– Há muito tempo que tenho fome. Embora não de comida. Diga-me, por favor, quando será servida a justiça?
— Primeiro encontro de Tyrion e Oberyn na capital (A Tormenta de Espadas, Capítulo 39, Tyrion V)
Muitos fãs acham injusto o fato de Oberyn Martell, um personagem tão incrível, ter sido arrancado dos leitores de maneira tão rápida, inclusive eu. Sim, ele foi apresentado no terceiro livro, e nesse mesmo livro morreu, depois de um combate com a Montanha, Gregor Clegane. Mesmo assim, sua morte foi tão sentida quanto a de personagens como Catelyn e Robb, que estiveram conosco desde o início da saga.
Uma grande parcela dessa inconformidade parte do fato de que Oberyn morreu sem conseguir alcançar seus objetivos na capital: a vingança pela morte de sua irmã, a Princesa Elia, e de seus filhos. Elia Martell, esposa do Príncipe Rhaegar Targaryen, foi morta por Sor Gregor durante o Saque a Porto Real, comandado por Lorde Tywin, em ato de traição ao então rei Aerys II Targaryen, durante a rebelião de Robert Baratheon.
Sim, ele conseguiu matar a Montanha durante o julgamento (será?), mas de que adianta derrubar o peão enquanto o mandante do crime ainda vive?
— Ele quer a cabeça que deu as ordens, não só a mão que brandiu a espada.
— Tyrion Lannister durante a visita de Oberyn à sua cela (A Tormenta de Espadas, Capítulo 66, Tyrion IX)
Essa teoria, aceita por uma grande quantidade de leitores na internet, defende a ideia de que Oberyn estaria envenenando Tywin secretamente durante sua visita à Porto Real.
Se você ler com atenção os capítulos da capital, verá que existem vários trechos que podem suportar essa teoria:
– (…) Onde posso encontrar o senhor meu pai?
– No aposento privado, com Lorde Tyrell e o Príncipe Oberyn.
Mace Tyrell e a Víbora Vermellha dividindo o mesmo pão? Cada vez mais estranho.
— Sor Meryn Trant e Jaime logo após seu retorno à capital (A Tormenta de Espadas, Capítulo 62, Jaime VII)
Esse trecho sugere que Oberyn esteve, talvez por mais de uma vez, “dividindo o pão” com Tywin quando na capital. O próprio banquete de casamento teria sido uma ótima oportunidade pra o Víbora, de alguma maneira, continuar envenenando seu nêmesis.
– Decerto que tenho muito a agradecer à sua irmã, Se não fosse a acusação dela no banquete, podia perfeitamente ser você a me julgar em vez de ser eu a julgá-lo. – Os olhos do príncipe escureceram com divertimento. – Quem sabe mais sobre venenos do que a Víbora Vermelha de Dorne, afinal?
[…]
– Seu pai – disse o Príncipe Oberyn – pode não viver para sempre.
Algo no modo como Oberyn disse aquilo arrepiou os pelos na nuca de Tyrion. De repente retomou consciência de Elia, e de tudo que Oberyn tinha dito enquanto atravessavam o campo de cinzas. Ele quer a cabeça que deu as ordens, não só a mão que brandiu a espada.
– Não é sensato proferir tais traições na Fortaleza Vermelha, meu príncipe. Os passarinhos estão à escuta.
– Que escutem. Será traição dizer que um homem é mortal? Vaiar morghulis era como se dizia na Valíria de outrora. Todos os homens têm de morrer. E a Perdição veio provar que era verdade.
— Príncipe Oberyn Martell em visita à cela de Tyrion (A Tormenta de Espadas, Capítulo 66, Tyrion IX)
Na segunda metade do livro 3, vemos Joffrey morrer ao ingerir um veneno durante o próprio Casamento (só nós sabemos que o veneno estava na rede do cabelo de Sansa). Como principal suspeito, Tyrion é levado à julgamento.
O rosto de Lorde Tywin estava tão sombrio que por meio segundo Tyrion perguntou a si mesmo se ele também teria bebido vinho envenenado.
— Tyrion, durante o próprio julgamento
Durante os testemunhos, o velho Pycelle chega a enumerar e descrever algumas substâncias letais que poderiam ter sido usadas para matar o rei.
O seguinte trecho é o que chama mais atenção:
– (…) Este chama-se sangue de viúva, devido à cor. Uma poção cruel. Faz com que a bexiga e os intestinos deixem de funcionar, até que a vítima se afogue em seus próprios venenos.
— Gran Meistre Pycelle, durante o julgamento de Tyrion
Abaixo, o trecho em que Tyrion atira no pai antes de fugir da cidade:
Foi encontrar o pai onde sabia que o encontraria, sentado nas sombras do poço das latrinas, com o roupão enrolado em volta dos quadris. Ao ouvir o som de passos, Lorde Tywin ergueu os olhos.
[…]
Por uma vez, o pai fez o que Tyrion lhe pediu. A prova foi o súbito fedor, quando suas tripas se soltaram no momento da morte. Bem, estava no lugar certo para isso, pensou Tyrion. Mas o fedor que encheu a latrina forneceu ampla evidência de que a freqüentemente repetida piada a respeito de seu pai era apenas mais uma mentira.
