ATENÇÃO: O texto abaixo contém spoilers de TODOS os livros já publicados das Crônicas de Gelo e Fogo, mais algumas referências inofensivas aos capítulos já liberados de The Winds of Winter. Se você é fã exclusivo da série, melhor aguardar a análise SEM SPOILERS, que deve estar saindo daqui a pouco. Você foi avisado.
“Sons of the Harpy” adaptou a Fé Militante de Cersei VI (OFdC pág 354), com partes de Cersei IV (OFdC pág 208) mais detalhes do Epílogo de A Dança dos Dragões (pág 799); Tyrion IV (ADdD pág 158); A profecia de Jon I (ADdD pág 47) e as cartas de Jon II (ADdD pág 88), além de elementos de Daenerys II (ADdD pág 132) e O Capitão dos Guardas (OFdC pág 32). A direção, mais uma vez, ficou nas mãos de Mark Mylod e o roteiro, pela primeira vez na temporada, não foi escrito por Benioff e Weiss, mas sim pelo ex-assistente deles, Dave Hill, que, para quem não sabe, foi promovido a roteirista depois de ter sugerido que Ygritte fosse morta pelo menino Olly na batalha da Muralha.
Montem em seus corcéis de areia e vamos viajar.
O episódio abre com Jorah colocando Tyrion em seu barquinho para seguirem viagem para Meereen e, embora a participação dos personagens seja pequena no episódio, as cenas renderam bons diálogos. Talvez uns dos aspectos de cena mais expressivos e genuínos estão em Jorah Mormont de Ian Glen, onde vemos um estado de espírito do personagem bastante próximo ao de Jorah nos livros. Desde a primeira temporada da série podemos perceber que todas as cenas criadas para Peter Dinklage são feitas com muito carinho a atenção, e é perceptível que ele esteja sendo um dos personagens mais bem adaptados nessa temporada.
Em A Dança, sabemos que o caminho de Tyrion é longo. Chegando de Westeros para Pentos na Casa de Illyrio, viajando com Illyrio até o pequeno Roine e embarcando no Donzela Tímida como Hugor Hill para conhecer pessoas como Aegon, Jon Connington, Lemore, Pato, Haldon e tendo todo o tempo do mundo para estudar dragões, pensar obsessivamente em Shae, Tysha e em Tywin e descobrir que o garoto de cabelos azuis é um Targaryen. Antes de chegar em Volantis ele passa por Andalos, Selhorys, Chroyane e pelos Sofrimentos. Para só então ser capturado por Jorah, virar escravo e viver aventuras com Penny. Quer dizer, se pensarmos de maneira prática, todos esses capítulos de Tyrion teriam que ser reservados em uma temporada inteira para serem contados com precisão. É claro que encurtar essa história faz mais sentido para os produtores que querem que Tyrion encontre Daenerys. Eles desejam tanto isso que sacrificaram no processo Barristan e Os Imaculados (que morrem sentindo dor, para que a morte de Barristan faça sentido). A parte boa é que Peter Dinklage é um ator tão valioso que mesmo com todos esses cortes, repito: suas cenas continuam a estar entre as melhores da temporada.
Algo a se esperar pelos próximo episódios é a constante menção ao escamagris de Shireen, as ruínas de Valíria e os Homens de Pedra. O que Tyrion viveu nos Sofrimentos pode acontecer agora com ele e Jorah sozinhos neste barco. Nesse episódio, Jorah teve até uma fala que, nos livros, pertenceu à Griff:
– O vinho me ajuda a dormir – Tyrion protestara. O vinho afoga meus sonhos, poderia ter dito.
– Então fique acordado – Griff replicara, implacável.
(Trecho do capítulo Tyrion IV, em A Dança dos Dragões)
Vale lembrar que esse simpático barco em que eles viajam apareceu em um vídeo de bastidores em março, onde vemos dublês de ação em cenas de luta (assista aqui a partir de 20 segundos).
O momento em que Tyrion reconhece Jorah por seus pertences é fundamental. Ele faz isso instantaneamente. Quer dizer, o cara é intelectualmente superior a qualquer outro amigo, conselheiro ou amante de Daenerys. É bem difícil para um fã dos livros ver tantas cenas cortadas na adaptação, mas é extremamente excitante pensar sobre como Dany e Tyrion poderão se relacionar em breve.
