Esse texto NÃO CONTÉM SPOILERS DOS LIVROS e é destinado principalmente para aqueles que não terminaram ou sequer começaram a leitura dos mesmos. Se você já leu ou não se importa em saber o que vai acontecer, confira a análise COM SPOILERS, que em breve deve tá saindo por aí.
A primeira cena do episódio é, claramente, aquela que dá nome ao episódio. “First of His Name”, (ou “Primeiro de Seu Nome”), é uma espécie de título dado ao membro de uma família nobre (seja ele lorde, ou rei) se não existiu ou existe alguém com aquele mesmo nome naquela mesma Casa (o rei Aerys Targaryen, por exemplo, era o “Segundo de Seu Nome”, já que viveu, em outra época, outro Targaryen chamado Aerys). Enfim, logo no início, vemos a coroação do rei Tommen, “Primeiro de Seu Nome”, e é uma sequência muito bonita. Não só pela cinematografia e a direção mais uma vez impecável de Michelle MacLaren, ou pela voz expressiva do septão e os aplausos, mas também pelo que ela representa. Como o diálogo entre Cersei e Margaery sintetiza bem, Tommen talvez seja o primeiro rei (não só no nome) a merecer o Trono de Ferro nos últimos cinquenta anos. Tommen é esperança, e é esse o grande significado da cena. Especialmente nesse momento de decadência dos Lannisters, evidenciado em vários momentos da temporada.
Que seu reinado seja longo.
E por falar no diálogo de Cersei e Margaery, durante a cerimônia de coroação, enquanto a futura rainha e o rei trocam sorrisos e a câmera, de maneira sensacional, é bloqueada por Cersei com uma cara não muito feliz, quem esperava que ela e a ex-futura-nora fossem conversar de maneira tão civilizada? Digo, é claro que estavam saindo faíscas dali, mas as duas pareciam (pareciam) quase cúmplices na dor. Com a ausência de Jaime e Tyrion no episódio, foi a chance de Cersei mostrar a que veio, o que infelizmente, em minha humilde opinião, ela não conseguiu fazer. Não por causa da atuação de Lena Headey, que esteve ótima em vários momentos, mas pelo roteiro, que preferiu mostrar uma Cersei apagada e, de certa forma, submissa. Ela aceitou muito facilmente a ideia de casar-se com Loras e até pediu ajuda à Margaery. Claro que isso pode sinalizar uma amadurecimento da personagem que, ao perceber a necessidade de uma aliança com os Tyrell, aceitou ser submetida aos desejos do pai. Só que essa não é a Cersei que eu queria ver. Eu queria vê-la fazer alguma coisa para reverter sua situação. Mas devemos levar em conta que ela perdeu um filho e que, embora Margaery também esteja vestindo preto, ela é a única que realmente está de luto por isso.
A belíssima Natalie Dormer também esteve ótima em cena. Dava pra ver como ela ria por dentro ao mentir dizendo não ter pensado em seu futuro como rainha depois da morte de Joffrey e ao provocar Cersei chamando-a de irmã (ou seria mãe?), mesmo depois da rainha ter ameaçado enforcá-la durante o sono em “Second Sons” caso ela voltasse a fazer isso.
Embora o título “First of His Name” seja uma clara referência ao novo rei Tommen Baratheon, foram as três rainhas que reinaram nos primeiros dez minutos do episódio. Perceberam como até Daenerys, que nem conhecia Joffrey, recebeu a notícia da morte dele com um sorriso no rosto? E depois de uma temporada e meia vendo Mhysa lutar pra libertar todos os escravos de Astapor, Yunkai e Meereen, seu progresso é destruído por uma única fala de Sor Jorah. As duas primeiras cidades que ela libertou foram retomadas pelos mestres enquanto os homens livres que ficaram para trás foram escravizados novamente. Esse foi o primeiro golpe que a cena nos deu, e o segundo veio logo em seguida. A esperança de que Dany fosse deixar tudo aquilo para trás e navegar para Westeros (reforçada por toda aquela conversa a respeito da quantidade de homens e navios necessária para tomar Porto Real), foi arrancada do público quando ela decide ficar em Meereen e fazer o que as outras duas rainhas deveriam estar fazendo: governar.
