Quanto mais o tempo passa desde o lançamento de A Dança dos Dragões, em 2011, mais a espera por The Winds of Winter se torna um campo fértil para teorias sobre o mundo de gelo e fogo e seus personagens, das mais variadas naturezas e qualidades. Entre elas, além das “clássicas”, as que mais têm ganhado proeminência são aquelas que seguem a fórmula “personagem X é personagem Y“.
Dentro desta fórmula, uma das mais populares é aquela em que se tenta sugerir que Lemore, a septã que é a tutora religiosa de Jovem Griff na Fé dos Sete, é na verdade mais do que aparenta. Este artigo tentará abordar as principais hipóteses ventiladas a respeito de uma possível identidade secreta da personagem.
É claro que uma análise tem que partir de informações do próprio cânone. Mas o que é que os livros têm a oferecer sobre Lemore? A personagem é mencionada pela primeira vez no oitavo capítulo de Dança, o terceiro de Tyrion, em que o anão é apresentado por Illyrio Mopatis a Haldon e Rolly Duckfield, antes de embarcarem no Donzela Tímida:
– Donzelas tímidas são meu tipo favorito. Juntamente com as devassas. Diga-me, para onde as putas vão?
– Eu pareço homem que frequenta putas?
Pato riu ironicamente.
– Ele não se atreve. Lemore faria ele rezar por perdão, o garoto ia querer ir junto, e Griff pode cortar o pau dele e enfiar garganta abaixo.(A Dança dos Dragões, capítulo 8, Tyrion III)
Nesse diálogo, além da recorrente frase de Tyrion, o nome da personagem aparece como o de alguém que puniria Tyrion com rezas, mas sequer é possível determinar o sexo desse alguém. No capítulo seguinte do Duende, em que ele já está a bordo do barco, Tyrion reflete que não gostaria que Lemore o visse nu, até que ela finalmente aparece e interage com ele:
– Bom dia, Hugor. – Septã Lemore surgiu com sua túnica branca presa à cintura por um cinto tecido com sete cores. Seu cabelo caía solto sobre os ombros. – Como dormiu?
– Irregularmente, boa senhora. Sonhei com você novamente. – Um sonho acordado. Ele não conseguia dormir, então levara a mão entre as pernas e imaginara a septã sobre ele, os seios balançando.
– Um sonho mau, sem dúvida. Você é um homem mau. Rezará comigo e pedirá perdão por seus pecados?
Somente se rezássemos à moda das Ilhas do Verão.
– Não, mas dê um longo e doce beijo na Donzela por mim.
Rindo, a septã caminhou para a proa do barco. Tinha o costume de banhar-se no rio todas as manhãs.
– É fácil perceber que o nome deste barco não foi em sua homenagem – disse Tyrion quando ela se despiu.
– A Mãe e o Pai nos fizeram à imagem deles, Hugor. Devemos glorificar nosso corpo, por ser trabalho dos deuses.
Os deuses deviam estar bêbados quando me fizeram. O anão viu Lemore deslizar na água. A visão sempre o deixava duro. Havia algo maravilhosamente obsceno na ideia de livrar a septã de sua casta túnica branca e abrir suas pernas. Inocência desperdiçada, pensou… embora Lemore estivesse longe da inocência que se pressupunha. Ela tinha estrias na barriga que só podiam ter vindo de uma gravidez.
Yandry e Ysilla se levantaram com o sol e estavam cuidando de seus assuntos. Yandry dava uma espiada na Septã Lemore de vez em quando, enquanto verificava as velas. Sua pequena esposa escura, Ysilla, parecia não notar. Depois de alimentar o braseiro do convés com algumas lascas de madeira, despertou as brasas com uma lâmina enegrecida e começou a sovar a massa dos biscoitos matinais.
Quando Lemore subiu de volta ao convés, Tyrion saboreou a visão da água escorrendo entre seus seios, a pele lisa brilhando dourada na luz da manhã. Ela já tinha mais de quarenta, era mais charmosa do que bonita, mas ainda fácil de ser olhada. Ficar excitado é a segunda melhor coisa, depois de ficar bêbado, o anão decidiu. Fazia-o sentir-se vivo ainda.
– Viu a tartaruga, Hugor? – a septã lhe perguntou, torcendo a água do cabelo. – A grande almiscarada?
(…)
– Perdi a almiscarada. – Estava olhando a mulher nua.
– Fico triste por você. – Lemore deslizou a túnica pela cabeça. – Sei que só se levanta cedo na esperança de ver as tartarugas.
