(Peço desculpas pela demora, mas devido a alguns problemas com o meu queridíssimo Blogger, eu perdi toda a minha análise que era pra ficar pronta ontem, e tive que passar o dia todo hoje reescrevendo-a. Espero que gostem)

Abaixo vocês podem conferir minhas opiniões a respeito do (ótimo) quinto episódio da terceira temporada de Game Of Thrones,“Kissed By Fire”, escrito por Bryan Cogman, um cara que definitivamente entende da série, e dirigido pelo inspirado Alex Graves, o mesmo responsável pelo sucesso de “And Now His Watch Is Ended”.

 

Lembrando que esse texto NÃO CONTÉM SPOILERS DOS LIVROS e é destinado principalmente para aqueles que não terminaram ou sequer começaram a leitura dos mesmos. Se você já leu ou não se importa em saber o que vai acontecer, confira a análise com spoilers da Ana clicando aqui.

Vou começar falando do núcleo dos selvagens, que esteve ausente no último episódio. Eu gosto de quando a série tira proveito dos diálogos para explicar alguns detalhes sobre o universo da saga, e Bryan Cogman fez exatamente isso no dialogo entre Jon e Orell, acrescentando no texto algumas informações importantes a respeito da Patrulha da Noite e seus dezenove fortes (dos quais apenas três estão guarnecidos) sem prejudicar a dinâmica da conversa.

 

O trecho em que Jon enfrenta o warg pra provar que não é mais um corvo é um daqueles raros momentos em que vemos o bastardo agir como homem ao invés de um garoto impertinente. Pena que é mentira. Também foi importante pra percebermos que nem todos os selvagens o acolheram no bando de braços abertos como Mance Rayder e Tormund, que apesar de serem caras aparentemente durões, vira e mexe repetem o quanto gostam de maneira inocentemente inexplicável do rapaz que está espionando-os em prol da Patrulha. Precisamos nos lembrar disso…

Mas quem realmente gosta do Snow é a Ygritte, e a série já nos veio nos dando alguns sinais disso desde a segunda temporada. Quem não sabia que esse romance ia acontecer mais cedo ou mais tarde? A cena da caverna foi bonita e sem muito daquele romantismo exagerado que as produções de TV geralmente usam em coisas do gênero. Eu só achei que o Jon aceitou quebrar os votos com muita facilidade. A hesitação foi mínima. Mas quem não faria o mesmo?

Nessa cena a Ygritte descobriu que Jon pode não ser um Podrick, mas que realmente sabe de alguma coisa.

O significado por trás do titulo do episódio foi revelado bem cedo dessa vez. Ygritte (e consequentemente o Jon) não foram os únicos “beijados pelo fogo” nele. Em outra caverna, durante uma das melhores cenas de luta da série desde a primeira temporada (senão a melhor), Sandor enfrentou seu nêmesis na forma da espada ardente de Lorde Beric Dondarrion.   Ele fugiu das chamas na capital e foi parar no esconderijo de uma Irmandade cujo deus é o próprio Senhor da Luz. Isso é ironia.

Ao contrário do Tyrion, o Cão de Caça não tinha um Bronn que pudesse lutar por ele no julgamento. Ele teve que encarar seu maior medo. E venceu.

Depois dessa sequência incrível, quando nós telespectadores ainda estávamos recolhendo os destroços da nossa consciência espalhados pela sala e nos perguntando como Game Of Thrones pode matar um personagem que mal foi inserido na história, eis que ele ressuscita depois de receber do Thoros algo que nos livros é chamado de beijo da vida; o beijo do fogo.

Arya pode ser uma das personagens mais valentonas da série, mas é apenas uma garotinha no olho do furacão. A cena entre ela, Beric e Thoros serviu pra nos mostrar isso, e também pra mostrar o quanto a morte de Ned ainda pesa não só pra ela, mas para todos que ainda lutam em seu nome. Ele foi o fio condutor da primeira temporada, não é a toa que seu nome sempre acaba surgindo em uma conversa ou outra. Em uma atuação emocionada, Maisie mostra o quanto a personagem ainda é um pouco imatura ao acreditar que algo mudaria caso o pai ainda estivesse vivo. Todos nós sentimos sua falta, mas como o povo de Astapor e da Antiga Valíria costumava dizer (e como a própria Arya aprendeu com seu velho amigo Jaqen), Valar Morghulis… Todos os homens devem morrer.

A jovem Stark também foi imatura ao acreditar que de alguma maneira poderia ser uma família para o Gendry, que de maneira rápida e até mesmo um pouco insensível, traz ela de volta para a realidade de Westeros. Ela é uma nobre, e ele é apenas um bastardo. Bastardo de um rei, mas bastardo.

