O texto a seguir possui spoilers dos livros A Tormenta de Espadas, O Festim dos Corvos e A Dança dos Dragões que ainda não foram adaptados na série de TV. Leia por sua conta. The Watchers on the Wall foi baseado no enredo dos capítulos JON VII (pág 557), JON VIII (pág. 651) e JON X (pág 755) de ATdE. Para ler a análise que não compara o episódio com os eventos dos livros, clique aqui. Atenção: o post a seguir contém uma dose extra de #mimimi.
Muitos dos leitores de As Crônicas de Gelo e Fogo carregam o núcleo de personagens da Muralha bem perto do coração. Ao ler os livros me peguei diversas vezes ansiosa para saber o que ia acontecer no núcleo de Jon Snow e Sam. E mesmo que os personagens da série de TV nesse núcleo estejam tão longe de ter o mesmo carinho que os produtores têm com os de Porto Real, a gente continua, esperançosos, esperando que eles sejam adaptados do jeito que merecem. Não digo isso a toa… Jon e Arya são os personagens que mais têm capítulos em A Tormenta de Espadas.
Mas Jon é um personagem muito difícil de se adaptar. Do mesmo jeito que Robb sempre foi, porque mocinhos não funcionam na TV, principalmente nessa história em que o legal é ter quantos tons de cinza sejam possíveis. É muito interessante pensar o quanto a série se esforçou para fazer de Robb um personagem com ponto de vista, e em certos momentos ela conseguiu. Mas cara, isso é algo difícil. A estrutura da história não deixa. Aliás, o jeito que as séries de TV são feitas hoje em dia pedem isso. The Sopranos, Breaking Bad, The Goodwife, Hannibal, True Detective… em nenhuma delas temos um mocinho.
No caso de Jon, o maior desafio é conseguir deixar bem transparente os conflitos internos dele, o que ele pensa, o que ele deseja. Muito da característica dos capítulos construídos com ponto de vista trata-se justamente de vermos o que ninguém ao redor desses personagens consegue: seus medos, seus pensamentos, seus planos. Os planos de Jon são bem transparentes: cumprir o dever, organizar, liderar, trazer um mundo melhor, ser útil, ser alguém. Mas como conseguir colocar na tela o que faz de Jon o que ele realmente é? O fato de que ele sempre pensar nos irmãos, no pai, em Winterfell, e em Ygritte?
Principalmente em Ygritte. Colocar a Batalha de Castelo Negro em um episódio é algo muito ambicioso justamente por isso. Porque a batalha é grandiosa e cansativa. George a escreveu em ondas, dividida em diversos capítulos, justamente para que a gente também se sentisse cansado ao ler. É claro que por conta de todas as minuciosas descrições de flechas incendiárias voando, gigantes tocando tambores, pessoas morrendo, amigos morrendo, correria, confusão. Mas também porque a maior batalha aqui é a interna. A interna é a pior, mais longa, e mais cansativa.
Jon é um herói clássico, que teve sua infância difícil, seu chamado, suas escolhas, e uma clara jornada até ser eleito comandante da Patrulha no final do livro. Tudo nele é feito para despertar empatia, de fato ele é um cara mó legal. Martin inclusive já disse uma dezena de vezes que Jon é o cara que ele queria ser. Em seus primeiros capítulos no livro A Guerra dos Tronos, isso fica muito claro. George o coloca como o que recebe o lobo diferente, lamentando sozinho no pátio em Winterfell por não ter sido escolhido com os outros irmãos para comer na mesa junto a Robert e Cersei. Por causa de Catelyn, Jon sempre teve de comer na mesa com os empregados, se esconder. E ele obedecia calado. Quando ele encontra Tyrion, e os dois têm aquela conversa sobre não se esconder seus defeitos, mas usá-los como armadura, George fez a construção de personagem definitiva para os dois. Bem ali, no começo do livro. Todo o papo de ter que vestir o negro e viver em celibato, servindo, longe, no frio e na pobreza… é algo que inspira coragem e respeito. Assim como Robb, Jon é filho de seu pai. No livro A Tormenta de Espadas, os dois vivem seu romance e se perdem por isso ao mesmo tempo, inclusive.