– Gosto de ver o sol nascer também. – Era como assistir a uma donzela saindo nua do banho. Algumas podiam ser mais bonitas do que outras, mas eram todas cheias de promessas. – As tartarugas têm seu charme, vou concordar. Nada me delicia tanto quanto ver um belo par bem torneado de… conchas.
Septã Lemore riu. Como todos a bordo do Donzela Tímida, ela tinha seus segredos. Era bem-vinda entre eles*. Não quero conhecê-la, só quero fodê-la. Ela sabia disso também. Enquanto pendurava o cristal de septã no pescoço, para aninhá-lo entre os seios, ela o provocava com um sorriso.
(A Dança dos Dragões, capítulo 14, Tyrion IV)(*) No original, “she is welcome to them”. A tradução aqui apresentou confusão, aparentemente entendendo “welcome” como bem-vinda e “them” como os tripulantes do barco. Na verdade “them” (eles) seriam os segredos, e Tyrion pensa que Lemore poderia ficar à vontade para tê-los, (o que é complementado pela frase imediatamente posterior, em que diz que isso não importa e que seu interesse é simplesmente se relacionar sexualmente com ela).
Na própria introdução da personagem, George R. R. Martin não faz nenhum esforço para ocultar que Lemore pode ser mais do que uma simples septã. Pelo contrário, ele já insinua através do olhar perspicaz de Tyrion que a personagem tem segredos, ainda que não se aprofunde nessa possibilidade nesse momento.
No capítulo seguinte de Tyrion, a tripulação do Donzela Tímida se vê sob iminente ataque dos homens de pedra na Ponte dos Sonhos em Chroyane, quando o seguinte diálogo tem lugar:
Griff desembainhou sua espada longa.
– Yollo, acenda as tochas. Rapaz, leve Lemore para a cabine e fique com ela.
O Jovem Griff deu um olhar teimoso para o pai.
– Lemore sabe onde fica a cabine dela. Quero ficar.
– Juramos proteger você – Lemore disse suavemente.
(A Dança dos Dragões, capítulo 18, Tyrion V)
Ainda que o intuito de GRRM aqui fosse o de determinar para o leitor que Jovem Griff seria também mais do que um simples filho de mercenário, a fala de Lemore tem um certo peso ao revelar que, quem quer seja, não apenas foi recrutada para instruir o rapaz na Fé, mas também jurou protegê-lo.
Mais adiante, quando Tyrion acorda perto de Selhorys após cair nas águas infectadas do Rhoyne, Lemore, que havia retirado a água dos pulmões do anão, se mostra feliz com a recuperação dele. Aegon, entretanto, está insatisfeito por ter que se esconder, o que dá ensejo a mais um diálogo interessante:
– Sei usar uma espada – o Jovem Griff insistia.
– Até mesmo o mais corajoso dos seus antepassados manteve a Guarda Real por perto em épocas de perigo – Lemore trocara a túnica de septã por trajes mais condizentes com os da esposa ou filha de um mercador próspero. Tyrion a observou mais de perto. Havia farejado a verdade sob os cabelos tingidos de azul de Griff e do Jovem Griff facilmente, e Yandry e Ysilla pareciam ser mais do que afirmavam ser*, enquanto Pato era um pouco menos. Já Lemore… Quem é ela, na verdade? Por que está aqui? Não é por ouro, posso dizer. O que o príncipe é para ela? É uma septã verdadeira?
Haldon também percebeu a mudança do visual.
– O que fizemos para essa súbita perda de fé? Prefiro você em sua túnica de septã, Lemore.
– Prefiro ela nua – disse Tyrion.
Lemore lhe deu um olhar de reprovação.
– Isso porque você tem uma alma perversa. A túnica de septã grita por Westeros, e não devemos chamar atenção sobre nós – ela se virou para o Príncipe Aegon. – Você não é o único que precisa se esconder.
(A Dança dos Dragões, capítulo 22, Tyrion VI)(*) No original, “seemed to be no more than they claimed to be”: “não pareciam ser mais do que afirmavam ser”. Mais um problema na tradução.
Notável aqui que o autor faz questão de novamente ressaltar que Lemore seja mais do que aparenta, não sendo categorizada como Yandry e Ysilla (que são mesmo quem parecem ser), e nem Tyrion, o poço de astúcia e perspicácia, é capaz de identificá-la. Ela chega ao ponto de efetivamente dizer a Aegon que, como ele, precisa se esconder, e por isso trocou de roupas.