De todas as cenas do episódio escritas para agradar o público, a que menos fugiu desse propósito foi aquela em que Jaime vislumbra Tarth e lembra-se de sua antiga companheira, Brienne. Quem não gostou daquilo? Bacana também foi ver como Bronn serviu como uma espécie de porta-voz da audiência, questionando o plano mirabolante de Jaime e tentando trazê-lo para a realidade de seu relacionamento com Cersei. Podem dizer o que for, mas a falta de argumentos do Regicida ao tentar explicar por que ele precisa resgatar Myrcella soou como incapacidade dos roteiristas de justificar a controvérsia do plot que eles criaram. A luta entre eles dois e os soldados dorneses foi muito mais bem executada e menos caótica do que aquela que vimos no final do episódio (com os Imaculados). Foi divertido ver Jaime usar como arma a mão de ouro que por várias vezes serviu como desculpa para deixar o trabalho pesado a cargo de Bronn.
E mais uma coisa: existem tubarões em Dorne… Mas são com as cobras que Jaime deve se preocupar.
(…) Até agua doce é difícil de obter, e os mares em Dorne são cheios de redemoinhos e infestados com tubarões e lulas-gigantes.
(Trecho do capítulo “Dorne” no livro O Mundo de Gelo & Fogo)
Foi triste ter a confirmação de que as Serpentes de Areia são realmente aquilo tudo que os jornalistas gringos publicaram quando receberam previamente os quatro primeiros episódios da quinta temporada para criticar.
Talvez seja muito cedo para julgar, mas qual é o sentido de capturar um homem que estava disposto a dar informações, enterrá-lo quase inteiramente na areia, colocar um balde cheio de escorpiões na cabeça dele e ainda finalizá-lo com uma lança? Obviamente, aquela cena foi um esforço lamentável para chocar o público com a introdução violenta das Serpentes – que parecem estar no seriado só pelo gore. Parecem mesmo aquelas garotas malvadas de filmes B/trash/exploitation dos anos 80. A cena com os escorpiões inclusive foi bastante comparada com a cena da boo box no filme do Capitão Gancho.
Eu não estou dizendo que as personagens originais são um exemplo de profundidade. No Festim dos Corvos, a primeira impressão que temos das três é de que elas são mulheres fortes, indomáveis e distintas, cuja única coisa em comum, além do pai, é o desejo de vingança. Na TV, elas não são só parecidas fisicamente, como ainda dividem uma certa intimidade em cena.
Mesmo Nymeria, interpretada por uma atriz de descendência singapurense – o que, para mim, foi uma escolha interessante dos produtores – parecia meio comum no meio do grupo. Keisha Castle-Hughes, indicada ao Oscar com apenas 13 anos pelo filme “Encantadora de Baleias”, parece ser o maior destaque entre as três. Ainda assim, o discurso de Obara – quase 100% retirado do Festim – pareceu um pouco… vazio.
No capítulo “O Capitão dos Guardas” (Areo Hotah), Obara conta aquela história para Doran na esperança de que ele a deixasse usar sua lança contra os Lannisters.
– Não vim em busca de conforto – a voz dela estava cheia de escárnio. – No dia em que meu pai veio reclamar-me, minha mãe não quis que eu partisse. “Ela é uma garota” disse, “e não me parece que seja sua. Tive milhares de outros homens”. Ele atirou a lança aos meus pés e deu com as costas da mão na cara de minha mãe, fazendo-a chorar. “Garota ou rapaz, nós travamos nossas batalhas” disse, “mas os deuses nos deixam escolher as armas que usamos” Apontou para a lança e depois para as lágrimas de minha mãe, e eu peguei a lança. “Eu disse que ela era minha” meu pai falou, e me levou. Minha mãe se matou com a bebida em menos de um ano. Dizem que chorava quando morreu – Obara aproximou-se da cadeira do príncipe. – Deixe-me usar a lança; nada mais peço.
(Trecho do capítulo “O Capitão dos Guardas”, em O Festim dos Corvos)
Vimos essa passagem do livro em The House of Black and White mas, em vez de Obara, quem confrontou o príncipe foi Ellaria Sand. Aliás, essa vulgaridade das Serpentes (e até o fato de que a Tyene, na série, é filha “legítima” da Ellaria) parecem ser consequência da decisão tomada pelos produtores de colocar todo o peso deste núcleo nos ombros capazes de Indira Varma, para que ela se estabeleça cada vez mais, e consiga convencer o público leitor no papel de liderança que, por direito e sangue, deveria ser de Arianne Martell.
Não podemos dizer se as pistas sobre a paternidade de Jon Snow foram colocadas neste episódio pelo fato de Dave Hill ser (assim como todos nós) um romântico apaixonado pelos livros. Ou se David e Dan haviam decidido que nessa temporada voltariam a falar de Lyanna e Rhaegar com mais carinho pelo bem da história, afinal de contas se nem George R. R. Martin tem esse poder em relação aos roteiros, porque D. Hill teria? Seja como for neste episódio tivemos vários pontos de vista sobre a origem do atual Comandante de Patrulha da Noite: Primeiro na conversa de Stannis e Selyse, depois na conversa de Sansa com Petyr e mais tarde, com a triste canção final de Sor Barristan Selmy.
É interessante perceber que os mistérios dos livros são estrategicamente colocados e espalhados nos capítulos e os relatos do passado vão se repetindo e formando quebra-cabeças de uma maneira bastante inteligente. Um exemplo que sempre gostamos de dar aqui no site é o dos contos de Dunk e Egg, onde que na primeira história você se esforça muito pra manter frescos na mente os nomes dos herdeiros Targaryen citados aqui e ali. Mas no final do torneio de Alvasparedes, você já está expert em todos os detalhes da Rebelião Blackfyre, e tudo o que aconteceu na Batalha do Campo do Capim Vermelho. Saber contar histórias é uma parada mágica. E Sons of the Harpy foi bastante generoso nesse sentido. Acredito que 90% dos fãs dos livros descobriram na internet a teoria de Rhaegar e Lyanna serem pais de Jon. Basta prestar atenção nos comentários das postagens em sites, fóruns e comunidades. Grande parte da base de fãs é bastante investida em ler teorias e descobrir coisas que estavam ao alcance dos seus olhos mas não foram percebidas. Por esta razão, penso que a demora por explorar mais profundamente Rhaeghar e Lyanna na série tenha acontecido para que o elemento surpresa pudesse ter expressividade. Acredite: muita gente ficou sabendo da possibilidade de Jon ter nascido na Torre da Alegria depois de assistir a esse episódio.
As várias versões de uma mesma história são o que faz com que Game of Thrones seja tão verdadeira. Aliás, recomendamos fortemente que você, leitor, assista a esse vídeo publicado pela Luísa Clasen sobre as obras que exploram isso no cinema. Aprendemos através de vários pontos de vista que Jon é filho de uma puta taberneira, que Rhaegar estuprou e sequestrou Lyanna e que Rhaegar gostava de se divertir cantando na Baixada das Pulgas em troca de moedas. Embora essa abordagem sobre Rhaegar dada por Barristan seja completamente equivocada (nos livros ele mesmo cita o quanto Rhaegar era melancólico – e não feliz e festeiro- , tocando sua harpa e pensando no passado, no dia em que nasceu, e em profecias), qual é a verdadeira relação entre Rhaegar e Lyanna? Sei que já estamos fartos de discutir isso aqui no site. Até porque sempre aparece um engraçadinho dizendo que Jon não pode ser um Targaryen porque tem cabelos castanhos (Baelor Quebra-Lanças manda lembranças). Por isso, gostaria de aprimorar o questionamento a esse respeito: Qual personagem da série poderia dar luz a essa verdade? Isso seria possível já que Howland Reed dificilmente aparecerá na série? Mindinho parecia saber mais sobre isso do que revelou a Sansa? Ou quem sabe Bran poderia ver algo em suas visões de powerpoint e revelar isso para o irmão em algum momento? E ainda: isso irá importar no final das contas?
A despedida de Sansa e Mindinho foi quase um pedido de desculpas dos criadores pela bagunça que eles estão fazendo com esse núcleo. Foi realmente bom ver as criptas de Winterfell novamente, e até a pena que Robert deixou na tumba enquanto ele e Ned falavam sobre Lyanna (e Rhaegar) em “Winter is Coming”.
Vale lembrar que Mindinho e os Tully, originalmente, não estavam presentes no torneio de Harrenhal. Na adaptação ele parece ter estado em todos os lugares.
(…) O rubi na garganta de Melisandre brilhava, vermelho. – Não são os inimigos que o maldizem abertamente que você deve temer, mas aqueles que sorriem quando você está olhando e amolam as facas quando você vira as costas. Faz bem em manter seu lobo sempre por perto. Gelo, eu vi, e adagas na escuridão. Sangue congelado vermelho e duro, e aço nu. Estava muito frio.
– É sempre frio na Muralha.
– Você acha?
– Eu sei, senhora.
– Então você não sabe nada, Jon Snow – ela sussurrou.(Trecho do capítulo “Jon I”, em A Dança dos Dragões)
Lendo esse trecho, não fica a sensação de que, no fundo, a cena da série só serviu como desculpa para usar a famosa frase de Ygritte? Você não sabe nada, HBO.
