O texto a seguir possui spoilers dos livros A Tomenta de Espadas, o Festim dos Corvos e A Dança dos Dragões que ainda não foram exibidos na série de TV. Leia por sua conta. The Children adaptou os capítulos: Jon X (pág 755), Jon XI (pág 786), Jaime IX (pág 744) e Tyrion XI (793), Arya XIII (pág 767) de ATdE; Cersei II de OfdC (pág 91), e Daenerys I (pág 35), Daenerys II (pág 132) e Bran II (pág 150) de ADdD.

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Depois de ‘Fire and Blood’, Game of Thrones jamais consegui fazer um final de temporada que tivesse uma força tão considerável.

Em “2.10: Valar Morghulis“, tivemos uma amarga Casa dos Imortais em contraponto com o apoteótico e maravilhoso encontro de Sam com os White Walkers. Embora a cena dos seres cadavéricos marchando Além da Muralha tenha sido um dos melhores momentos da série, a sombra que a adaptação das aventuras de Dany na torre mágica de Qarth deixou (mesmo com a adorável participação de Khal Drogo) até hoje não foi superada pelos leitores de As Crônicas.

Em “3.10: Mhysa” tivemos o melancólico festim dos Freys, que desfilavam a cabeça de Vento Cinzento costurada ao corpo morto de Robb pelo norte em justaposição a Daenerys sendo a salvadora branca de escravos. A terceira temporada é costurada ao redor do Casamento Vermelho, e seu fim foi tão triste e desgastado quanto nossos próprios sentimentos estavam naquela época. Na época já se falava da falta do epílogo do livro, já que faria mais sentido que Nymeria encontrasse o corpo de Catelyn momentos depois da carnificina.

O clima depois das filmagens do Casamento Vermelho na equipe de Game of Thrones ficou pesadíssimo. Richard Madden, Oona Chaplin, Michelle Fairley, David e Dan se prenderam demais uns aos outros e se prenderam à tragédia da cena que é de fato a mais importante de toda a saga até agora. A decisão de respeitar a grande atriz que Michelle Fairley é e não usar Lady Stoneheart nas próximas temporadas veio exatamente deste momento. De deixá-lo sagrado, de mantê-lo intocado da maneira que ele é.

Nós, aqui do outro lado das coisas, não sabemos o que acontece ali dentro dos set de gravações. Os produtores se envolvem pessoalmente e emocionalmente com a equipe e isso se reflete em tudo. Toda série de TV funciona assim.

Já disse isso um punhado de vezes aqui: a série nunca será melhor do que os livros, e as pessoas continuam exigindo que ela seja. Como se precisasse fazer justiça ao livro. Como se de alguma maneira David e Dan pudessem contar uma história melhor do que a que o Martin começou, lá em 1991 (muitos de vocês nem eram nascidos, vejam bem). Eles não podem. Eles não irão conseguir, nunca.

O problema de se adaptar Game of Thrones vai muito além de não podermos sentir a maravilhosa sensação de horror, fascinação e medo que é ler o Epílogo de A Tormenta de Espadas logo após de ter sofrido tanto com os horrores dos capítulos que o antecedem. O problema é ver Brandon Stark encontrar O Corvo de Três Olhos e conversar com ele com a voz grossa de um homem que já está crescido. O problema é ter um ator tão maravilhoso para ser Tyrion que fica difícil enegrecer demais sua psique. O problema é ter 10 horas para contar uma história e mesmo assim parecer pouco, sempre. Mas eles vão lá e fazem tudo mesmo com esse monte de problemas. Entregaram uma temporada muito louca e intensa, com um season finale difícil de ser entendido para aqueles que leram os livros. Mas entregaram.

Pra entender o que aconteceu nesse season finale da quarta temporada, precisamos entender o que aconteceu com esses personagens analisando as coisas de uma maneira mais primitiva. A conclusão que se chega, e que é a que a maioria dos sites especializados em TV chegaram, é a aqui David e Dan brincaram com a ideia de fazer os personagens se auto destruírem quando perceberam que as coisas que eles queriam, eles na verdade não iam conseguir em primeiro lugar. Que a jornada durante a temporada não serviu de nada e que a vida chegou e os esmagou. E, quando a realidade finalmente bate a porta, eles meio que piram, jogam tudo pro ar, e finalmente se permitem chorar, gritar, matar.

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É impressionante como esse foi um começo de episódio bonito. Game of Thrones raramente nos dá esse sentido de continuidade tão literal. Jon andando rapidamente pela neve, suja e cheia de cadáveres, enquanto Edd o observa do lado de cima. A Muralha de Gelo brilhando contra a luz do sol, o diálogo com Mance Rayder, os ótimos detalhes na composição do encontro e das falas foram muito bem pensados. O Mance de Ciarán não tem nenhuma semelhança com o dos livros, e sofreu com diálogos estranhos e um estado de espírito irritado durante as temporadas anteriores. O Mance que vimos nesse episódio, apesar da peruca estranha, parecia mais um Mance em que a gente podia entender, um cara desesperado, cansado, preocupado com seu povo e ainda assim duro e inteligente. Um Mance com um propósito. Aliás, melhor momento de Mance nesse episódio acontece quando Jon conta que Ygritte morreu. O semblante dele fica pesaroso de um jeito que é muito bonito. Tudo sobre Ygritte nesse episódio é belo.

