Martin quem escreveu todas as cenas da interação Melisandre e Gendry. Isso quer dizer que é George o responsável por todos os divertidos spoilers (ou não) que a terceira temporada está adiantando sobre teorias e possíveis plots que os livros ainda irão nos apresentar. Ou não, né? Ou tá rolando uma grande zoação com a nossa cara!
No livro Arya não fala sobre esse seu Deus da Morte. Mas olha, nada caiu tão bem para a criança Stark heavy metal como essa máscara. Acredito que a cena em que a Irmandade resolve se atrasar um pouco pra caçar Lannisters passou uma sensação bastante verdadeira sobre o clima de guerra e sobre o trabalho dos homens que estão ali. É bem genuíno, para a cena em si. Mas como um todo, é uma pena que a Irmandade esteja sendo retratada de maneira tão unilateral. É como se eles não passassem de quebradores de promessas. Essa cena, que é uma adaptação de Arya VIII terminou de maneira bastante satisfatória. Apenas acho que Arya fugindo desajeitada, sem treinamento e sem realmente estar se sentindo tão sufocada quanto deveria naquele ambiente pareceu bastante superficial. Mas Arya acaba de ser jogada em uma situação que nunca se viu antes. Não há mentor, não há amigo de papai.
E aqui a gente cai naquele lance que eu disse sobre a abordagem ser literal demais. Todo mundo já sabe o que vai acontecer com Theon daqui pra frente, e eles estão fazendo questão de contar o tim-tim por tim-tim algo que ninguém gostaria de ouvir. Tirando a parte em que Theon conta para o bastardo sobre seu arrependimento, não vemos mais Theon e sim uma pessoa sendo constantemente assustada, humilhada e quebrada. Alfie é uma força da natureza pra mim, e Iwan é a energia que o personagem do bastardo precisa: algo pior do que Joffrey, sem muita alegoria. Mas essa violência toda, sendo explicada nos mínimos detalhes me deixa extremamente perturbada e aflita.
Atrizes tão legais… Todo mundo sonhou muito meses atrás achando que a Stephanie Black seria a Val ou a Dalla dos selvagens. E a Charlotte Hope, que poderia ser uma das primas da Margaery. E temos essa situação sendo cruelmente exibida episódio por episódio há semanas. Por quê? Será que se não mostrassem isso e focassem em outros desenvolvimentos poderíamos ver algum real avanço na história? E se aparecessem no season finale com o que Theon se torna? Isso não teria um impacto interessante?
Se, por acaso, Yara receber do torturador de Theon um pedaço de sua pele, ou quem sabe seu membro cortado… Isso deixaria a irmã dele muito mais assustada e isso traria muito mais vergonha aos Greyjoys. E aí então Asha chamaria os tios, e teríamos uma gancho muito interessante para a quarta temporada. Teríamos os Greyjoys unidos e com uma missão muito mais pé no chão.
Uma delicadíssima adaptação de Jon V e o melhor momento de atuação do Kit Harington nesta temporada. Acho que é importante Jon mostrar pra Ygritte o quanto os selvagens não poderão contra a Patrulha. Mas sei lá, a série deveria estar mostrando isso também.
Essa é uma das cenas onde percebemos o carinho de George pela personagem que é melhor na série do que no livro. Ele mesmo disse que Natalia era uma melhor Osha do que a que ele criou. Além da maquiagem muito expressiva (as sobrancelhas dela são realmente terríveis, o que é muito admirável), Osha atuou um dos melhores momentos do núcleo de Bran, acrescentando algo que, além de ser inédito aos leitores dos livros, fez-nos lembrar de quanto insana é a jornada que Bran e Rickon estão seguindo.
Uma curiosidade sobre essa cena: Kristian Nairn disse que durante as gravações os produtores pediram pra que ele dissesse o melhor “Hodor” de todos os tempos. Acho que ele conseguiu, né?
A cena em Harrenhal é extremamente mais violenta no livro. Temos primeiramente Brienne mordendo a orelha de Vargo Hoat ao se recusar a ir a arena. Depois, o fato de que Jaime pede para ele tirá-la de lá, e então Vargo responde: “Se quiser, vá pegá-la”. E então Jaime vai. Temos a batalha dos Saltimbancos Sangrentos contra Walton Pernas de Aço (bacana ver o ator em cena), e os outros homens do lado de Jaime. Eu gostei muito da cena, achei empolgante, mas muito rápida, como a maioria das coisas legais em Game of Thrones são. Nos livros o que faz Jaime voltar pra salvar Brienne é um confuso sonho febril. Nesse sonho, ela o salva. Esse é o tipo de repetição que eu não me importaria em ver. Também não me importaria em ver um fim para Locke igual ao que temos para o Vargo Hoat. Mas talvez essa pode ser a última vez que vemos Harrenhal na série por muito tempo. Eu gosto disso.
Acrescentando o fato de que na verdade não foi George quem escreveu a cena do urso e Brienne, eu definiria este como um episódio extremamente intrigante para os fãs do escritor. Experimental, talvez? Mas, sem dúvida, um presente que o escritor quis nos entregar nesta temporada. Pena que em um episódio tão contemplativo.