E nisso a série foi muito boa: construir Jon como herói, protagonista, força que move os personagens ao seu redor. Kit Harington é fã dos livros e nessa temporada conseguiu ser o Jon Snow que a gente sempre quis. Em toda sua tragédia, a época que Kit Harington passou se preparando pra Pompeii o mudou, para muito melhor.
Vou ser extremamente sincera e dizer que não consegui me emocionar com este episódio da primeira vez que o vi, no domingo a noite. Aliás, fui a única pessoa da equipe do site que não vibrou com o episódio no momento. Mas é burrice não perceber o quanto The Watchers on the Wall conseguiu nos apresentar um punhado de cenas que estão entre as melhores já apresentadas na série. Foi um espetáculo glorioso, foi um dos melhores momentos da TV. Fiquei frustrada culpando minha própria expectativa. Culpei os roteiristas, depois culpei o orçamento. Mas a culpa inteira vai pra George, que criou algo grande demais para ser mostrado. Blackwater fez sentido ter sido tão inegavelmente espetacular, porque é uma batalha menor, cheia de vilões e anti-heróis com conflitos internos mais perceptíveis. Quando se trata de um núcleo de gente boazinha, com um velhinho cego que gosta de falar de amor, um gordinho apaixonado, uma mãe solteira que passou a vida sendo abusada pelo pai, amigos corajosos e um bastardo herói… a coisa se complica. Como convencer a audiência da TV que eles também importam, sem parecer vazio demais?
É noite na Muralha. O vento sopra forte e uma escassa neve cai de mansinho. Samwell e Jon vigiam juntos e algumas pequenas fogueiras os aquecem em seu posto. E então Sam puxa conversa com Jon, querendo saber como é estar com uma mulher. A cena serve para colocar os dois personagens, com os pensamentos naquilo que importa, naquilo que desejam. Que é o desejo em si, o proibido. Colocar as meninas Ygritte e Gilly em um pedestal, para que lutar em uma guerra idiota como essa faça sentido, para que eles tenham motivo para lutar pelo que é certo, e voltarem vivos.
Mais tarde, Meistre Aemon vem nos falar um pouco sobre o passado, e como ele mesmo abriu mão de todas as coisas, fugindo para não ser instrumento das coisas que o amor é capaz de fazer. Amor ao poder, amor a alguém. “O amor é o fim do dever’ ele diz, e não podemos deixar de pensar em Robb, em Rhaegar… Jon, se as teorias sobre ele estiverem certas, é fruto do amor atuando em função do dever, fruto de uma das histórias mais trágicas, fruto de todos os segredos escondidos dessa história chamada As Crônicas de Gelo e Fogo. E é curioso que meistre Aemon tenha que aparecer para explicar isso não só pra Sam, mas pra gente também.
Falando em Aemon, a história que ele conta sobre seu passado, na série, é curiosa. A moça linda da qual ele lembra até do nariz, muita gente apontou ser Olenna Redwyne, a vovó de Margaery, que há alguns episódios citou ter sido prometida a um príncipe Targaryen. Mas aí tem o Aemon irmão de Ovo/Egg, que cedeu o trono pro irmão, tornou-se meistre aos 19 anos, teve que ficar firme ao ver sua família perecer. Nesse sentido, Aemon era para os Targaryen o que Sam é para Randyl Tarly.
Quando falamos em Aemon e Egg, pensamos na Rebelião Blackfyre e a sombra que ela sempre projeta na história. A série sempre tenta tirar um pouco o background histórico e focar no presente, mas, de novo, a estrutura da história não deixa.
Antes de analisar os outros arcos deste episódio, eu gostaria de levá-los rapidamente a descrição da batalha nos livros, que se desenrola em quatro capítulos. O que Stannis chega é o quinto e eu vou deixar ele de fora pra gente comentar só na semana que vem.
