Esse texto NÃO CONTÉM SPOILERS DOS LIVROS e é destinado principalmente para aqueles que não terminaram ou sequer começaram a leitura dos mesmos. Se você já leu ou não se importa em saber o que vai acontecer, confira a análise COM SPOILERS, que em breve deve tá saindo por aí.
Em uma entrevista recente à EW, um dos criadores e roteiristas da série, David Benioff, disse que uma boa história precisa de doses iguais de água e suco concentrado de laranja para que não fique nem muito forte, nem muito aguada. O suco de laranja no caso seriam as cenas pesadas e com grandes revelações, enquanto a água seriam os diálogos casuais mas igualmente interessantes que tivemos durante toda a temporada. A verdade é que nesse season finale, David e seu parceiro, D. B. Weiss, fizeram que nem o Cão de Caça e disseram: “Foda-se a água.”
Eles prometeram e cumpriram. O quarto ano da série pode não ter tido a melhor última cena de todas (que pra mim continua sendo a do nascimento dos dragões de Daenerys em “Fire and Blood”), mas certamente teve o melhor último capitulo. Pela primeira vez o décimo episódio conseguiu superar o nono em quantidade de cliffhangers, quebrando a tradicional “calmaria depois da tempestade” estabelecida nas últimas temporadas.
O tema principal do episódio está explícito no título. Em “The Children”, ou “Os Filhos”, como preferimos traduzir, vimos o leão ser desafiado (e morto) por sua prole; Daenerys sendo obrigada a acorrentar seus únicos filhos, que também tiraram a vida de outra criança; a aparição de um dos Filhos da Floresta, seres que habitavam Westeros antes da chegada dos Primeiros Homens, esculpiram os rostos nos represeiros e que estavam supostamente extintos; além de uma conclusão (e um novo começo) para as longas jornadas de Bran, Jon e Arya, três dos últimos filhos vivos da Casa Stark.
Começando pelo bastardo, Jon Snow.
A primeira cena nos leva diretamente ao final de “The Watchers on the Wall”, quando Jon decidiu ir sozinho (e desarmado) ao acampamento de Mance Rayder para matá-lo a fim de dividir o exército selvagem. A câmera oscilante nas costas dele foi usada mais de uma vez no episódio, transmitindo uma sensação de imprecisão e insegurança enquanto víamos os corvos se alimentando dos restos da batalha ocorrida no episódio anterior. O diálogo na tenda foi bem parecido com o que vimos em “Valar Dohaeris” e, assim como naquela ocasião, uma das raras chances que tivemos de conhecer mais profundamente o rei-pra-lá-da-Muralha.
Boa parte da conversa também serviu como uma espécie de tributo aos personagens que se foram, como Ygritte, Grenn e Qhorin, que na segunda temporada deu a vida para que Jon pudesse se infiltrar no povo livre. O modo como o bastardo mencionou o fato de Grenn ter sido um fazendeiro enquanto Mag foi um rei dos gigantes serviu pra mostrar que os nortenhos valorizam cada guerreiro, independente de sua linhagem, nome ou do lado que lutava. Aqui, Mance expõe os reais motivos por trás do ataque a Castelo Negro. Os selvagens não estão ali para conquistar e sim para sobreviver, assim como eu disse em minha análise passada. E então quando a coisa estava começando a ficar muito demorada (5 min. é muito tempo em um season finale carregado como esse), nós ouvimos uma agitação do lado de fora da tenda: Stannis ex machina e seus soldados.
Alguns de vocês podem ter se perguntado como Stannis chegou à Muralha tão repentinamente, mas não foi algo tão inesperado assim (exceto pelo timing). Em “Mhysa” Melisandre viu nas chamas que a verdadeira batalha aconteceria no Norte (provavelmente contra os Caminhantes Brancos e não contra os selvagens), e desde lá ficou entendido que o núcleo seguiria nessa direção. Talvez seja mesmo mais fácil salvar o reino para ganhar o trono do que ganhar o trono para salvar o reino.