Ok. Talvez saibam um pouco. A cena entre Shireen e Stannis, afinal, foi provavelmente a melhor da temporada até agora. Os dois atores são excepcionais. A estranha confissão do amor que o rei sente por sua filha foi algo incrivelmente forte, ainda mais no mundo da série, onde bons pais – que não tratam seus filhos como meros peões – são um artigo raro. E quem diria que logo Stannis seria um deles?
Muita gente acredita que essa cena foi feita porque a menina logo deve encontrar a morte em nome do Senhor da Luz. Nesse capítulo, assim como na cena da banheira em “Mockingbird”, a mulher vermelha mais uma vez disse a Selyse o quanto sua filha é importante. “There is power in a king’s blood.” Nós sabemos o que Melisandre planejava fazer com Gendry (e, nos livros, com Edric Storm) se Davos não intervisse. Naquela ocasião, Stannis concordou em sacrificar o próprio sobrinho. Será que ele faria o mesmo se a vítima fosse Shireen? Mesmo depois da cena tocante que eles tiveram? Eu não me surpreenderia tanto, visto que, em vários momentos, David e Dan preferiram vilanizar o personagem. Mas seria muito melhor ver Stannis salvando a princesa das chamas. Quem sabe até concordando com o plano de Jon e enviando ela, ao lado de Sam e Gilly (o que explicaria a aparente amizade entre as personagens), para Vilavelha, já que na série não temos o bebê de Dalla e Mance Rayder. Assim como os Homens de Pedra, Vilavelha foi mencionada algumas vezes nessa temporada, então acho possível que a Cidadela dos meistres acabe aparecendo futuramente. Importante notar que, se Melisandre precisar mesmo de sangue real para um sacrifício, é mais provável que ela use Aemon Targaryen do que a herdeira do rei a quem ela serve.
Nos livros, Cersei negocia com o Alto Pardal para que a Fé perdoe as dívidas da coroa em troca do rearmamento e restauração de duas antigas ordens: os Pobres Companheiros e os Filhos do Guerreiro (ou “Estrelas” e “Espadas”). Não posso negar que assistir a rainha fazer isso na série por motivos pessoais deixou um gosto meio amargo na boca, principalmente se pararmos para considerar o histórico da Fé Militante, que foi desarmada anos depois de ter se rebelado contra o rei Aenys I Targaryen por motivos que incluem o casamento de seu filho, Aegon, com a irmã, Rhaena.
Fica meio difícil acreditar que a rainha regente tenha armado os militantes deliberadamente, mesmo sabendo o quanto eles podem ser nocivos ao reinado do seu filho. Na cena em que Tommen visita o Septo de Baelor e é hostilizado pelos pardais por ter sido fruto de um incesto, a série prefigurou bem aquilo que pode acontecer se o Alto Pardal se virar contra os Lannisters – algo que nós, leitores, sabemos que vai acontecer.
Tais mudanças podem se apoiar na inexperiência de Cersei, ou na descrença de que a Fé Militante represente uma ameaça real ao seu poderio, mas isso ainda não a isentaria do erro cometido.
Acho que a missão dada ao Mestre das Moedas foi um movimento bem arquitetado por Cersei (e pelos produtores). No epílogo de “A Dança dos Dragões”, Kevan manda Sor Harys Swyft a Braavos, protegido pelos homens de Gregor Clegane. Na adaptação, a rainha conseguiu afastar o Lorde da família rival, enquanto David e Dan mandaram Sor Meryn de presente para “Mercy”no lugar de Raff, o Querido.
É meio deprimente ver que a personalidade de Loras Tyrell foi tão estancada na série que até sua participação nessa temporada se resume à sua sexualidade. Nos livros, o Cavaleiro das Flores é um dos membros mais competentes da Guarda Real (que, em Game of Thrones, não pôde vestir o manto branco por ser o único filho de Mace), lutou bravamente no cerco a Pedra do Dragão e, certamente, teria matado, no mínimo, uns dois daqueles pardais se eles viessem interromper seu treinamento. Na série, Loras é gay e… e só.
A própria religião foi meio descaracterizada em prol desse esquema de Cersei. Lembram que ela também manteve relações com alguém do mesmo sexo nos livros? Era a Taena Merryweather, dona do famoso “pântano de Myr”.
