Na primeira parte dessa teoria que você viu aqui começamos a insinuar a possibilidade de haver uma grande conspiração dos Meistres da Cidadela para acabar com a magia no mundo. Continuando, vamos ver um personagem distinto que acredita e ajuda a apoiar essa teoria: Arquimeistre Marwyn.
Marwyn, também conhecido como Marwyn, O Mago é um arquimeistre da Cidadela, ele é citado pela primeira vez em As Crônicas de Gelo e Fogo, ainda no primeiro livro, em A Guerra dos Tronos quando Mirri Maz Duur (a maegi que “trata” o ferimento de Khal Drogo a pedido de Daenerys) menciona que ela foi educada sobre anatomia humana por um meistre chamado Marwyn. Depois em A Tormenta de Espadas, em uma conversa com Jaime Lannister, Qyburn explica como ele veio a acreditar na existência de fantasmas e menciona que, de todos os arquimeistres, apenas Marwyn faz alguma reflexão sobre o assunto. Finalmente, no prólogo de O Festim dos Corvos somos apresentados a Marwyn:
“…Marwyn se parecia mais com um cão de guarda do que com um meistre. É como se quisesse nos morder. O Mago não era como os outros meistres. Diziam que se fazia acompanhar de prostitutas e de feiticeiros andantes, que falava com ibbeneses peludos e ilhéus do Verão negros como breu na própria língua desses povos, e fazia sacrifícios a deuses estranhos nos pequenos templos dos marinheiros que se erguiam junto aos cais. Os homens falavam que o tinham visto na parte erma da cidade, em arenas de ratazanas e bordéis negros, na companhia de saltimbancos, cantores, mercenários e até pedintes. Alguns chegavam mesmo a sussurrar que certa vez ele matara um homem com os punhos. Quando Marwyn regressou a Vilavelha, depois de passar oito anos no leste mapeando terras distantes, em busca de livros perdidos e aprendendo com feiticeiros e umbromantes, Vinagre Vaellyn apelidara-o de “Marwyn, o Mago”. O nome espalhara-se rapidamente por toda Vilavelha, para grande aborrecimento de Vaellyn. – Deixe os feitiços e as preces para os sacerdotes e os septões, e direcione a inteligência para a aprendizagem de verdades em que um homem possa confiar”, aconselhara Arquimeistre Ryam certa vez a Pate, mas o anel, o bastão e a máscara de Ryam eram de ouro amarelo, e sua corrente de meistre não incluía um elo de aço valiriano.”
O elo de aço valiriano a que Pate (um aprendiz da cidadela) se refere é dado aqueles meistres que adquirem conhecimento de magia e ocultismo e, apesar de apenas um a cada cem meistres serem dignos de carregar um desses elos em sua corrente, o estudo de magia é mal visto pela maioria dos Meistres.
Ou seja, Marwyn, é um arquimeistre de compartamento incomum, mas experiente e respeitado por seu conhecimento.
Em O Festim dos Corvos, o agora Lorde Comandante Jon Snow envia Samwell Tarlly e Meistre Aemon para Vilavelha. Sam seria instruído como meistre para substituir Aemon que para sua própria segurança passaria o resto de sua velhice em Vilavelha. Durante a viagem, Aemon fica sabendo pelos marinheiros sobre Daenerys e seus dragões. Ele então passa a acreditar que Daenerys é Azor Ahai e a beira da morte faz Sam prometer que contará tudo ao arquimeistres em Vilavelha e os fará enviar um meistre para ajuda-lá. Ao cheger em Vilavelha Sam pretende contar tudo ao senescal, mas é interceptado por um aprendiz de nome Alleras que já sabia de sua chegada, este o convence de que o arquimiestre Marwyn receberia melhor seu relato.
“– Meistre Aemon acreditava que Daenerys Targaryen era a realização de uma profecia… Ela, não Stannis nem Príncipe Rhaegar, nem o principezinho cuja cabeça foi atirada contra a parede.
– Nascida entre o sal e o fumo, sob uma estrela sangrenta. Conheço a profecia – Marwyn virou a cabeça e escarrou uma bola de muco vermelho para o chão. – Não que confie nela. Gorghan de Velha Ghis escreveu um dia que uma profecia é como uma mulher traiçoeira. Mete o seu membro na boca, você geme de prazer e pensa, “que maravilha, que agradável, que bom isto é”… E então seus dentes se fecham e seus gemidos se transformam em gritos. É essa a natureza da profecia, Gorghan disse. A profecia sempre arranca seu pau a dentada – mascou durante algum tempo. – Mesmo assim…
Alleras pôs-se ao lado de Sam.
– Aemon teria ido ter com ela se tivesse forças para isso. Queria que lhe mandássemos um meistre, para aconselhá-la, protegê-la e trazê-la para casa em segurança.
