Em “The Sword in the Darkness” a série de Game of Thrones da Telltale começa realmente a acertar a passo, movendo as peças principais para que o objetivo do jogo fique mais claro. Em minha opinião, o terceiro episódio foi o que mais chegou perto da perfeição no que diz respeito ao equilíbrio entre história e ação, nos oferecendo um avanço fundamental na trama, introduzindo alguns novos personagens muito bem escritos e, finalmente, colocando os destinos da Casa Forrester nas mãos de TODOS os personagens principais.
(Ao invés de analisar os subcapítulos separadamente, eu preferi comentar a participação de cada um dos personagens com P.O.V. no jogo.)
ASHER FORRESTER – Como a figura de Drogon foi a mais utilizada para promover The Sword in the Darkness, eu pensei que a participação dele viria no clímax do episódio. Mas ao invés disso a Telltale nos presenteou com uma sequência eletrizante envolvendo o dragão logo no início.
Como vimos em The Lost Lords, Asher e seus companheiros se envolveram em problemas com uma companhia de mercenários chamada A Legião Perdida e, mesmo que você tenha escolhido não matar o líder deles, Tazal, os caras estarão te perseguindo aqui (ainda bem que eu escolhi matar o bastardo).
Eventualmente, os três acabam em um beco sem saída onde Malcolm suspeita que, convenientemente, pode existir uma caverna. Existe uma série de coisas não importantes para checar nesse cenário, ou você pode falar com seus companheiros sem se preocupar com os perseguidores, já que eles só te alcançam depois que você encontra o cadáver na entrada da gruta.
Também não faz diferença se você decide pegar ou não o ouro do defunto, os caras da Legião vão entrar com você na caverna de um jeito ou de outro. Dessa forma, é melhor pegá-lo sempre, afinal, como Beshka apontou sabiamente, em Essos existe sempre tempo para o ouro.
A cena da batalha na caverna foi incrível, e me fez pensar o quanto é bom ter um jogo sem limitações orçamentárias, onde nós podemos ver Drogon fazer coisas que ele, provavelmente, nunca vai fazer na série. E então veio a primeira escolha difícil do episódio: salvar Malcolm dos mercenários ou salvar Beshka do dragão… Porém, mais uma vez, a Telltale “falhou” em demonstrar que nossas escolhas realmente importam dentro do jogo, e essa foi uma das principais críticas feitas a esse episódio nos fóruns e sites especializados.
Pessoas que não estão acostumadas com o estilo da Telltale geralmente tendem a se importar mais com a relevância das escolhas que fazem esquecendo-se que, no início de cada jogo existe um aviso de que “The story is tailored by your decisions.”, o que basicamente significa que a história criada pelos desenvolvedores é adaptada pelas escolhas do jogador, e não modificada por elas. Resumindo: na maioria das vezes, o poder de decisão do jogador é, de fato, ilusório.
Eu, particularmente, acredito que o maior produto da Telltale são as histórias de qualidade, mais do que a possibilidade de moldá-las ao bel prazer (se você quer escolhas de verdade, tente um jogo da BioWare).
Tanto The Walking Dead quanto The Wolf Among Us, os dois títulos da Telltale que eu cheguei a experimentar, receberam críticas nesse aspecto. E realmente, em ambos os casos, assim como em Game of Thrones, as consequências das decisões feitas durante o gameplay ou eram muito sutis, ou só eram percebidas a longo prazo. É sempre bom esperar todos os episódios saírem para julgar.
De qualquer forma, na cena em questão, eu fiquei feliz por não ter precisado sacrificar Malcolm ou Beshka com meu “poder de decisão”. O máximo que eles sofrem são queimaduras e aquele que não foi salvo confronta Asher posteriormente (no caso de Malcolm, achei que as feridas – e as “cobranças” – foram um pouco maiores), mas isso é bem fácil de contornar através do diálogo, e não chega a ter consequências mais sérias… pelo menos não nesse episódio.
No mais, Asher continua sendo um dos personagens mais leves de se acompanhar. Apesar de seu passado obscuro, ele é o que mais conseguir transmitir um pouco de humor ao jogo, ainda que seja um humor ao estilo de Game of Thrones (o encontro com Croft foi hilário).