Engraçado perceber que, além da Arya, os membros da Irmandade tem nas mãos um descendente do outro homem a quem clamam lealdade e não fazem a mínima ideia disso. A ironia novamente.

Absolutamente todas as passagens envolvendo esse núcleo marcaram um acerto tanto do roteiro quanto da direção. Os atores estiveram excelentes, tanto os “veteranos” Maisie Williams e Rory McCann quanto os “novatos” Richard Dormer e Paul Kaye, cuja interpretação de Thoros durante o culto fez com que o personagem parecesse um pouco mais
sacerdotal que a própria Melisandre, embora não passe de “um bêbado sortudo que diz as palavras”, como ele mesmo falou.

Sem sombra de dúvidas, Jaime e Brienne estão entre os maiores destaques e surpresas da temporada. Mas quem me surpreendeu aqui foi o ator Michael McEhalton, intérprete de Roose Bolton. Esse cara tem um dos olhares mais inexpressivos que eu já vi.  O modo como ele brinca com o Jaime a respeito das noticias sobre a Batalha da Água Negra na capital é cruel. Tudo bem… Ele é Lorde de uma Casa cujo símbolo é um homem esfolado. É de se esperar que ele seja cruel. Mas o interessante é que ao mesmo tempo ele consegue ser quase…
Gentil? O tom que ele usa pra provocar o Jaime é o mesmo que ele usa pra repreender o Locke e acalmar a Brienne, ou o mesmo de quem educadamente elogia uma boa refeição. Ótimo ator.

Por falar em boas atuações, o dinamarquês Nikolaj Coster-Waldau se superou neste episódio. Em algumas partes é possível sentir as dores físicas e psicológicas do Jaime. Primeiro na cena com o Qyburn (Vocês lembram-se do Qyburn, certo? Aquele que Robb encontrou no meio do massacre de Harrenhal em “Valar Dohaeris”), que embora tenha sido curta, foi muito bem escrita e dolorosa.

Mas o grande momento dele foi o tão falado “semi-monólogo” da banheira. Semi-monólogo por que, embora a Gwendoline Christie permanecesse calada durante a maior parte do tempo em que o Jaime contava a triste história de sua alcunha, sua atuação esteve presente nas expressões que ela fazia. Expressões que de certa forma traduziram um pouco das reações do público que assistia a cena em casa. Expressões de dúvida, surpresa, indignação e pena.

Os personagens estavam despidos não apenas de suas roupas, mas também de tudo aquilo que pensávamos que os definia. Jaime sem seu orgulho e arrogância, e Brienne sem sua armadura, o que fez com que ela parecesse tão frágil e vulnerável quanto uma moça qualquer (Ok, nem tanto. Mesmo sem roupas, ela ainda é enorme).

Embora esse tenha sido um dos pontos mais altos de “Kissed By Fire”, particularmente, eu nunca precisei de tamanha explicação para entender o lado do Jaime. Ele nunca foi um santo, é claro. Algumas de suas ações são imperdoáveis, como por exemplo, ter empurrado Bran da  torre para que ninguém descobrisse a verdade sobre seu incesto, ou ter matado o próprio primo pra fugir de sua cela em “A Man Without Honor”. Mas Aerys era um péssimo rei, e Jaime fez um favor ao reino quando enfiou a espada na barriga dele. Perseguir um homem durante dezessete anos por causa disso é hipócrita e é cruel. Ok, ele quebrou um voto sagrado. Mas pelo que sabemos, o honrado Ned Stark também quebrou um ao trair Catelyn com a mãe de Jon Snow… Com que direito o lobo pensa que pode julgar o leão?

Desde o segundo capítulo da segunda temporada, “The Night Lands”, nós sabemos que o Stannis tem uma esposa aprisionada numa torre e esperamos poder conhecê-la. Demorou mais de uma temporada pra que isso acontecesse, mas com Melisandre fora de Pedra do Dragão e Davos preso nas masmorras, esse pareceu o momento oportuno para que o rei fosse visitar sua senhora.

Quando vi Selyse e seus fetos, imediatamente me lembrei do Governador de The Walking Dead, que mantinha cabeças de zumbis em aquários e escondia uma filha que também tinha sido transformada. Mas o desempenho incrível da atriz Tara Fitzgerald fez com que ela parecesse mais medonha do que todos eles juntos.