Nos livros, a situação de Jon é um pouco diferente. Nós temos Alliser Thorne e Janos Slynt voltando de Atalaialeste do Mar e prendendo-o nas celas de gelo por traição. E então eles obrigam Jon a atravessar a Muralha para matar Mance. É engraçado como nessa primeira cena do episódio, vemos que a motivação deste personagem já é outra. E isso se descarrega por todos o episódio, por isso é difícil pra caramba analisar e comparar essas cenas. E será cada vez mais.

Pois Jon foi por conta própria. Jon não comeu ou dormiu. Lutou pra caramba e saiu pela neve, para acabar com aquilo de uma vez. E é muito bom como Jon sai para matar Mance, mas completamente inseguro e incerto do que iria realmente fazer.

Jon é falso nesse episódio. E isso é uma característica dos bons políticos.

Voltando a questão do livro, um ponto muito bacana sobre a questão de sabedoria de Mance é levantado quando vemos ele dizendo a Jon que sabe que a Patrulha está bem pobre em provisões: comida, bebida, armas. Esse é um lance legal sobre a calamidade em que eles se encontram e sobre a chegada do inverno. E principalmente é aqui que chega a questão do Banco de Bravos, o que nos leva a crer que veremos Tycho na temporada que vem. Ou será que Stannis financiará tudo? Ele tem dinheiro na série, nos livros o encontro com Tycho só acontece depois. Interessante.

Mas e a questão do Berrante de Inverno, hein? Ficou bem claro, especialmente nesse episódio, que os produtores da série não curtem brincar com todos os elementos que os livros dão. Mas olhem só, o Qhorin apenas saiu com Jon em busca dos selvagens para que eles descobrissem o tipo de ‘magia sinistra’ Mance tinha na manga. Qhorin morreu para que isso fosse descoberto, e Jon de fato acabou descobrindo de uma maneira ou outra. O meu ponto é que a morte de Qhorin nesse contexto mostra que ele sabia e imaginava todos os passos de Mance, tendo efetivamente contribuído para que Jon buscasse, conhecesse e possuísse a arma mágica.

Na série… não.

De repente… “CAVALEIROS CHEGANDO!”. Mance se desespera pensando que é uma artimanha de Jon, e Jon se desespera para tentar explicar. A cena que segue é muito boa: milhares e milhares de homens cavalgando em direção a Floresta Assombrada. Um veado em um coração flamejante estampa suas bandeiras amarelas. A visão aérea do exército é impressionante.

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Muitos selvagens morrem na luta e Mance não suporta vê-los perecer, mandando todos recuarem. A poeira e neve revelam então Stannis e Davos, que perguntam se aquele é o rei para lá da Muralha. Enquanto Mance é duro dizendo que jamais se ajoelhará, Jon Snow é a personificação da diplomacia. O seu semblante, sua linguagem corporal, tudo mostra fascinação e medo de finalmente ter alguém com grande poder militar e idealístico para tomar conta da Muralha. Defender o reino.

Nos livros, logicamente, a chegada de Stannis é muito mais sangrenta e caótica. Temos Mance lutando e sendo atingido, temos Dalla em trabalho de parto e Varamyr correndo enlouquecido quando a águia de Orell, que era dele agora, pega fogo. (Aqui temos o gancho para o prólogo de A Dança dos Dragões).

A conversa sobre Ned Stark entre Jon e Stannis se dá em outro momento nos livros, já que Jon encontra-se com Stannis apenas em Castelo Negro, dias mais tarde. O que eu mais gosto desse primeiro encontro entre eles é quando Jon se lembra o que Donal Noye disse sobre os irmãos Baratheon. Donal, que foi quem fez o martelo de guerra de Robert, e a primeira espada de Stannis disse: ‘Robert era o verdadeiro aço. Stannis é puro ferro, negro, duro e forte, mas quebradiço, como o ferro se torna. Quebrará antes de se dobrar.’

No livro Stannis sabe que Jon é um warg. Sabe que Jon encontrou as adagas de obsidiana que Sam usou para matar o Outro. Sabe que ele é filho de Ned. Mas também sabe que era irmão de Robb. Isso deveria ter ficado um pouco mais evidente na série, a questão de Robb, a quem Stannis sempre considerou um jovem besta que queria roubar o reino pra ele. Mas ok, a cena do encontro foi bonita e eficiente do seu jeito. Eu gostei pra caramba.

No final deste encontro, no livro, Stannis oferece a Jon a selvagem Val, Winterfell e a oportunidade de ser legitimado como Jon Stark. É muito interessante porque, capítulos antes da batalha na Muralha, vemos Robb selar uma carta que garante a Jon Winterfell. Se é que essa carta algum dia chegue a ele, Jon já era o verdadeiro herdeiro de Winterfell sem que Stannis oferecesse essa proposta tão generosa. Eu gostaria tanto, mais tanto que tivéssemos visto Robb falar isso na série… mesmo que não servisse para nada.

