Aqui está, depois de alguma demora, o texto com minha impressões sobre o oitavo episódio da terceira temporada de Game Of Thrones, “Second Sons”, escrito por David Benioff e D.B. Weiss, dirigido por Michelle MacLaren e que foi um dos meus episódios preferidos até então.
Lembrando que esse texto NÃO CONTÉM SPOILERS DOS LIVROS e é destinado principalmente para aqueles que não terminaram ou sequer começaram a leitura dos mesmos. Se você já leu ou não se importa em saber o que vai acontecer, confira a análise com spoilers da Ana clicando aqui.
Vamos lá?
Depois do fantástico “Blackwater”, “Second Sons” foi o episódio mais centrado que nós vimos até então (desconsiderando também, é claro, os episódios da primeira temporada, onde nós não tínhamos nem metade dos núcleos que temos agora). Além das sequências que abriram e fecharam o episódio, com Sam e Arya respectivamente, todas as cenas foram focadas em apenas três situações: Daenerys lidando com os Segundos Filhos em Yunkai, o casamento de Tyrion e Sansa em Porto Real e a chegada de Gendry em Pedra do Dragão.
Isso deu espaço pra história respirar um pouco e permitiu que os personagens envolvidos fossem explorados com mais veemência, como aconteceu com Jaime e Jon Snow no episódio passado, por exemplo. Não foi a toa que dessa vez ambos estiveram ausentes.
A sequência inicial foi muito boa e durou exatamente aquilo que tinha que durar, sem enrolações. Certamente um pontapé inicial perfeito para aquele que foi um dos episódios mais circunstanciados de toda a série e que, pra mim, está entre os melhores da temporada, ao lado dos dois que antecederam “The Bear and The Maiden Fair”.
O nome do Cão sempre esteve incluído nas orações noturnas de Arya. Acertá-lo com uma pedra parecia um castigo justo pela morte de seu amigo Mycah em “The Kingsroad”. Mas então por que ela parou? Por medo do que ele faria caso ela errasse ou por medo de ficar vagando sozinha pelas Terras do Rio?
Sandor afirmou que Arya nunca conheceu seu irmão Gregor. Bem, ela pode não ter tido a oportunidade de presenciar os horrores cometidos por ele (arrancar a cabeça de um cavalo com a espada em Westeros pode ser mais comum do que imaginamos) mas ela conheceu ele durante as justas no torneio da Mão e, na segunda temporada, quando foi capturada por seus homens e levada a Harrenhal.
Engraçado como David e Dan responderam as mesmas perguntas levantadas na minha última análise a respeito das intenções de Clegane e também deram como exemplo o salvamento de Sansa em “The Old Gods and The New”. Ele realmente não está levando Arya para a capital mas sim para as Gêmeas, onde acontecerá o casamento de seu tio Edmure. Ver ela sorrir ao ouvir isso também encheu o público de esperança. Ela finalmente se unirá a sua mãe e irmão?
Os dois episódios dirigidos por Michelle MacLaren foram caracterizados por belíssimas paisagens, fotografia e efeitos especiais. Com Yunkai não foi diferente. Ver a cidade de longe na semana passada já foi magnífico e aprecia-la de perto fez eu me sentir como se estivesse assistindo um daqueles filmes épicos bíblicos tipo Ben-Hur.
Em “The Bear and The Maiden Fair”, ouvimos dizer que os yunkaítas tinham amigos poderosos. Daenerys ordenou que Jorah descobrisse quem eram, e ele descobriu. Trata-se dos Segundos Filhos, uma companhia de mercenários contratada pra lutar pelos escravagistas, visto que em “The Climb” descobrimos que eles não treinavam guerreiros, apenas escravos de cama.
Jorah agora tem um outro rival na batalha pela conquista de Daenerys, que também acabou se tornando o novo aliado deles na batalha pela conquista de Yunkai. Enquanto Mero se comportava como uma versão bravosi de Bronn, muito mais bastardo que Titã, o jovem tenente dos Segundos Filhos em nada lembrava um mercenário, exceto pela sua habilidade com a espada e pela ausência de lealdade.