Posteriormente, a viagem da comitiva de Aegon passa a ser contada sob o ponto de vista de Jon Connington, o que também traz novidades quanto à questão Lemore. Logo em seu primeiro capítulo, o seguinte diálogo ocorre:
– Onde, pelos sete infernos, está Haldon? – Griff reclamou para a Senhora Lemore. – Quanto tempo demora para comprar três cavalos?
Ela encolheu os ombros.
– Senhor, não seria mais seguro deixar o garoto aqui no barco?
(A Dança dos Dragões, capítulo 24, O Senhor Perdido)
Chama a atenção nessa passagem o uso do título de “Senhora” que Connington faz em seus pensamentos para se referir à personagem, ainda que em outras instâncias no mesmo capítulo ela seja tratada apenas como Lemore, sem o título. Aqui, por exemplo, em que fica claro também que a tarefa principal de Lemore era mesmo a de doutrinar Aegon na Fé (ou pelo menos assim acredita Jon):
Traga o rapaz – Griff disse para Lemore. – Veja se ele está pronto.
– Como quiser – ela respondeu, infeliz.
Então que seja. Tinha muita afeição por Lemore, mas isso não queria dizer que precisasse da sua aprovação. A tarefa dela era instruir o príncipe nas doutrinas da Fé, e ela havia feito isso.(A Dança dos Dragões, capítulo 24, O Senhor Perdido)
Em passagens posteriores, quando a Companhia já desembarcou em Westeros, ela novamente é referida como Senhora Lemore, até mesmo em pensamentos próprios de Connington (e não diálogos com outros personagens). É claro que isso poderia ser um traço de Jon que, em sua rigidez quase “stânnica”, preferiria tratar todos com cortesia e títulos quase que maquinalmente. Porém, diante da tentativa exaustiva por parte de GRRM de estabelecer que Lemore tem algo a esconder, é um ponto que não pode ser ignorado.
Então, se não é apenas quem aparenta ser, quem Lemore poderia ser? O grande ponto das teorias “personagem X é personagem Y” é que as possibilidades são inúmeras, mas algumas delas são mais prováveis, outras menos. As três personagens com quem Lemore é mais comumente identificada são Ashara Dayne, a mãe de Tyene Sand e Serra Mopatis. Cada uma delas será discutida em seus pontos a favor e contra.
Ashara Dayne, por si só, é uma personagem que também inspira bastante teorias sobre estar ainda viva, dadas as circunstâncias obscuras de sua morte. No caso de sua identificação com Lemore, não há realmente muita evidência para que se faça uma ligação direta entre as duas personagens. As estrias de gravidez na barriga de Lemore são um ponto a favor, dado o fato de que Ashara supostamente deu à luz uma filha natimorta, o que teria sido a causa para seu suicídio de acordo com Barristan Selmy. Outra possível justificativa se relacionaria com o fato de o irmão de Ashara, Arthur, ser o amigo mais próximo de Rhaegar, de quem Jovem Griff supostamente seria filho. Assim como Jon Connington foi recrutado por Mopatis, Varys e Myles Toyne para fazer parte da conspiração a favor do filho de Rhaegar por sua proximidade com o príncipe Targaryen morto, a presença de Ashara Dayne, ex-dama de companhia de Elia Martell, suposta mãe do rapaz, também emprestaria credibilidade a ele.
Entretanto, dois problemas se afiguram. O primeiro deles, o maior e que torna possível praticamente descartar a hipótese, diz respeito às características de Dayne, que é assim descrita por Catelyn Stark, logo no primeiro livro da série:
E contavam como Ned levara depois a espada de Sor Arthur à bela jovem irmã que o esperava num castelo chamado Tombastela, na costa do Mar do Verão. A Senhora Ashara Dayne, alta e de pele clara, com assombrosos olhos cor de violeta.
(A Guerra dos Tronos, capítulo 6, Catelyn)
Descrição que é corroborada por Selmy, que havia sido apaixonado por ela:
Mesmo depois de todos esses anos, Sor Barristan ainda se lembrava do sorriso de Ashara, do som de sua risada. Tinha apenas que fechar os olhos para vê-la, com seu longo cabelo escuro descendo pelos ombros e aqueles assombrosos olhos púrpura. Daenerys tem os mesmos olhos. Algumas vezes, quando a rainha o olhava, ele sentia como se estivesse vendo a filha de Ashara.
(A Dança dos Dragões, capítulo 67, O Derrubador de Reis)
A característica mais marcante de Ashara era, portanto, a cor “assombrosa” de seus olhos violeta. Seria um tanto estranho que Tyrion, que não se furtou a observar a septã em seus banhos e dialogou com ela frente a frente inúmeras vezes, não observasse nela tal traço.