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No laboratório de Pycelle, que agora é de Qyburn, vemos uma das cenas mais interessantes do episódio. O ferimento de Gregor é terrível, devido ao veneno de manticora que Oberyn lhe deu de presente antes de partir. É absolutamente fascinante ver Qyburn interessado no Montanha, indo até a prateleira e pegando uma garrafa de vidro, um dreno enorme e alguns outros utensílios bizarros. E enquanto o sangue de Gregor se esvai para dentro de uma garrafa, não podemos deixar de pensar o quanto as motivações de Cersei são outras nos livros.

Em Cersei II de OfdC (pág 91) vemos que Qyburn pede para Cersei que ele possa cuidar e experimentar com Gregor, e ela permite. Até porque, Tywin precisava dele vivo para que os Lannisters enviassem sua cabeça para Doran Martell e não arranjar mais problemas com Dorne. A esse ponto Tywin já está morto e Cersei começa a renovar o pequeno Conselho, colocando Qyburn como o ‘novo Varys’. Já em A Tormenta de Espadas, é Pycelle quem cuida da Montanha, a pedido de Tywin, e seus gritos de agonia podem ser ouvidos por todo o castelo. Gregor tinha um problema de enxaqueca e leite de papoula não fazia mais efeito sob ele.

Assim que é bom. Quando Game of Thrones usa os meistres para a ciência, e não como religiosos ou algo do tipo.

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“I will burn our House to the ground before I let that happen!”

E então Cersei vai conversar com papai e dizer que não se casará com Loras, e ficará ali para cuidar do filho. E mais, se o pai resolver contrariá-la ela contará para todo mundo a verdade. A verdade mais óbvia de todas. Sobre ela e Jaime. Sobre como Stannis esteve certo esse tempo todo. Ela não deixará Porto Real e o filho nas mãos do pai e de Margaery. “Destruirei essa casa antes de deixar isso acontecer” ela fala ao pai, uma das frases famosas que víamos nos trailers da quarta temporada no começo do ano.

Bem… Prometê-la a Loras não faz o menor sentido, Loras deveria estar na Guarda Real, mas na série ele é herdeiro de Jardim de Cima. O que talvez faça com que ele não se queime todo e fique desfigurado como vemos em OFdC, mas isso é assunto pra outra hora. O problema principal da atitude de Cersei é que, uma vez que ela ameace contar tudo, ela não estaria protegendo Tommen porcaria nenhuma. Eles seriam apedrejados e mortos em frente ao Septo de Baelor, isso sim.

Eu entendo que essa Cersei que protege seus filhotinhos da maneira errada é a mesma Cersei que quase tentou matar Tommen em Blackwater, para protegê-lo. E ela usa isso no próprio diálogo com o pai nesse momento. Eu queria poder criticar isso, essa motivação dela toda errada, mas não consigo. No final das contas foi bem construido no enredo da série. Mesmo que esse tenha sido um blefe e Cersei jamais tivesse coragem de literalmente acabar com tudo, a gente viu que a Cersei nesse episódio é tipo… a Cersei que a gente gosta de ver.

Em 4.05 First of His Name ela tentou manipular todos os jurados. Não conseguiu com Margaery e com Oberyn. Mas conseguiu com o pai, pois naquele momento ela ‘aceitou’ que a família precisava dos Tyrell pois os Lannister ‘estavam pobres’. E ela precisava ser a filha de seu pai, precisava que ele a ouvisse e que julgasse Tyrion. Depois que Tyrion já estava na merda, ela muda a postura e fala que não vai casar.

Eu não acredito em você.

Acredita sim.

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I don’t choose Tywin Lannister. I don’t love Tywin Lannister. I love my brother. I love my lover.

A cena corta pra Jaime lendo sua página no Livro Branco, de novo. Esse momento dos livros foi repetido a exaustão nessa temporada. Na presença de Joffrey, Brienne e agora na de Cersei. É apenas nesse momento (Jaime IX) em que ela realmente acontece, mas tudo é muito diferente. Pois é o momento em que Jaime resolve que salvará o irmão, seu último pensamento no capítulo é o de que ele não quer mais ser o Jaime que ele lê no livro. E aí ele dá a Cumpridora de Promessas a Brienne e depois vê-se que ele tem algo mais em mente…

Na série, Cersei o beija, dizendo que confessou tudo pra Tywin, sobre eles dois, e que não terá vergonha do que os outros vão falar. Ela até beija a mão de ouro! E eles tem um intenso encontro em cima da mesa, com Cersei dizendo que não tem medo de ser vista se alguém chegar. Manipulação, amor ou os dois? É interessante que a série tenha prolongado a relação dos dois. O lance do incesto sempre foi o carro chefe da série e é realmente uma linguagem forte que ainda veremos bastante.

No livro, Jaime é quem se declara, dizendo que eles deveriam assumir a relação. Cersei rejeita dizendo que ‘Não somos Targaryens!” Quando Cersei se ajoelha, ela pega sua mão boa, não a ruim. Ela tenta abraça-lo, beijá-lo, mas ele a repele.

