O texto a seguir possui spoilers dos livros a Tormenta de Espadas, O Festim dos Corvos e A Dança dos Dragões que ainda não foram adaptados na série de TV. Leia por sua conta. ‘Mockingbird; tem elementos de Arya II (pág. 767), Tyrion IX (669) e Sansa VII (pág. 819, último capítulo) de ATdE. Para ler a nossa análise que não compara a série com os livros, clique aqui.
O episódio começa no escuro, com a voz estridente de Jaime sobreposta ao negro. Devagarzinho a imagem se abre em suas cores. É como se tivéssemos que cavar fundo para encontrar esses dois personagens, antes de vê-los nítidos, pois a ideia de colocar Tyrion na escuridão é recorrente nesse episódio. A cada vez que um personagem o visita, tudo torna-se mais escuro, chegando ao ponto em que, já a noite, quando Oberyn chega, vemos Tyrion metade na escuridão e metade a mercê da luz da tocha. Como se metade de seu corpo já estivesse em sua cova, e a outra metade refletisse o brilho de uma luz. A luz de Oberyn, que é laranja e brilha mais sinistra e intensa do que a luz do sol que vemos na janela nesta cena com Jaime, por ainda ser dia.
A série colocou Jaime Lannister nesta temporada em situações muito diferentes do que as do livro. Citando rapidamente as cenas dele com Joffrey, Cersei, Brienne, Tywin e o treinamento Bronn, que são momentos que a série se delicia em criar diálogos autorais, vemos que o ‘efeito borboleta’ que se criou aqui foi o de Jaime reconhecendo de fato sua inabilidade na luta e sua inabilidade na vida. Eu gosto dessa cena dele com Tyrion, que aliás evoca os encontros que ele de fato tem com o irmão no livro neste momento, porque é algo que mostra o quanto é familiar para os dois serem verdadeiros um com o outro. Tyrion confessa que amou Shae e que foi enganado, e Jaime confessa que já não serve mais para defender ninguém. Sei que as coisas não são bem assim (Shae foi coagida e Jaime ainda pode voltar a ser o que foi um dia), mas isso é algo pontual para os dois. E é bonito, e é algo que Tywin e Cersei não podem tirar deles. No fim dessa cena vemos que Tyrion acredita que Meryn Trant será o campeão da irmã. E aqui está a diferença mais fundamental em como a histórica da TV lida com isso…
Na metade do episódio vemos que Bronn visita o antigo patrão, com vestes ridículamente pomposas para um mercenário. Aqui a série deu uma alongada na despedida destes dois personagens para poder meio que empurrar Tyrion mais fundo em seu medo, e foi uma ótima pedida para coroar a cena dele com Oberyn. Mas também para deixar claro que Bronn agora é um dos nobres da corte, e sua futura esposa inclusive será escalada para a quinta temporada da série.
Lollys Stokeworth foi estuprada no tumulto em Porto Real no dia em que Myrcella partiu para Dorne. Nos livros, nessa ocasião, ela acaba ficando grávida. Na série colocaram Sansa nessa situação, mas ela foi salva a tempo pelo Cão em 2.06 “The Old Gods and the New”.
MONTANHA
É sabido nos livros por toda Porto Real que o Montanha será o campeão de Cersei nos livros. E antes do último dia de julgamento, Tyrion já sabe que poderá contar com Oberyn. Eu adoro de verdade o jeito que a série se apropriou disso e deixou o julgamento de Tyrion ser mais objetivo e a conversa dele com Oberyn mais bonita e heróica. Mas o Montanha, com toda sua força, monstruosidade e relevância deveria ter sido, na minha opinião, mais bem cuidado na série. Ele é o coringa Lannister. Que não tivessem mudado tanto o ator, talvez? Mudaram tanto que, mais tarde na cena em que o Cão o cita, nem parece que são irmãos. Não existe familiaridade entre os atores e Thor ainda por cima possui um forte sotaque islandês. Torço para que esse meu parágrafo reclamão não faça sentido no episódio 8, afinal de contas só então veremos de verdade do que o Montanha é capaz de fazer. Eu gosto do Thor Björnsson, ele de fato é um dos homens mais fortes do mundo, e estou sinceramente com medo do quão gráfico poderá ser o final da luta dele com Pedro Pascal… acho que na verdade todo mundo vai ficar muito puto quando os dois se derrotarem, pois não teremos mais Pedro Pascal na série, e ele é demais.