Emilia Clarke esteve muito bem durante toda as passagens dela pelo capítulo. A atriz parece cada vez mais segura no seu papel, assim como a personagem que interpreta e que a cada episódio parecer crescer e evoluir mais.
Na cena em que eles se reúnem para negociar, ficou nítido o interesse de Dany pelo rapaz, que me lembrou bastante os modos polidos de Jaqen H’ghar. Ficou evidente também que os dois capitães do bando não estavam nem um pouco dispostos a fazer uma aliança com ela, que embora tenha o maior número de soldados, é apenas uma garota. E pelo simples fato dela ser mulher, Mero tinha que subestima-la. Mais tarde ele aprendeu a lição: “Todos os homens devem morrer”, mas Daenerys não é um.
O Bastardo do Titã e Prendahl afirmavam já ter assinado um contrato com Yunkai, e por isso tinham que lutar pelos mercadores de escravos, ou o nome da companhia estaria manchado para sempre. Eles não tinham escolha, mas Daario Naharis sempre tem, e ele escolheu certo.
Engraçado ver a facilidade com a qual ele infiltra-se no acampamento de Dany e o modo como ele entra na tenda pouco depois dela relembrar seu amado Khal Drogo, bem no meio de um banho. Isso certamente foi um artfício dos produtores para que os fãs ficassem ligados por que desse mato vai sair cachorro. A Mãe de Dragões já esteve sozinha por um bom tempo.
Por falar nisso, também faz bastante tempo desde a última vez que algo realmente importante aconteceu em Pedra do Dragão. Nós não víamos Stannis e Davos desde “Kissed By Fire”, mas dessa vez tivemos o presente de ver ambos contracenando, o que nos lembrou de como seus intérpretes Stephen Dillane e Liam Cunningham são extremamente bons, assim como seus respectivos personagens, que até agora tinham sido tão pouco explorados nessa temporada.
Toda aquela analogia espetacular envolvendo a lâmina e o cordeiro deixou claro que o propósito de Melisandre é sacrificar Gendry em prol da causa de Stannis. Ele sabia que Davos nunca concordaria com aquilo, e foi liberta-lo por que no fundo também não concordava. Como foi possível perceber no discurso dado pelo próprio rei, ele é movido pelo dever, e precisa do Cavaleiro das Cebolas pra que não fique cego por causa disso.
Nessa cena também descobrimos aquilo que Stannis viu nas chamas em “Valar Morghulis”: uma grande batalha na neve.
Algumas pessoas reclamaram que a cena do ritual foi sexualizada, mas ao meu ver isso teve uma razão, não foi como a cena da tortura de Theon que vimos na semana passada, onde nos mostraram duas belas mulheres nuas apenas por mostrar. Carice Van Houten sempre faz um ótimo trabalho nesse aspecto, pois como ela mesma disse numa entrevista a HBO, sempre esteve acostumada a tirar a roupa nos filmes que fez na Holanda, e nós percebemos bem como ela parece a vontade nessas situações. Além de linda, é uma profissional das mais competentes e sem dúvidas umas das melhores atrizes da série.
Embora o núcleo tenha sido mais explorado nesse episódio do que foi nos anteriores, dificilmente eu diria que eles chegaram a um clímax. As cenas sem dúvida foram importantes, pois esclareceram finalmente as dúvidas que tínhamos a respeito do interesse de Melisandre pelo bastardo de Robert, mas o que acontece depois disso? Nós já tivemos provas suficientes de que o poder de R’hollor é mesmo tão verdadeiro quanto as barras de ferro da prisão de Davos… O “bebê” de Melisandre; as ressurreições de Beric Dondarrion… Será que os usurpadores Robb, Joffrey e Balon encontrarão o mesmo destino de Renly?
(A quanto tempo não ouvimos o nome de Balon Greyjoy? Suas únicas aparições foram nos episódios 2 e 3 da segunda temporada, onde ele declarou que faria de si mesmo o Rei das Ilhas de Ferro novamente. O problema é que não passou disso. Espero que agora que o nome dele foi mencionado, os produtores lembrem de nos mostrar o que aconteceu com o velho, e Yara, e todo aquele núcleo que ficou esquecido por lá.)
A equipe responsável pela cenografia acertou em cheio nesse episódio, pois todos os sets montados dentro do estúdio serviram perfeitamente para os eventos que estavam sendo ambientados. Principalmente aqueles que vimos em Pedra do Dragão e na capital, onde a atmosfera meio lúgubre dos cenários garantiu o tom requerido para a apreciação das cenas.
Depois de duas semanas de promessas, finalmente chegamos ao dia do casamento de Tyrion e Sansa. E devo dizer que valeu a pena. Sem dúvidas, os produtores foram sábios ao esperar e dedicar um episódio quase inteiro ao evento, que na verdade mais parecia um funeral. Como afirmam os dothrakis, “um casamento que não tem ao menos três mortes é considerado enfadonho”. Talvez tenha sido isso que faltou em Porto Real, pois ninguém estava feliz. É claro que essa ideia de descontentamento quase generalizado (como todo bom sádico, Joffrey parecia estar realmente se divertindo) foi empregada intencionalmente naquele contexto, e muito bem trabalhada pelo roteiro, direção e elenco.
A começar por Cersei e Margaery. Pela primeira vez vimos a Rainha Regente declarar abertamente seu desprezo pela futura nora e, consequentemente, por toda família Tyrell, coisa que vinha sendo evitada por Tywin para não sacrificar a aliança (embora o próprio casamento em questão possa ser considerado como uma afronta mais indireta). É mesmo bem digno de Cersei agir dessa maneira, ela sempre foi a menos comedida e a mais imprudente dos Lannisters (pra não dizer estúpida). Em todas todas as participações dela nesse episódio, incluindo o passa fora que ela deu em Loras, vimos a atriz Lena Headey mostrar realmente a que veio. Cersei é tão megera que chega a ser hilária.
(Essa análise sem spoilers deve desconsiderar fatos escritos nos livros, mas para que vocês conheçam a verdadeira história da Casa Reyne e não fiquem confusos, eu preciso apontar um possível erro no texto dessa primeira cena entre as duas rainhas: a Casa Reyne não se rebelou contra Tywin, mas sim contra o seu pai, Lorde Tytos Lannister, que era considerado um homem fraco. No começo eu pensei que estava tudo bem, pois os produtores frequentemente fazem mudanças em relação ao texto original, mas então eu lembrei que nos extras do Blu-ray da primeira temporada existe um vídeo que conta a história da Casa Lannister e menciona a rebelião dos Reyne tal como ela é mostrada nos livros da saga. Então ou a Cersei estava mentindo, ou existiu mesmo um choque de informações relativamente grave ali.)
Eu realmente gostei da maneira como Cersei cita um trecho da canção dos Lannisters, “As Chuvas de Castamere”, enquanto a mesma serve de trilha pra cena.
Vocês notaram que Loras tava conversando com um rapaz logo atrás delas duas? Provavelmente algum escudeiro. Em um outro momento da festa também podemos observar o Meistre Pycelle xavecando algumas garotas, o que me fez lembrar que o papel dele na temporada tem sido basicamente esse: figuração. Isso é uma pena, por que Julian Glover é um ótimo ator, mas eu acredito que ele não tenha mesmo muito o que fazer nesse momento da trama.
Quando Joffrey ameaça visitar o quarto de Sansa a noite, ele apresenta-se como um Lannister e não como um Baratheon. Justo. Só mesmo um Lannister pode rir de outro Lannister da forma que ele fez com o tio, ainda mais por ser rei. Mas se você for um convidado qualquer e quiser dar uma de engraçadinho, vai ter que se ver com Lorde Tywin. Aquele olhar de Charles Dance gela até a alma.
E o que dizer de Diana Rigg? Eu acho que já não é nem mais necessário elogia-la por sua performance como Olenna. É o primeiro ano dela na série e ela já foi indicada para o Critics Choice Awards na categoria Melhor Atriz Convidada, merecidamente. Ver ela contracenando com a não menos talentosa Natalie Dormer e Finn Jones foi ótimo. Existe algo nos atores escolhidos para interpretar os Tyrells que faz com que eles pareçam realmente uma família. Aliás, eu acho que o mesmo acontece com quase todos os núcleos familiares da série, não? Isso é algo sensacional.
