O que é um “bastardo”, afinal? O termo é bastante utilizado e conhecido, mas será que seu conceito e as implicações dessa condição são igualmente compreendidas? Em uma definição simples, um bastardo ou uma bastarda é uma pessoa nascida fora do casamento, isto é, alguém cujos pais não eram casados à época de seu nascimento. Tal conceituação se aplica ao mundo criado por George R. R. Martin, mas não é exclusiva a ele. Durante muitos anos (centenas deles) na história do mundo real, a bastardia, ou filiação ilegítima, resultava em um estigma social e em que as pessoas nessa condição ocupassem uma posição inferior à dos filhos legítimos perante a sociedade, e isso ocorre também em Westeros.
O artigo abordará os pontos principais da bastardia no universo de Martin, buscando esclarecer questões às vezes polêmicas como os direitos e os sobrenomes a eles conferidos. A fundamentação ocorre sob a perspectiva do cânone dos livros, por ser ele mais internamente coerente e detalhado que o da série de TV, e, principalmente, por ser de autoria do próprio Martin. Declarações do autor externas aos livros, como em entrevistas, eventos e correspondências com fãs (disponíveis nos chamados So Spake Martin, compilados pelos Westeros.org), são também utilizadas como fontes.
Em Westeros, filhos fora do casamento não são incomuns, seja entre o povo comum ou entre os nobres. O estigma social que os acompanha, entretanto, é forte, tendo os westerosi conferido aos bastardos em geral vários atributos e peculiaridades que lhes seriam “naturais”: acreditam, por exemplo, que os bastardos cresçam mais rapidamente que crianças legítimas, ou que tenham mais desejo sexual. A maior parte das características atribuídas aos bastardos, porém, são negativas, e percebidas em diversas passagens ao longo de todos os livros. A maioria dos habitantes do continente os trata também diferentemente, como inferiores.
Em O Mundo de Gelo e Fogo, na seção dedicada à Conquista de Westeros realizada por Aegon I Targaryen, o leitor percebe o quanto a rejeição natural dos westerosi aos bastardos é forte e histórica, na descrição sobre as negociações entre o então Lorde Aegon e o Rei da Tempestade, Argilac Durrandon:
[…] O pacto seria selado com o casamento da filha do rei Argilac com Orys Baratheon, amigo de infância e campeão de Lorde Aegon.
Argilac, o Arrogante, rejeitou esses termos com raiva. Orys Baratheon era um meio irmão ilegítimo de Lorde Aegon, sussurrava-se, e o Rei da Tempestade não desonraria a filha dando sua mão para um bastardo. A simples sugestão o enfureceu. Argilac cortou as mãos do enviado de Aegon e as devolveu par ele em uma caixa. “Essas são as únicas mãos que seu bastardo terá de mim,” escreveu.
(O Mundo de Gelo e Fogo, A Conquista)
Em um dos primeiros acontecimentos de A Guerra dos Tronos, no banquete que recepcionou a corte de Robert Baratheon a Winterfell, Catelyn Stark não permitiu que Jon Snow, notoriamente conhecido como bastardo de Eddard Stark, se sentasse à mesa com os nobres e o rei, por receio de que representasse ofensa. Similarmente, durante o casamento de Edmure Tully com Roslin Frey, realizado nas Gêmeas, Walder Frey não permitiu que seus filhos ilegítimos e a prole deles participassem do banquete principal, sendo relegados a um outro, realizado do outro lado do rio, para cavaleiros e senhores de classes mais baixas (que ficou conhecido como “o banquete bastardo”). Sansa Stark, enquanto se passando por Alayne Stone, filha bastarda de Petyr Baelish, ao escolher que roupas vestir, rejeita vestimentas mais luxuosas ao refletir que “não devia ousar vestir-se acima da sua condição” (O Festim dos Corvos, Capítulo 23, Alayne I).
Em outros exemplos, Qhorin Meia-Mão, em um confronto com os selvagens além-da-Muralha, simula insultar Jon Snow, dizendo que o haviam prevenido “de que o sangue de bastardo era covarde” (A Fúria dos Reis, capítulo 22, Jon VIII). Posteriormente, Alys Karstark diz a Jon que seu pai a alertara de que o mau-humor dele, notado em uma visita dela a Winterfell, era “de se esperar de um bastardo” (A Dança dos Dragões, capítulo 44, Jon IX).
Pelo fato de serem nascidos fora de um casamento, os bastardos são vistos como frutos de enganações e malícia, sendo, por isso, de acordo com o entendimento comum, naturalmente predispostos à traição e à mentira, e pouco confiáveis. Jon Snow reflete por duas vezes em A Tormenta de Espadas sobre a visão geral que os westerosi têm dos bastardos:
Alguns deles viram Jon olhando do topo da Torre do Rei e acenaram para ele. Outros afastaram o olhar. Ainda me julgam um vira-casaca. Isso era desagradável, mas Jon não podia censurá-los. Afinal, ele era um bastardo. Todos sabiam que os bastardos eram desonestos e traiçoeiros por natureza, por terem nascido da luxúria e do engano.