Tem o Berrante de Joramun, que é citado pela primeira vez por Ygritte em JON IV (página 311, capítulo da escalada). Depois temos JON V (pág 423), onde ele decide fugir e é aquele capítulo de Coroadarainha em que ele encontra Verão, é atingido por uma flecha na panturrilha, acreditando que o tiro veio de Ygritte e forçando o cavalo a correr a exaustão em direção a Castelo Negro. Depois disso temos um capítulo de Catelyn (pág 471), antes do Casamento Vermelho, em que Robb conta a mãe sobre seus planos em legitimar Jon e nomeá-lo herdeiro se ele a Jeyne não tiverem filhos ou algo acontecer a ele. Catelyn fica surpresa e pede para que o filho não cometa o mesmo erro que o rei Aegon IV que legitimou o irmão bastardo em seu leito de morte: “Os Pretendentes Blackfyre atormentaram os Targaryen por cinco gerações, até que sor Barrystan Selmy deu um fim em Maelys Blackfyre nos Degraus.“. No final do capítulo Robb sela o decreto da escolha do herdeiro na presença de todos os seus juramentados. No próximo capítulo de Jon, ele volta para a Patrulha e descobre que Mormont foi morto, além de Bran e Rickon, por Theon. Jon está machucado por conta da flechada e mal consegue andar, sentindo muita dor, e descobre que três pessoas que amou morreram. Entre esse e o capítulo seguinte, ainda acontece o Casamento Vermelho, mas Jon só vai ficar sabendo dele mais tarde. No entanto, a gente sabe.
O Jon que vai para a batalha nos livros está completamente quebrado, a naquela altura gente também está (não por Oberyn, mas por Robb e Catelyn). E mesmo assim a sua força de vontade em proteger a Muralha e os irmãos de negro é algo digno. Sem contar seus pensamentos em Ygritte, a mulher que fez dele homem e que ele foi obrigado a trair. Sua melhor amiga e sua amante. Tudo isso é ainda muito fresco para ele, feridas abertas, como a de sua perna. Falando em feridas, o Jon do livro tem uma cicatriz horrorosa no rosto por causa de Orell (e não um leve vermelho no rosto como o da série). Seu braço queimado, quando matou o wight para defender Mormont, nunca foi completamente cicatrizado nos livros e ele sempre sente dor.
Em Jon VII, vemos ele e Donal Noye, o mestre de armas (cara fenomenal que foi o responsável pelo machado de guerra do Robert Baratheon) fortificando as defesas de Castelo Negro. É interessante porque eles colocam bonecos de negro por toda a extensão da Muralha para fingir que a Patrulha tem mais homens do que na verdade tem (falo mais sobre números daqui a pouco). Nos livros os outros castelos não trabalham com defesas, porque todos os patrulheiros acreditam que não existe melhor defesa do que a própria Muralha. Quando Ygritte chega com os Thenns, todos são mortos pelas flechas incendiárias dos patrulheiros e mais: um bloco de gelo cede em cima deles, ou seja, a Muralha realmente estava ali fazendo seu papel.
Jon encontra Ygritte no fim, com uma flecha no peito, e ela morre em seus braços. Aqui acaba a investida do núcleo dela e só depois começa a batalha contra a galera que ainda está do outro lado da Muralha.
No capítulo seguinte, a batalha segue bem parecida como a que vimos na série, com os gigantes e mamutes conseguindo derrubar o portão e o gigante Mag, o Poderoso morto pelo Donal Noye. A diferença notável aqui é que o gigante é tão monstruoso que não cabe em pé no túnel, e tenta atravessá-lo engatinhando. No fim do capítulo, Jon vai levar as notícias para Aemon, e ele pede para que Jon lidere a Muralha, agora de Donal não está mais vivo. Então, páginas depois, em Jon IX, a gente vê o Mance tentando passar pela Muralha em baixo de um forte com formato de uma tartaruga gigantesca feita de madeira. Os Patrulheiros acabam o acertando também e assim acaba a festinha dos selvagens. Quando tudo acaba, todos comemoram e Jon tenta dormir, mas é acordado com Janos e Aliser o acusando de ser um vira-casaca e o prendendo em uma cela, para só no capítulo seguinte mandá-lo para Mance.