Gosto muito também do jeito em que, em um episódio Cersei fala que sentia horror de Joffrey e no outro a vemos pisar em cima das tripas e do sangue de um homem morto por Gregor para conseguir o que quer…
ARYA, CÃO, BECKETT, RORGE, DENTADAS
Os episódios de David e Dan costumam ser os mais democráticos das temporadas. Vemos em Mockinbird pequenas sequências com os mesmos personagens. As de Arya, que pareciam ser ‘fillers’ inclusive possui alguns easter eggs muito legais, que enaltecem o caráter ‘autoral’ que David e Dan sempre buscam. Nessa cena do homem moribundo, especificamente, é uma homenagem a peça Waiting For Godot de Samuel Beckett, famoso dramaturgo inglês. O ator que está em cena é Barry McGovern, e ele interpreta um dos personagens na adaptação do texto pra filme. Quem tiver interesse de assistir tem no youtube, clica aqui. A conversa que o homem tem com o Cão é bastante inspirada nesse texto, principalmente a filosofia por trás da palavra “nada”.
Sei lá, os livros do Martin são regados de filosofia, é até meio inacreditável como o Martin consegue trazer tantos questionamentos bons nos livros, e quando a série tenta fazer isso fica aquela sensação de que Game of Thrones é só feita de frases de efeitos. No quesito frases de efeito, essa cena foi uma certo por ter boas referências.
Quando Dentadas surgiu na tela levei um susto, eu não esperava por isso, foi um ótimo recurso para o episódio. Como se David e Dan quisessem nos acordar do marasmo que a própria história estava propondo. Usaram essa cena nova para ferir o Cão, e para que ele tenha o seu fim, já que a cena da taverna que é a que ele se machuca nos livros foi adiantada (em Two Swords) e Arya e Sandor saíram ilesos da luta. Essa ferida do Cão ficou mais feia do que qualquer outra coisa que eu já tenha visto na série (em questão de machucados expostos), e acho que a fizeram assim com um propósito. Para que realmente seja incurável. Aliás, no livro, a ferida séria que ele tem e infecciona é na parte superior da coxa, o que o impede de andar.
Rorge e Dentadas, os dois homens desprezíveis que Arya libertou no passado agora voltaram para um fim precoce na série, já que os dois são encontrados e mortos em O Festim dos Corvos. Dentadas desfigura o rosto de Brienne e é morto por Gendry e Rorge é o cara que usa o capacete do Cão fingindo ser ele, e é morto por Brienne em um duelo.
O jeito que Arya mata Rorge na série, depois de aprender como encontrar o coração de um homem com Sandor, pareceu um pouco inocente (o cara não se mexeu, parecia estar esperando por aquilo de braços abertos e Maisie Williams parece ser lenta com a espada), mas gente… virar uma assassina é a parada mais sinistra que pode acontecer com uma criança como Arya. Desejar que ela seja muito boa no que faz nesse momento é cruel. Ela ainda pode ser. O fato é que o caráter ‘desajeitado’ de Arya especificamente nessa cena evoca uma série de outros momentos da série como o duelo entre Jaime e Brienne, Ned e Jaime… Ou o fato de que jamais vimos Robb lutando. Pode ser o figurino pesado, pode ser a falta de bons coreógrafos na produção da série. Mas olha que curioso: O que falta em Game of Thrones, que são boas cenas de lutas, é justamente o tema do episódio que vem.