Já que eles conseguiram um empréstimo do Banco de Ferro de Bravos em “The Laws of Gods and Men” (o que explica a quantidade de soldados, provavelmente mercenários), é provável que tenham comprado barcos para transportar seu exército até Atalaialeste do Mar, um dos três últimos fortes ainda ativos da Patrulha que fica localizado na costa da Baía das Focas. A pergunta mais complicada porém é “como Stannis conseguiu sobrepujar rapidamente os 100.000 homens de Mance Rayder?” Onde estavam os outros gigantes? Os outros Thenns? Os wargs?
Apesar de rápida, essa batalha foi quase tão bem orquestrada quanto a sua antecessora (em menores proporções, é claro). O plano aberto panorâmico que mostra o exército cavalgando com a Muralha ao fundo e a visão aérea dele adentrando os dois lados da floresta foram de dar inveja a qualquer superprodução cinematográfica. É incrível como mesmo depois de quatro anos a série ainda consegue nos surpreender nesse sentido.
Os comentários repetidos de Mance a respeito dos guarda-roupas de Jon (“Está vestindo o negro novamente.”) e de Stannis (“Nós não estamos nos Sete Reinos e você não está vestido para o frio.”) são marcas registradas dos roteiros de Benioff e Weiss. Mas embora a cena não tenha sido das mais bem escritas, foi um prazer ver grandes atores como Ciarán Hinds, Stephen Dillane e Liam Cunningham contracenando, mesmo brevemente. Dava até pena do pobre Kit Harington ali no meio. Assim como seu personagem, ele terá professores excelentes no ano que vem, onde tanto eles quanto Selyse, Shireen e Melisandre devem ter mais destaque já que não estarão mais isolados em Pedra do Dragão.
Quando Stannis perguntou a Jon que destino seu pai (que morreu ao informá-lo sobre a verdadeira paternidade dos filhos de Cersei) daria a Mance Rayder se estivesse vivo, o bastardo decide poupá-lo. Mas será que Ned faria o mesmo? Sua primeira cena na série mostrou ele executando um patrulheiro que fugiu depois de ter sido atacado por um White Walker, lembram? Antes de ser rei, Mance também foi um desertor da Patrulha.
A queima dos corpos proporcionou um belo fechamento para esse conflito entre patrulheiros e selvagens. Mais uma vez os produtores preferiram dar destaque a Tormund ao invés de usarem seu próprio rei, o que nessa cena fez sentido já que ele esteve ao lado de Ygritte desde o começo, ouvindo ela falar sobre quantas flechas usaria pra dar cabo do ex. E verdade seja dita, Kristofer Hivju pode não ser tão high profile quanto o velho Ciarán, mas Tormund é bem mais maneiro que Mance. A despedida de Ygritte no verdadeiro Norte, aos os pés da árvore-coração que simboliza os Deuses Antigos foi extremamente poética, pois a vimos ser beijada pelo fogo uma última vez.
E é claro que onde há fogo, há Melisandre. Aquela troca de olhares entre ela e o bastardo, com a música da personagem tocando ao fundo, certamente foi de arrepiar, mas significou alguma coisa? Nós sabemos que a série gosta de criar pares românticos meio bizarros (cof, cof, Missandei e Verme Cinzento, cof, cof). Se tem uma personagem que sabe usar sexo como arma tão bem quanto Cersei é a nossa querida Mel, e Jon Snow se amarra numa ruiva. Será que os dois formariam um bom par? Ou aquele olhar da Mulher Vermelha foi mais profético e menos sensual? Carice van Houten é hipnotizante de qualquer jeito, então fica difícil dizer.