 

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Nessa quarta temporada de Game of Thrones tivemos a oportunidade de ver um punhado de bons atores com boa dicção e presença fazendo ‘papel de uma cena só’. É o caso de Fennez, que teve uma maravilhosa presença e fez essa cena derradeira de Dany na temporada ainda mais bonita. Ele é velho e reclama que as condições dos refeitórios comunitários que Dany oferece ao seu povo é calamitoso, com muita miséria e violência. Para ele, que é um homem muito velho, é ainda pior. Por isso ele pede para poder voltar para seu antigo mestre (Mighdal), a quem ele era tutor dos filhos (ensinava línguas e história) e, dessa maneira, terá o conforto e cuidados necessários. Dany não acredita no que ouve, dizendo que os Imaculados logo restaurarão a paz e a integridade.

Essas contradições e conflitos ideológicos, pautas sobre direitos humanos, política, todos esses temas que permeiam Meereen são muito bons. A série de TV acertou na mosca dessa vez, porque é claro que nem ela nem Fennez estão sendo satisfatórios. Fennez no final das contas poderia muito bem ensinar línguas e história para as crianças que vivem aos montes nas ruas da cidade. Mas ele prefere a família que aprendeu a chamar de sua.

E Daenerys não percebe que falhou. O mundo novo que ela quer não é o mundo novo que muitas das pessoas querem. O conselho de Barristan é correto, mas ele está dizendo o óbvio. Quem ajudaria Dany de verdade e controlar essa situação?

Os jovens gostam do mundo novo que criou para eles, mas os idosos que são velhos demais para mudanças, só encontram miséria e medo“.

E como se não bastasse, o suplicante seguinte se aproxima, um homem extremamente humilde e que parece estar em grande pesar. Em seus braços, vemos uma trouxa de panos. Em baixo valiriano ele começa a chorar enquanto fala.

Não entendo minha rainha. Não entendo. Eu lhe trago… Ele veio do céu. O negro.

(Dany engole seco).

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“A sombra alada. Ele veio do céu e… Minha garota. Minha garotinha.”

E chora desesperadamente perante a rainha de Meereen, enquanto exibe os ossos enegrecidos de sua filha que foi queimada viva por Drogon.

Drogon, que pela primeira vez ganha um nome da série. Acho que no fim da quarta temporada já era tempo, né? E falando em nomes, mais tarde sabemos que o nome dela era Zala e tinha três anos. Nos livros, seu nome era Hazzea e ela tinha quatro anos.

A coisa mais maravilhosa dessa cena é a pronuncia do baixo valiriano, que como o Elio do Westeros.org disse (concordo e me arrepiei quando li): é uma língua feita para o lamento.

Dany então segue para as catacumbas, onde leva Rhaegal e Viseryion. Ela os alimenta e os acorrenta, chorando. Sem olhar para trás Dany os abandona ali, e quando eles percebem o que está acontecendo começam a gritar pela mãe desesperados. Dany, chorando muito, os tranca. Daenerys falhou, e sua atitude não irá resolver as coisas. Trancar os dragões só os fará ainda mais bestiais e famintos, por viver, por voar, por conquistar. Um dragão não é um escravo, khaleesi.

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a quebradora de correntes acorrentando os próprios filhos

Meistre Aemon profere as palavras da Patrulha no funeral em Castelo Negro. Enquanto Aemon e os patrulheiros acendem a pilha de cadáveres todos observam. Entre eles, Stannis, Davis, Shireen, Selyse e Jon… que é encarado pelo outro lado do fogo por Melisandre.

Mais tarde Jon visita Tormund, e diz que seu futuro agora pertence a Stannis. Tormund ri da cara de Jon quando percebe que Jon não estará disposto a se ajoelhar ao rei, percebendo que Jon passou tempo demais com os selvagens. Sobre Tormund: quando Jon atravessa a Muralha para encontrar Mance nos livros, ele é recebido pelo Terror dos Gigantes, que é gente boa pra caramba e engraçado. Quando Stannis ataca, o único que consegue fugir é justamente Tormund. Na série, quando o vemos preso dessa jeito… argh. Mas é um grande ator, merece estar no meio da confusão.

Antes de se despedir, Tormund pergunta a Jon se ele amava Ygritte, pois ela o amava muito. Afinal e contas, só falava em matá-lo o tempo todo. Tormund então pede para Jon levá-la para o norte, o norte verdadeiro. E é o que Jon faz.

O vemos, do outro lado da Muralha, acender uma pira para o corpo pálido e morto da garota que foi beijada pelo fogo. Ele mesmo fez tudo com as próprias mãos, sozinho. Suas vestes são apenas um manto selvagem e por alguns segundos mais tivemos a imagem de Ygritte, linda e morta. Que bonita homenagem a ela, a quem Jon nos livros lembra com bastante pesar, pensando que deveria realmente ter ficado na caverna, e vivido com ela, livres e felizes.

Jon chora enquanto vai embora, ouvindo o fogo crepitar.

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Até este momento, apesar de muitas coisas, o episódio estava fácil de ser compreendido. Aliás, fechando o núcleo de Jon dessa maneira melancólica e bonita, é impossível não pensar o quanto essas cenas foram tão melhores do que muitas das do episódio nove. Mesmo sem o lance do CGI do exército de Stannis e mesmo que a cenas tenham sido tão menores em comparação ao livro. Elas foram mais bem escritas e olhem só, The Children é o episódio que os produtores mais sentem orgulho nesta temporada, o episódio pra quem eles enviaram a maioria das submissões ao Emmy. O episódio que eles prometerem ser o melhor season finale de todos os tempos.

Mas aí começa o segundo ato do episódio, onde vemos que a adaptação começou a ser louca e insana, experimental e criativa, boa e espetacular, mas também covarde. Muito covarde.

No extremo norte, vemos Bran enfrentando uma forte nevasca. Jojen está fraco e neva muito. De repente Bran e Jojen anunciam que eles finalmente chegaram e vemos o sol finalmente os aquecendo detrás e uma linda e gigantesca árvore coração. Quando descem e se aproximam, uma mão puxa Jojen para baixo e o filme do Ray Harryhausen começa.

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Nos livros, as criaturas que os atacam neste momento são wights, zumbis que estão em decomposição, mas não esqueletos em animatronic. A série claramente fez uma homenagem a Jason and the Argonauts neste cena, mas eu não entendo muito bem o motivo. Bem, na verdade temos alguns. A maquiagem usada por um dos wights também foi enviada para concorrer ao Emmy, e de fato os efeitos foram algo novo para a série, mas wights rápidos ao estilo Guerra Mundial Z eram realmente necessários? Não banaliza o elemento magia que a série sempre se recusa a usar justamente para que não seja banalizado? Não vai completamente contra o cânone?

Mais tarde, no livro, a gente sabe que a Folha, a criança da floresta, repeliu as criaturas com tochas. Fogo, que é o elemento que a gente sabe que elimina de verdade os wights. Mas bolas de fogo… eram necessárias?

Os esqueletos são muito rápidos e fortes, e possuem machadinhos e punhais. Verão chega para ajudar (o Verão dos livros teria feito um estrago ainda maior), Meera é excelente na luta, Bran no corpo de Hodor também é impressionante. A cena é bem legal e empolgante, e se a gente se desenlaça do livro, percebemos que na verdade foi bom pra caralho. Mas aí vem o inevitável, que é o fato de que alguém precisaria se dar mal para aumentar a carga dramática do núcleo de Bran na cena. Pra fazer o esforço ter um significado maior. E aí eles escolheram apunhalar Jojen na barriga, repetidas vezes. E como se não bastasse, fazem Meera cortar seu pescoço para que ele não vire uma criatura. E para coroar a cena, fazem que uma bola de fogo o exploda pelos ares.

Fica bem claro que Jojen viveu em função de levar Bran até o Corvo, sabíamos que havia algo de muito sinistro sendo preparado para ele no fim dessa temporada. Nos livros tudo ainda é muito pior, Jojen é uma criança e vai adoecendo conforme a trama evolui. Em certo ponto ele não aparece mais e quando Folha dá a Bran um alimento pastoso com gosto de sangue, todo mundo imagina que aquele seja Jojen sendo comido pelo garoto Stark, sem que ele saiba. Essa é a teoria maluca conhecida como ‘pasta de Jojen’ e, só por ela existir, mesmo que meio exagerada e desacreditada, fica claro que Jojen nos livros está no fim de seus dias.

O problema é que os Reeds sempre foram personagens muito queridos pelos leitores e na série eles não tiveram a a oportunidade de serem bem desenvolvidos, com suas histórias sobre o passado de Westeros, com seus constantes ensinamentos a Bran, com a aura que a família Reed projeta sobre a história da família Stark. Portanto, sim, perdê-lo agora pareceu cedo demais. Ainda mais do jeito que fizeram. Ele meio que morreu três vezes e a gente não queria que ele morresse nenhuma.

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Quando encontram folha, Bran percebe que sua voz era de uma mulher alta e doce, com uma estranha melodia. Sua pele era manchada como a de uma corça, e vestia um manto de folhas. Seus olhos eram largos e líquidos, dourados e verdes como os de um gato.

Agora vamos falar sobre Folha que, apesar dos hadoukens, foi muito bem personificada. Sua roupa feita de folhas e galhos, sua testa avantajada, seus olhos brilhantes, sua boca enegrecida, sua frieza… sua não humanidade. Muito. Bom. Folha é uma criatura velha, assim como o homem que ela cuida embaixo da árvore. E é interessante como ela não tem paciência ou vontade de ouvir Meera lamentar o irmão, assim como também não tem paciência para ficar explicando-se muito. Primeiro porque ela definitivamente terá tempo para fazer isso. Segundo porque ela é velha, mais velha do que qualquer ser vivo gostaria de ser.

No livro, quando eles chegam a caverna, Mãos Frias e seu alce (que acabou morrendo de frio em certo ponto) os acompanham há dias, os ajudaram a sobreviver, se aquecer, foi ele quem os guiou. Foi o Corvo de Três Olhos o enviou para buscar as crianças. Foi uma longa e mortal viagem e apenas alguém que conhecia de verdade aquelas terras poderia proteger todo mundo.