– Ah queria? – Arquimeistre Marwyn encolheu os ombros. – Talvez seja bom que tenha morrido antes de chegar a Vilavelha. Caso contrário, as ovelhas cinzentas talvez tivessem de matá-lo, e isso teria feito os queridos dos pobres velhos torcer as mãos encarquilhadas.
– Matá-lo? – Sam estava chocado. – Por quê?
– Se eu lhe disser, podem ter de matar você também – Marwyn abriu um horrendo sorriso com o sumo da folhamarga escorrendo, rubro, entre os dentes. – Quem você acha que matou todos os dragões da última vez? Galantes matadores de dragões armados de espadas? – cuspiu. – O mundo que a Cidadela está construindo não tem lugar para feitiçaria, profecias ou velas de vidro, e muito menos para dragões. Pergunte a si mesmo por que foi deixado que Aemon Targaryen desperdiçasse a vida na Muralha, quando, por direito próprio, devia ter sido promovido a arquimeistre. O motivo foi seu sangue. Não podiam confiar nele. Assim como não podem confiar em mim.
– O que fará? – Alleras, o Esfinge perguntou.
– Arranjarei um meio de chegar à Baía dos Escravos no lugar de Aemon. O navio cisne que trouxe o Matador deve responder bastante bem às minhas necessidades. As ovelhas cinzentas irão enviar seu homem numa galé, sem dúvida. Com bons ventos, deverei chegar antes – Marwyn voltou a olhar Sam de relance e franziu as sobrancelhas. – Você… você devia ficar e forjar a sua corrente. Se eu fosse você, faria isso depressa. Chegará um momento em que será necessário na Muralha – virou-se para o noviço de rosto macilento: – Arranje uma cela seca para o Matador. Dormirá aqui, e o ajudará a cuidar dos corvos.
– M-m-mas – Sam gaguejou –, os outros arquimeistres… o Senescal… o que lhes direi?
– Diga-lhes como são sábios e bons. Diga-lhes que Aemon ordenou que você se colocasse nas mãos deles. Diga-lhes que sempre sonhou em um dia ser autorizado a usar a corrente e servir o bem supremo, que o serviço é a maior das honras, e a obediência é sua maior virtude. Mas não diga nada sobre profecias ou dragões, a menos que goste de veneno no mingau de aveia…”
Ou seja, temos um arquimiestre da cidadela dizendo claramente que “o mundo que a Cidadela está construindo não tem lugar para feitiçaria, profecias ou velas de vidro, e muito menos para dragões”.
Há ainda um segundo argumento citado por Marwyn que corrobora a teoria de conspiração dos meistres para acabar com a magia no mundo: As velas de vidro de dragão (obsidiana).
No prólogo de O Festim dos Corvos vemos uma conversa entre alguns noviços e acólitos na cidadela:
– Arquimeistre Marwyn acredita em muitas coisas curiosas – disse [Armen]–, mas não tem mais provas dos dragões do que Mollander. Só tem mais histórias de marinheiro.
– Está enganado – Leo Preguiçoso respondeu. – Há uma vela de vidro ardendo nos aposentos do Mago.
Um silêncio caiu sobre a varanda iluminada por archotes. Armen suspirou e balançou a cabeça. Mollander pôs-se a rir. Esfinge estudou Leo com seus grandes olhos negros. Roone pareceu não compreender.
Pate sabia das velas de vidro, embora nunca tivesse visto uma ardendo. Eram o segredo mais mal guardado da Cidadela. Dizia-se que tinham sido trazidas de Valíria para Vilavelha mil anos antes da Perdição. Ouvira dizer que havia quatro; uma verde e três negras, e todas altas e retorcidas.
– O que são essas velas de vidro? – Roone quis saber. Armen, o Acólito, pigarreou:
– Antes de um acólito proferir seus votos, deve passar a noite anterior de vigília na cripta. Não lhe é permitido archote, lâmpada, lanterna ou círio… só uma vela de obsidiana. Tem de passar a noite na escuridão, a menos que seja capaz de acendê-la. Alguns tentam. Os tolos e os teimosos, aqueles que estudaram os ditos mistérios superiores. É frequente cortarem os dedos, pois dizem que as arestas da vela são afiadas como navalhas. Então, com mãos ensanguentadas, têm de esperar a alvorada pensando sobre seu fracasso. Homens mais sensatos vão simplesmente dormir, ou passam a noite em oração, mas todos os anos há sempre alguns que precisam tentar.
– Sim – Pate ouvira as mesmas histórias. – Mas de que serve uma vela que não ilumina?