Por falar em Cersei, ela realmente se sobressaiu nesse episódio. O embate inicial entre Gran Meistre Pycelle e Qyburn foi sensacional. Os dois são personagens interessantes e representam uma que, assim como eles, foi muito pouco explorada na série. A cena também serviu pra confirmar que o Montanha foi mesmo envenenado pela lança de Oberyn assim como eu suspeitava. Veneno não é a mais nobre das formas de matar, mas foi pouco pra o desgraçado que estuprou e matou Elia Martell, seus filhos e seu irmão. O que foi aquela história de que o processo de cura poderia alterá-lo, mas não enfraquecê-lo? Como se Gregor precisasse ficar ainda mais assustador.
O casamento de Loras e Cersei é algo que já vem se arrastando a algum tempo. E já que ainda não aconteceu, foi bom que eles tenham prestado algum esclarecimento. Ver a rainha defender seus filhos como uma leoa é sempre bom, mas o desejo de permanecer na capital deve-se unicamente ao amor que ela sente por Tommen ou é simplesmente por não aceitar que outra pessoa além dela exerça poder a partir dele? Lena Headey e Charles Dance estavam numa sintonia absurda! Não é todo dia que vemos Tywin Lannister perder o controle da situação. Assim como Tyrion, Cersei acertou no ponto fraco do velho. A crença obstinada que ele tinha em seu legado virou de cabeça pra baixo com a revelação da filha.
Após a polêmica cena de estupro no septo em “Breaker of Chains” (que também foi dirigida por Alex Graves), é estranho ver como a relação de Jaime e Cersei permanece inabalada. Eu só me pergunto por quanto tempo esse romance vai durar. Quando Cersei acordar no dia seguinte e descobrir que Jaime libertou o irmão será que ela vai perdoa-lo?
Outra mãe capaz de tudo para defender os filhos é Daenerys, sejam os escravos que a chamam de “mhysa” ou os dragões – únicos filhos que ela terá na vida, já que ficou estéril depois da morte de Rhaego, na primeira temporada. Foi irônico e cruel o fato de ela ter tido que colocar ambos sob o peso das correntes que ela é conhecida por quebrar. Irônico, cruel e real. Dany passou por mal bocados na primeira e segunda temporada, mas depois disso ela passou a ser retratada quase como uma deusa, com suas frases de efeito, seus dragões, seu super exército e até um mosh. Por mais que eu torça pela personagem e reconheça que ela é de fato uma imagem inspiradora (que outra garota conseguiu libertar e conquistar três grandes cidades?), o mínimo que se podia esperar era que, algum dia, ela tivesse que lidar com as consequências de suas escolhas, assim como todo bendito personagem em Game of Thrones.
Por mais injusta que fosse a escravidão, ela era uma ordem que Dany decidiu romper assim como fez com as coleiras dos escravos. Mais cedo ou mais tarde, ela teria que criar uma nova ordem para sobrepujar o caos que ela mesma instaurou. A maioria dos escravos era torturada por seus mestres, mas outros, como Fennesz, eram respeitados como um membro de suas famílias e queridos por suas crianças (“the children”, novamente). O que eles farão agora que são livres, mas assaltados e espancados pelos ex-escravos mais jovens? A rainha foi esperta ao declarar que liberdade também significa fazer suas próprias escolhas e ao permitir que Fennesz voltasse a servir Mestre Mighdal com o contrato de um ano. Mas prevejo que ainda haja muito a se fazer em Meereen. Afinal, como disse Barristan, os mestres se aproveitarão dessa situação e farão dos libertos escravos em tudo menos no nome. Isso é ruim, mas não só por obrigar Daenerys a “presidir sobre a injustiça que ela lutou para destruir.” Quanto mais tempo ela ficar na Baía dos Escravos, mais tempo vai demorar pra que reclame seu direito ao Trono de Ferro em Westeros.
A produção soube bem escolher os atores que interpretaram os súditos meereenses nesse episódio. Tanto o ex-escravo quanto o pastor conseguiram passar bem aquilo que foi exigido. Antes mesmo de ele mostrar a Dany os ossos da filha eu já estava com pena. A expressão do cara, a hesitação, a simplicidade na voz… Toda aquela tristeza realmente tornou a língua valiriana ainda mais bonita na cena.