Alliser Thorne e Janos Slynt a essa altura estão em Atalaialeste do Mar, e não fazem parte da batalha. Já na série eles aparecem como personagens ativos neste núcleo desde o começo da temporada. E isso, na verdade, é bom.
Eu me lembro claramente em pensar que colocar essa batalha em apenas um capítulo seria muito estranho. Você, leitor, com certeza também pensou isso. Blackwater também é divida entre os pontos de vista de Tyrion, Sansa e Davos, mas tudo acontece ao mesmo tempo, um capítulo depois do outro. No caso da Batalha de Castelo Negro, não. Logo, como tentar fazer um episódio com a mesma estrutura do outro?
O Sam é um personagem com ponto de vista nos livros, e que personagem! Apesar dos seus pensamentos ‘covardes e medrosos’ ao redor dos temas que o encontram, Sam acaba sempre concluindo suas missões e sendo decisivo em certos aspectos da história.
Gilly e Sam foram os protagonistas desse episódio, porque de fato são os dois personagens mais bem desenvolvidos desse núcleo na série. E a gente mal percebeu isso. O episódio começa e termina com eles, e é como se fosse a única coisa que importasse, como se fosse a história de background usada para tentar fazer a guerra fazer sentido. Pensem: se Gilly e o bebê morressem nesse episódio, a coisa poderia ter ficado realmente tensa e triste. Não estou dizendo que isso deveria ter acontecido, mas dizendo que neles dois realmente está o romance mais bem feitinho e cuidado. Acho a Hannah Murray uma atriz incrível, e ela é escrita desse jeito ‘meio apagado’ para que Sam possa se sentir seu protetor, faz todo sentido. Mas…
Nos livros a força da Gilly está menos em ser um interesse amoroso e mais sobre ela estar com o bebê de Mance Rayder e ‘aturar’ Sam, que é um cara que tem uma baixa auto estima que incomoda muito. O problema é que, mesmo quando a gente destaca os personagens mais bem desenvolvidos e eles continuam a nos levar para a questão do Mance Rayder, o bebê e tudo o que a série negligenciou até agora… algo ainda parece vazio.
Grenn e Pyp são pequenos personagens na saga, mas que sempre inspiraram a Jon confiança e amizade. No começo, Grenn e Jon brigavam inclusive, mas depois tornaram-se amigos. Jon treinou Grenn e Pyp e contou com a ajuda deles diversas vezes. Os dois personagens estão absolutamente vivos nos livros, e estão lá quando Jon começa a ‘ignorar os amigos’ e depois quando tudo desmorona. A morte de Pyp e Grenn foram gratuitas sim, mas para adicionar mais senso de tragédia ao tema da guerra, não havia mais nada que os produtores pudessem fazer… Eles deveriam estar vivos para ajudar Jon a ser eleito comandante, mas ao mesmo tempo eles deveriam estar mortos para que Jon não tenha ninguém em quem confiar na próxima temporada. A não ser Edd Doloroso. Jon estará bem sozinho, e isso será interessante…
Falando em estar sozinho, isso me faz pensar sobre números. E números é um assunto delicado para esse episódio, mas é algo bem justificável. Na série a gente fica sabendo que Castelo Negro possui apenas pouco mais de 100 homens para defender a Muralha. Eu assisti o episódio algumas vezes e consegui contar 38 mortes ao total (não sei quais homens pertenciam aos selvagens e quais pertenciam a Patrulha). Ou seja, embora parecesse que, no meio das cenas de ação, tivessem muito mais homens ali, a série acabou sendo bem sincera a esse número.