No fim das contas, Lorde Tywin Lannister não cagava ouro.
— Tyrion mata seu pai na latrina (A Tormenta de Espadas, Capítulo 78, Tyrion XI)
Seria possível que, de alguma forma, ao matar o pai, Tyrion tenha “cortado” o efeito do veneno?
Aqueles que já leram o quarto livro sabem que o corpo de Tywin estava fedendo MUITO durante o funeral.
É claro que todos os mortos fedem, mas o destaque dado pra isso nos leva a acreditar que o cheiro era realmente fora do normal:
A Mão do Rei estava apodrecendo visivelmente. Seu rosto havia tomado uma coloração esverdeada, e seus olhos estavam extremamente afundados, duas poças negras. Fissuras haviam se aberto em seu queixo, e um sujo fluído branco foi se infiltrando pelas juntas de sua armadura de ouro e esplêndido carmesim para a piscina debaixo de seu corpo. Os septãos foram os primeiros a ver, quando voltaram de sua devoção pela manhã. Eles cantaram suas músicas, rezaram suas orações e enrugaram seus narizes, e um dos mais devotos ficou tão fraco que teve que ser ajudado a partir do septo. Pouco depois um bando de novatos vieram balançando incensários, e o ar tornou-se tão grosso com o incenso que o esquife parecia envolto em fumaça. Todos os arco-íris se desfizeram naquela nevoa
perfumada, mas o cheiro persistia, um cheiro doce e podre que fazia Jaime querer vomitar.[…]
De olhos vermelhos e pálida, Cersei subiu os degraus e ajoelhou-se acima do seu pai, trazendo Tommen a seu lado. O rapaz recuou a vista, mas sua mãe agarrou seu pulso antes que ele pudesse se afastar. — Ore! — sua mãe sussurrou, e Tommen tentou. Mas ele tinha apenas oito anos e Lord Tywin era um horror. Ele desesperadamente puxou o ar, e então o rei começou a soluçar. — Pare com isso — Cersei disse.
Tommen virou a cabeça e se dobrou, vomitando. Sua coroa caiu e rolou pelo chão de mármore. Sua mãe se afastou com nojo, e de repente o rei estava correndo para a porta, tão rápido quanto suas pernas de oito anos de idade poderiam levá-lo.
– Sir Osmund, me alivie — Jaime disse acentuadamente, enquanto Kettleblack virou-se para perseguir a coroa. Ele entregou ao homem a espada de ouro e seguiu atrás de seu rei. No Salão das Lâmpadas ele oapanhou, sob os olhos de duas dezenas de assustados septões.
– Sinto muito — Tommen chorou — Eu vou fazer melhor da próxima vez. A mãe diz que um rei deve mostrar o caminho, mas o cheiro me deixou doente.
Assim não vai dar. Muitos ouvidos ouvindo e olhos assistindo.
– Melhor irmos para fora, Vossa Graça. — Jaime levou o menino para fora onde o ar era tão fresco e puro quanto era o de Porto Real.
Quarenta homens de manto dourado tinham sido colocados ao redor da praça para guardar os cavalos e as ninhadas. Ele levou o rei para o lado, bem longe de todos, e sentou-se sobre os degraus de mármore.
– Eu não estava assustado — o garoto insistiu — o cheiro me deixou doente. Não o fez ficar doente? Como pode suportá-lo, Sor tio?
— Jaime, Cersei e Tommem durante o funeral de Lorde Tywin. (O Festim dos Corvos, Capítulo 9, Jaime I)
– Não ouse falar-me de adequação depois do nauseabundo objeto de escárnio em que transformou o cadáver do meu pai.
– Vossa Graça não pode pensar… — O velho ergueu uma mão manchada, como que para se proteger de um golpe. — As irmãs silenciosas removeram as entranhas e órgãos do Lorde Tywin, drenaram lhe o sangue… tomaram todos os cuidados… o seu corpo foi cheio de sais e ervas odoríferas…
– Oh, me poupe dos detalhes repugnantes. Eu cheirei o resultado dos seus cuidados
— Cersei dando uma bronca em meistre Pycelle (O Festim dos Corvos, Capítulo 18, Cersei IV)
Se o corpo de Tywin foi devidamente tratado, por que ainda assim ele fedia tanto? Sem dúvidas, Oberyn seria capaz de ter feito isso (Quem sabe mais sobre venenos do que a Víbora Vermelha de Dorne, afinal?) e ele certamente tinha um motivo. Os Lannisters não são os únicos que pagam suas dívidas.
Então, o que vocês acham? Acreditam que Oberyn conseguiu sua vingança? Ou acham que ele não agiria pelas costas do irmão Doran, que queria que Tywin Lannister sobrevivesse para assistir a queda da Casa Lannister?
Mas uma coisa é certa: Se essa teoria vier a se confirmar e Tywin vinha sendo mesmo envenenado pelo Oberyn, então Tyrion fez um “favor” ao pai quando o matou rapidamente. Esse tipo de ironia é a cara de George R. R. Martin…