 

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O Corvo de Três Olhos

Meera, ainda em estado de choque, diz que enquanto eles tentaram encontrá-lo, Jojen morreu. O velho diz que Jojen sabia exatamente como morreria, pois foi ele quem o chamou. Ele, o velho, os tinha observado desde o começo, com mil olhos e um. E sabe quem Bran é, mas que eles chegaram tarde. Ele diz que Jojen morreu para que Bran encontrasse o que perdeu. Bran então pergunta se voltará a andar. O velho diz que Bran nunca mais voltará a andar. Mas que ele irá voar.

Ao encontrarem o Corvo nos livros, os olhos de Bran se amedrontam com sua aparência cadavérica e apodrecida, e a maneira como aquela pessoa havia se tornado parte do que a caverna é. “Todas as cores se foram (…) O mundo era terra negra e madeira branca.” As raízes se enrolavam em suas pernas e subiam em seus ombros. O diálogo da série é bem parecido com o do livro, exceto pelos olhos de Bran se encherem de lágrimas quando ele percebe que o corvo não curará suas pernas. Nos livros, Bran tem a sensação de que o Corvo o fará voltar a andar, como qualquer criança de sua idade teria. Na verdade, confesso que eu também tive.

Todas as coisas relacionadas ao Corvo de Três Olhos, o último vidente verde, o mostro de Bran, estão meio que enraizadas (há!) na história da mitologia do norte, na dinastia Targaryen, no misticismo e em todos os elementos dos livros que a série ignora por falta de ‘espaço na narrativa’. Por isso, mesmo que a caracterização do Struan Rodger fosse ainda mais fiel ao velho completamente transformado que lemos no livro, os telespectadores jamais sentiriam a profundidade e as camadas que ele sugere ter.

 

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No próximo arco da história vemos Brienne acordando com Podrick para logo mais encontrar Arya lutando. Na sequência de cenas mais empolgantes do episódio, vemos que David e Dan criaram para a série um encontro entre Arya e Brienne. O diálogo das duas é absolutamente incrível, desde a conversa fiada sobre seus pais e suas espadas até o momento em que Arya se recusa a ir embora com ela. Brienne se perdeu quando mostrou a bainha da Cumpridora de Promessas, que é seu passaporte Lannister e tudo o que Arya e Cão não queriam ver.

É muito interessante pensar que, na verdade, David e Dan criaram um cenário muito verdadeiro aqui. Se Brienne encontrasse Arya, essa seria exatamente a maneira que a menina lidaria com ela nos livros. Brienne não teria chance, nunca teve. Nem com Arya e nem com Sansa. O mais trágico disso tudo é pensar que Arya foi cuidada e protegida na série de uma maneira que ela nunca foi nos livros. Não passou por metade da violência, fome e abandono que Arya passou. E mesmo assim, parece certo que Arya viva sua própria vida. Ela está quebrada de um jeito que não se conserta mais, e a cada episódio isso fica mais nítido.

Assim como o Cão. E nesse sentido, voltamos ao tema da auto destruição. Todos os personagens aqui se agarram a possibilidade de algo que não é real. Mesmo que eles consigam o que eles procuram isso já não é mais o que eles precisam. Brienne e o Cão literalmente se matam e caem no tapa para decidir algo que não está nas mãos dele. A demanda de Brienne sempre foi e sempre será algo impossível e o Cão nunca mais encontraria paz em Westeros. Ele encontrou em Arya muito mais do que uma bolsa de dinheiro da tia Lysa, mas um sentido para continuar vivendo e lutando (no caso, literalmente). Mas Arya não é dele. E não precisa dele.

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AAAAAARRRGGGHHHH

Brienne esqueceu o pão de Torta Quente, mas fez parte de uma das cenas mais legais da temporada. Como muitos de vocês levantaram, os cortes iniciais para dar ritmo no duelo de espadas foi muito estranho e maniqueísta. Mas na hora em que a luta passa a ser punho a punho, a coreografia é brilhante. Uma luta de homem e mulher que se torna de igual pra igual com uma mulher vencendo. Uma orelha voando pelo ar. Gritos de loucura e dor, chute das partes íntimas… Eles fizeram brilhantemente a personificação dos conflitos internos que rodeiam as injustiças pelas quais esses personagens passaram. Transformaram a dor em porrada real, o ódio interno em violência pura.

Quando o Cão pressiona o lâmina da espada entre as mão, sangrando, ali a gente já percebe que ele pirou, que ele não está pensando como um cavaleiro deveria, está vulnerável e pronto para o que os deuses decidirem dele.

E a memória de Catelyn é trazida aqui da maneira mais cruel possível. Ela está morta, Brienne não esteve lá para defendê-la. Por qual motivo? Adianta explicar agora? É como se os produtores estivessem dizendo sinceramente: ela morreu e Brienne não estava lá. Se nem Brienne estava lá vocês querem que a gente esteja, para trazê-la de volta?

Sim, queremos.