Nos livros, quando Tyrion visita a Muralha, Mormont diz a ele que a Patrulha precisa de homens porque há ali apenas cerca de 1000 (contando todos os castelos). Vamos pensar que Castelo Negro tinha 400 homens, Torre Sombria 300 e Atalaialeste mais 300.
Mormont levou 300 homens com ele para o Punho dos Primeiros Homens. Quase todo mundo morreu, certo? Não sobrou quase ninguém em Castelo Negro ou Torre Sombria. Quando a batalha começa, poderíamos dizer que Castelo Negro até tem uns 200 homens, mas em certo momento Bowen Marsh leva uma galera pra enfrentar Mance Rayder no meio da batalha e quase todo mundo morre também. No final de tudo, sobram pouquíssimos homens mesmo, contando crianças e mulheres que fugiram de Vila Toupeira.
O meu ponto em falar sobre esses números é pensar que os outros castelos não foram mostrados, não contaram. Donal Noye, Bowen Marsh não estão nesse episódio ou na série agora (Bowen esteve na primeira temporada). Por isso a morte de Grenn e Pyp é, na verdade, mas um sintoma da maneira como a Patrulha da Noite é retratada. Muito menor do que ela realmente é, mesmo que os números batam.
O jeito que retrataram Janos Slynt durante toda essa temporada foi realmente engraçado. E é interessante pensar em como Janos é uma cópia de Joffrey Baratheon nesse episódio (negando-se a comparecer quando o dever chama, deixando o controle nas mãos do cara que mais odeia). Ele de fato é um homem corrupto e ridículo, e a série o colocou em situações muito boas. Estou ansiosa para ver como ele irá se comportar depois deste episódio, uma vez que Sam o pegou literalmente de cócoras quando ele deveria estar defendendo o reino. Ele e Alliser são uma bela dupla.
Alliser foi excelente durante o episódio. Conseguiu ser o cara que comparece, dando os melhores discursos de encorajamento e lutando bravamente com Tormund. Os dois personagens, como eu já disse anteriormente, não fazem parte da batalha e chegam depois. Mas fica claro o enredo que os torna antagonistas de Jon na eleição que se aproxima. Isso será divertidíssimo.
Tormund e os Thenns nos deram uns dos melhores momentos do episódio. Desde a história de Tormund com a ursa, e o jeito que ele se sente honestamente magoado quando Ygritte é ríspida com ele, até o duelo com Alliser, o jeito como corre feito um maluco e sua cena final, sendo preso pelos Patrulheiros. Tudo foi muito bem interpretado pelo Kristofer Hivju, que sempre deu o seu melhor por Tormund. É engraçado isso, porque o Tormund da série foi uma fusão entre Tormund e Styr. Mas depois a série escalou os Thenns e todos os selvagens, incluindo Ygritte, viraram bárbaros do mal que matam mesmo e cortam gente feito carne.
Não me entendam mal, isso é o que os selvagens fazem mesmo. Mas é contraditório que o Meistre Aemon tenha sugerido no começo do episódio que os selvagens são muito mais interessantes comparados a maneira que são descritos nos livros, do mesmo jeito que os patrulheiros são. Mas… o Mance Rayder dos livros é músico, engraçado, leve. Assim como Tormund que é sensacional. Por que não os retrataram assim, então? Os dois são muito menos emocionais e brutais e mais inteligentes e leves.
Daí nunca teremos aquele Tormund engraçadão para ser um elo suave entre Jon e os selvagens. Porque o cara que estará esperando Jon ao lado de Mance com certeza será Camisa de Chocalhos. E de engraçado e gente boa aquele cara não tem nada. Com a morte de Pyp e Grenn, essa abordagem que a série deu a Tormund e a partida de Sam e Aemon, não restará nada para Jon a não ser a companhia de Stannis e Melisandre. Isso será muito interessante.