A cena seguinte de Arya e Cão é tanto engraçada quando melancólica. Sandor tem sempre as melhores frases da temporada (Shut up! Shut up about everything!) e vemos que a série volta a explicar como a difícil pra Sandor se curar de suas cicatrizes. Nada como ele nos voltando a lembrar que Gregor pressionou seu rosto contra o fogo como se ele fosse uma costeleta de carneiro, segurando seu rosto com força nas brasas enquanto ele queimava. Apenas porque Gregor achou que ele roubou de seus brinquedos, mas ele não roubou nada, só queria brincar… No livro, Sandor divide essa história apenas com Sansa, seu passarinho. Jamais com Arya.
Algumas outras pequenas mudanças do livro: Brienne jamais encontra Torta Quente e fica sabendo da Arya e do Cão em Ilha Quieta, mais pra frente na história. Nessa cena ela e Podrick comentam que Walder Frey agora é Senhor de Correrrio. No livro, Tywin dá Correrrio para Sor Emond que é marido de Genna Lannister (irmã de Tywin), uma das personagens mais engraçadas do livro.
MURALHA
Em Castelo Negro os patrulheiros estão de volta e Jon mais uma vez precisa esconder Fantasma porque os lobos só são personagens da série quando dá 🙁 . Alliser Thorne neste caso é a personificação da HBO economizando em efeitos.
E que coisa é esse Jon que na série é líder até demais, né? Sempre sabe a resposta certa e a estratégia certa pra tudo. Sempre é líder das demandas mais perigosas, sempre é injustiçado perante os demais. É como se todos os homens ao redor dele fossem menos do que nada, o que não é verdade. Até quando vemos Yarwyck, o primeiro construtor, desconfortável ao ter que escolher entre Jon e Thorne a série diminui personagens que poxa, não deveriam estar nessa situação. Todo mundo que está ali ganhou uma nova chance. Todo mundo é chato e quer ser algo, não apenas Jon e Alliser e Janos. Mas vamos aos fatos: Jon então sugere que eles precisam para selar o túnel para que os selvagens não tenham como passar por baixo da Muralha e Alliser nega. O que já pontua a mais do que provável quebra do portão pelos gigantes. O que é awesome! Adoro como eles já desenham alguns aspectos da batalha vindoura, como quando no fim da cena vemos Alliser falar a respeito da possibilidade de colocar uma centena de barris com piche em cima da Muralha. Colocar fogo na muralha é um conceito tão maravilhoso quanto caótico, and it’s coming!
MEEREEN
Essa foi uma das cenas mais sexy da história da série. Embora vemos ali em cima uma bunda nua, a cena foi pouco gráfica e muito mais sutil e elegante do que Game of Thrones costuma ser. Daario pula a janela de Daenerys na calada da noite, ajoelha-se, dá flores, pede perdão, diz que só está ali para servi-la. Substitua Daario por uma mulher e Dany por um homem e teríamos aqui uma das dinâmicas mais comuns do jeito que a ficção costuma objetificar pessoas em função da história. Mas aqui a série subverteu os papéis (sem precisar de muito, já que Daario é extremamente pedante, meloso e chato nos livros também) pra que Dany manipulasse e fosse manipulada ali de um jeito que fosse doce. É um bom contraponto pra cena nada doce que é o beijo de Sansa e Mindinho no fim do episódio. Sexo consentido é muito mais legal. É o único legal. É o único que queremos ver!
Eu gosto da maneira que o roteiro desse episódio deixou alguns subtextos bem didáticos para o que está por vir (de novo, vejam e Muralha também). Vimos aqui a revolta dos filhos da harpia como pano de fundo para o que Dany acredita ser simplesmente assassinatos por vingança que podem ser contidos pelos seus mercenários. Acredito que esse é o tipo de coisa vai além da ideia de governar: a necessidade de proteger a si mesma de uma cidade que não gosta tanto de você. Por enquanto vemos que suas grandes decisões são puramente militares, e a série focou nas pessoas que diretamente foram prejudicadas por ela: Hizdahr e o pastor. Dany não tem necessariamente um plano de governo, está apenas tentando remendar o que não dá pra remendar. Ela tem um viés político tão populista, abraça os pobres, corre ao vento com as crianças, mas o que ela está pensando pra essas pessoas? Digo, economia, lazer, segurança, moradia, alianças com boas pessoas para ajudá-la a dividir e conquistar… cadê? “Calma Ana”, vocês estão pensando, né? Estou calma, só ansiosa.