GARED TUTTLE – Contrariando o que vimos em The Lost Lords, o arco de Gared Tuttle na Muralha se tornou um dos mais promissores de toda a série. Aliás, o papel de todos os personagens principais ficou bem definido em The Sword in the Darkness. Enquanto Rodrik segura as pontas em Ironrath, Asher tenta conseguir soldados em Essos e Mira o dinheiro para pegar por eles. Já o papel de Gared, embora ainda seja o mais enigmático, pode significar a salvação de todos eles. Mas antes de completar sua missão, ele tinha que ser tornar patrulheiro…
E foi mais rápido do que eu esperava. Achei que a sequência inicial em Castelo Negro foi menos interessante do que deveria, justamente por causa dessa rapidez. Alguns bugs estranhos nos gráficos, como árvores andando sozinhas em meio à Floresta Assombrada (e não por que elas são assombradas), também não ajudaram. No entanto, os diálogos com Jon Snow e nosso mais novo brother, Finn, foram bem escritos, e fazer o juramento como os homens da Patrulha foi… bacana. A imersão proporcionada ainda é umas das características mais fortes desse jogo, e a arte continua impecável.
Mas vamos voltar ao que interessa: The North Grove – que nesse capítulo descobrimos ser uma fortaleza abandonada e misteriosa (provavelmente mágica) do outro lado da Muralha. O pequeno puzzle envolvendo o mapa de Gregor e o pingente de Talia foi muito bem pensado. E achei meio escrota forma como tio Duncan exigiu que Gared desertasse logo depois de ter prestado os juramentos, colocando seu pescoço na reta para salvar os Forresters. Mas são esses dilemas que tornam tudo mais interessante, embora a Telltale tenha sempre uma resposta pronta pra tudo.
Muitos jogadores questionaram o fato de Britt ter sido mandado para a Muralha por ter assassinado os parentes de Gared, sendo que outros soldados dos Whitehills estão fazendo a mesma coisa, colocando terror nas terras dos Forresters, sem sofrer nenhuma punição do tipo. Talvez tivesse sido melhor se Britt chegasse na Muralha com o objetivo específico de assassinar Gared, assim como, na série, Locke foi enviado a Castelo Negro por Roose Bolton para matar Jon Snow.
Bem, causar problemas para Gared talvez tenha sido a intenção de Lorde Whitehill ao ordenar que Britt vestisse o negro, mas isso não ficou muito claro no jogo. Ao invés disso, Britt atacou Gared imprudentemente, no que pareceu um momento de raiva, obrigando ele a se defender – o que foi a desculpa óbvia criada pela Telltale para “forçar” a deserção do rapaz… Isso, e o fato de que Cotter é na verdade um dos membros do povo livre que, por acaso, já estava planejando desertar.
Apesar dos pesares, a luta nas ameias foi um dos pontos mais altos do episódio (literalmente). E foi um prazer imensurável ver Britt despencar da Muralha.
Embora eu tenha minhas suspeitas acerca do vai acontecer em seguida, estou bem ansioso para continuar acompanhando o desenrolar dessa trama, e só por isso The Sword in the Darkness já merece um ponto positivo em relação ao antecessor.
MIRA FORRESTER – Assim como os outros, Mira está longe de conseguir completar sua missão. A diferença é que ela não é um guerreiro como Asher e Gared, ou um lorde, como Rodrik, e isso torna tudo muito mais interessante.
Como eu disse no meu review, um dos aspectos mais interessantes desse núcleo é a aliança entre ela e Tom. Foi bacana ver como a amizade deles cresceu a ponto do garoto arriscar a vida mais uma vez para livrar Mira de sua relação com Tyrion (embora eu ainda ache que ele está ajudando a serva de Margaery a mando de Mindinho ou Varys).
E por falar no envolvimento com o Duende: eu sabia que ia acabar mal. Eu assisti a série, li os livros e sabia que Tyrion acabaria preso, exilado e caçado, mas mesmo assim eu aceitei a ajuda dele (não é tão fácil dizer “não” ao seu personagem favorito, especialmente quando ele é dublado pelo próprio Peter Dinklage). Além disso, Mira não tinha a mínima ideia do que poderia acontecer e o ideal seria que os jogadores fizessem suas escolhas pensando nisso, afinal, não é à toa que o jogo se encaixa no gênero role-playing. A atitude mais sensata na situação de Mira, levando em conta os pedidos desesperados de sua mãe, seria mesmo pedir ajuda ao Mestre da Moeda, o único que poderia assegurar a compra de ironwood na mão dos Forresters.
Usar Cersei e Tyrion para minar a relação entre Margaery e Mira foi algo esperado, mas inteligente. Margaery é a única fonte segura de Mira na capital, e a rainha regente sabe disso. É mesmo a cara dela tentar destruir a amizade das duas.
Mas mesmo que o jogador peça desculpas à Margaery e aceite não se encontrar mais com Tyrion, ele revela a existência do decreto real, e não importa o que Mira diga depois, Margaery acaba ficando puta com ela – para a alegria de Sera, que pediu ajuda de Mira para se aproximar de Margaery em “The Lost Lords.”
Eu confesso que fiquei um pouco desapontado em não poder acompanhar o casamento real apropriadamente por que “não tinha lugar para as servas de Margaery no estrado” (que desculpa feia, Telltale). Mas a forma como fomos situados dentro do casamento, através dos sons, das pombas voando e etc. foi bem interessante.