Depois, ficamos sabendo, pela primeira vez na série, o nome do dragão maior e mais forte, o negro, a “sombra alada”, Drogon – nome dado em homenagem à Khal Drogo (e não à toa). Pra quem não sabe, os outros dois são Viserion e Rhaegal, nomeados em homenagem aos dois irmãos da khaleesi, os príncipes Viserys e Rhaegar Targaryen. Aquela última cena em que vimos Dany prender os dois filhos mais fracos (o outro não foi capturado) nas catacumbas de Meereen foi, sem sombra de dúvidas, a passagem mais comovente dela em toda a temporada. Os efeitos especiais e sonoros marcaram presença forte mais uma vez. A versão mais triste do tema de Dany que serviu como plano de fundo para a cena, ironicamente, chama-se “Breaker of the Chains.”
Eu realmente gosto de Emilia Clarke, apesar das críticas que ela recebe. Mas acho que ela poderia, ao menos dessa vez, ter deixado um pouco de lado a Daenerys implacável e ter desabado mais, chorado mais, sei lá. Mesmo assim, foi a melhor performance que ela nos entregou esse ano.
É difícil imaginar o quão doloroso deve ter sido pra uma mãe enganar os filhos ao acorrentá-los daquela maneira e depois dar as costas enquanto eles “choravam”, chamando por ela. Também inda não dá pra dizer se a escolha foi a correta, mas era a única que ela tinha no momento. E agora que os dragões estão presos, os produtores tem uma desculpa melhor pra mantê-los fora da tela e economizar grana na quinta temporada da série.
“As pessoas aprendem a amar suas correntes” e Fennesz é um exemplo disso. Mas o mesmo não se pode dizer dos dragões.
Finalmente descobrimos o que aconteceu a Bran, Jojen, Meera e Hodor depois que eles fugiram da Fortaleza de Craster, há cinco episódios atrás. Pode ser difícil de acreditar, mas de todas as surpresas de “The Children”, essa sequência foi de longe a que eu mais gostei. Como grande fã de fantasia, RPG e Tolkien, eu realmente não consegui entender os comentários dos fãs que compararam o arco de Bran à “Senhor dos Anéis” como se isso fosse uma coisa ruim. Toda essa atmosfera mística e misteriosa foi algo que sempre envolveu o Norte. Lá se concentra toda a magia que o sul parece ter esquecido por causa das guerras e dos jogos políticos. Os selvagens e a Patrulha da Noite são prova disso, e o diálogo inicial entre Jon Snow e Mance Rayder deixou isso claro. Inicialmente, os patrulheiros tinham como principal objetivo defender os Sete Reinos da ameaça dos Caminhantes Brancos. A própria Muralha foi construída com essa função. Agora que os Caminhantes voltaram, os selvagens precisam fugir deles, com seus gigantes, wargs e etc. Se Jon, Grenn, Pyp e os demais corvos não estivessem lá para morrer por pessoas que nunca saberão seu nome, o que seria de personagens queridos como Tyrion, Cersei e Jaime? É claro que eu amo o jogos dos tronos mais do que qualquer outra coisa na saga, mas o que quero dizer é que a magia sempre esteve presente, por mais distante que parecesse. E um elemento não precisa anular o outro.
Enfim, o segmento foi um verdadeiro bombardeio de imagens aterrorizantes e belas. O quadro em que o grupo observa, ainda ao longe, a árvore-coração das visões de Bran é digno de uma pintura e está certamente entre um dos mais bonitos de toda a série. E acho que não preciso mencionar a trilha sonora. Sem dúvidas uma das melhores faixas compostas por Ramin Djawadi. Só eu reparei que o rosto na árvore tinha três olhos e lembrava bastante The Face of Boe, com os olhos e os lábios mais largos que o normal? Esse easter-egg pode ter sido uma homenagem da produção à lendária figura da série Doctor Who que foi dublada por Struan Rodger, intérprete do Corvo de Três Olhos… Ou é só uma viagem da minha cabeça.
No quesito ação a sequência também não deixou a desejar. É impossível segurar o nervosismo quando os caras finalmente estão chegando onde eles demoraram uma temporada e meia enrolando pra chegar e uma onda de esqueletos vivos saídos de uma produção do Ray Harryhausen surge do nada para atrasá-los. Os efeitos especiais aqui foram um show à parte. As criaturas estavam perfeitas, assim como os atores. E como esquecer de Verão? Apesar de ter matado um único draugr é sempre bom quando os lobos não ficam de fora.
A única coisa estranha foi a morte de Jojen. Em um momento ele implorava que Bran se salvasse e, no frame seguinte, já estava em outra posição, sendo esfaqueado na barriga mecanicamente por um dos esqueletos, quase como Talisa em “The Rains of Castamere”. Mas o fato de o corpo dele ter sido destruído por uma das “bombas mágicas” de Folha foi bem apropriado. “Queime os corpos” parece ser a regra número um do guia de viagens para além da Muralha (para que os mortos não retornem como zumbis de olhos azuis), e isso ainda explicou a chama misteriosa que apareceu em uma das mãos dele enquanto falava a respeito de seu destino em “First of His Name”. “No momento em que partiu ele soube o que lhe aconteceria e partiu do mesmo jeito.”
De resto, tudo foi perfeito. O desespero de Ellie Kendrick ao cortar a garganta do próprio irmão foi bem convincente, assim como as performances da atriz mirim Octavia Alexandru e do ator britânico Struan Rodger. Tudo, das vozes à caracterização, contribuiu para que eles conseguissem nos contagiar com a aura de mistério, magia e misticismo em torno da Criança da Floresta e do Corvo.
(Para saber mais sobre as Crianças (ou Filhos) da Floresta, assista esse vídeo e acesse nossa wiki)
Não é exatamente fácil me fazer chorar. A única coisa que me faz chorar sempre que eu assisto é, coincidentemente, o final do filme “O Retorno do Rei” (desde que Sam entra naquele quarto até a despedida dos hobbits em Mithlond). Por mais que eu ame Game of Thrones e seus personagens, eu não derramei uma lágrima no Casamento Vermelho, ou quando Khal Drogo, Ned, Oberyn ou Ygritte morreram. Mas cara, quando o Corvo disse “You will never walk again, but you will fly” meus olhos suaram! Serião. Foi de arrepiar! A primeira vez que eu cheguei perto de chorar assistindo a série. Mas o que será que essa frase quis dizer? Que além de Hodor e Verão, Bran poderá entrar na mente de corvos? Dragões?
O garoto pode não ter tido a melhor das temporadas esse ano, mas com certeza teve um dos finais mais fantásticos. Literalmente.
O encontro de Arya e Brienne of fucking Tarth, assim como a junção dos núcleos de Jon e Stannis, foi ideal pra que a história não continuasse tao fragmentada. Eu adorei a interação delas, especialmente a forma como elas compartilharam histórias sobre seus pais (e suas espadas). As personagens são bem parecidas e os roteiristas souberam aproveitar isso. Brienne é o que Arya poderia ter se tornado no futuro, se todos os membros da sua família não estivessem mortos, o que fez com que ela se tornasse muito mais parecida com Sandor. Foi interessante ver como os dois pareciam dispostos a morrer pra ficar com a garota que só queria uma chance de cair fora dali. Lutar daquela maneira foi auto-destrutivo. Brienne é tão fiel aos juramentos que faz (primeiro a Renly, depois a Cat e agora a Jaime) que foi a primeira a sacar a espada. Mas pra onde ela levaria Arya? Pra um lugar seguro? Na capital? Não importava. Um cão não pode ser páreo pra quem já teve que enfrentar um urso.
Apesar de alguns problemas na edição terem deixado tudo um pouco confuso, a luta de Brienne e Sandor foi uma das mais intensas, violentas e instigantes que eu já vi! E as belas paisagens da Islândia serviram como palco perfeito para o espetáculo. Os dois atores parecem ter se entregado inteiramente à cena, o que tornou tudo bem mais real. Os gritos enlouquecidos de Gwendoline Christie enquanto ela socava Rory McCann davam até medo. Mas quem deu um show de atuação mesmo foi a (nem tão) pequena Maisie Williams.
Assim como Jon, que precisou decidir o destino de Mance Rayder, Arya teve a chance de fazer a escolha que um dia pertenceu ao pai. Sandor serviu como seu protetor, mas o nome dele sempre esteve em sua lista. Além disso, o cara parecia não sentir vergonha dos crimes que cometeu. Mas no final, ela optou por não matá-lo, um ato de crueldade que soou, paradoxalmente, como uma espécie de misericórdia. Independentemente do resultado, o importante é que ela se manteve firme apesar dos insultos e provocações do Cão. Ela ainda acabou roubando todo o dinheiro do coitado, deixando ele sozinho com sua dor, o que foi bem apropriado já que ele fez o mesmo com aquele camponês que os ofereceu abrigo em “Breaker of Chains”.
A morte de Tywin não foi bem uma surpresa se levarmos em conta que essa temporada marcou a dissolução e, consequentemente, a queda dos Lannisters. O que vimos em “The Children” parece ter sido o golpe final. Tyrion puxou o gatilho, mas Cersei fez o seu próprio dano anteriormente, empunhando a verdade sórdida sobre seu relacionamento com Jaime. Resumindo: Cersei voltou para Jaime, que libertou Tyrion, que ajudou Cersei a se livrar do casamento com Loras matando o próprio pai. Essa parceria involuntária dos irmãos foi bem bonita se desconsiderarmos o patricídio e o incesto.
Brincadeiras à parte, a única coisa que se salva nessa família é a lealdade entre Tyrion e Jaime. Apesar do que sente por Cersei, o Regicida nunca permitiria que o irmão caçula fosse executado por um crime que não cometeu. A cena de despedida dos dois foi comovente.
A coisa mais triste na morte de Shae foi o fato de ela não ter dito uma palavra sequer antes de Tyrion a estrangular usando a mesma corrente de ouro que lhe deu de presente em “The Bear and the Maiden Fair”. Ao invés de tentar explicar seus motivos, ela simplesmente o atacou com uma faca pra que ele fosse forçado a se defender. Eu nunca gostei muito dos dois como um casal. As cenas eram chatas. Mas David e Dan investiram tanto no romance deles pra que ele terminasse dessa maneira? Nem mesmo enquanto ela morria a câmera mostrou seu rosto. Esteve sempre fixada na dor Tyrion, afinal, aquilo era entre ele e o pai. Até Tywin, que morreu na latrina, teve chance de dar seu discurso. No fim das contas, Shae foi apenas o aperitivo que precedeu o prato principal.
Nesse aspecto, o destino de Shae foi bem semelhante ao de Ros. Vocês lembram da belíssima prostituta interpretada por Esmé Bianco, certo? Depois de três temporadas desempenhando um papel pequeno mas significativo no jogo dos tronos, ela foi descartada em uma cena de 15 segundos do episódio “The Climb”, assassinada seminua pela besta do Joffrey.
Já o lado ruim da morte de Tywin é que, em meio a tantos acontecimentos bombásticos, ela acabou perdendo um pouco do impacto. Além disso, não teremos Charles Dance para abrilhantar o elenco na quinta temporada, o que é uma tragédia. Acredito que ele e Peter Dinklage são os melhores atores de toda a série, e se Tywin tinha que morrer pra que os Lannisters entrassem em total decadência (ou vocês acham que Cersei conseguirá sustentar a bandeira deles por muito tempo?) fiquei feliz que fosse diante (e pelas mãos) do filho mais novo que ele sempre desprezou.