E o que dizer da pequena Kerry Ingram? Ela já recebeu alguns prêmios em sua carreira, e agora nós sabemos por quê. Shireen é uma daquelas figuras por quem nos encantamos de cara, pois apesar de meio sinistra, consegue ser adorável ao mesmo tempo. Ela vive como se estar presa numa cela, ser praticamente ignorada pelo pai e ter parte do rosto
deformado pela escamagris não significasse absolutamente nada. Ela é um pouco de esperança no mar de solidão que é a vida de Stannis. E é por isso que ele vai procurá-la.

A única falha encontrada aqui é o fato de a garotinha ser loira. Pode parecer besteira, mas não é. Em “A Golden Crown”, Ned descobriu que todos os membros da Casa Baratheon possuem cabelos negros, e por isso deduziu que os filhos de Cersei não eram de Robert. Basicamente, essa descoberta foi o que desencadeou tudo o que está acontecendo. Custava muito a produção ter pintado o cabelo da menina? Ou quem sabe ter dado a ela uma peruca, como fazem com quase todas as atrizes da série. Parece que a semente não é tão forte quanto deveria. Talvez isso seja culpa do “fogo baixo” do Stannis (rs).

Fora isso, a inserção das duas personagens foi sensacional. Eu acho que elas vieram o núcleo de Pedra do Dragão, que apesar de ser um dos meus favoritos e cheio de ótimos atores, parecia meio deslocado no meio de toda a história.

Selyse e Shireen parecem representar os dois lados de Stannis. O lado da Melisandre e o do Davos, respectivamente. Isso fica um pouco nítido quando a princesa desobedece ao pai pra ir visitar o Cavaleiro das Cebolas em sua cela. A cena é bem bonita, e a afinidade entre os atores funcionou bem fazendo com que os dois, apesar de muito diferentes, parecessem extremamente semelhantes naquele momento.
Inclusive na idade.

E o título daquele livro serviu como gancho perfeito para a cena seguinte, que mostra Daenerys, uma das descendentes de Aegon, rumo a sua própria conquista de Westeros. Assim como a devoção de Thoros e Beric pelo Senhor da Luz serviu de gancho para que fôssemos lançados no meio das orações fervorosas de Selyse para este mesmo Deus.

Depois da saída triunfal de Astapor, acredito que muitos se perguntaram “Certo. Mas e agora?”. Daenerys ainda não está em Westeros, lutando pelo Trono de Ferro com seu exercito de 8.000 Imaculados e uns poucos dothrakis. Primeiro ela precisa achar uma forma de atravessar o Mar Estreito com toda essa galera. É por isso que ela continua marchando. Dessa vez rumo a Yunkai, uma nova cidade que vimos na abertura mas que sequer foi mencionada durante o episódio.

A locação escolhida pra filmagem dessa cena foi realmente muito bonita. Ponto pra HBO.

Assim como os dois conselheiros de Stannis, os de Dany parecem não se bater. No caso do Davos e da Melisandre isso é compreensível, pois ambos são muito diferentes. Mas Sor Jorah e Sor Barristan são parecidos até no título que carregam. Os dois são guerreiros experientes e habilidosos, e a rixa deles, a princípio, parece extremamente infantil.

Jorah sente ciúmes de Dany, e não quer ‘dividi-la’ com ninguém (Como se ela em algum momento tivesse sido dele) e Selmy, como todo homem de honra, despreza Jorah por este ser um exilado, sendo que agora ele também é.

Por sorte a Mãe de Dragões também tem a Missandei… E agora, o Verme Cinzento.

É interessante perceber como o Barristan é o oposto de Jaime. Ele reclama de ter perdido anos de sua vida servindo reis terríveis, enquanto Jaime enfiou sua espada na barriga de um e na esposa do outro (que por acaso, era sua irmã). Mas o que é pior? Quebrar um voto ou passar o resto da vida se arrependendo por não tê-lo feito? Essa pergunta provavelmente passou pela cabeça de Jon Snow na caverna. Mas ambas as escolhas tem suas consequências. E mais cedo ou mais tarde é preciso lidar com elas.

Por falar em consequências e escolhas, Robb está pagando um preço bem alto pelas escolhas dele e de sua mãe, que estão pouco a pouco lhe custando o Norte, e isso é meio triste. Lorde Rickard queria vingança pelo filho que foi morto pelo Regicida (digo, Jaime. O nome dele é Jaime) em “A Man Without Honor”, e como não conseguiu isso, assassinou covardemente os dois escudeiros Lannisters que Edmure tomou como prisioneiros e que nós conhecemos em “Walk Of Punishment”.

O fim de Lorde Rickard estava previsto e foi muito justo. Há algum tempo ele já tinha perdido toda a razão e o respeito que tinha pelo rei. Se Robb fosse Joffrey, ou até mesmo Stannis, o velho Karstark já teria perdido a cabeça muito antes.

A execução foi extremamente e propositalmente semelhante à cena de Theon em “The Old Gods And The New”, quando ele invadiu Winterfell e teve de sacrificar Sor Rodrik. Desde a chuva até a faixa “Pay The Iron Price”, que tocou no fundo de ambas. Só faltou alguém pra dizer ao Robb o quanto ele estaria perdido depois daquilo. Mas acho que nem precisava. Ele sabia.

Depois de ter perdido parte significativa dos seus homens, Robb tem a idéia de atacarRochedo Casterly com a ajuda do homem que ele traiu, Walder Frey…. Sério?

Outro exemplo de como a música foi bem utilizada nesse capítulo é a faixa “WarriorOf Light”, geralmente tocada nas cenas de Melisandre, mas que dessa vez serviu de trilha para as cenas envolvendo Thoros, Beric e a Irmandade, ajudando o telespectador a perceber a conexão entre eles.

Embora tenhamos conhecidos novos personagens incríveis como Thoros, Beric, Selyse e Shireen, nenhum deles ainda conseguiu ser tão incrível quanto Olenna Tyrell. Diana Rigg foi a melhor adição ao elenco dessa temporada, melhor até que o também extraordinário Ciarán Hinds (Mance Rayder). Nem todo mundo consegue colocar o Duende no chinelo. Mas a Rainha dos Espinhos consegue e faz isso com maestria. Depois do curioso debate entre os dois, o modo como rápido como a Olenna se despede nos faz perceber o quanto as coisas em Porto Real aconteceram depressa nesse episódio.

O enredo que levou ao cliffhanger no final começou a ser construído na cena entre Cersei e Mindinho, que claramente referenciou a famosa cena do “Power Is Power” que vimos em “The North Remembers”. Foi o pedido da rainha que levou o Mindinho a mandar um dos seus rapazes seduzir o Loras a fim de descobrir o plano dos Tyrell de casá-lo com a Sansa. É isso que nós gostamos de ver na capital: conspirações, tiradas inteligentes, mentiras e reviravoltas. Nada mais de piadas a respeito do desempenho sexual de Pod ou dos ciuminhos da Shae.

Enquanto isso, é engraçado ver como a chave para assegurar o Norte não faz ideia de que ela está no meio dessa verdadeira batalha entre gigantes pelo poder. Na cabeça dela, a única escolha que precisa fazer agora é entre fugir e se submeter às intenções desconhecidas de Mindinho, ou ficar e casar-se com Loras, para depois então finalmente “fugir” para Jardim de Cima. E é claro que ela prefere ficar. Ela pode ter passado por muita coisa, mas ainda é em parte aquela mesma Sansa da primeira temporada, que sonha em se casar com um príncipe e se tornar uma lady. A pobre criatura nem imagina que seu tormento ainda está longe de chegar ao fim…

Como discutimos na minha última análise,
os Tyrell parecem ser aquele tipo de gente cujo jogo consiste em plantar a semente esperando colher os resultados com o tempo. Tywin sabe disso, e como bom estrategista que é pretende tirar vantagem da fraqueza do inimigo casando Sansa antes de Joffrey. Pra ela, que foi prometida ao Joffrey, Tyrion é o menor dos males. Ele nunca maltrataria Sansa, mas também nunca se interessaria por ela. Ela é uma criança.

Eu teria dado risada da cara da Cersei quando ela ouve que o pai planeja casá-la (de novo) contra a sua vontade com o Loras, mas a atuação de Charles Dance me deixou sem reação. Sério. Em uma cena, o cara mostrou que Peter e Nikolaj não são os únicos Lannisters que merecem um Emmy. A imagem do leão e a canção de Shireen fecharam o episódio com chave de ouro.

A terceira temporada vem se superando a cada semana. “Kissed By Fire” foi, em minha opinião, o melhor episódio até então, pois mostrou perfeitamente como um episódio de Game Of Thrones deve funcionar, com cenas bem encaixadas e não simplesmente colocadas umas após as outras. Dessa vez não tivemos dragões, mas tivemos muito progresso em todos os arcos, diálogos memoráveis, tivemos música, história, banhos, mais bundas do que eu gostaria de ver e muito fogo. Obrigado, Lorde Cogman.


PODCAST: Davos pode não ser o único a ir parar na masmorra esse ano. Se você quer participar do MasmorraCast da terceira temporada de Thronesclique aqui e saiba como enviar o seu áudio!