(A Tormenta de Espadas, Capítulo 55, Jon VII)Os homens diziam que as crianças bastardas nasciam da luxúria e da mentira; a sua natureza era libertina e traiçoeira. Antes, Jon pretendia provar que isso era um erro, mostrar ao senhor seu pai que podia ser um filho tão bom e leal quanto Robb. Arruinei tudo isso.
(A Tormenta de Espadas, Capítulo 73, Jon X)
A despeito da mácula que os acompanha aos olhos da maioria da população, os bastardos nobres podem chegar a ocupar posições de destaque em alguns segmentos da sociedade westerosi. Na Cidadela de Vilavelha e na Patrulha da Noite, por exemplo, a vida pregressa é tecnicamente desconsiderada, e os bastardos, e até mesmo os comuns, podem ascender a níveis hierárquicos mais altos, Cotter Pyke e Jon Snow sendo exemplos claros dessa situação.
As ordens religiosas da Fé também já aceitaram bastardas nobres na história de Westeros, como as filhas de Aegon IV. Marston Waters foi Mão do Rei durante a regência de Aegon III, e Aurane Waters, o bastardo de Derivamarca, também chegou a ocupar posição no Pequeno Conselho do Rei Tommen, assim como Nymeria Sand, que atuará como conselheira representando Doran Martell. Brynden Rivers também foi parte do Conselho, chegando a Mão do Rei e atuando como Mestre dos Sussurros, mas à época já havia sido legitimado por seu pai.
Como qualquer homem pode ser nomeado cavaleiro, isso inclui também os bastardos, havendo precedentes de alguns que foram alçados até mesmo para a Guarda Real: além do já citado Marston Waters e de Mervyn Flowers, Robert Flowers e Addison Hill chegaram a Senhores Comandantes da ordem. Alguns bastardos também se destacam por sua habilidade marcial e ocupam posições relevantes nas forças militares em decorrência disso, como é o caso de Walder Rivers, Rolland Storm, Daemon Sand, e Humfrey Waters (que chegou a Comandante da Guarda da Cidade de Porto Real).
Em tempos mais remotos da história westerosi, nos períodos de formação dos reinos e unificação de regiões, houve registros de reis nascidos bastardos. Um dos exemplos é Ronard Storm, um bastardo da Casa Durrandon, que usurpou o trono de seu irmão Morden II e reinou durante trinta anos, em um período não especificado, mas anterior à invasão ândala (aproximadamente seis mil anos antes dos eventos das Crônicas). Outro caso foi o de Benedict Justman (inicialmente Rivers), bastardo das casas Bracken e Blackwood, que se ergueu alguns séculos após a invasão ândala da região que se tornaria posteriormente conhecida como as Terras Fluviais. Em uma época em que a região era fragmentada em inúmeros pequenos reinos (os chamados petty kingdoms), Benedict se tornou um cavaleiro respeitado por sua habilidade marcial, recebendo apoio de ambas as casas historicamente rivais de seus pais. Após algumas décadas de batalhas contra os pequenos reis, ele conseguiu unificar a região à força, fundando a Casa Justman após se auto-coroar.
Houve ainda outros casos de bastardos proclamados reis em períodos posteriores, mais recentes, mas sem sucesso. Segundo Meistre Yandel em O Mundo de Gelo e Fogo, após as Revoltas de Porto Real que culminaram na fuga da Rainha Rhaenyra e seus seguidores durante a Dança dos Dragões, a loucura tomou conta da cidade e, nesse contexto de desordem, um profeta conhecido como Pastor arrebanhou multidões e passou a comandar boa parte dela. Surgiu então Gaemon Cabelo-Claro, uma criança de quatro anos, filho de uma prostituta e suposto bastardo de Aegon II (o que Yandel considera não ser improvável). Milhares de comuns passaram a segui-lo, mas eventualmente sua mãe foi enforcada, confessando que ele era na verdade filho de um lyseno. No mesmo contexto, um cavaleiro de nome Perkin, a Pulga, se aproveitou da ausência de qualquer pessoa na Fortaleza Vermelha para instalar lá Trystane Truefyre, um suposto filho bastardo do falecido Rei Viserys I. Quando Aegon II retornou à cidade, porém, Truefyre foi executado.
Ainda na Dança dos Dragões, outros dois bastardos pretendentes a reis surgiram, estes com mais força do que os de Porto Real. Hugh Martelo e Ulf, o Branco eram ambos “sementes de dragão”, nome dado a diversos bastardos não-reconhecidos de Targaryens residentes nas imediações de Pedra do Dragão, que foram convocados a tentar domar dragões para lutarem pelos Negros (uma das facções da Dança). Hugh e Ulf foram bem-sucedidos na doma, o primeiro montando Vermithor, o dragão do falecido Rei Jaehaerys I Targaryen, e o segundo Silverwing, o dragão da Rainha Alysanne.