Até quando eles vão ficar escrevendo essas frases de efeito pra Dany?
Sem dúvidas, essa foi a decisão mais nobre e correta. Uma decisão que, dentre todos os candidatos ao Trono de Ferro, só mesmo Dany tomaria. Isso certamente fez crescer a admiração que as pessoas sentem por ela (ou não). O problema é que, mais uma vez, o objetivo dela foi adiado, e isso é algo que vem sendo prometido desde o final da primeira temporada.
Aqui também ouvimos Jorah se referir à Tommen como um “garoto bastardo sem nenhum direito”, o que é um pouco engraçado se lembrarmos do que Margaery disse a respeito de ele “ter nascido para sentar-se no Trono”, ao que Cersei imediatamente respondeu: “Mas ele não nasceu” (é claro que não se referindo à ilegitimidade do garoto, mas ao fato dele ser seu segundo filho com Jaime Robert). No entanto, uma coisa que ele falou é bem verdade: os Lannisters nunca estiveram tão vulneráveis. E a situação financeira deles é prova disso.
É, amigos. Parece que os Lannisters nem sempre pagam suas dívidas. Mas é incrível como, mesmo ao relatar essa situação para a filha, Tywin Lannister não deixa a peteca cair. Charles Dance é um ator magistral e nos entrega sempre aquele seu ar de superioridade. Mesmo pobre, Tywin se comporta como se fosse o homem mais poderoso de Westeros… Bom, ao menos é isso o que ele pensa ser. Mas quem era mesmo o Mestre da Moeda antes de Tyrion e, provavelmente, tem um dedo metido nessa dívida colossal, bem como no assassinato de Joffrey e em todas as desgraças que aconteceram nos Sete Reinos? Mindinho.
Alguém aí sentiu falta de Lysa e Robin Arryn? O fato do Ninho da Águia ser, como a própria Lysa gosta de dizer, “inexpugnável”, foi bem apresentado na primeira cena do Portão Sangrento. Isso também explica por que tanto a mãe quanto o filho, por viverem enclausurados, são meio malucos. Os dois atores, Kate Dickie e Lino Facioli (que é brasileiro!), interpretam muito bem seus papéis. Aidan Gillen e Sophie Turner estiveram ótimos. E tanto os efeitos especiais no exterior quanto o trabalho dos cenografistas no interior fazem do Ninho da Águia um dos castelos mais bonitos de toda a série.
Nesse episódio descobrimos que Petyr Baelish mandou Lysa envenenar o marido, Jon Arryn, e mandar uma carta para a irmã, Catelyn, fazendo-a acreditar que os Lannisters haviam cometido o crime. Também vale lembrar que ele mentiu a respeito de ter perdido a adaga usada pelo assassino que tentou matar Bran numa aposta com Tyrion, só pra que Catelyn capturasse o anão, desencadeando eventos que deram início a guerra entre leões e lobos e à posterior Guerra dos Cinco Reis. Tudo foi revelado de maneira bem natural pela própria Lysa, que só para de falar quando Mindinho a beija forçadamente… Ele é realmente capaz de encarar qualquer coisa pra conseguir o que quer.
Pelos gritos da Lady Arryn na noite de núpcias, o cara não deve ser tão “mindinho” assim. O que também pode explicar o ciúme doentio que ela sente. Na verdade é algo que vem de muito tempo. Lysa sempre teve inveja e ciúmes de Catelyn, e o diálogo deixa isso bem claro. E é justamente por Sansa ser tão bonita quanto Cat quando jovem, que ela se preocupa com os cuidados que o marido tem com a moça. Pobre Sansa. Mais uma vez prisioneira e mais um vez atirada em um casamento arranjado com um guri que, pela tara em ver pessoas “voarem” através da Porta da Lua, tem todo o potencial pra se tornar um novo Joffrey.
Foi um pouco estranho ver como Mindinho e Sansa chegaram ao Ninho da Águia em dois episódios enquanto Sandor e Arya estão tentando desde o primeiro. Quem mandou andar por aí sem um mapa (ou um navio)?