Nas Cidades Livres o sistema político é oligárquico, elitistas e eletivo. Não existe sucessão de reis como em Westeros. Em Essos temos autoridades como príncipes, triarcas, arcontes, senhores do mar, duques, cujos papéis são simbólicos, pois quem manda mesmo são as famílias aristocratas e que possuem comércios ou inteligência de mercado em certo segmento (tecidos, especiarias, carne, leite, putas e putos, etc). É um sistema fundamentado no comércio. Comércio que inclusive é feito em Westeros.
Se ela voltasse a Porto Real nesse momento e tudo desse certo, seria diferente porque em Westeros existe um sistema hierárquico mais definido, um pequeno conselho onde cada figura desempenha seu papel (mão, mestre da moeda, meistre, bajuladores inúteis, bajuladores úteis) além de casas nobres que suprem o reino cada uma com sua especialidade e figuram dentro do proprio conselho. É uma zona e tem muita gente pobre e com a vida na merda, mas mesmo mentindo e roubando os líderes parecem saber o que estão fazendo. E em Essos? Quando a gente vai ver como isso funciona? Há escravos e homens maus, mas é algo muito além disso. Dany pode receber quantos homens ela quiser durante a noite, mas de dia gostaríamos de vê-la tirando suas decisões de lugares reais, lidando com as pessoas e se reunindo mais com seus conselheiros, fazendo alianças, saindo na rua e vendo o que a galera faz, etc. Quero as arenas, o comércio e as roupas estranhas HBO, me dá agora!
Voltando a falar sobre os escritores, acho que David e Dan foram muito criativos nesse episódio, se arriscaram em vários momentos e deram generosas doses de piadas internas para os fãs. Como nessa cena de walk of shame do Daario, encontrando Jorah que chega aos aposentos de Dany pela manhã. Quem em sã consciência não deu uma risadinha de canto pelo menos pensando… “Jorah, rei da Friendzone” durante esse momento? Na internet essa piada já perdeu a graça faz tempo, mas na série foi uma cena boa. Tudo nela foi bom, incluindo a ponte pra cena seguinte onde vemos Dany olhando o mapa da Baía dos Escravos, pensando como uma conquistadora, e vestindo algo completamente diferente do que ela já havia mostrado até hoje. Uma sexualidade completamente aflorada, em um desenho que lembrou muito o do vestido de casamento do filme John Carter:
Às vezes fica a sensação de que Dany acha que todo mundo é como ela. Quando ela anuncia para Jorah que enviou Daario para tomar Yunkai com os Segundos Filhos e matar os Mestres Yunkaítas, quem tomaria conta do lugar? E é só depois do conselho de Jorah que ela decide decide enviar Hizdahr zo Loraq para acompanha-los como um embaixador, e que eles têm uma escolha: “Eles podem viver no meu novo mundo ou eles podem morrer em seu antigo.” Tá tudo lindo Daniela, mas eu não te vi até agora perguntando para as pessoas se é isso que elas querem. A série mostrou Hizdhar e o pastor pedindo para ela dar de volta o que tirou deles. E só. E as outras pessoas?
PEDRA DO DRAGÃO
As cenas de nudez obrigatórias dos episódios de David e Dan tiveram uma roupagem mais suave desta vez.
Selyse Baratheon entra no quarto de Melisandre, que está em seu banho, e parece que ela entrou de propósito para vê-la nua. Sabemos que foi Selyse quem a apresentou a Stannis, e Selyse possui o desejo de ver Stannis completamente possuído pelo poder de R’hllor. E ela vê no corpo de Melisandre tudo o que é necessário para que isso aconteça. Mas vemos que nesta cena Melisandre tenta seduzir Selyse, usando de certa forma seu corpo mas principalmente suas palavras. Pois Selyse não se abala por sexo, piadas ou palavras difíceis. Selyse quer continuar acreditando em seu Deus, quer ser seu instrumento.