O outro ponto problemático reside na idade das personagens. Tyrion estabelece que Lemore “(…) já tinha mais de quarenta, era mais charmosa do que bonita, mas ainda fácil de ser olhada.” Além de não descrevê-la como detentora da beleza assombrosa de Ashara, a idade da septã seria superior à de Dayne. Esta é descrita por Barristan como “uma jovem donzela que estava não havia muito tempo na corte”, à época dos eventos do infame Torneio de Harrenhal. Diante disso, teria portanto aproximadamente 18 anos naquela época, o que significaria que quando dos eventos de Dança ela estaria na casa dos trinta e algo (como Catelyn e Cersei). Outro ponto a ser notado é que Tyrion não detecta nenhum traço de sotaque dornês em Lemore, como seria esperado de Ashara.
Diante da aparente impossibilidade de se compatibilizar Lemore e Ashara, uma das hipóteses populares que apareceram em seguida é a de septã ser a mãe de Tyene Sand, a terceira das filhas de Oberyn Martell e mais próxima amiga de Arianne. Tyene é filha de uma septã, como revelado por Areo Hotah e Doran Martell :
— Dói assim tanto? — A voz da Senhora Tyene era gentil, e ela parecia tão doce como morangos de verão. A mãe fora uma septã, e Tyene possuía um ar de inocência quase fora deste mundo. — Há alguma coisa que eu possa fazer para vos aliviar as dores?
(O Festim dos Corvos, capítulo 2, O Capitão dos Guardas)
– E quanto a mim? – perguntou Tyene.
– Sua mãe era uma septã. Oberyn uma vez me disse que ela lia a Estrela de Sete Pontas para você, no berço. Quero você em Porto Real, também, mas em outra colina. As Espadas e as Estrelas foram reformadas, e este novo Alto Septão não é uma marionete como os outros. Tente se aproximar dele.
– Por que não? O branco é a minha cor. Pareço tão… pura.
(A Dança dos Dragões, capítulo 38, O Sentinela)
Tal fato, somado às já citadas estrias de gravidez de Lemore, são as bases que fundamentam essa hipótese. Entretanto, como é o caso com Ashara, não são muito sólidas e existem problemas. Apesar de não se saber exatamente de onde é a mãe de Tyene, Arianne fornece a seguinte informação em Festim:
Arianne Martell atravessara uma vez o Vago, quando fora com três das Serpentes de Areia visitar a mãe de Tyene. Comparado com aquele poderoso curso de água, o Sangueverde quase não merecia o nome de rio, mas era na mesma a vida de Dorne.
(O Festim dos Corvos, Capítulo 21, A Fazedora de Rainhas)
O Vago (Mander, no original) é o maior rio da Campina, e um dos maiores de Westeros. Localiza-se bastante longe, portanto, de Essos, local onde Lemore já se encontra há anos:
– Fizemos grandes esforços para manter o Príncipe Aegon escondido todos esses anos – Lemore o recordou. – Chegará o momento de ele lavar o cabelo e se declarar, eu sei, mas o momento não é agora. Não em um acampamento de mercenários.
(A Dança dos Dragões, Capítulo 24, O Senhor Perdido)
A aparência também é problemática: Tyene é descrita por Areo em O Sentinela como de “olhos azuis e loira, uma menina-mulher com suas mãos suaves e seus sorrisinhos.” Seu pai Oberyn tinha cabelos escuros, como tem Lemore. Apesar de não ser impossível que desse cruzamento resultasse uma loira de olhos azuis, seria um tanto improvável que fosse o caso, principalmente se Martin quisesse estabelecer uma ligação ou deixar dicas (como frequentemente faz).
Além disso, seria bastante implausível que a mãe de Tyene fizesse parte da comitiva de Aegon por todos esses anos e Dorne não soubesse dessa situação, por Oberyn ou Tyene. Fica claro pelos capítulos de Jon e Arianne que Doran não sabe sobre a conspiração, e até mesmo se questiona se se trata mesmo de seu sobrinho, enviando a filha em missão para averiguar. Qual seria então o intuito narrativo de se ter a mãe de Tyene como Lemore se não se estabelece ligação com Dorne?
Outra hipótese levantada é a de que Lemore seria na verdade Serra, a falecida esposa lysena de Illyrio Mopatis. Essa hipótese geralmente é somada à ideia de que Aegon seria na verdade filho de Illyrio e Serra, e não de Rhaegar como é divulgado. Dessa forma, a mãe acompanharia a criação do filho durante todo esse tempo.