O ponto mais forte dessa série da Telltale é que a história é tão boa e envolvente que a história original da série, no final, acaba mesmo como um plano de fundo. Entre a repressão do guarda Lannister e a proposta de Lorde Morgryn (que pra mim ainda é um dos principais suspeitos de ter mandado Damien assassinar Mira), eu acabei esquecendo que o rei morreria ali. Até ouvir os gritos de Cersei e ver Tyrion passar por Mira acorrentado.
Muitas pessoas na internet não entenderam muito bem o que Morgryn queria que Mira fizesse. Se ela dever entregar o decreto pra ele ou fazê-lo desaparecer, eliminando qualquer tipo de ligação com o suposto assassino do rei. Mas enfim, depois da aventura insana para retirar o decreto dos aposentos de Tyrion, eu decidi queimá-lo. Minha Mira já tem um selo roubado, uma chave e uma faca em seu quarto, ela não precisa do decreto real para tornar as coisas ainda piores caso decidam vasculhá-lo – o que provavelmente vai acontecer, já que Cersei sabe da ligação de Mira com o Duende e deve usar isso como desculpa para tirar a garota do caminho.
RODRIK FORRESTER – Em Ironrath, os Forresters começam a pensar em um plano de retaliação com a chegada do desprezível Gryff Whitehill. Mas a escolha entre expulsar Gryff ou resgatar Ryon, que está cativo em Highpoint desde o fim do primeiro episódio, “Iron From Ice”, só serve para que, mais tarde, Gwyn Whitehill prove a existência de um espião no conselho de Rodrik.
Quem vocês acham que pode ser o traidor? Meistre Ortengryn? Royland? Duncan? é capaz de mandar o sobrinho para a Muralha e ainda exigir que ele arrisque a própria vida numa missão, mas por algum motivo o Lorde Gregor Forrester confiava nele mais do que nos outros membros da Casa. Eu achei bem suspeito que os soldados dos Whitehills tenham chegado na certa (ou errada) para interromper o encontro de Rodrik e Gwyn. E quem arranjou o encontro foi o próprio Duncan…
Alguns acreditam que a própria Elissa Forrester possa ser a traidora, alegando que, assim como Gared é inspirado na história de Jon Snow, Rodrik seria inspirado em Robb Stark, que foi traído pela mãe quando esta libertou Jaime Lannister a fim de recuperar as filhas, supostamente cativas nas mãos dos Lannisters. Mas desde que o jogo nos dá a opção de optar por salvar Ryon, não faz muito sentido que Elissa seja responsável por sabotar o plano.
A Telltale fez um excelente trabalho na concepção dos Whitehills. Os caras certamente estão entre as Casas mais desprezíveis de Westeros, rivalizando com Boltons e Freys. “The Sword in the Darkness” nos apresenta Gryff Whitehill, o quarto filho de Lorde Ludd, que foi colocado no comando da indesejável guarnição em Ironrath.
Pequeno, mesquinho, feio e mimado, Gryff é tão desprezível quanto o pai, mas nem de longe tão encantador quanto ele. O rapaz é quase um Joffrey Baratheon, mas um Joffrey que, por algum motivo, é respeitado por seus homens, guerreiros detestáveis como ele.
Dito isso, já dá pra ver que a humilhação dos Forresters não acabou (e, provavelmente, não acabará tão cedo). A cena em que os soldados encenam a morte de Ethan Forrester, tirando sarro do garoto na frente da mãe e do irmão é revoltante, mas muito bem escrita. E o ressentimento crescente entre Gryff e Rodrick resulta em alguns dos conteúdos mais intrigantes do episódio. A cena do confronto entre eles no final é perfeita, especialmente se o jogador escolher as opções mais desafiadoras.
O final do capítulo foi um pouco corrido, e não tão impactante se levarmos os finais anteriores em consideração. Daenerys é um personagem de peso na série, e uma favorita dos fãs, mas dentro desse contexto que envolve a Casa Forrester ela não tem tanta importância. E a cena do encontro entre ela e Asher, onde a rainha fica tipo “meça suas palavras se for falar dos meus dragões, parça”, ao menos pra mim, foi meio… tanto faz. A música tema dela sempre cai bem, no entanto.
É claro que isso, de maneira alguma, desmerece o episódio. Depois dele eu fiquei ainda mais interessado na história e nos seus protagonistas, a quem foram dadas tarefas sólidas com um leque considerável de antagonistas e riscos futuros. E vocês, o que acharam?
Confiram abaixo o preview do próximo episódio, intitulado Sons of Winter (Filhos do Inverno) e que ainda não teve data de lançamento divulgada: