O texto a seguir possui spoilers do livro A Tormenta de Espadas que ainda não foram abordados na série de TV até a presente data (03 de maio). Leia por sua conta. O episódio adaptou trechos dos capítulos Arya VI, Arya VII, Jon II, Jon III, Catelyn III, Jaime IV, Jaime V e Tyrion III. Clique aqui para relembrar o conteúdo geral deste capítulos.

Os personagens de Game of Thrones carregam essa grande sombra do passado de suas famílias projetadas em suas vidas. Isso é algo que carregamos em nossas vidas também, aqui na vida real. É o que nos torna quem somos em parte, mas em um universo em que o dever para com a família é algo tão fundamental, a história e a tradição de cada uma dessas pessoas é algo que a série deveria nos presentear frequentemente. E Kissed by Fire, que fala sobre os cabelos de Ygritte, mas fala mais sobre o beijo das chamas de R’hllor, nos entrega isso de maneira tão generosa e bonita, que acaba sendo o episódio mais bem escrito e bem executado da 3ª temporada até agora. Bryan Cogman, editor do roteiro da série e desse episódio em especial fez um trabalho de fã dos livros brilhante. Alex Graves, diretor, continua se consagrando como a revelação da temporada na direção.

O Thoros do Paul Kaye não é um sacerdote vermelho, caricato nas vestes. Mas tem muito forte em sua interpretação a sinceridade e dureza de sua devoção. É muito bonito, não que ser tão cegamente fiel por um Deus X seja algo bonito. Mas o Paul é algo que a producão da série sempre faz questão de colocar no núcleo da Arya: um ator que consegue ser algo além do personagem. Syrio, Jaqen e agora Thoros. Apenas o take em que Thoros ora antes do combate ganha a cena. Consegue ser bem mais forte do que a queima dos deuses da Melisandre na temporada passada, tendo os mesmos elementos em cena. Mas a questão é que Thoros sussurra, o que torna tudo muito mais íntimo e velado. E é por isso que é bonito.

E então vemos pela primeira vez uma espada flamejante de verdade (sorry Stannis), uma espada que pede por um combate, uma espada de justiça. É muito legal como o Richard Dormer aperece com gotinhas de suor na testa na cena em que corta a mão. Isso deve ser resultado de horas no set em um lugar fechado com fogo, tensão e tempo contado. Gente, gravar isso deve ter sido muito perigoso. E o resultado ficou muito genuíno. Rápido e duro, como tudo em Game of Thrones na TV. Mas muito, muito genuíno. É raro termos o privilégio se ver uma luta esperada tão bem feita nessa série. Bastante visceral e enérgico, muito bem dirigido. Os homens gritando “Guilty!  Guilty!”. Thoros observando com prazer. Arya completamente imersa no ódio, tão infantil e frágil, tão adulta e sincera ao mesmo tempo. Aquilo foi intenso.

Essa cena foi uma adaptação de Arya VI. Como diferenças bacanas, podemos citar que no livro o Cão queima o braço de maneira significativa e, em certo momento no final do combate, ele chora e pede por ajuda porque a coisa que ele mais teme no mundo, como todo mundo sabe, é o fogo.

Gostei de ver os nomes dos castelos que guarnecem a Muralha traduzidos na legenda da HBO (Atalaialeste do Mar e Torre Sombria). Cara, eu sou uma dessas torce pelo Kit Harington. Mas esse Jon Snow tá… estranho. Quem ele pensa que é pra falar assim com o Orell? Ele pensou que esse traquejo social ia trazer respeito? É algo que parece estar sendo feito de propósito no texto, com que finalidade eu não sei. Essa infantlização do Jon e do Robb. Algo que não tem no livro, mesmo que os personagens no livros sejam de fato adolescentes na flor da idade.

Acho que essa foi a primeira vez que Jon chamou Ygritte pelo nome na série. E foi bacana ver como ele fala exatamente como nós brasileiros (“Ígrit” e não “Igrít” como os gringos falam).

Acho que essa cena do beijo de lorde deve ter sido bem difícil de gravar, adaptação de Jon III. Dois atores muito jovens fazendo isso pela primeira vez em uma cena que geraria muita expectativa. Embora Rose esteja tão bem consigo mesma e em mostrar seu corpo, Kit pareceu bastante tenso. Isso deve ter comprometido muito a atuação, que seria muito bacana se transportasse ao clima íntimo dos livros. É que para a construção dessas cenas de sexo, levam-se páginas e páginas de diálogos, lembranças, descrições e histórias.Histórias! Ah, Ygritte, como você era boa em contar histórias… Nessa cena específica, Ygritte fala sobre essa caverna, que na verdade não é o primeiro buraco no meio da neve que eles encontram por sorte como é mostrado na série. A caverna faz parte do Caminho de Gorne, e Jon Snow não sabe disso, porque não sabe de nada. Ela supostamente se conduz para a Floresta Assombrada atravessando toda a Muralha por baixo e além, mas ninguém exceto Gendel e Gorne, os lendários gêmeos e reis selvagens sabiam o caminho. Tentando fugir por outro lado na Muralha eles se perderam, e provavelmente são espíritos ou algo pior assombram o lugar até hoje. E Ygritte nos livros sabia um montão de histórias legais como essa. Essa cena em específico acontece nos livros em um momento em que Jon e Ygritte já dormiram juntos diversas vezes (começando em Jon II), e isso é algo que contribui para que os dois, no texto do Martin, estejam tão mais em sintonia. Por issoque Ygritte quer ficar com ele pra sempre ali. Esse parágrafo está parecendo um trecho de um livro do Nicholas Sparks, é melhor a gente mudar de assunto, né?

Os leitores dos livros ficam frustrados em cenas como essas e os não leitores não. Why, you ask. Por que no livro é maravilhoso, e nada nunca vai superar isso. Por isso que é legal ler, por isso que é legal dar os livros e presente para os amigos.

Sabe gente, tem algo nos livros sobre o Jon que é muito bacana, e que infelizmente a série não se propôs a mostrar. É o fato de que Jon é um “selvagem”, um homem dos deuses antigos e um homem que entende o povo livre. E que ele percebe isso tão logo se encontra com Mance. E talvez ele entenda mais do que Mance a causa daquele povo, porque ele é mais honrado e mais inteligente. Bem mais. E muito mais novo. E filho de um lorde. É tipo a Mary Sue mais óbvia de todas. Por isso, quando ele trair Tormund na série, vai ser esquisito. O propósito dele ainda não está claro na série, mas eu torço muito pra que o personagem do Jon se encontre e se mostre logo.

Na cena que adapta Jaime IVvemos olhos do Roose Bolton sendo assustadoramente gentis mais uma vez. Novamente, faz sentido Roose perceber de imediato a condição de Jaime, porque o Vargo Hoat dos livros (que na série é esse Locke) adora tirar pedaços de pessoas, deixá-las sem um pé ou dois. Bem, acho que todo mundo achou muito bacana a parte que Brienne se levanta do chão e o plano de câmera mostra como ela é maior do que qualquer outro ser humano presente ali.

o semblante do único homem que ama Cersei.

A cena do tratamento do que sobrou da mão de Jaime foi impressionante. Ótimo momento de Qyburn. E acho que, por mais que Jaime tenha parecido muito convencido gratuitamente se recusando a tomar o leita da papoula,  achei válido ele querer ficar consciente pra que o velho não cortasse seu braço inteiro fora. É essa dor trash que fortalece o Jaime. Toda essa dor e todo o processo de cicatrização são muito piores do que a dor do primeiro corte. Lembro das partes dos livros em que Jaime começa a ter o ímpeto de fechar o punho direito e não conseguir. Toda essa tortura que é física e psicológica de alguém que perde um membro, ainda mais nessa situação, é terrível.

A Cersei trata mal as pessoas e espera que em troca elas lhe dê amizade. Essa cena em contraponto com a “power is power” da temporada passada só mostra o quanto essa moça nunca sabe direito o que está fazendo. A cara do Mindinho de incredulidade quando ela chega cheia de floreios querendo dividir fofoca é muito boa!

Ok, Olenna é incrível, mas não se vence Tyrion em uma discussão facilmente. Por outro lado, isso mostra o quanto a maioria das pessoas despreza Tyrion. E como Tyrion é muito correto com o dinheiro, deixando assim as pessoas completamente entediadas. Eles estão tentando construir aqui algo que talvez veremos apenas no casamento do Joffrey.

Aaaargh, que cenas tristes as da Arya! E claro que o “my lady” que Gendry disse teve o significado de “eu seria seu empregado e você minha senhora”. Nada além disso. É que o texto do Bryan Cogmané redondinho e fofo mesmo. O arco da Arya em Westeros está chegando ao fim, e eu fico pensando o quanto a essa altura nos livros ela treina todos os dias. Mas antes de Bravos tem Casamento Vermelho. Me lembro da mudança na cena em que Ned morre. Na série Arya observa e o pai sabe. Será que no Casamento Vermelho… também vão fazer algo parecido?Mais tarde quando vemos ela rezando os nomes de quem quer matar e pedindo pra Beric trazer o pai de volta, é de cortar o coração, certo? É devastador, adaptação de Arya VII.É aquele clássico momento na história onde todos sentimos saudades do Ned, e desejamos junto dela que ele tivesse vivo, que ele tivesse ali para protegê-la, e a Robb, e a Cat, e a Sansa, e aos meninos e a Jon.

 

Eles começaram a retratar a Catelyn meio doida já, hein? Com os cabelos soltos, “como Ned gostava”. Acho uma pena esse ser o retrato de Robb na série. Todos sabem que ele só toma decisões erradas, que um garoto de 14 anos tomaria. Mas um rei no norte tem que ser amado, tem que ter tido a educação de um rei. É muito óbvio que ele vai morrer, que ele não devia ir tratar com os Freys e que ele não deveria ter matado o Karstark. A música da execução do Karstark é a mesma que toca quando Theon exibe os garotos mortos em Winterfell. É a música das péssimas decisões. E a execução do velho é adaptação de Catelyn III. No livro, no entanto, Robb o mata com um machado, e é preciso dar vários golpes para que a cabeça se separe do corpo. Tenso. Tenso das duas maneiras, Robb ficou transtornado ali na chuva, foi bem legal. Robb pode estar esquisito na TV, do jeito que a gente não imaginou. Mas ainda é legal lembrar que há uma grande diferença entre ele e Joffrey, entre ele e Stannis. Ainda continuo achando que Robb seria o rei mais legal. É quem eu seguiria.

Ok, só mais uma coisa sobre isso: Talisa não sabe onde fica Winterfell.Vamos mudar de assunto, né?

Isso foi MUITO sinistro. Conhecemos Selyse, personagem que deveria estar conosco desde a segunda temporada durante a cena da morte do meistre Cressen. Mas aí está. Uma mulher muito estranha que guarda seus fetos em jarros, devota do Senhor da Luz e do rei. Há algo de muito semelhante entre as personagens dela e de Lysa Arryn na série, especificamente. Duas mulheres caricatas e pontuais, com problemas para conceber filhos e muito aterrorizantes. A maneira como a Selyse coloca a mão tão perto do fogo com devoção, com ardor mesmo… Uma fé cega e assustadora, onde ela ora e torce por alguém que ela pensa ser dela, mas não é.

Quando ela fala que Melisandre tem um filho de Stannis, ela fala da sombra. Mas a sombra… ainda vive? Isso faz sentido? A sombra é um filho de fato? Porque olha só, a música que Shireen canta no episódio, grande homenagem as profecias do Patchface, fala justamente sobre a presença da sombra. A letra é clara: “As sombras vêm ficar”.

It’s always summer under the sea (Perdição de Valyria?) I know, I know, oh oh
aye The birds have scales (dragões) and the fish take wing (Lysa?) I
know, I know, oh oh aye The rain is dry and the snow falls up
I know, I know, oh oh aye The stones crack open
(dragões), the water burned (Blackwater) The shadows come
to dance, my lord The shadows come to play The shadows come to dance, my
lord The shadows come to stay, (sombras da Melisandre).

Tipo. O Deus Vermelho está presente através de duas mulheres super devotas que acreditam que Stannis é o campeão, Azor Ahai renascido. Só que Stannis não está nem aí pra esse Deus, nem aí pra ninguém. Não ama a filha, não ama a mulher, não ama os homens, nem seu Cavaleiro das Cebolas. E mesmo assim, todo mundo o ama.

Bem, eu achei estranho eles não terem citado o escamagris, apenas mostrado. E nossa, ficou muito bom. A Kerry Ingram é ótima, Stannis interagindo com ela e com Selyse de maneira desengonçada e despreparada foi realmente bom. Colocar a filha de Stannis e o Cara Malhada em um personagem só pode ser algo bastante inteligente.

Mais tarde vemos a cena em que a menina Baratheon começa a ensinar Davos a ler, ofício que é de um meistre no livro. MUITO mais legal com ela, a garota é espetacular. Sabe gente, o núcleo de Pedra do Dragão é bastante desconectado de toda a história. Assim como a Irmandade e Arya. Esses personagens desses núcleos são muito bons, mas vão fazer cada vez menos sentido no todo. E aí a gente entende melhor a complexidade da escalação do elenco, o fato de que muitos ficam de fora. Lysa e Robyn Arryn que estão há duas temporadas sem darem as caras… quanto mais eu assisto a série mais tenho certeza de que essa é uma experiência pra quem leu os livros, não importa o que os produtores achem. Você que está lendo esse texto e nunca pegou um livro do R. R. Martin pra ler: você não sabe como a série é muito mais significativa, outra experiência. Não estou nem entrando no mérito de se a pessoa está entendendo ou não ou que está acontecendo. Mas é a experiência mesmo, a expectativa, as cenas que emocionam. Porque elas emocionam muito mais quem já as leu. E é dizendo isso que vou para a cena da banheira.