Eles se destacaram lutando pelos Negros na Batalha da Goela, e foram nomeados cavaleiros e senhores de Ponteamarga por Rhaenyra e Daemon Targaryen, mas mudaram para o lado dos Verdes durante a Primeira Batalha de Tumbleton. Diante da aparente morte de Aegon II, entretanto, Hugh revelou suas ambições de se tornar rei e passou a declará-las publicamente. Quando questionado o que lhe daria o direito de se tornar rei, Hugh respondeu, na presença do Príncipe Daeron Targaryen (o herdeiro aparente): “O mesmo direito que o Conquistador. Um dragão.”
Hugh se auto-coroou e tinha o apoio de Ulf, mas os bastardos encontraram oposição não só no próprio Daeron, mas também nos chamados Caltrops, um grupo de nobres da Campina que se ofenderam com a pretensão e passaram a conspirar para matá-los. Eventualmente, na Segunda Batalha de Tumbleton, Hugh foi morto por um deles, Sor Jon Roxton, enquanto Ulf dormia de bêbado. Daeron pereceu na batalha, e quando Ulf acordou e percebeu que tanto o Príncipe quanto Hugh estavam mortos, sugeriu a Unwin Peake que invadissem Porto Real: “Marchamos, exatamente como queria. Você toma a cidade, eu tomo o maldito trono, que tal?”. No dia seguinte, foi morto ao beber vinho envenenado que lhe foi servido por Horbert Hightower (que também o tomou, se sacrificando para enganar e matar Ulf).
Ainda que em um período conturbado da história de Westeros, em que a própria questão sucessória causou um conflito em larga escala, as tentativas de coroação dos bastardos foram malfadadas diante da existência de Targaryens legítimos. Tanto Aegon II quanto Rhaenyra tinham apoio de segmentos da nobreza, algo que nenhum entre Cabelo-Claro, Truefyre, Hugh e Ulf chegou a possuir, ainda que os dois últimos pertencessem inegavelmente ao sangue do dragão (o sangue real da época) e fossem guerreiros poderosos, possuindo inclusive dragões sob seu comando.
O estigma social que acompanha os bastardos se tornou tão historicamente forte e culturalmente arraigado, que mesmo a legitimação (que será abordada em mais detalhes adiante) é muitas vezes incapaz de tirar dos westerosi a visão negativa a respeito deles, em tempos mais recentes. Tal situação se verifica com a reação de alguns dos senhores nortenhos após a legitimação de Ramsay Bolton, como Robett Glover: “A maldade está no sangue (…) Ele é um bastardo nascido de um estupro. Um Snow, não importa o que o rei menino diga.” (A Dança dos Dragões, capítulo 29, Davos IV).
Também uma fala de Aegon “Egg” Targaryen, para Duncan, o Alto, quando conversavam sobre Brynden Rivers, deixa clara a posição da Fé dos Sete a respeito dos bastardos, mesmo os legitimados, aparentemente compartilhada também pelos Targaryen:
– O velho Alto Septão disse para meu pai que as leis do rei são uma coisa, e que as leis dos deuses são outra – o garoto respondeu, teimoso. – Filhos legítimos são gerados em um leito nupcial e abençoados pelo Pai e pela Mãe, mas bastardos nascem da luxúria e da fraqueza, ele disse. O Rei Aegon decretou que seus bastardos não eram bastardos, mas não podia mudar a natureza deles. O Alto Septão dizia que todos os bastardos nascem para trair… Daemon Blackfyre, Açoamargo e até Corvo de Sangue. Lorde Rivers era mais esperto do que os outros dois, ele dizia, mas no fim também provaria ser um traidor. O Alto Septão aconselhou meu pai a nunca confiar nele, nem em outros bastardos, grandes ou pequenos.
(A Espada Juramentada)
Coincidentemente (ou não), o primeiro ato de Egg depois de coroado Rei Aegon V Targaryen foi justamente prender e condenar à morte Corvo de Sangue, sob a alegação de que este havia enganado Aenys Blackfyre, um pretendente ao Trono de Ferro, oferecendo-lhe salvo-conduto em Porto Real apenas para assassiná-lo (o que de fato ocorreu). Brynden foi eventualmente poupado da execução ao aceitar vestir o negro.
A sociedade dornesa é mais tolerante a amantes do que o resto de Westeros, e essa situação se estende também aos bastardos, principalmente os frutos desse tipo de união, que são vistos com menos negatividade pelos dorneses. Oberyn Martell não encontra qualquer problema em divulgar sua relação amorosa com Ellaria Sand, filha ilegítima de Lorde Harmen Uller, e gerou também oito filhas bastardas, quatro delas com a amante. Doran Martell envia uma delas, Nymeria, para representar o assento de Dorne no Pequeno Conselho do Rei Tommen. Apesar da maior tolerância, não se pode dizer, no entanto, que os dorneses equiparam os filhos fora do casamento aos legítimos. Daemon Sand, filho de Sor Ryon Allyrion (herdeiro de uma das casas mais poderosas de Dorne), chegou a pedir a mão da Princesa Arianne Martell, herdeira da região, mas foi recusado pelo pai dela, Príncipe Doran, entre outros motivos, por ser bastardo.