Esbarra-se, no entanto, no problema da aparência mais uma vez. A descrição de um retrato de Serra, presente em um capítulo de Tyrion:
Illyrio enfiou a mão direita na manga esquerda e tirou um medalhão de prata. Dentro havia uma pintura de uma mulher com grandes olhos azuis e cabelos de pálido ouro mesclado com prata. – Serra. Encontrei-a em uma casa de travesseiros lisena e a trouxe para casa, para aquecer minha cama, mas no final me casei com ela.
(A Dança dos Dragões, capítulo 5, Tyrion II)
Claramente perceptível que Serra ostentava a aparência lysena, bastante parecida com a valiriana clássica. Totalmente contrária, portanto, à descrição de Lemore que os livros apresentam, e traços que não são facilmente ocultáveis (visto que ela toma frequentes banhos, o que inviabiliza qualquer hipótese de tingimento de cabelos). A hipótese também não explicaria por que Connington se refere a Lemore mesmo em seus pensamentos como “Senhora”. A uma simples septã ele não dispensaria tal tratamento, e obviamente na hipótese de ser mesmo a esposa de Illyrio esse fato deveria ser ocultado de Connington, sob o risco de ele descobrir a falsidade da identidade do rapaz, que acredita ser filho de Rhaegar, alvo de sua paixão.
Ficaram estabelecidos os vários problemas que circundam as hipóteses mais populares a respeito de uma possível verdadeira identidade de Lemore. Há ainda outras personagens que são suscitadas como possíveis.
Wenda, a Cerva Branca da Irmandade da Mataderrei, é uma delas. A Irmandade foi um bando fora-da-lei que operou durante o reinado de Aerys II, e teve como líder Symon Toyne. A ideia se funda no fato de que o destino da maioria dos membros do bando foi informado nos livros, enquanto que o mesmo não ocorre com Wenda. O fato de um dos conspiracionistas pró-Aegon, juntamente com Illyrio e Varys, ser o falecido capitão da Companhia Dourada Myles Toyne (descendente de Terrence, mas provavelemente também aparentado de Symon), emprestaria força à ideia de que Wenda pudesse também fazer parte da comitiva do rapaz. A linha do tempo bateria, e a Cerva Branca era descrita como bela. Não há, no entanto, nenhuma menção a Wenda ser especialmente próxima da Fé.
Ainda na linha de Lemore ser a mãe de Aegon, Elia Martell também já surgiu como uma possível identidade para a personagem. Elia tinha uma aparência relativamente parecida com a da septã, e nasceu em 257, o que significa que temporalmente seria possível também. O “pequeno” problema com essa hipótese reside no fato de que o corpo de Elia foi visto mutilado por várias pessoas quando foi apresentado a Robert.
Lynesse Hightower, a ex-esposa de Jorah Mormont que se tornou cortesã em Essos também aparece como possibilidade (a despeito de seus cabelos loiros). Surge também o nome de sua irmã mais velha Malora, a Donzela Louca, que supostamente está trancada com o pai Leyton na Torralta consultando livros de feitiços. Quanto a esta última, tenta-se fazer um anagrama incompleto entre seu nome e o de Lemore para dar mais crédito à hipótese. Até mesmo Lyanna Stark já apareceu para alguns como uma possível Lemore, além de Shiera Seastar – outra favorita das teorias de identidade secreta, também associada a Quaithe da Sombra e Melisandre de Asshai.
A pergunta que surge, então, não pode ser outra senão “quem é, então?”. A resposta é que é impossível determinar. Pode tanto ser alguma personagem mais famosa quanto alguma que teve apenas seu nome mencionado por GRRM em um dos cinco livros, ou até uma personagem totalmente inédita. Com as informações constantes dos livros atualmente, o caso Lemore está longe de contar com respostas: há apenas a dúvida, visto que as hipóteses mais comumente suscitadas apresentam vários empecilhos.
É impossível não levar em conta, porém, a notável insistência de GRRM em gerar dúvida sobre a verdade identidade de Lemore nos capítulos de Tyrion. Para os mais conspiracionistas, essa reiteração sobre a possibilidade de uma identidade secreta pode até ser um indicativo de que se trata de desinformação por parte de GRRM, talvez um red herring.
Entretanto, ainda que a trama seja escrita sob pontos de vista, Tyrion é, em muitos momentos, praticamente o olhar do próprio Martin nos livros, dada a já declarada identificação dele com o personagem. Diante disso, é relativamente seguro dizer que haverá algum tipo de revelação a respeito de Lemore nos próximos livros, ainda que atualmente se esteja praticamente no escuro para determinar qual.