Segundo Martin, a Fé dos Sete não se preocupa muito com os pecados do povo comum, como beber, foder ou adorar outros deuses. A homossexualidade, por exemplo, sempre foi vista por eles como uma espécie de “pecado menor”, que definitivamente não merece ser punido com prisão ou morte. Como nos primeiros anos da Idade Média, onde homossexuais só eram severamente punidos se desafiassem publicamente a posição da Igreja Católica em relação ao assunto. O que vimos em “Sons of the Harpy” foi algo mais parecido com o que possivelmente aconteceu anos mais tarde naquele período, quando a “sodomia” passou a ser considerada uma ofensa ao Direito Natural, passível de punições terrivelmente brutais como castração e fogueiras.
(Sobre a situação dos homossexuais na Idade Média, pesquisamos nesses três artigos – em inglês: Homosexuality in the Middle Ages; A History of Homophobia 5: The Medieval Basis of Modern Law e Homosexuality in medieval Europe).
Todos sabemos que Game of Thrones, por mais realista que seja, é uma série de fantasia. Até que ponto é necessário incorporar aspectos tão condenáveis da nossa realidade histórica a um universo fictício, especialmente quando tais elementos não estão na obra original?
No entanto, é impossível negar que a sequência de cenas onde vimos o grupo extremista atacar bordéis, tavernas e estátuas de outras religiões enquanto Lancel gravava a estrela de sete pontas na testa foi bem impactante. Os conflitos que esses acontecimentos geraram na vida conjugal de Tommen e Margaery (que manipula o marido como uma peteca) também foram muito bem retratados.
Pelo menos uma coisa positiva virá de toda essa confusão: Olenna.
Enfim, chegou a hora de falar do momento em que todos os sorrisos morreram: a batalha final envolvendo os Filhos da Harpia, os Imaculados e sor Barristan.
Além de pessimamente coreografada, a luta foi rápida, cheia de cortes estranhos e inconsistências. O único elemento na sequência que proporcionou alguma tensão, além da trilha sonora, foi o fato de que todos nós imaginávamos o que poderia acontecer. E aconteceu. Antes da estreia da temporada, muitas pessoas ligadas à HBO (incluindo o próprio George R. R. Martin) deram entrevistas dizendo que personagens ainda vivos nos livros iriam encontrar o Deus de Muitas Faces no novo ano da série. Desde então, muitos especularam que um desses personagens seria o Barristan, já que vazaram algumas imagens do encontro de Tyrion e Daenerys onde ele era o único membro de sua Guarda Real que não aparecia… E quem melhor do que Tyrion para assumir o posto de Mão da Rainha?
É claro que todos nos perguntamos como uma força de elite foi derrotada por um grupo de cidadãos rebeldes.
Mesmo com todas as desvantagens, continuo achando que os Imaculados dos livros tirariam aquele confronto de letra. Ainda mais tendo a ajuda de uma lenda como Sor Vovô.
Fica ainda mais difícil aceitar a decisão dos produtores depois que lemos a entrevista dada pelo ator Ian McElhinney logo depois que ele gravou a cena da morte do personagem. Leitor dos livros assim como nós, ele disse que estava empolgado com o destaque que receberia esse ano, tendo em vista que Selmy passa a ser um personagem POV no quinto livro. Imaginem a cara desse senhor quando terminou de ler os scripts do episódio? Parece que ele até escreveu uma carta à Dan e David, aconselhando ambos a não descartarem sor Barristan. Segundo Benioff, isso só fez com que ele quisesse matar o personagem ainda mais.
Sobre essa resposta eu não sei nem o que dizer amigos, apenas sentir.
Aquilo que mais nos entristeceu, não foi a morte propriamente dita, mas sim o fato de que o Barristan interpretado com tanto carinho por McElhinney nunca foi “O Ousado” que vimos nos livros. Na terceira temporada, enquanto outros aliados de Daenerys invadiam Yunkai, Barristan ficou para “proteger a rainha” sendo que Mero, o Bastardo do Titã, já estava morto; na quarta, quando Meereen enviou um campeão para lutar pela cidade, foi Daario que o enfrentou ao invés de Barristan (Edit: sabemos que no Tormenta, Belwas enfrentou o campeão de Meereen. Mas como ele foi cortado da terceira temporada de Game of Thrones, muitos acreditaram que Barristan desempenharia esse papel) e ele nem participou da missão suicida na tomada da cidade. Dessa vez, quando finalmente tivemos a chance de ver suas skills em combate, o pobre cavaleiro foi sacrificado em nome do valar morghulis que David e Dan gostam tanto de usar para promover a série.
Todos os homens devem morrer, e o Barristan dos livros, infelizmente, já estava morto na adaptação. Muito antes de enfrentar a fúria da Harpia.