Não só em Westeros há preocupação com a existência de um casamento para que haja legitimidade dos filhos. Em conversa entre Daenerys Targaryen, Reznak mo Reznak e Galazza Galare, a Graça Verde de Meereen, esta explica para a Rainha a respeito dos costumes matrimoniais meereeneses:
– Magnificência, você não entende – protestou Reznak. – A lavagem dos pés é santificada pela tradição. Significa que será a serva de seu marido. A roupa do casamento é carregada de significados, também. A noiva é vestida em véus vermelho-escuros, sobre um tokar de seda branca, com franjas de pérolas.
A rainha dos coelhos não pode se casar sem suas orelhas de abano.
– Todas essas pérolas me farão chocalhar quando andar.
– As pérolas simbolizam fertilidade. Quanto mais pérolas Vossa Veneração usar, mais crianças saudáveis nutrirá.
– Por que vou querer uma centena de crianças? – Dany se virou para a Graça Verde. – Se nos casássemos pelos ritos westerosis…
– Os deuses de Ghis não considerariam a união verdadeira. – O rosto de Galazza Galare estava oculto atrás de um véu de seda verde. Apenas seus olhos podiam ser vistos, verdes, sábios e tristes. – Aos olhos da cidade, você seria a concubina do nobre Hizdahr, não sua legítima esposa. Seus filhos seriam bastardos. Vossa Veneração deve se casar com Hizdahr no Templo das Graças, com toda a nobreza e Meereen presente para testemunhar sua união.
(A Dança dos Dragões, capítulo 36, Daenerys VI)
Os bastardos têm poucos direitos no que concerne à sucessão, sendo este um dos pontos principais que os diferencia dos filhos legítimos. Enquanto existirem membros legítimos de uma Casa, os bastardos estão de fato excluídos de sua linha sucessória. É esse o entendimento que se extrai dos livros, em passagens como as seguintes:
Cersei podia não estar contente com as escapadelas do senhor seu esposo, mas no fim das contas pouco importava se o rei tinha um bastardo ou uma centena. A lei e o costume poucos direitos davam aos filhos ilegítimos. Gendry, a moça no Vale, o rapaz em Ponta Tempestade, nenhum deles podia ameaçar os filhos legítimos de Robert…
(A Guerra dos Tronos, Capítulo 30, Eddard, VII)
– E não somos os únicos Walder. Sor Stevron tem um neto, Walder Negro, que é o quarto na linha de sucessão; e há o Walder Vermelho, filho de Sor Emmon; e Walder Bastardo, que não está na linha. Chama-se Walder Rivers, e não Walder Frey.
(A Fúria do Reis, Capítulo 4, Bran I)
Catelyn voltou a ler a carta depois de o meistre ter ido embora.
– Lorde Meadows nada diz sobre o bastardo de Robert – confidenciou a Brienne. – Suponho que tenha entregado o garoto com o resto, embora eu deva confessar que não compreendo por que motivo Stannis o deseja tanto.
– Talvez tema a pretensão do garoto,
– A pretensão de um bastardo? Não, é outra coisa… Como é a aparência dessa criança?
– Tem sete ou oito anos e traços agradáveis, com cabelos negros e olhos azuis-claros. Os visitantes achavam freqüentemente que fosse filho de Lorde Renly.
– E Renly assemelhava-se a Robert – Catelyn teve um vislumbre de compreensão. – Stannis pretende exibir o bastardo do irmão perante o reino, para que os homens possam ver Robert no seu rosto e interrogar-se por que motivo não existe tal semelhança em Joffrey.
(A Fúria dos Reis, capítulo 45, Catelyn VI)
Sem dúvida, a mais significativa senhoria foi atribuída a Sor Lancel Lannister. Joffrey premiou-o com as terras, castelo e direitos da Casa Darry, cujo último jovem senhor perecera durante a luta nas terras fluviais, “sem deixar herdeiros legítimos de sangue Darry, mas apenas um primo bastardo”.
(A Fúria dos Reis, capítulo 65, Sansa VIII)
Em algumas circunstâncias excepcionais, os bastardos podem ser considerados como possíveis sucessores, como na ausência de filhos legítimos ou quaisquer parentes próximos do senhor falecido. Tal situação pode ser verificada em uma discussão realizada em Winterfell, presenciada por Bran Stark, a respeito da sucessão da Casa Hornwood (A Fúria dos Reis, capítulo 16, Bran II).
Em regra, porém, o bastardo não tem o direito de herdar, ou seja, assumir os títulos e propriedades do pai. A legitimação, efetuada por um Rei, tecnicamente equipara os antes bastardos aos legítimos, e lhes confere os direitos de herdeiro, como se verifica em diálogo entre Robb Stark e sua mãe Catelyn, a respeito de um possível testamento de Robb, que incluiria Jon Snow como seu herdeiro. Visto que Jon era um bastardo e não podia herdar, Robb planejava legitimá-lo para que pudesse fazê-lo:
Ele está decidido a fazer isso. Catelyn sabia como o filho podia ser teimoso.
