ATENÇÃO: O texto abaixo contém spoilers de TODOS os livros já publicados das Crônicas de Gelo e Fogo. Se você é fã exclusivo da série, melhor aguardar a análise SEM SPOILERS, que deve estar saindo daqui a pouco. Você foi avisado.
O controverso quinto episódio da quinta temporada de Game of Thrones, escrito pelo elogiado Bryan Cogman (com intervenções de Benioff e Weiss, segundo ele) e muito bem dirigido pelo estreante na série Jeremy Podeswa, adaptou os seguintes capítulos dos livros: Samwell IV (OFdC), Samwell I (OFdC)/Jon II (ADdD), com elementos de Jon III, Jon XI, e Jon XIII (ADdD), Fedor III (ADdD), Daenerys V (ADdD), e Tyrion V (ADdD). Na análise também falamos de outros capítulos, devidamente citados.
Vamos lá?
Meereen
Primeiramente, por que chamar Barristan de “O Ousado” se, na série, a única coisa ousada que ele fez foi cruzar meio mundo para salvar Daenerys de uma mantícora? Sem querer ser chato, mas se existe uma mudança na adaptação que eu ainda não consegui engolir, foi a morte física e identitária do sor Vovô. Mesmo que ele morra futuramente nas Crônicas (o que é bem provável, já que “todos os homens devem morrer” e Martin já indicou que começaria a matar personagens com ponto de vista), eu duvido que seja dessa forma: Morto em um beco por um bando de covardes usando máscaras (até por que, quem usa máscaras nos livros são as Bestas de Bronze, ironicamente, para esconderem suas identidades dos Filhos da Harpia). Não é um funeral de alguns minutos que vai fazer com que eu me sinta diferente a respeito disso.
Algumas pessoas criticaram o desempenho de Emilia Clarke na cena da despedida por ela ter derramado uma única lágrima, sem nenhum traço de emoção. Eu não me considero um expert no assunto, mas, embora concorde que ela não seja (nem de longe) a melhor atriz da série, eu gostei de alguns momentos proporcionados pela mesma ao longo das temporadas. E acho compreensível que um governante tente esconder os sentimentos na frente dos outros (mesmo que os “outros” na cena sejam membros confiáveis de sua corte), ainda mais na situação de Daenerys, que está tentando se estabelecer e não pode demonstrar fraqueza. Em “A Dança dos Dragões”, por exemplo, se tem uma frase de efeito que a personagem repete como um mantra é “o sangue do dragão não chora”.
Missandei e Verme Cinzento. Que conceito. Pessoalmente, eu prefiro que os produtores acrescentem elementos à narrativa ao invés de tirá-los. Especialmente quando isso dá a chance de vermos personagens queridos crescerem mais do que na obra original. Ainda mais se os personagens em questão são interpretados por atores tão competentes, que parecem entender seus papéis mais do que outros de maior destaque dentro do mesmo núcleo, como Michiel Huisman (Daario) e a supracitada Emilia Clarke. Em contrapartida, essas pequenas tramas paralelas acabam tomando o lugar de plots mais importantes. Não é que eu não tenha gostado da cena. Foi até bonita, inocente e etc., mas o beijo já poderia ter acontecido há muito tempo.
Nos livros, a maior atrocidade que Daenerys comete contra os nobres de Meereen é permitir que Skahaz mo Kandaq, líder das Bestas de Bronze, torture um homem e sua filha por informação. Contudo, a sequência fez bem em apostar no exagero e na atmosfera meio horrorshow que certamente serviu para assustar os mestres e, talvez, até alguns telespectadores.
Não podemos dizer que esse foi o melhor momento de Daenerys na série, mas com certeza foi melhor do que tudo que ela tem nos mostrado ultimamente. Originalmente, é Galazza Galare, a Graça Verde, quem sugere o casamento com Hizdahr, a fim de estreitar os laços entre a rainha e seus súditos. Fazer com que essa ideia parta diretamente de Dany (com o suporte de Missandei) certamente foi uma forma de empoderamento – o pode ser encarado como um outro pedido de desculpas dos roteiristas por alguns momentos vacilantes (e até mesmo vergonhosos) da personagem na série. É preciso coragem para se reconhecer um erro.
Castelo Negro
Foi legal como as notícias sobre Daenerys serviram de ponte para a transição entre as duas cenas, embora seja muito improvável que aquele tipo de informação chegasse à Muralha senão por uma conveniência do roteiro. Repararam que Jon Snow entrou na biblioteca justamente quando Aemon declara que Dany é “uma Targaryen sozinha no mundo”? Acho que já entendemos o recado, HBO.