Eu amo tanto tudo sobre essa cena que nem sei o que dizer. Vou tentar, vamos lá. Primeiro de tudo: dois personagens como Jaime e Brienne nus em uma banheira quente, em Harrenhal, dividindo segredos. O que poderíamos esperar disso? Começo dizendo que a aflição do braço de Jaime mergulhar na água me deixou sem ar. E então Jaime dá uma de babaca e, para revidar, Brienne levanta e o obriga a encarar seu corpo nu. Hahahaha, isso não faz o menor sentido, e diz muito sobre os dois, sobre essa relação tão esquisita. Vale lembra que Brienne dos livros fisicamente é descrita como uma vassoura virada do avesso, ou, a mulher mais feia de todos os tempos. Ok. O olhar de Jaime quando tenta se desculpar com ela, a essa altura, já é uma mistura de delírio febril, de culpa por ser quem é, de não aguentar mais ter que viver na própria pele, do desprezo ao Regicida que fizeram dele. E então ele começa a contar.

Melhor atuação de Nicolaj está aqui, adaptação de Jaime V. O horror que ele presenciou em Porto Real nos momentos finais de Aerys, a culpa da decisão, a dor, a saudade de casa, a febre… a humilhação que passou nos últimos dias. Acho que no momento em que ele desmaiou todo mundo levantou do sofá pra tentar ajudar também. Foi incrível, pessoal (CLAP, CLAP, CLAP, CLAP).

E então temos Dany chegando a Yunkai. Finalmente podemos ver Marrocos
apropriadamente, paisagem bem bíblica, e Verme Cinzento! De um lado Dany
tenta mudar o que não se muda. Do outro, Jorah e sor Vovô se comportam
como crianças. Jorah está deixando claro a cada dia o quanto ele é carente do amor da Dany, e o personagem da TV é tão bom que vai ser bem triste quando Dany expulsá-lo de sua guarda. Barristan no entanto mostra que é mais centrado e, mesmo velho, mais certo para Dany, para protegê-la e aconselhá-la. Porque ele não a deseja, e pode ser o pai que ela nunca teve.

Vem cá Loras, onde está seu luto pelo rei Renly? Onde está toda a sabedoria ninja que sua vó te ensinou? Regra nº1: não confie em nenhum empregado bonito e bem vestido que te aborde no jardim. Ainda mais se o nome dele for Oliver. Mas é claro que o Cavaleiro das Flores quis dar uns pegas. É claro. E, excluindo o fato de que entre tantas nádegas do episódio essa foi apenas mais uma, Loras não é tão superficial assim. Mas temos que nos lembrar que ele ainda não é um integrante da Guarda Real, o que faz com que, no final das contas, ele esteja sendo um desperdício. Espero que quando Jaime voltar ele conserte isso. Mas eu gosto de cenas assim, porque elas despertam o pior do que há nas pessoas. E estou falando de vocês, espectadores Joffreys. “Gay é nojento” não é argumento.

Sansa sendo negociada como um animal de montaria, Mindinho dando um “tchau suspeito”, Tyrion “aceitando” o casamento quando poderia simplesmente dizer não. Porque ele poderia, certo? Ele perderia provavelmente o direito de se sentar a mesa e provavelmente o direito de dormir em uma cama macia em Porto Real. Mas ele poderia ir embora, com Shae. Não, ele ficou. Então tá.

O olho da Lena e o bico do Peter resumem a série inteira

A cena final do episódio é adaptação de Tyrion III, com algumas mudanças bem significativas. No final da conversa com Cersei, nos livros a rainha sai dos aposentos do pai indignada se recusando a aceitar aquilo. Na série ela se rebela, mas se cala no final. Além disso, não é Loras seu pretendente, mas sim seu irmão mais velho Willas Tyrell.

A inteligência e estratégia de Tywin são a sua perdição. Se por um lado é óbvio que Robb está sendo infantil em sua maneira Stark de ser, do outro Tywin também está. Dá pra ver que ele está procurando o fim também, de sua maneira Lannister e inconscientemente. Um fim muito mais cruel, vindo de dentro de sua casa. Mas antes de ir, porque não maltratar só mais um pouquinho sua cria de leões?

[PODCAST] Não esqueça de enviar o áudio de suas impressões do episódio para participar do Masmorra Cast no final da temporada. Vale lembrar que você só pode
mandar um áudio durante toda a temporada, então, se você curtiu bastante
esse episódio, corre lá.

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Em todas as minhas resenhas sempre garimpo imagens e gifs do Tumblr pra ilustrar o texto. Aqui você encontrou imagens retiradas de sites como o capsofthrones. O trabalho desses tumblrs na criação e tratamento dessas imagens é muito bacana, bem feito, completo e especial. Não deixe de acompanhá-los.