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Rory McCann foi o melhor Sandor Clegane que poderíamos imaginar…

O Cão cai do penhasco feito uma bolota de carne e aço e Brienne continua a gritar insanamente: ‘ARYA! ARYA! ARYAAAAAA’. Mas Arya se camufla. E depois desce para encontrar Sandor que pede clemência para não sofrer mais. A memória de Mycah e de Sansa só servem para deixar Arya mais fria ainda. E o momento de Cão mais triste. Para Arya tomar as rédeas da própria vida e sumir dali, pra longe das pessoas que falharam com ela, uma, duas, vinte mil vezes.

O encontro de Brienne e Arya é bom porque Arya viu com os próprios olhos que ela, uma garota, pode ser quem ela quiser se ela insistir um pouquinho e não deixar de acreditar nela mesma. Brienne pode ser uma Lannister, mas é e sempre será uma excelente modelo para as meninas como Arya, eu, você, sua irmã, sua amiga.

Essa luta é bem parecida com a luta que Brienne tem na Estalagem do Entroncamento com Rorge (que ironicamente fingia ser o Cão, usando seu Elmo) e Dentadas, que dilacera o rosto de Brienne com os dentes. Bem, Arya e Cão já finalizaram eles na série. Depois que Gendry salva Brienne, ela acorda para encontrar Catelyn. Portanto, este seria o momento realmente perfeito pra Stoneheart aparecer. Não haverá outro tão perfeito. E por falar em momentos imperfeitos…

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Adeus, irmãozinho.

Temos Jaime chegando e levando Tyrion através dos corredores das celas até chegar em uma abóbada, dizendo para o irmão subir as escadas e bater duas vezes e depois mais duas vezes para Varys. Eles se abraçam, se beijam (que beijo lindo e carinhoso). Tyrion responde ‘Jaime, obrigado por minha vida‘. E a coragem que transbordou em Jaime ao salvar o irmão, faltou aos produtores que não tiveram bolas de aço para fazer a audiência se chocar com uma relação quebrada. Algo que no fundo a gente sempre soube que ia acontecer, porque existe Tyrion Lannister e existe Peter Dinklage e eles não são a mesma pessoa. E sim, a gente adora esse Tyrion romantizado, fofo, adorável e gato.

Ao invés de tapas na cara e a confissão mentirosa da morte de Joffrey, temos Tyrion ‘magicamente’ decidindo seguir outro caminho até chegar a Torre da Mão. Lá ele encontra Shae, nua, chamando o pai dele de ‘meu leão’. Ela pega uma faca, os dois se estapeiam com ódio e ele a mata. A cena é forte pra caramba na TV, com Peter Dinklage a enforcando com a mesma corrente que ele a presenteou, seu rosto é horrorizado por medo, nojo de si mesmo, tristeza ódio. Ele a mata chorando e pedindo desculpas.

4

Shae dos livros se ajoelha e se desculpa pelo julgamento, diz que foi coagida, ameaçada. Mentindo ou não, era uma pessoa diferente. A Shae da série pega uma faca para se defender. Para ser culpada pelo que Tyrion fez. Para que Tyrion não fosse para um lado escuro demais.

A ideia é fazer Tyrion defender uma mulher que foi injustiçada pelo pai de alguma forma. Então também não temos Tysha, mas Shae como a mulher que Tywin trata como puta e leva um tiro por isso. No entanto, apesar de todo esse senso de ‘covardia’ que essa cena deixou pra quem já leu os livros, é inevitável não pensar que o diálogo final entre Tyrion e Tywin é forte pra caramba na TV.

Basicamente uma luta de palavras, mas não do tipo inteligente cheia de vinhos, queijos e ironias veladas. Dessa vez pai e filho discutem como pessoa normais discutem. Tyrion, com a besta na mão, se recusa a engolir o que o pai lhe sugere. Ele rebate cada ofensa, cada ordem, com infantilidade e relutância. ‘Eu não vou sair daqui. Eu não quero ir para outro cômodo. Você me julgou sim, pai. Eu era inocente e você sabia. Não a chame de puta de novo.’

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‘Eu sou seu filho, sim’

E então a besta dispara, nas costelas do pai dele. Tywin mal pode acreditar e começa a dizer que Tyrion não é seu filho. Tyrion então diz que é seu filho sim, sempre foi. E dispara mais uma vez, dessa vez diretamente no coração.

No livro, o tiro é um só: na virilha.

Tyrion sai correndo e encontra Varys no lugar combinado. Varys o coloca em um baú de madeira e Tyrion é alçado para o navio, do lado de fora do castelo. Quando os sinos de Porto Real começam a tocar, anunciando a morte de alguém importante, Varys resolve partir com Tyrion e senta ao seu lado na galé mercantil. Nos livros a gente não sabe o que acontece com Varys. Provavelmente pode até ter acontecido a mesma coisa, mas Varys o abandonou depois, para planejar sua volta a Porto Real. Volta insana, que só acontece no epílogo de A Dança dos Dragões.

No final temos as lindas paisagens da Islândia com Arya finalmente chegando em Salinas e usando a moeda que Jaqen lhe deu para partir para Braavos. E então Arya parte para uma nova aventura, em direção ao amanhã e os créditos sobem.

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O episódio é lindo e forte. Mas foi cheio de perdas, cheio de violência, morte, morte, morte. Faltou sim algo para fazer todo mundo ficar confuso, com medo, sem saber o que está acontecendo. Infelizmente isso a gente só encontra nos livros, mesmo.