– Um bastardo não pode herdar.
– É verdade, a menos que seja legitimado por decreto real – disse Robb. – Há mais precedente para isso do que para libertar um Irmão Juramentado de seus votos.
– Precedente – disse ela com amargura, – Sim, Aegon Quarto legitimou todos os seus bastardos no leito de morte. E quanta dor, desgosto, guerra e assassinato nasceram daí? Sei que confia em Jon. Mas pode confiar nos filhos dele? Ou nos filhos deles? Os pretendentes Blackfyre atormentaram os Targaryen ao longo de cinco gerações, até que Barristan, o Ousado, matou os últimos nos Degraus. Se legitimar Jon, não há maneira de torná-lo bastardo de novo. Se ele se casar e tiver filhos, os filhos que você tiver com Jeyne nunca estarão a salvo.
(A Tormenta de Espadas, Capítulo 45, V).
A ordem em que os bastardos legitimados entram na linha de sucessão, porém, é, incerta, segundo George R. R. Martin (So Spake Martin: The Hornwood Inheritance and the Whents). Provavelmente pela ausência de precedentes, não há posição sedimentada sobre se os legitimados entram na linha atrás de todos os filhos nascidos legítimos, ou se são inseridos nela normalmente, pela ordem de nascimento.
A legitimação pode tanto ser um instrumento conveniente para uma Casa em que faltem sucessores legítimos quanto um ato com consequências catastróficas. O caso mais famoso a esse respeito foi a legitimação por Aegon IV de seus bastardos reconhecidos. Tal ato significou a inclusão de Daemon, que era Targaryen também da parte da mãe, Daena, na linha sucessória do rei. Tal fato, somado à suspeita de que o Rei Daeron II, sucessor de Aegon IV e tido como seu filho legítimo, fosse na verdade um bastardo, foi o argumento legal para a Rebelião Blackfyre, um dos mais sangrentos confrontos da história de Westeros no pós-Conquista.
Por outro lado, o decreto legitimário conferido a Ramsay pelo Rei Tommen Baratheon funcionou como um “prêmio” para os Bolton, pois efetivamente atuou em benefício da Casa: a legitimação garantiu que a partir de então Roose teria um sucessor legítimo Bolton. Isso impediria que, na eventualidade de sua morte, membros de outras casas que fossem aparentados lançassem pretensão a sucedê-lo como senhores do Forte do Pavor pelo fato de ele não ter filhos legítimos, o que efetivamente poderia significar a extinção da casa. Igualmente, a legitimação de Addam e Alyn de Hull, efetuada por Rhaenyra Targaryen, foi em última instância benéfica para a Casa Velaryon. Ela impediu a extinção dos Velaryons, pois, na ausência de outros membros, Alyn, legitimado, esteve apto a se tornar Lorde Velaryon e gerar a prole da qual descendeu a família desde então, algo que não seria possível na condição de bastardo.
Os filhos ilegítimos de nobres em Westeros, apesar de não se equipararem aos legítimos e carregarem consigo a má fama inerente à bastardia, não são, muitas vezes, simplesmente deixados à sua sorte pelos pais por terem nascido “do lado errado dos lençóis”. Não é inusual que um nobre tenha uma certa preocupação com os filhos naturais de que tenha conhecimento, e lhes garanta um mínimo de bem-estar (sem que, necessariamente, torne pública a paternidade). É claro que muitos nobres têm bastardos cuja existência sequer conhecem, e, estes, portanto, vivem efetivamente como comuns, sem qualquer tipo de vínculo ou auxílio por parte do pai.
Gendry e Barra, filhos ilegítimos de Robert Baratheon, são exemplos de bastardos não-reconhecidos, caso em que não lhes é conferido qualquer benefício ou direito da parte do pai. A paternidade deles é conhecida por algumas poucas pessoas, mas em razão de o pai não ter reconhecido tal fato e ele não ser de conhecimento público e notório, essas pessoas sequer têm direito a um sobrenome, não se diferenciando do povo comum. Segundo O Mundo de Gelo e Fogo, Aegon IV tinha inúmeros filhos naturais que não haviam sido reconhecidos por ele, para os quais a legitimação não teve qualquer efeito. A publicidade da paternidade nobre de um indivíduo, portanto, é essencial para que ele adquira as vantagens de ser um bastardo nobre.
Um nobre pode formalmente reconhecer alguém como seu filho ou filha natural, caso em que essa pessoa receberá um sobrenome, efetivamente se diferenciando do povo comum (os “plebeus”). No caso de uma mulher nobre não-casada dar à luz um filho, ele, por óbvio, será automaticamente reconhecido como bastardo dela e receberá um sobrenome. Nos casos de reconhecimento por nobres homens, não é incomum que o bastardo em questão seja também admitido na residência do pai que o reconheceu, apesar de isso não ser regra. Segundo Petyr Baelish, em conversa com Sansa, “é falta de educação bisbilhotar a origem dos filhos ilegítimos de um homem” (A Tormenta de Espadas, capítulo 68, Sansa VI). Um bastardo reconhecido não se torna herdeiro de seu pai, e nem recebe o direito de ostentar o brasão da Casa dele.
