James Hibberd da Entertainment Weekly acabou de publicar uma matéria onde George responde essa pergunta. Ele já falou sobre isso diversas vezes mas, devido ao episódio de ontem, é interessante ler sobre isso de novo.
Ontem a noite, milhões de pessoas ao redor do mundo foram dormir mais tristes por conta da violência sem proporções que vimos na adaptação da cena mais chocante do livro A Tormenta de Espadas. A maior parte dessas pessoas foram pegas de surpresa porque, apesar de tudo, muita gente não fazia ideia do conteúdo que ‘Rains of Castamere’ nos apresentaria. Se você é uma dessas pessoas, saiba que Martin vem recebendo cartas há uma década com leitores extremamente indignados por conta dos desdobramentos da história de Robb Stark e Catelyn Tully.
E é sobre isso que o autor fala na entrevista a seguir:
EW: Em que momento do processo de escrita dos livros você soube que mataria Robb e Catelyn?
GEORGE: Eu sabia desde o início. Não no primeiro dia, mas muito cedo. Eu já disse em várias entrevistas que eu gosto que minha ficção seja imprevisível. Eu gosto que haja um suspense considerável. Eu matei Ned no primeiro livro e isso chocou muita gente. Eu matei Ned porque todo mundo acha que ele é o herói, e que com certeza ele vai entrar em apuros mas em seguida sairá dessa. A próxima coisa previsível é pensar que seu filho mais velho vai se rebelar e vingar o pai. Todo mundo espera isso. Então, imediatamente o assassinato de Robb tornou-se a próxima coisa que eu tinha que fazer.
EW: Já que A Song of Ice and Fire subverte tantas vezes as expectativas do leitor e evita estruturas narrativas de fantasia tradicionais, os fãs devem ter alguma esperança real de que esta história terá um final feliz? Como o “Boy” disse recentemente em Thrones: “Se você acha que isso terá um final feliz, você não deve estar prestando atenção.”
GEORGE: Eu já disse várias vezes que eu pretendo fazer um final agridoce.
EW: Que tipo de reações você recebeu dos leitores ao longo dos anos sobre essa cena?
GEORGE: Extremas. Tanto positivas como negativas. Essa foi a cena mais difícil que já tive que escrever. Fica em dois terços na narrativa do livro, mas eu pulei ela quando tive que escrevê-la. Então o livro todo estava pronto, mas ainda faltava esse capítulo. Daí eu o escrevi. Foi como matar dois filhos meus. Eu tento fazer o leitor sentir que vivo os acontecimentos do livro. Assim como você se lamenta se um amigo está morto, você deve se lamentar se um personagem fictício é morto. Você deve se preocupar. Se alguém morre e você só ir buscar mais pipoca, é uma experiência superficial, não é?
EW: Por que você acha que gerou uma reação tão poderosa? Robb não era um de seus “personagens com ponto de vista” nos livros, e Catelyn não era realmente uma pesonagem amada.
GEORGE: [Longa pausa] É uma pergunta interessante. Eu não sei se eu tenho uma boa resposta. Talvez a maneira que eu fiz. Há uma certa quantidade de mau agouro que leva essa história. É uma traição. É numa festa de casamento. Robb trabalhou pela paz e você acha que o pior já passou. Em seguida, isso surge do nada. Há também personagens secundários mortos. Em seguida, centenas de juramentados Stark são mortos. Não são apenas duas pessoas.
EW: Para mim, o fato de Robb e Catelyn serem uma família família torna tudo pior. E Catelyn sofreu tanto e perdeu tantas pessoas ao redor dela, e ela realmente acha que perdeu mais do que ela realmente tem (já que ela não tem certeza de que Arya, Bran e Rickon estão vivos). E então, isso acontece.
GEORGE: Ela também tem o momento de advogar. A vemos matando um refém. Ele não é um filho que o Frey valoriza particularmente*. Então, no final o blefe dela é vazio. E ela o faz. Ela vai até o fim. Há um certo poder nisso também.
[*na série mudaram o filho Frey para a esposa]
EW: Eu tenho certeza que eu sei a resposta para isso, mas: Alguma vez você já se arrependeu da cena?
GEORGE: Não, não como escritor. É provavelmente a cena mais poderosa nos livros. Custou-me alguns leitores, mas me ganhou muitos mais. Vai ser difícil para mim assistir a isso [na série]. Será uma noite difícil. Porque eu amo esses personagens também. E em um programa de TV que você começa a conhecer os atores, você também está terminando o relacionamento com um ator que você tem afeição. Richard Madden e Michelle Fairley fizeram um trabalho incrível.
EW: O que você diria para os leitores que estão chateados com a cena?
GEORGE: Depende do que eles estão dizendo. O que você pode dizer a alguém que diz que nunca vai ler o seu livro novamente? As pessoas lêem livros por diferentes razões. Eu respeito isso. Alguns lêem para o conforto. E alguns dos meus ex-leitores disseram que sua vida é dura, sua mãe está doente, seu cachorro morreu, e eles lêem ficção para fugir. Eles não querem ser atingidos na boca por algo horrível. Quando se lê um certo tipo de ficção, onde o cara vai sempre ficar com a garota e os mocinhos vencem no fim, isso reafirma a você que a vida é justa. Nós todos queremos isso às vezes. Há um certo desprendimento do sofrimento nisso. Então eu não desprezo as pessoas que buscam isso. Mas isso não é o tipo de ficção que eu escrevo, na maioria dos casos. Certamente não é o que Ice and Fire é, que tenta ser mais realista sobre o que é a vida. Ele tem alegria, mas também tem dor e medo. Acho que a melhor ficção captura a vida em toda a sua luz e trevas.
EW: Um dos meus elementos favoritos da cena é você apresentar essa ideia do “sal e pão.” – Nós aceitamos isso como leitores – ok neste mundo de fantasia as pessoas não prejudicam-se, uma vez elas que comem o pão e sal de um anfitrião. E então você quebra a sua própria regra. É como se estivesse batendo na cabeça do leitor por ser tão dura – “É claro que eles não vão seguir essa regra boba o tempo todo”.
GEORGE: Roubei isso da História. Leis de hospitalidade eram reais na sociedade da Idade das Trevas. Um anfitrião e convidado não estão autorizados a prejudicar uns aos outros, mesmo que fossem inimigos. Ao violar essa lei, a frase é “estão para sempre condenados”
EW: E sobre o Casamento Vermelho em si? É com base em História também?
GEORGE: O casamento vermelho é baseado em um par de eventos reais da história escocesa. Um deles era um caso chamado o Jantar Negro (ou Black Dinner). O rei da Escócia estava lutando contra o clã Black Douglas. Ele estendeu a mão para fazer a paz. Ele ofereceu ao jovem conde de Douglas passagem segura. Ele veio para o Castelo de Edimburgo e teve uma grande festa. Então, no final da festa, [os homens do rei] começaram a batucar em um único tambor. Eles trouxeram um prato coberto e colocaram na frente de Earl e revelaram que era a cabeça de um javali negro – o símbolo da morte. E assim que ele viu, ele sabia o que significava. E então eles os arrastaram para o pátio, para morrer. O maior exemplo foi o massacre de Glencoe. O clã MacDonald passou a noite com o clã Campbell, com as leis da hospitalidade supostamente aplicadas. Mas os Campbells levantaram-se e massacraram todos os MacDonald que poderiam ter em suas mãos. Não importa o que eu invente, há coisas na história que são tão ruins quanto, ou até piores.
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