The Children é um título que evoca o tema dos filhos (Tyrion, o filho vingativo, Arya a filha perdida, Jon o filho bastardo, a Filha da Floresta, Jaime e Cersei assumindo-se para o pai, a menina Zala que morreu, Rhaegal e Viseryon acorrentados pela mãe.) OK. Mas esse conceito acaba sendo algo literal demais, já que o tema da série de um modo geral é esse. É a questão da família e dos filhos tendo que sobreviver sozinhos desse mundo louco. Nada coroaria mais essa temática do que uma mãe zumbi querendo vingança. Eu compreendo do fundo do meu coração que os produtores prefiram que a memória de Michelle seja preservada em sua cena final que foi digna de mil prêmios (que ela não teve). Mas essas coisas malucas dos livros fazem parte da história. Dar as costas para essas coisas, mesmo que elas pareçam absurdas, é dar costas para a própria alma história que eles nos prometeram contar.

Aliás, essa ressonância temática que Game of Thrones sempre colocou muito bem durante as temporadas passadas foi quebrada diversas vezes aqui. Muitos títulos de episódios não tiveram muito sentido. A quarta temporada de Game of Thrones teve um punhado de cenas ‘inventadas’, na maioria das vezes bastante criativas e empolgantes, mas… o senso de desequilíbrio, para aqueles que leram os livros, será sempre sentido. Nesse season finale, onde as pontas se encontram, foi onde sentiu-se mais isso. Pois é como se o resultado dessas cenas inventadas não tivesse como ter sido outro: gente se matando a pedradas, se jogando de penhascos, se recusando a serem salvas, falando pra todo mundo que pratica incesto, acertando bolas de fogo em esqueletos. Berrando pelos ares, fugindo.

Os arcos de Bran e Brienne, por estarem muito a frente do senso cronológico dos livros, parecem estar ainda mais caóticos. Desesperadamente. Pelo bem ou pelo mal é isso o que aconteceu.

Eu vejo muito nos comentários aqui do site e por toda a internet uma grande discussão sobre Lady Stoneheart ser ou não importante. Ou até mesmo Jojen, que acabou morrendo daquele jeito que ficou parecendo cedo demais. O problema é que não se mede o que é importante pra alguém através do seu jeito de sentir as coisas. Ora, Verme Cinzento e Missandei também não são importantes, primo Orson também não é, as prostituas de Mindinho também não. Estupro de Cersei? Menos ainda. Os sonhos de lobo de Arya e Jon são importantes pra muita gente, pode não ser para tantas outras. Mas é algo que faz os livros ficarem tão mais bonitos, tão mais mágicos e interessantes. Aliás não só os lobos, mas qualquer momento em que vemos um lobo at all. Ou um dragão. Um Kettleblack, um Frey andando com os Boltons a caminho de Winterfell. E sim, uma zombie mama com o coração duro como uma pedra.

Ao invés de sentar e definir, essa season finale tem um senso de direção apontando para o futuro bastante evidente. Isso geralmente acontece em uma série de TV quando os roteiristas gastam todas as suas ideias e precisam trabalhar em novas. No caso de Game of Thrones isso faz todo sentido, uma vez que adaptar O Festim e A Dança simultaneamente será (está sendo neste momento) um trabalho bastante árduo, até porque o enredo mais fonte sempre esteve e sempre estará em A Tormenta de Espadas.

A trilha do Ramin Djawadi para esse episódio foi a mais linda da temporada inteira. Quando ouvimos a trilha (lançada digitalmente do dia 13) as músicas compostas para o episódio nove pareciam as mais fortes. Mas a canção The Children como trilha para algumas cenas, principalmente nas de Dany me fizeram chorar e arrepiar de verdade. Que coisa linda!

Alex Graves foi o cara mais polêmico da temporada, dirigiu quatro episódios, um deles se tratou justamente do estupro de Cersei que derrama aqui uma grande sombra no reencontro sexual dos irmãos. E agora ele volta para a season finale, criando grandes momentos para a história da série… Os esqueletos wights, o exército de Stannis e a briga de Brienne e Cão (sem a parte dos cortes malucos) foram sem dúvida artísticos, mas as pequenas coisas também importam como Jon e Melisandre se entreolhando através do fogo, o funeral de Ygritte, o uso das paisagens em Salinas. O cara caprichou.

Não há nada mais simbólico, no sentido de olhar para um futuro incerto, do que ver uma criança sozinha navegando para o horizonte em busca de aventuras, de uma vida nova. Nesse sentido, Game of Thrones termina quase como que com uma promessa, ou um pedido, para que a gente embarque com ela, para viajar e viver a história do jeito que a gente quiser. Na nossa imaginação, Game of Thrones sempre será melhor.

Por isso… Valar Leroslivros.

Hey, você! Eu e o Rafa Bacellar comentamos todos os capítulos do fim do livro A Tormenta de Espadas nessa edição do podcasteros. Seria muito bacana se você escutasse com a gente pra saber os detalhes do que essa temporada mudou em relação ao livro.