Acima do mero reconhecimento de um bastardo está a legitimação, situação em que ele tecnicamente se equipara aos filhos nascidos legítimos de seu pai. A legitimação, porém, só pode ser realizada através de um decreto expedido pelo Rei, e, assim, pouco ocorreu na história de Westeros. Historicamente, Rhaenyra Targaryen, enquanto pretendente a Rainha durante a Dança dos Dragões, legitimou os irmãos Addam e Alyn de Hull como membros da Casa Velaryon. O caso de legitimação mais famoso, porém, é o do Rei Aegon IV Targaryen. Aegon havia tido inúmeras amantes ao longo de sua vida, e filhos e filhas com várias delas. Em seu leito de morte, o rei legitimou todos os seus bastardos reconhecidos, tanto os chamados Grandes Bastardos (aqueles que tinham mães nobres), quanto os de mães comuns. Na história recente de Westeros, Robb Stark expediu um testamento, de paradeiro desconhecido, que legitimava Jon Snow e o nomeava seu herdeiro, e Stannis Baratheon ofereceu também a Jon a legitimação e o direito de herdar e assumir Winterfell (oferta que foi recusada). O caso mais notável, porém, é o de Ramsay, filho de Roose Bolton, legitimado por Tommen Baratheon.
Ramsay é um exemplo que abrange todos os “estágios” pelos quais um bastardo pode passar. Ele é fruto do exercício da tradição (à época já proibida) da primeira noite por parte de seu pai, quando este soube que um moleiro que vivia em terras sob seu domínio havia se casado: Roose enforcou o homem por não ter informado seu senhor sobre o casamento, e estuprou a esposa sob seu corpo. A mãe de Ramsay apareceu um ano após esses eventos no Forte do Pavor, a sede da Casa Bolton, com um bebê, que Roose percebeu ser seu filho pelos olhos, muito parecidos com os seus. Deu então à mulher o moinho, alguns animais e um saco de moedas anualmente, sob a condição de que ela nunca revelasse ao filho quem era seu verdadeiro pai. Durante anos, portanto, Ramsay viveu efetivamente como um comum, visto que Roose sequer o havia formalmente reconhecido. Ramsay posteriormente descobriu sua paternidade, e depois da morte de Domeric Bolton, filho de Roose, dois anos antes da Guerra dos Cinco Reis, passou a viver no Forte do Pavor com o pai, já que este não tinha mais qualquer filho, bastardo ou legítimo. A partir desse momento, ele não foi declarado herdeiro por Roose, mas foi publicamente reconhecido como filho bastardo de Lorde Bolton, e passou a ser conhecido como Ramsay Snow. Em última instância, após a aliança Bolton com o Trono de Ferro sob os Lannister, a Casa foi recompensada por seus serviços, com o Rei Tommen Baratheon concedendo o título de Guardião do Norte para Roose e um decreto legitimatório tornando Ramsay oficialmente um Bolton. Ramsay, portanto:
Os bastardos reconhecidos não têm o direito de ostentar as armas (os brasões) da Casa de seus pais como seus, mas podem ter suas próprias, muitas vezes adaptadas das originais. Em A Espada Juramentada, Duncan reflete que era comum que os bastardos utilizassem o mesmo desenho das armas de seus pais, mas com as cores invertidas. Walder Rivers, bastardo de Lorde Walder Frey, é um exemplo desse caso, tendo também adicionado uma diagonal vermelha ao brasão. Aegor “Açoamargo” Rivers, por sua vez, misturou as armas das casas de seu pai (Aegon IV Targaryen) de sua mãe (Barba Bracken) para criar seu próprio desenho.
A questão dos sobrenomes dos bastardos é confusa, e por vezes, polêmica. Em A Guerra dos Tronos, o leitor é primeiramente apresentado ao conceito de sobrenome para bastardos nobres, não apenas através de Jon Snow, mas posteriormente em um capítulo de Catelyn Stark, quando esta conhece Mya Stone, filha bastarda de Robert Baratheon:
– Prometo, senhora, que nenhum mal lhe acontecerá. Será minha honra levá-la para cima. Fiz a subida às escuras centenas de vezes. Mychel diz que meu pai deve ter sido um bode.
– E tem um nome, jovem?
– Mya Stone, ao seu dispor, senhora.
… foi um esforço para Catelyn manter o sorriso. Stone era um nome de bastardo no Vale, tal como Snow no Norte e Flowers em Jardim de Cima; em cada um dos Sete Reinos o costume tinha criado uma denominação para as crianças nascidas sem nome de família.