É sempre bom lembrar os mentores sensacionais de Arya. Além das inúmeras referências à Jaqen H’ghar, nesse episódio vimos também a “oração” ensinada por Yoren e os passos de dançarina de água ensinados na primeira temporada pelo incrível Syrio Forel. Na “oração”, além dos clássicos Cersei, Joffrey e Tywin Lannister, vimos alguns nomes novos como Walder Frey, Melisandre, Beric Dondarrion, Thoros de Myr e Meryn Trant. O primeiro, é o conhecido e odiado anfitrião do Casamento Vermelho. Os outros três foram responsáveis por tê-la separado de Gendry em “The Climb” enquanto o último foi o homem que matou a Primeira Espada de Bravos, o que é realmente muito estranho se você parar pra pensar. Sor Meryn pode ser o único membro da Guarda Real (além do Senhor Comandante, Jaime) que tem um rosto, mas está longe de ser um cavaleiro valoroso a ponto de matar “o maior espadachim que já viveu”. Será possível que Syrio esteja vivo? Improvável. Mas seria ótimo, não seria? Mesmo com poucas cenas, o personagem interpretado por Miltos Yeromelou conseguiu se tornar um dos mais queridos da série.
De todos os mentores da Arya, o Cão de Caça é o pior. Seus ensinamentos valem muito, tanto quanto os de qualquer outro, mas a maneira como ele trata a guria é terrivelmente dura e implacável. Não me admira que ela tenha tentado perfurá-lo com a Agulha. Ainda mais por ele ser um dos nomes que ela repete antes de dormir. Felizmente, ele tinha sua armadura (and a big fucking sword). Graças a isso, poderemos assistir à incrível parceria de Rory McCann e Maisie Williams por mais algum tempo.
Aqui vemos um paralelo interessante entre as meninas Stark. Enquanto Sansa encarou de frente a morte do irmão, da mãe e do pai quando confrontada por Robin Arryn no Ninho da Águia, Arya agiu de forma bem infantil quando Sandor disse que todos os seus amigos estavam mortos. Os fãs que me perdoem, mas Arya pareceu bem mais “bobinha” que a irmã nesse episódio.
Enquanto Tywin reclama da aparente falta de dinheiro, Cersei gasta aos tubos mandando fazer um barco para a filha Myrcella, que foi enviada para Dorne em “The Old Gods and The New”. Essa interação entre ela e Oberyn Martell é inédita até para aqueles que leram os livros. Não é que deu certo? Se tem uma coisa que a série faz bem é encontrar similaridades entre os personagens. Ambos perderam entes queridos e agora buscam vingança de alguma maneira. Os atores tem uma química tão boa que fica fácil acreditar e aceitar o fato de Cersei estar se abrindo daquele jeito para um inimigo declarado de seu pai. Mas, como ele mesmo disse, os Lannisters não precisam fazer alianças com aqueles em que podem confiar, mas sim com os que não podem. A fragilidade da rainha denota bem esse momento decadente de sua Casa.
E dada a líbido extremamente elevada de Oberyn, não me admira o fato de que ele tenha oito, dez, centenas de filhas espalhadas pelos Sete Reinos. Mas será que um dia chegaremos a conhecê-las? Todas essas conversas sobre os Jardins de Água e Lançassolar só fazem aumentar a minha curiosidade em ver Dorne ser retratada na série. Espero que aconteça. E logo.
A fala de Cersei sobre como as garotas são maltratadas em todos os lugares do mundo (especialmente no mundo de Game of Thrones) foi quase como uma resposta – uma resposta bem superficial – às inúmeras cenas de violência contra a mulher que vimos nesse episódio, nos episódios anteriores e que provavelmente veremos nos episódios futuros da série.
Outra parceria sensacional é a de Brienne e Podrick. Embora para mim ela seja a personagem que mais se aproxima do que é um “verdadeiro cavaleiro”, ela nunca precisou viajar como um. Assim como Podrick também nunca fez nada além de servir vinho, vestir armaduras, despir prostitutas e matar Mandon Moore pra salvar a vida de Tyrion na Batalha da Água Negra. A participação deles nesse episódio não serviu pra muita coisa além de mostrar como eles estão se ajustando a essa nova posição. Foram duas cenas leves, curtas e despretensiosas. Gwendoline Christie e Daniel Portman são muito bons. Principalmente quando estão juntos.