No Festim dos Corvos, Aemon realmente descobre sobre Daenerys e seus dragões e até acredita que ela seja o “príncipe prometido” das profecias. É claro que isso acontece em um contexto muito diferente, quando o meistre, Sam, Gilly, o cantor Dareon e o bebê de Mance Rayder estão em Bravos, a caminho da Cidadela.
Aliás, o título do episódio, “Kill the Boy”, também seria uma ótima referência ao plot que envolve Melisandre, Aemon e o filho de Dalla – se ele estivesse na adaptação. Mas ainda acho possível que vejamos a Cidadela em algum momento. Assim como os Homens de Pedra (e o Escamagris) foram referenciados incansavelmente antes de aparecerem nas telas, Vilavelha tem surgido com frequência nos diálogos da série. Dessa vez, em meio aos comentários machistas dirigidos a Gilly, Sam menciona seu desejo de se tornar um meistre, algo que ele também expressa nos livros. Seu encontro com Stannis também acontece no Festim, onde o rei faz observações a respeito de Randyll Tarly e demonstra interesse no uso do vidro de dragão para combater os Caminhantes Brancos.
E vocês? Acham que Sam ainda irá para a Cidadela? Sinceramente, eu não vejo muitas outras opções para o futuro do Matador. Talvez, com a iminente morte de Aemon, Jon decida transformar Sam em seu meistre, o que requereria o treinamento adequado. Pode ser que a viagem dele aconteça ainda nessa temporada, e que ele só alcance seu destino no ano que vem… Ou pode ser que David e Dan decidam mata-lo para chocar os leitores dos livros (não seria a primeira vez). Enquanto não sabemos o que acontece, continue lendo Samwell Tarly.
Voltando ao Aemon, o conselho que ele deu ao Jon foi, basicamente, aquilo que lemos em Samwell I e Jon II (de O Festim dos Corvos e A Dança dos Dragões, respectivamente), quando ele se despediu do novo Senhor Comandante. A única coisa que fez falta foi a menção ao rei Aegon V, o que teria sido um presente para os fãs das aventuras de Dunk e Egg. Suponho que o tempo, mais uma vez, tenha sido o maior obstáculo, embora esse episódio tenha sido um dos mais longos da série até então.
– Permita-me dar o meu último conselho, senhor. O mesmo conselho que eu dei ao meu irmão quando nos separamos pela última vez. Ele estava com trinta e três anos e meio quando o Grande Conselho o escolheu para sentar no Trono de Ferro. Um homem adulto com seus filhos próprios, mas em alguns aspectos ainda um menino. Egg tinha uma inocência nele, uma doçura que todos nós amávamos. Mate o menino dentro de você, eu disse a ele no dia em que tomei o navio para a Muralha. É preciso de um homem para governar. Um Aegon, e não um Egg. Mate o menino e deixe o homem nascer. Você está com metade da idade que Egg estava, e seu próprio fardo é mais cruel, eu temo. Você terá pouca alegria no seu comando, mas eu acho que você tem a força para fazer as coisas que devem ser feitas. Mate o menino, Jon Snow. O inverno está quase em cima de nós. Mate o menino e deixe o homem nascer.
(Jon II, em “A Dança dos Dragões”)
Importante notar que esse ensinamento ressoa diferente na série, onde Jon sempre foi algo mais próximo de um adulto, diferente de sua contraparte nos livros, que tinha 14-15 anos quando se juntou à Patrulha. Dentro desse quadro, “matar o menino” pode significar que o bastardo agora precisa lidar com a responsabilidade de não responder a mais ninguém. E ele foi rápido, como a cena seguinte fez questão de mostrar.
Embora eu ache que foi um pouco cedo para trazer Durolar à tona, já que os patrulheiros só devem pisar lá pelo oitavo episódio, eu gostei de ver como Snow enfrentou o Terror dos Gigantes, que, nos livros, também só negocia com ele mais tarde, e em diferentes condições. A questão dos navios de Stannis também foi uma invenção da série já que, originalmente, Jon usa os barcos da própria Patrulha e alguns emprestados pelo banqueiro Tycho Nestoris (que não está na Muralha da série simplesmente por que Stannis não precisa dele).
É claro que o roteiro deu uma ajudinha, mas foi engraçado ver como Kit Harington conseguiu impor presença ao contracenar com o incrível Tormund de Kristofer Hivju, algo que nem o Mance Rayder do veterano Ciáran Hinds foi capaz de fazer. Gostei também de como a série usou a morte de Pyp e Grenn para que Edd Doloroso se opusesse abertamente a Snow enquanto nos livros, onde Pyp e Grenn continuam vivos, Edd é um dos mais fiéis partidários (e intendente) do Senhor Comandante.
Os produtores são tão ridiculamente previsíveis no uso de chavões, que eu sou capaz de apostar no menino Olly como aquele que desferirá o golpe fatal (?) em Jon quando a hora chegar. Talvez você devesse matar esse menino, Jon Snow. A conversa que eles tiveram deu mais força à essa teoria, embora Bowen Marsh esteja presente na série, e tenha até recebido uma fala nesse episódio – fala precisamente retificada por Stannis, em outro clichê já usado no episódio “Garden of Bones”.
Foi meio angustiante ver Stannis partir levando Melisandre, Shireen, Davos e Selyse – que não acompanham ele no livro. Sem a mulher vermelha na Muralha, quem irá salvar Jon das “adagas na escuridão”? Shireen servirá como sacrifício para o Senhor do Fogo? Davos continuará esculpindo objetos em madeira? Por outro lado, foi bacana ver Stannis deixar a Muralha como um herói que pode (ou não) acabar salvando o Norte. Até a música tema do rei ganhou uma versão mais… vitoriosa. A junção e consequente expansão dos núcleos de Castelo Negro e Pedra do Dragão certamente foi um dos maiores acertos dessa temporada.
Winterfell
“Kill the Boy” é também uma possível referência à gravidez de Walda Gorda e à ameaça que isso representa para o futuro marido de Sansa. No “Dança”, a única menção a um outro herdeiro vem das divagações de Roose Bolton em Fedor III, onde ele confessa a Theon que qualquer bebê nascido de seu novo casamento provavelmente será assassinado por Ramsay, assim como seu filho legítimo, Domeric, que muito provavelmente foi envenenado pelo bastardo. Também é a Theon que Roose conta a história da mulher do moleiro já que, nos livros, Ramsay sabe muito bem de onde veio, e talvez por isso ele seja o que é.
Portanto, o uso que Roose faz da gravidez de Walda para alfinetar Ramsay e fazer com que ele se sinta inseguro é uma nova caracterização da série, mas que teve muito sentido. Roose sabe que o filho é melhor quando tem algo a provar, e isso lembra muito o que Tywin Lannister fazia com sua prole. Aliás, até nisso a situação atual de Sansa lembra muito a que ela viveu em Porto Real. A cena do jantar foi um retrato quase perfeito das muitas refeições que presenciamos enquanto Sansa ainda estava sob o poder daqueles que mataram seu pai. Agora, ela pode estar na sua própria casa, como convidada de honra do homem que matou seu irmão e sua mãe, mas ainda parece uma prisioneira.
E uma prisioneira precisa de uma salvadora.
Em A Fúria dos Reis, vimos uma Sansa ingênua e crédula ser iludida pelas promessas do bobo Dontos Hollard, que ela carinhosamente apelidou de “meu Florian”, comparando-se à Jonquil das canções. Esse foi um dos muitos arcos interessantes escritos pelo Martin que não tiveram chance de uma adaptação decente na TV. Na série, Sor Dontos foi, por vezes, desempenhado pelo próprio Mindinho e só mais tarde – tarde demais, eu diria – por uma versão caricata e menos trágica de si mesmo (mais um exemplo dos clichês apontados acima).
Parece que dessa vez os produtores terão a chance de transformar Sansa na típica “donzela na torre” (literalmente), e terão até um Bosque Sagrado. Quem será o Florian dessa canção? Brienne? Theon? Os dois? O fato de Brienne usar os nortenhos leais aos Starks como mensageiros é meio arriscado, mas sempre rende boas cenas, assim como a do encontro de Sansa e Fedor, ou aquela em que ele pede desculpas por ter matado Bran e Rickon. O que Sansa faria se descobrisse que os irmãos estão vivos? Provavelmente nada, assim como Jon. Mas é uma boa questão para se ter em mente.
Repararam como Catelyn foi referenciada várias vezes nesse episódio? Fora os diálogos sobre costura com Myranda, quando Sansa se aproxima do lugar onde Bran caiu, vemos o mesmo enquadramento utilizado em “The Kingsroad”, na cena em que Cat vai à Torre Quebrada investigar o motivo da queda. Até o figurino de Sansa em vários momentos se assemelhou aos da mãe. Mas preferíamos ter Coração de Pedra.
Valíria
Em A Dança dos Dragões, quando Tyrion está navegando pelo Rhoyne a bordo do Donzela Tímida, ele passa por um local chamado Os Sofrimentos e lá encontra os Homens de Pedra, antes mesmo de chegar a Volantis. Esse é um trecho do livro que eu nunca imaginei ser adaptado para a série, e nesse episódio a produção fez tudo muito bem. Acredito que tudo teria sido um grande presente para o público leitor, mesmo com a ausência de Griff, Aegon e cia. afinal de contas, os diretores de arte criaram uma paisagem extremamente fiel à descrição das ruínas de Chroyane – uma cidade Rhoynar destruída pelos dragões de Valíria, onde Tyrion realmente está quando encontra os Homens de Pedra na Ponte dos Sonhos (que na série foi brilhantemente substituída por um antigo aqueduto). O problema é que os produtores teimaram em fazer daquele lugar as ruínas da própria Valíria.
Quem leu sabe que ninguém jamais conseguiria atravessar as ruínas de Valíria com um barquinho. Nos livros, é como se fosse uma espécie de Triângulo das Bermudas, onde quem entra jamais consegue sair, como foi o caso de Gerion Lannister e de tantos outros navegadores que se atreveram a formar expedições para buscar riquezas perdidas no meio daquilo que restou depois da Perdição, que foi um cataclisma provavelmente causado pela erupção simultânea de quatorze vulcões chamados As Quatorze Chamas. Esse desastre não só causou o colapso da Cidade Franca como ainda dividiu a península valiriana em várias pequenas ilhas e criou o Mar Fumegante entre elas, uma área que agora dizem ser “assombrada por demônios”.
Apenas as estrelas mais brilhantes eram visíveis, todas a oeste. Um brilho vermelho embotado iluminava o céu a nordeste, a cor de uma ferida sangrenta. Tyrion nunca havia visto uma lua tão grande. Gigantesca, inchada, parecia que tinha engolido o sol e acordado com febre.
– Que horas são? – perguntou para Moqorro. – Aquilo não pode ser o amanhecer, a menos que o leste tenha se movido. Por que o céu está vermelho?
– O céu está sempre vermelho sobre Valíria, Hugor Hill.
Um calafrio desceu por suas costas.
– Estamos próximos?
– Mais próximos do que a tripulação gostaria.
(…) Nenhum homem livre iria de bom grado até um navio cujo capitão falava abertamente de suas intenções de navegar no Mar Fumegante.
– São os fogos das Catorze Chamas refletidos nas nuvens que estamos vendo?
– Catorze ou catorze mil. Que homem ousaria contá-las? Não é sensato para os mortais olharem tão profundamente para essas fogueiras, meu amigo. Aquelas são as fogueiras da ira de deus, e nenhum fogo humano pode se comparar a elas. Nós, homens, somos criaturas pequenas.
– Alguns são menores do que outros.
Valíria. Estava escrito que, no dia da Condenação, cada colina em um raio de oitocentos quilômetros tinha se partido, enchendo o ar com cinzas, fumaça e fogo, chamas tão quentes e famintas que até os dragões no céu foram engolidos e consumidos. Grandes fendas se abriram na terra, engolindo palácios, templos, cidades inteiras. Lagos ferveram e se tornaram ácidos, montanhas explodiram, fontes ardentes expeliram rocha derretida a trezentos metros de altura, nuvens vermelhas fizeram chover vidro de dragão e o sangue negro dos demônios, e, no norte, o solo se fragmentou e desabou, e o mar feroz invadiu tudo. A cidade mais orgulhosa do mundo se foi em um instante, seu fabuloso império desapareceu em um dia, e as Terras do Longo Verão queimaram, afogaram e ruíram.(Tyrion VIII, em “A Dança dos Dragões”)
Todos os presentes sabiam que a Destruição ainda reinava em Valíria. Ali, o próprio mar fervia e fumegava, e a terra fora invadida por demônios. Dizia-se que qualquer marinheiro que sequer vislumbrasse as montanhas de fogo de Valíria erguendo-se acima das ondas sofreria em breve uma morte terrível, e, no entanto, Olho de Corvo estivera lá e regressara.
(O Pirata, em “O Festim dos Corvos”)
É claro que todo esse papo envolvendo demônios não deve passar de superstição, mas a descrição acima mostra que a Valíria original é bem diferente daquilo que foi mostrado na série. Você pode até dizer que “a série é a série, e os livros são os livros”, mas lembre que, na própria série, Tyrion fala que “A Perdição ainda ronda Valíria” e, na segunda temporada, quando Daenerys estava em Qarth, ela encontra Quaithe fazendo uma tatuagem nas costas de um homem para protegê-lo daquelas águas amaldiçoadas. E o que dizer de um Mar Fumegante que não é nem mar, nem fumegante?
Talvez a escolha dos produtores de transformar Chroyane em Valíria possa ser explicada pela surpreendente aparição de Drogon, algo que não acontece dessa forma no cânone, mas que pode ter sido baseada no trecho abaixo, onde o Tyrion tem a impressão de ver algo sobrevoando o Donzela Tímida.
“Uma figura meio oculta passou por suas cabeças, pálidas asas de couro batendo no nevoeiro. Tyrion esticou a cabeça para ver melhor, mas a coisa sumira tão repentinamente quanto aparecera”.
(Tyrion III, em “A Dança dos Dragões”)
O termo “asas pálidas” meio que descarta a possibilidade da figura oculta ter sido Drogon, que, como todos sabemos, é preto. Mas mostrá-lo na série justamente quando Tyrion declara que as ruínas foram tudo que restou do antigo império serviu para mostrar aos telespectadores (e ao próprio personagem) que não é bem assim. Valíria ainda continua viva em Daenerys e seus filhos – uma mãe de dragões que, ironicamente, também está lutando para derrubar uma harpia.
Apesar de todas essas inconsistências, que irritaram bastante alguns fãs puristas das Crônicas, em termos de produção, a sequência foi bem sucedida. O poema recitado por Jorah e Tyrion (que Cogman afirmou ter sido uma criação de Benioff e Weiss para a série) foi um belo toque, além de mostrar o quanto essa dupla tem em comum.
They held each other close and turned their backs upon the end. The hills that split asunder and the black that ate the skies; The flames that shot so high and hot that even dragons burned would never be the final sights that fell upon their eyes. A fly upon a wall, the waves the sea wind whipped and churned. The city of a thousand years, and all that men had learned. The Doom consumed it all alike, and neither of them turned.
Abraçados um no outro, deram as costas para o fim. Os montes que cindiam, a fumaça que engolia os céus, e as chamas altas e quentes que queimavam até dragões não seriam a última imagem que seus olhos enxergariam. Uma mosca na parede, as ondas do mar que faziam a brisa estalar, a cidade de mil anos e tudo que os homens aprenderam. A Perdição os consumiu indistintamente, e nenhum deles resistiu.
Originalmente, os Homens de Pedra parecem ser bem mais organizados e, talvez por isso, até mais assustadores. No livro é dito que eles têm até um líder, o Senhor da Mortalha. Mas como eu disse antes, foi uma grata surpresa vê-los na série, então não quero ser muito rabugento quanto a isso. A cena de luta no barquinho deve ter sido extremamente difícil de fazer, mas ainda assim achei muito bem coreografada, e o modo como Tyrion caiu na água e foi atacado por uma das criaturas, tudo isso seguido pelo fade out, realmente lembrou muito o final de Tyrion V.
A cena final, naquela praia belíssima que deve ficar em lugar no sul da Espanha, foi um exemplo de atuação, direção e roteiro. Seguir andando pelo Caminho do Demônio não é uma das melhores ideias, mas veio do mesmo cara que decidiu enfrentar Valíria e os Homens de Pedra para fugir de piratas.
Dar a Mormont o fardo que seria de Jon Connington foi uma decisão cruel dos produtores se levarmos em consideração que o cavaleiro já carrega sua própria cruz. Eu me pergunto se isso tem alguma finalidade no roteiro, além do drama, é claro. Será que Jorah levará a escamagris para Meereen no lugar do fluxo sanguíneo que toma conta da cidade nos livros? De qualquer forma, se o surto da doença realmente acontecer, será Tyrion (como o novo Mão da Rainha) que irá lidar com ele na sexta temporada.
A interpretação de Iain Glenn nos segundos finais do episódio foi de emocionar qualquer um. Pensando bem, a doença combina bem com Jorah, um personagem que é trágico por essência. Agora, ele não tem mais nada a perder.
Enfim, “Kill the Boy” – que muitos fãs dos livros estão chamando carinhosamente de “kill the books” – falhou lamentavelmente enquanto adaptação, assim como seus quatro antecessores. No entanto, diferente dos outros, esse foi salvo por tecnicalidades como fotografia, direção e algumas joias espalhadas pelo roteiro que fizeram dele, se não um bom episódio, pelo menos um dos mais notáveis da série.