Se alguma coisa marcou esse casamento, foram as boas atuações. Sophie Turner conseguiu deixar transparecer muito bem o “pavor” que Sansa tinha daquilo tudo. Mas seu esposo parecia estar muito mais apavorado. Tão apavorado que embebedou-se a ponto de ameaçar o rei na frente de toda a corte. Pena que não passou de uma ameaça.
Só eu fiquei com a impressão de que, na verdade, ele não estava assim tão bêbado? Ele nunca precisou de álcool pra dizer umas boas verdades ao Joffrey. Me pareceu que ele, inteligentemente, se fingiu de bêbado descontrolado pra poder fugir daquela situação.
Verdade ou não, esse foi, sem sombra de dúvidas, o melhor momento de Peter Dinklage em toda a temporada. Depois de ser a estrela do segundo ano da série, ele andou mesmo muito apagado, e só agora vimos ele receber o destaque que tanto merece. Não foi a toa que ele já recebeu um Emmy e um Globo de Ouro por sua performance como o “deus das tetas e dos vinhos” que todos nós amamos. Tyrion devia beber dessa forma em todos os episódios.
No final de tudo, para o alívio de Shae, o Duende não consumou a união com a jovem Stark, apesar de ser uma criaturinha lasciva, segundo seu pai. Mas até quando eles conseguirão fugir desse dever?
Em 63, o filme de Hitchcock nos ensinou que pássaros demais nunca significam boa coisa, especialmente se esses pássaros forem corvos e se você estiver do outro lado da Muralha com o rosto macabro de uma árvore-coração te encarando sem parar. Mas apesar de todos esses sinais, Sam e Goiva (Gilly, em inglês) decidiram ficar na cabana e discutir o nome da criança, o que serviu para que finalmente víssemos uma pequena ‘homenagem’ ao comandante Mormont, que morreu de maneira tão rápida e insignificante em “And Now His Watch Is Ended”.
O título do episódio claramente foi uma referência a companhia de mercenários que conhecemos em Yunkai, mas eu sempre tento buscar algo que vai além. “Second Sons” teve implícito em várias de suas cenas o tema “pais e filhos” e as diferentes relações entre eles. Tyrion é um segundo filho, sempre menosprezado por Tywin. Sam foi o primeiro, mas isso não impediu que Lorde Randyll Tarly o rejeitasse e o mandasse pra Muralha ameaçando matá-lo caso ele não fosse.
O pai de Goiva, Craster, também não foi dos melhores. Basta lembrar que além de casar e engravidar as próprias filhas, ele entregava os meninos aos Caminhantes Brancos por alguma razão que nós desconhecemos mas que o manteve vivo por um bom tempo. Esse é o motivo pelo qual a selvagem não conhecia muitos nomes de garotos, e é o motivo pelo qual a criatura veio atrás de seu bebê.
E que cena foi aquela? O Caminhante foi o mesmo que vimos em “Valar Morghulis”, e desconsiderando o momento em que ele quebra a espada de Sam, os efeitos especiais aqui foram fantásticos! Eu realmente nunca vi nada parecido com aquele ser se transformando em gelo até desaparecer no ar. Quem não sabia que aquela adaga de obsidiana (ou vidro de dragão) serviria pra alguma coisa? Uma pena que Sam tenha esquecido ela no chão depois de ter matado a criatura. Mas tudo bem, a sequência foi extremamente empolgante e sombria, e aquela quantidade absurda de corvos voando atrás deles conseguiu fecha-la com chave de ouro, e deixar os telespectadores ansiosos pelo que está por vir. É assim que um episódio tinha que acabar sempre.
Enfim, “Second Sons” foi um episódio excelente, cheio de acontecimentos chave para a trama e quase um pedido de desculpas por “The Bear And The Maiden Fair” que, em minha opinião, foi um pouco mais que mediano. Agora nos resta esperar pelo hiatus que antecede o episódio 3.09: “The Rains Of Castamere”, que será exibido apenas no dia 2/06. E então começa a nossa vigia…
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