Ao norte da Muralha, descobrimos como Locke chegou a Castelo Negro sem que nenhum de nós percebesse… O nível de Sneak do cara é elevadíssimo! Sozinho, ele conseguiu entrar na Fortaleza de Craster e encontrar Bran e seus amigos dentro de uma cabana que, depois, ele afirmou estar cheia de cachorros raivosos para manter Jon e os demais patrulheiros longe de lá. Como vimos em “The Lion and the Rose”, Roose Bolton o enviou para buscar (e matar) os Starks remanescentes. Mas nem um exército inteiro dos Boltons pode vencer um Hodor. Quem imaginou que aquilo fosse acontecer? Ver Bran dominar sua habilidade daquela maneira e usar a força de Hodor pra finalizar Locke e libertar seus companheiros foi incrível! Aliás, a batalha na Fortaleza foi incrível em todos os sentidos. Com certeza foi uma das melhores e mais bem orquestradas sequências de ação que vimos na série nos últimos tempos.
Infelizmente, a sensação de que fomos meio enrolados foi inevitável. Todo esse plot dos desertores na Fortaleza de Craster se iniciou por que Jon decidiu matá-los para que Mance Rayder não descobrisse a verdadeira situação da Patrulha, o que por si só já não faz muito sentido. Como ouvimos em vários momentos da série, Mance foi por um bom tempo um membro da Patrulha da Noite, o que significa que ele a conhece suficientemente bem pra saber como o número de corvos é pequeno. Tanto que a maioria dos fortes da Patrulha foi desativada, sendo Castelo Negro um dos únicos três que continuam de pé.
(Para ler mais sobre a história da Patrulha da Noite e seus dezenove castelos, acesse nossa wiki)
Além disso, o arco não mudou em muita coisa as situações de Bran e Jon. Foi excelente, mas se não tivesse existido, todas as outras coisas aconteceriam mesmo jeito. Eles passaram dois episódios na Fortaleza de Craster e agora voltarão às suas jornadas, exatamente de onde pararam. Sem falar que, embora a decisão de Bran tenha sido bem plausível, esse “quase-encontro” dos irmãos foi algo que já vimos em “The Rains of Castamere”, e é um pouco chato que isso tenha acontecido de novo. Mas as cenas foram tão boas que dá pra perdoar.
Os Reeds, por exemplo, nunca foram tão bem explorados. A cena em que eles usam as visões de Jojen como desculpa para nos mergulhar de cabeça na fantasia e nos efeitos especiais foi extraordinária! Vocês repararam em como eles fazem Bran sorrir enquanto a árvore-coração atrás dele está iluminada pelo sol e como ele fica sério quando tudo escurece? E o que vocês acham que significam as chamas na mão de Jojen? Pra mim, as atuações aqui foram as melhores do episódio, especialmente as de Burn Gorman (Karl) e Thomas Brodie-Sangster (Jojen). Aliás, o episódio nos presenteou não só com a morte do farsante Locke, como também com a bem-vinda morte de Karl. Depois da batalha, como Jojen tinha previsto, a neve (Snow) caiu sobre ele e enterrou (a espada em) seus ossos. A morte dele foi bem parecida com a de Craster.
A cena em que Fantasma mata Rast foi um ótimo artifício pra nos mostrar que Bran teve sucesso em libertar os lobos mesmo que esse momento tenha acontecido fora da tela. O reencontro do bastardo e seu lobo também foi muito bacana, e talvez a coisa mais significativa pra Jon nessa missão.
Então, ao contrário do episódio anterior que acabou em gelo, esse acabou com fogo, assim como o sofrimento das esposas e filhas de Craster. A cena final, onde os Patrulheiros queimam a Fortaleza de Craster junto aos corpos (para que eles não acabem retornando com olhos azuis) foi muito bonita e conclusiva, mas está longe de ser um grande cliffhanger. Afinal, a Fortaleza é só um lugar a menos para homens como Petyr Baelish queimarem na busca pelo poder. “First of His Name” serviu acima de tudo pra nos mostar que, como Varys disse em “And Now His Watch Is Ended”, Mindinho queimaria o reino inteiro se pudesse reinar sobre as cinzas.