Neil Marshall fez um excelente trabalho nesse episódio e inclusive tentou colocar mais sabor onde as cenas não tinham. A cena em que Jon sorri com a boca cheia de sangue para Ygritte antes que ela seja acertada por Olly, por exemplo, foi obra dele. Ygritte é uma das minhas personagens preferidas do livro e acho Rose Leslie não só linda como aplicada e espirituosa. A morte dessa personagem sempre foi uma das coisas mais tristes e fortes que li. É uma pena que Ygritte tenha se transformado em uma personagem ranzinza e apagada. E isso foi porque estenderam demais o reencontro dela com o Jon. A morte dela, que embora tenha sido linda com aquele slowmotion e a tela repartida entre gelo e fogo, evoca o problema mais fundamental desse episódio, que é a questão do ritmo.
Jon e Ygritte nos livros se reencontram na batalha, ela morta nos braços deles, poucos dias depois de Coroadarainha e Verão. Na série, isso aconteceu faz tempo, nos episódios The Rains of Castamere e Mhysa. No ano passado. Nossa mente, como espectadores, já não estava mais lá, com eles. Rose Leslie teve mais tempo em tela, mas sua personagem não continuou sendo desenvolvida e literalmente não tinha mais propósito pra viver. Jon dizer no começo que não era um ‘maldito poeta’ apenas engrossa o caldo da falta de habilidade em fazer isso bonito de verdade. Não precisa de romance. Quando alguém que foi seu amigo morre é triste e ponto final. Jon Snow sabe de muita coisa sim.
O final de Ygritte foi lindo e me custou algumas lágrimas. Mas o final dela já estava escrito, há anos, foi apenas replicado. O problema é transformá-la em uma ex-namorada vingativa durante nove episódios e esperar que a gente sinta algo em relação a isso. You know nothing, HBO.
Depois que Ygritte se vai, ainda temos a cena do pêndulo, que é maravilhosa, tanto quanto todo o esforço de Neil Marshall em dar tudo o que fosse possível para que esse episódio fosse épico. Na minha opinião, essa foice-pêndulo foi um pedido de desculpas pela corrente de Blackwater que não pôde ser feita na época. Os gigantes e mamutes, o plano sequência no pátio que fez todo mundo se lembrar de True Detective, a cena em que vemos tudo do ponto de vista de Fantasma, o juramento proferido por Grenn, os últimos momentos de Ygritte e Pyp… as coreografias de luta, o fim de Styr e o próprio Kit Harington. Tudo nesse episódio foi maravilhoso.
Este foi um episódio extremamente difícil de ser produzido, com cenas de batalha em sets de verdade onde chovia e tudo foi alagado, tempo e orçamento contados nos dedos das mãos. Ainda assim, uma obra prima de televisão. Em comparação com Blackwater? Muito maior! Não é fácil torcer pelo mocinho, e a HBO conseguiu fazer a gente torcer. Choramos com Jon e com os selvagens (matar gigantes e mamutes deveria ser proibido). Me emocionei tremendamente nas cenas tristes, e vibrei com as cenas de ação mais ousadas. Senti que o episódio foi muito escuro, e isso tem muito a ver com os efeitos especiais, o que é uma pena. A trilha sonora, no entanto, foi a melhor da temporada inteira. Nessa balança, acredito que o núcleo de Jon foi o maior prejudicado na ideia de dividir A Tormenta de Espadas em duas temporadas. Do mesmo jeito que o de Dany foi, com toda aquela cena de despedida com Jorah.
The Watchers on The Wall é lindo, a direção foi fantástica com requintes de crueldade e animosidade do jeito que só Neil Marshall sabe fazer. Este homem precisa estar em Game of Throens sempre! No entanto, com todo respeito, Jon Snow e Ygritte mereciam mais dentro da história da quarta temporada de Game of Thrones. Mais do que Sam e Gilly. Mas assim como Jon Snow da série, parece que só tivemos o direito de poder ser beijados pelo fogo uma vez.