– É uma lição – Armen explicou, – a última lição que temos de aprender antes de colocar nossa corrente de meistre. A vela de vidro representa a verdade e a aprendizagem, coisas raras, belas e frágeis. Tem a forma de uma vela para nos lembrar que um meistre deve iluminar o lugar em que presta serviço, e é afiada para nos lembrar que o conhecimento pode ser perigoso. Os sábios podem se tornar arrogantes com sua sabedoria, mas um meistre deve permanecer sempre humilde. A vela de vidro também nos lembra disso. Mesmo depois de ter proferido os votos, colocado a corrente e partido para servir, um meistre recordará a escuridão de sua vigília e se lembrará de que nada do que tentou conseguiu fazer com que a vela acendesse… pois, mesmo com o conhecimento, algumas coisas não são possíveis.
Leo Preguiçoso desatou a rir:
– Não são possíveis para você, quer dizer. Vi a vela ardendo com meus próprios olhos.
– Você viu uma vela ardendo, não duvido – Armen rebateu. – Uma vela de cera negra, talvez.
– Sei o que vi. A luz era estranha e brilhante, muito mais brilhante do que a de qualquer vela de cera de abelha ou de sebo. Criava sombras estranhas e a chama nunca oscilava, nem mesmo quando uma brisa soprou pela porta aberta atrás de mim.
Armen cruzou os braços:
– A obsidiana não arde.
– Vidro de dragão – Pate completou. – O povo a chama de vidro de dragão – não sabia por que, mas aquilo lhe parecia importante.
– Pois que chame – meditou Alleras, o Esfinge –, e se houver de novo dragões no mundo…
– Dragões e coisas mais sombrias – Leo completou. – As ovelhas cinzentas fecharam os olhos, mas o cão de guarda vê a verdade. Velhos poderes acordam. Sombras se agitam. Uma era de maravilha e terror cairá em breve sobre nós, uma era para deuses e heróis – espreguiçou-se, exibindo seu sorriso indolente. – Isto vale uma rodada, creio eu.
Muitas páginas depois, no último capitulo de Sam, vemos a vela nos aposentos de Marwyn:
Além da fogueira, a única luz que havia ali provinha de uma grande vela negra no centro da sala.
A vela era desagradavelmente brilhante. Havia algo de estranho nela. A chama não tremeluzia, nem mesmo quando Arquimeistre Marwyn fechou a porta com tanta força que papéis voaram de uma mesa próxima. A luz também fazia qualquer coisa estranha às cores. Os brancos eram brilhantes como a neve recém-caída, o amarelo cintilava como ouro, os vermelhos transformavam-se em chamas, mas as sombras eram tão negras que pareciam buracos abertos no mundo. Sam deu por si fitando-a. A vela propriamente dita tinha quase um metro de altura e era esguia como uma espada, com arestas e retorcida, de um negro reluzente.
– Isso é…?
– … obsidiana – disse o outro homem que se encontrava presente no aposento, um indivíduo novo, pálido, carnudo e macilento, com ombros redondos, mãos delicadas, olhos juntos e manchas de comida nas vestes.
– Você chama isso de vidro de dragão – Arquimeistre Marwyn lançou um relance momentâneo à chama. – Arde mas não é consumido.
– O que alimenta a chama? – Sam quis saber. – O que alimenta o fogo de um dragão? – Marwyn sentou-se num banco. – Toda a feitiçaria valiriana tem raízes no sangue ou no fogo. Os feiticeiros da Cidade Livre podiam ver além das montanhas, dos mares e dos desertos com uma dessas velas de vidro. Podiam entrar nos sonhos de um homem e dar-lhe visões, e falar uns com os outros a meio mundo de distância, sentados diante de suas velas. Acha que isso podia ser útil, Matador?
– Não precisaríamos de corvos.
– Só depois das batalhas.
Tem-se a impressão de que as velas de obsidiana não “funcionavam” antes dos dragões voltarem a aparecer. Ou será que cidadela desencorajava o seu uso e escondia o segredo de como usá-las para manter seu monopólio de conhecimento?
O fato é que desde a volta dos dragões com Daenerys a magia no mundo tem voltado a acontecer e a ficar cada vez mais forte, lobos gigantes, Os Outros, e até mesmo a magia da Guilda dos Alquimistas. Ou você já esqueceu de quanto ardeu e brilhou o Fogo-vivo na batalha d’Água Negra?
Além dos dragões serem uma peça chave para qualquer um que os controle em caso de guerra, a própria magia que parece aumentar cada vez mais no mundo a medida que eles crescem, ameaça o poder da cidadela que é baseado em conhecimento e controle por meio de “aconselhamento” e do monopólio das comunicações. As velas de obsidiana são só mais um exemplo do que agora sabemos, mas o que mais pode estar por trás dessa conspiração dos meistres? Será que ainda veremos Marwyn em Game of Thrones (série)?