Tyrion sempre foi conhecido pela inteligência, pelos discursos e gracejos, mas nunca pelo instinto assassino. Como Jorah disse certa vez, “existe uma fera em cada homem, e ela se liberta quando você põe uma espada (ou uma besta) em suas mãos”. Ele agiu movido pela vingança, e ter visto Shae na cama do pai, que sempre ameaçou enforcar (!) qualquer prostituta que ele levasse à Torre da Mão, inflamou ainda mais sua ira. Tyrion aguentou por muito tempo a crueldade e os insultos de Tywin. Ele jamais conseguiria fugir sem acertar as contas. Um Lannister sempre paga suas dívidas.
Tywin Lannister pode até não cagar ouro como as pessoas dizem, mas morreu de maneira adequada para alguém que por muito tempo teve os Sete Reinos nas mãos: sentado no trono.
Foi impossível não lembrar da lição que Mindinho deu à Robin em “The Mountain and the Viper”, quando ele disse que as pessoas morriam o tempo inteiro, seja na mesa de jantar (Joffrey), na cama (Shae), ou agachadas no penico (Tywin). Por falar nessa cena, ela foi originalmente planejada para acontecer nesse episódio, o que faria de dark Sansa uma das crianças a que o título se refere.
Muitos fãs de Tyrion temiam que ele tivesse o mesmo destino de Ned no final dessa temporada, mas pra sorte deles e do Duende, Varys não esquece nada, como ele mesmo fez questão de lembrar durante o julgamento em “The Laws of Gods and Men”. Ele provavelmente foi responsável pelos soldados adormecidos no chão das cela negras. Com uma única mão, Jaime não teria conseguido dar conta do recado sozinho.
Ah! Vale lembrar que pouco antes da batalha da Água Negra, Varys entregou a Tyrion um mapa que continha todas as passagens secretas da capital. Por isso ele sabia exatamente como fazer para chegar aos aposentos do pai sem que ninguém o visse.
O anão e o eunuco sempre formaram uma ótima dupla. Quando Tyrion perdeu o prestígio e o título de Mão do Rei, os dois se distanciaram bastante e eu fiquei realmente muito feliz quando Varys decidiu viajar com o amigo no fim. Não é à toa que ele odeia sinos. Se ficasse na capital, certamente não demoraria muito pra que o culpassem pela fuga de Tyrion e, consequentemente, pela morte de Tywin. Um homem que tem “passarinhos” sob seu comando precisa saber pra que lado o vento está soprando.
Para onde vocês acham que ia aquele barco? Estou realmente ansioso pra saber o que o futuro reserva pra ambos (como já li todos os livros, eu até sei o que esperar. Mas se tratando da série, #SomosTodosJonSnow, não sabemos nada).
Arya também terminou se dirigindo para o mar. Por sorte (algo que ela não tinha a muito tempo), encontrou um navio que seguia rumo a Bravos e mostrou a moeda de ferro que recebeu do Homem Sem Face, Jaqen H’ghar, no último episódio da segunda temporada. O espanto do capitão foi engraçado, e quando ela pronuncia a “senha” em alto valiriano, “Valar Morghulis” (“Todos os homens devem morrer”), ele imediatamente a ofereceu uma cabine! Essa é uma das vantagens de ser ligada a um assassino famoso.
A última cena foi belíssima! Um fechamento com ar de recomeço. Algo bem diferente do que vimos no último quadro do primeiro episódio da temporada, “Two Swords”, onde Arya (e o Cão) não tinham nada mais à sua frente senão morte e destruição. A música dos créditos finais, que mistura vários temas conhecidos da série, foi a cereja do bolo. E assim terminou nossa patrulha.
Valar Dohaeris. Todos os homens devem servir, e foi muito bom servir vocês escrevendo as análises esse ano. Agora só nos resta esperar mais uma Longa Noite pela próxima temporada, e ficar ligados nas notícias e novidades que continuarão saindo até lá com mil olhos e mais um.