Aliás, Melisandre está nua a vulnerável ali para ajudar a personagem a despir-se das artimanhas que utiliza como sacerdotisa. A vemos falar sobre suas poções e seus truques, que são ilusões para “fazer com que os homens pensem que testemunharam o poder de nosso Senhor.” E aqui entra aquela ideia de que a fé que Melisandre planta nas pessoas é feita metade de um poder que é real e nem ela mesma entende, e metade do que ela realmente faz usando venenos, pós que deixam o fogo arder mais quente e mais alto, drogas que deturpam os sentidos das pessoas…
Será que essa foi uma cena de despedida de pedra do Dragão? Talvez tenha sido, Melisandre deu a dica de que não verão uma banheira quente como aquela em muito tempo e o episódio da Batalha da Muralha já é o nove. Seja como for, o gancho para tudo isso foi a ideia de que Shireen partirá com a comitiva, mesmo com o desejo contrário da mãe que acredita que ela tenha “tendências heréticas”. Mas Melisandre diz que viu nas chamas que Shireen deverá estar com elas, pois “O Senhor precisa dela”.
A mãe de Shireen não a odeia desse jeito nos livros. É Stannis quem a repele, mas Stannis é desconfortável com todo mundo então ele só está sendo ele. Quero que o destino de Shireen esteja longe de ser o de um sacrifício de sangue para R’hllor ou algo do tipo. Stannis não deixaria que isso acontecesse. O mais sinistro dessa cena foi Melisandre ter tirado seu colar de rubi para se banhar. Nos livros ela não o tira para nada.
BRIENNE, PODRICK, TORTA QUENTE
Não me lembro qual foi a última vez que fiquei tão feliz em ver um personagem em Game of Thrones. TORTA QUENTE <3 <3, personagem visto pela última vez nessa mesma hospedaria, quando a Irmandade sem Bandeiras o deixou lá. Assim como nos livros vemos que ele se encontrou nas cozinhas, preparando deliciosas refeições e falando sem parar sobre como cozinhar, assar e fazer um delicioso molho é a coisa mais importante do mundo. Tudo nessa cena tem uma aura mais leve, Brienne está radiante e engraçada e a cena foi muito bem iluminada.
Brienne então diz que procura uma garota ruiva, alta, de olhos azuis e bem nascida chamada Sansa Stark. Torta Quente olha para ela e pergunta: “Starks? Os que vieram de Winterhell? Ouvi dizer que são traidores” Brienne diz que ela jurou a sua vida a Catelyn Stark, e que ela jurou que iria trazê-la para casa suas filhas, mas ele ignora. Daí mais tarde Torta Quente muda de ideia e confessa que conheceu Arya, dando a pista para Brienne de algo que até então ninguém em Porto Real sabia… ou sabia? Arya encontrou-se com Tywin e Mindinho em Harrenhal, e os passarinhos de Varys talvez tenham contado para ele também. O fato é que agora Brienne tem muito trabalho a fazer para encontrar as meninas. Na bifurcação da estrada do rei eles decidem virar a direita, em direção ao Vale, por acreditarem que é lá que elas estão.
Brienne nos livros passa por poucas e boas até chegar nessa conclusão. E quando ela chega, é capturada pela Catelyn Stark zumbi e obrigada a ir atrás de Jaime para matá-lo ou seja lá o que ela decidirá fazer com Jaiminho. Faz até sentido a série ter dado isso de graça para Brienne, pelo menos ela sabe o que está fazendo e aonde deve ir. Podrick até ganha mais importância na história e a relação entre eles fica mais equilibrada.
TYRION E OBERYN
A cena de Tyrion com Oberyn foi algo realmente incrível, climático e belo.
Primeiro vemos que Oberyn sabia que Cersei estava tentando influenciá-lo contra Tyrion. E daí ele usa isso para contar a história de quando ele conheceu Tyrion, ainda bebê. Nos livros, Oberyn conta essa história no capítulo em que chega a Porto Real (Tyrion V pág 394), pra provar para Tyrion o quando os Lannister são ridículos e estranhos na maneira como tratam as pessoas que não consideram de valia para eles. É interessante porque Tyrion se sente ameaçado neste capítulo e avisa Oberyn que o castelo está cheio de Tyrells e que os Tyrells não gostam dele. Uma ideia que a série não criou, pelo menos até agora. Afinal de contas, Oberyn aleijou Willas Tyrell, e isso é algo que ninguém esquece (veja o que Jaime fez a Bran, dado suas devidas proporções).
Tyrion, ao ouvir sobre o desejo assassino de Cersei em relação e ele, diz que ela acaba conseguindo o que quer. Oberyn pergunta “Mas e o que eu quero?” E Tyrion responde meio que “cara, tava no trailer exibido no começo deste ano à exaustão… Se você quer justiça, veio ao lugar errado”. Mas Oberyn está no lugar certo, vai ter justiça por Elia e os bebês e será seu campeão, seu bobinho. A cara de alívio de Tyrion é maravilhosa.
No livro, tio Kevan Lannister adverte Tyrion que Cersei usará Gregor Clegane como seu campeão quando Tyrion diz que pedirá julgamento por combate. Isso antes do julgamento começar. Depois Tyrion procura por Bronn e vê que o mercenário é outro homem agora: logo se casará com Lollys Stokeworth e está sendo pago por Cersei para sumir. Bronn deixa Tyrion sozinho se recusando enfrentar a Montanha para defender o anão. No segundo dia de julgamento, a noite, Oberyn Martell visita Tyrion e diz que pretende salvá-lo, não como sua testemunha, mas como seu campeão. Na série Tyrion tem que passar por um dia de merda antes de ter sua vida salva por Oberyn. O que na verdade nem vai adiantar, pois é Jaime quem o salvará de verdade, mas isso é assunto pra depois…
NINHO DA ÁGUIA
E bem, vamos ao núcleo que deveria dar o nome a esse episódio? Mockingbird, símbolo imaginário da casa de um membro só que Mindinho criou ao chegar a Porto Real. Chegou para trabalhar em um emprego que Jon Arryn lhe deu. Jon esse que foi morto pela esposa Lysa. A mando de Mindinho. Palmas (CLAP CLAP CLAP).
O jardim do Ninho da Águia agora é todo branco, e flocos de neve caem do céu. Nos livros esse é o primeiro indício de que o outono está no fim, it’s over, inverno na área. E é por isso que lembra tanto Winterfell a Sansa. E aí vemos todos os elementos dos livros se repetindo: Sansa construindo seu castelo, Robin o destruindo… Lembrando que Robin nos livros é uma criança com problemas de saúde, é fraco e tem tremedeiras, além de ser muito mais chato e mimado por ser mais novo. E por isso tem um meistre e uma porção de empregados o auxiliando o tempo todo.
Aliás, o Ninho D’Águia é vivo e cheio de gente nos livros, pois a Casa Arryn é muito amada e todo mundo cuida de Lysa e Robin. É claro que muito disso é interesse da parte dos nobres, mas isso acontece em toda Westeros. O sucesso de um senhor ou de uma senhora vem de um castelo bem cuidado por pessoas que acreditam neles.
O tapa que Sansa dá em Robin foi cruel. Mas tudo nesse núcleo foi cruel, violento, né? Não vimos armas ou sangue mas foi psicologicamente mais doente do que tantas outras coisas… Fico imaginando que Sansa passou por coisas e se transformou, mas existe algo nela que ainda trata mal os empregados, responde e não permite que ninguém pegue o que é dela. Será? Não sei. Em comparação, se Robin tivesse feito isso com Arya, ela o mataria? Se tivesse feito isso com Bran, Verão arrancaria sua cabeça? Poderia ser pior para Robin, mas o meu ponto é o seguinte: Sansa passou muito tempo na série sem comer e em luto pela família, mas nesse momento nos livros ela ainda se sente assim. É algo que vai além da neve, é algo que está em seus pensamentos constantemente e que na série não temos pois não estamos necessariamente dentro da cabeça dela. Por isso destruir aquele castelo é algo que a destruiu também.
Mindinho é estranho pra caramba. O jeito que ele fala até a maneira como vai se aproximando devagarinho dela, ou o fato de que parece que ele queria ser visto por Lysa beijando-a. Sansa pergunta a ele a verdadeira razão por ter matado Joffrey e ele diz que amava Catelyn, justificando que “dada a oportunidade, o que fazemos com aqueles que feriram aqueles que amamos?”. Sansa sorri, ele se derrete e a beija. E ela corresponde, talvez por curiosidade, talvez por medo de não corresponder. Quando a câmera desliza para Lysa que assiste tudo, literalmente de camarote, eu senti de verdade o frio que deveria estar fazendo ali.
Mais tarde, no ‘acerto de contas’ com tia Lysa, vemos que a Lady Arryn começa a descrever o que acontece com um corpo quando ele cai pela porta da lua, e a descrição que ela faz, é como se fosse acontecer com Sansa, ‘olhos azuis, encarando o nada…’. E pronto, quando percebemos Sansa já foi pega pelos cabelos e está sendo forçada contra o imenso vazio até o solo. Lysa insana começa a falar sobre como Ned, Catelyn e Jon meteram-se em seu caminho, e que por isso agora estão todos mortos. Mindinho chega, jura por ele e pelos deuses (olha como esse lance de quebra de votos ou da fé mentirosa é algo importante nessa história), que levará Sansa embora, ela larga a sobrinha, cai em seus braços para ouvir que ele amou apenas Catelyn e ser jogada para a morte.
Nos livros ele diz “Apenas Cat”, e joga Lysa. Na série ele diz “Sua irmã”.
Além disso, outras pequenas diferenças: Mindinho ajuda Sansa a construir seu castelo de neve, a assedia e a beija e Sansa o repudia imediatamente. Ah, no livro, Mindinho assedia uma Sansa que tem apenas 14 anos de idade. O menino Robin chega na hora, fica contrariado e por isso destrói o castelo de Sansa. Sansa com ódio não o violenta mas rasga uma bonequinha de pano que ele tinha e amava. Por isso o garoto começa a ter ataques epiléticos e é preciso ser levado.
No livro também temos Marillion, o bardo e grande amigo de Lysa com quem Sansa conversa vez ou outra. No momento em que Lysa começa a empurrar Sansa para o nada, ela também grita por Marillion que assiste a tudo horrorizado. Lysa confessa que derramou lágrimas de Lys no vinho de Jon e que mandou a carta para Catelyn acusando os Lannisters. Sansa no livro sabe de todos esses detalhes. Na série, não. No livro, Mindinho chega e, conforta Lysa para depois jogá-la. E então ele imediatamente chama os guardas, acusando Marillion de matar sua esposa. No livro, Mindinho tem um álibi. Na série, por enquanto, não.
E o livro acabaria assim, com a revelação de Mindinho e Lysa terem matado Jon Arryn e basicamente terem começado a Guerra dos Cinco Reis. Mas ele não acaba assim. Por que ainda tem um prólogo… que consegue ser mais surpreendente do que isso.
Essa temporada está sendo muito boa. Achei incrível como o episódio começou parecendo ser morno e silencioso e de repente vemos um homem pular em Sandor e mordê-lo assustando toda a audiência e o episódio cresce e cresce e mais um pouco, tão alto quando a Porta da Lua, para depois poder jogar Lysa de lá. Aproveitem que hoje a noite não teremos episódio. O cinema está cheio de filmes bons. Descansem a alma porque na semana que vem, Game of Thrones volta a eliminar personagens que são próximos do nosso coração. Seremos como Rorge, parados esperando a HBO enfiar uma Agulha em nossos corações.