(A Guerra dos Tronos, capítulo 34, Catelyn VI)
Percebe-se que os sobrenomes são originados com o costume, e, ao longo dos livros, são apresentados também os sobrenomes referentes às outras regiões de Westeros. Segue a lista dos sobrenomes bastardos regionais, com sua tradução do original inglês, e seu motivo aparente:
Uma questão que às vezes gera confusão é qual seria o sobrenome dos bastardos de membros da Casa Targaryen. A resposta é que eles não têm um sobrenome específico, sendo a eles aplicadas as regras gerais como aos bastardos de membros das outras casas de Westeros.
Frequentemente, porém, se encontra em alguns meios a afirmação de que eles receberiam o sobrenome Blackfyre, o que é incorreto. Blackfyre se tornou o nome de uma Casa, posteriormente extinta em sua linha masculina, fundada por Daemon, filho bastardo de Aegon IV Targaryen com Daena Targaryen. Quando de seu nascimento, Daena não divulgou quem era o pai, e o filho recebeu o sobrenome Waters. Depois de Daemon se destacar em um torneio aos 12 anos, Aegon o reconheceu como seu bastardo, o nomeou cavaleiro e lhe confiou Blackfyre, uma das espadas ancestrais de aço valiriano dos Targaryen, bem como terras e outras honrarias (atos que chocaram todo o reino). A partir de então Daemon, ainda bastardo, adotou o sobrenome Blackfyre em alusão à espada. Posteriormente, quando Daemon foi legitimado por seu pai juntamente com vários de seus meio-irmãos, ele fundou efetivamente a Casa Blackfyre, que existiria como um ramo cadete da Casa Targaryen, invertendo as cores do brasão desta ao criar o seu próprio. Os descendentes de Daemon, e apenas eles, adotaram também o sobrenome Blackfyre.
Outra dúvida que surge, entretanto, se refere a como o sobrenome bastardo seria atribuído: se pela região de origem do pai ou da mãe, pelo local de nascimento, pelo local de criação, ou qualquer outro método. Martin, em correspondência com um leitor em junho de 2001, esclareceu alguns pontos a respeito dos sobrenomes dos bastardos:
Nomes de bastardos são dados apenas a bastardos que tenham no mínimo um dos pais de alto nascimento. Então o filho bastardo de dois camponeses não teria nenhum sobrenome.
Assim, um nome de bastardo como “Snow” ou “Rivers” é simultaneamente um estigma e uma marca de distinção. A coisa toda com os nomes de bastardos é costume, não lei.
O pai de alto nascimento pode conferir o nome habitual, um novo de sua própria criação, ou até nenhum. A maioria dos filhos legítimos de bastardos mantêm o nome de bastardo, mas há casos em que uma geração posterior mexe nele para remover a mácula. Há um caso desses que vocês vão conhecer no próximo livro, um personagem secundário descendente de um Waters (um nome de bastardo ao longo da costa das margens da Baía de Água Negra) cujo tataravô mudou o nome para Longwaters exatamente por esse motivo.
(So Spake Martin: SF, Targaryens, Valyria, Sansa, Martells and more, tradução livre)
É importante observar a declaração de Martin de que o sobrenome para bastardos nobres é ao mesmo tempo um estigma e uma marca distintiva em conjunto com a informação de que bastardos de comuns não têm sobrenomes. O nome de bastardo funciona inicialmente como um bônus, apesar de trazer também ônus: ele existe para que o filho natural do nobre seja diferenciado das pessoas comuns (recebendo, efetivamente, um sobrenome, uma marca associada aos nobres), mas traz também consigo toda a carga social negativa da bastardia.
Um bastardo reconhecido pode se casar e transmitir também seu sobrenome a seus descendentes, que passam a ser legítimos para aquele sobrenome. É o caso de Walder Rivers, um cavaleiro filho bastardo de Lorde Walder Frey, que é casado com uma senhora da Casa Charlton. Dessa união resultaram Walda Rivers e Aemon Rivers (que, por sua vez, tem também uma filha chamada Walda Rivers). É também o caso de Jon Waters, filho bastardo de Alyn Velaryon e Elaena Targaryen, que transmitiu seu sobrenome a seu filho. Este, um cavaleiro de renome, por sua vez, o alterou para Longwaters, numa tentativa de remover o estigma da bastardia, sobrenome que foi transmitido para as gerações seguintes desde então, chegando a Rennifer Longwaters, o chefe dos carcereiros das masmorras da Fortaleza Vermelha (o personagem ao qual Martin se referira em sua resposta). Martin também esclareceu em outra correspondência que se bastardos reconhecidos de diferentes regiões se casassem, o filho provavelmente herdaria o sobrenome do pai (So Spake Martin: Bastard’s offspring).
Quanto a como o sobrenome seria atribuído, o autor esclarece que as regras não são estáticas, pelo fato de não haver em Westeros uma lei formal que estabeleça isso, mas apenas o costume, informando que sequer os nomes “habituais” das regiões são regra, e podem ser excepcionados. Com efeito, nas próprias Crônicas há um exemplo de bastardo cujo sobrenome foge à regra regional, como Martin declarou ser possível: é o caso do filho de Lollys Stokeworth, fruto de um estupro coletivo durante as revoltas de Porto Real. Como Lollys é uma nobre, ele é também obviamente um bastardo nobre, ainda que não se saiba quem é seu pai. Sor Bronn da Água Negra, que se casou com Lollys posteriormente à concepção, o nomeia como Tyrion Tanner. O nome faz referência tanto a Tyrion Lannister (a quem Bronn anteriormente servia), quanto ao fato de que Lollys foi estuprada atrás de um curtume (“tanner” sendo a palavra em inglês para “curtidor”).
Em análise dos diversos bastardos nobres de Westeros apresentados pelos livros e que receberam os nomes regionais, a única consistência observável é a de que os sobrenomes condizem com a região onde os bastardos foram criados.
As hipóteses de os sobrenomes serem atribuídos de acordo com a região a que pertencem os pais encontram empecilhos em dois bastardos de Robert Baratheon. Mya Stone, notoriamente conhecida como sua filha natural e nascida e criada no Vale de Arryn, contradiz a possibilidade de o sobrenome advir da região do pai: Robert é originalmente das Terras da Tempestade (cujo nome de bastardo associado é Storm). Edric Storm, filho de Robert e Delena Florent, impossibilita a conclusão de que os sobrenomes decorram da região da mãe, visto que ela é da Campina. Edric, porém, não foi criado com a mãe e nem com o pai (que já era rei e vivia em Porto Real quando de seu nascimento) tendo crescido em Ponta Tempestade.
Jon Snow, independentemente de quem sejam seus pais, é um dos exemplos que indicam que o sobrenome de bastardo não vem do local de nascimento. Quando Eddard voltou ao Norte depois da Rebelião de Robert, vindo do sul, trouxe consigo um bebê que dizia ser seu filho ilegítimo. Sabia-se, obviamente, então, que essa criança havia nascido em alguma das regiões do sul de Westeros, onde Eddard esteve. Ainda que não se soubesse exatamente qual seria essa região (e a crença predominante entre os nortenhos parecia ser a de que sua a mãe seria a dornesa Ashara Dayne), o sobrenome atribuído a Jon foi Snow. O caso de Brynden “Corvo de Sangue” também é inconsistente com a hipótese da região de nascimento dar o sobrenome ao bastardo: apesar de ter nascido em Porto Real, ele recebeu o sobrenome Rivers, tendo sido criado, no mínimo a partir dos dois anos, nas Terras Fluviais.
Tem-se, então, que Edric Storm é um impeditivo para a possibilidade de o sobrenome ser referente à região de nascimento da mãe (visto que os bastardos da Campina, a região de sua mãe, são Flowers); Mya Stone e os bastardos de Aegon IV, como Aegor Rivers e Brynden Rivers, impedem que a regra seja a região de origem do pai; o mesmo Brynden e Jon Snow, por sua vez, ao receberem seus sobrenomes quando não nasceram nas Terras Fluviais ou no Norte, invalidam a possibilidade de que o sobrenome se refira à região de nascimento. O sobrenome condizente ao local de criação, porém, é uma situação consistente em todos os bastardos nobres conhecidos. O fato de muitos bastardos serem conhecidos pelo nome do castelo onde foram criados também é coincidente com isso, como o Bastardo de Graçadivina (Daemon Sand), o Bastardo do Forte do Pavor (Ramsay Snow), o Bastardo de Winterfell (Jon Snow), o Bastardo de Nocticantiga (Rolland Storm) e o Bastardo de Derivamarca (Aurane Waters).
A visão geral que os habitantes de Westeros têm dos nascidos fora do casamento, chamados bastardos ou filhos naturais, é de que são pessoas socialmente inferiores aos nascidos legítimos, naturalmente pouco confiáveis e tendentes à malícia. Apesar de os bastardos de nobres poderem ascender em alguns segmentos da sociedade westerosi, a opinião negativa em relação a eles é histórica e extremamente forte.
Um nobre pode reconhecer uma pessoa como seu filho bastardo, caso em que ela receberá um sobrenome e se diferenciará dos comuns, mas não terá, via de regra, direitos de herança dentro da Casa de seu pai. Apesar de não haver lei que formalmente defina os sobrenomes de bastardos nobres, o costume observável é que eles recebem um sobrenome correspondente à região em que foram criados. Pessoas que foram geradas por um nobre, mas que não foram reconhecidas por ele ou não têm sua paternidade pública e notoriamente conhecida, vivem efetivamente como comuns, não tendo sequer um sobrenome.
A legitimação, que só pode ser conferida por um Rei, autoriza que o nascido ilegítimo se equipare aos filhos nascidos legítimos, e lhe garante também o direito de herdar de seus pais. Mesmo esse ato, entretanto, não retira automaticamente do antes bastardo o estigma social que acompanha essa condição, fortemente arraigado na cultura westerosi.