Neste artigo, traçaremos os paralelos entre o que Game of Thrones nos contou sobre os Caminhantes Brancos e o que As Crônicas de Gelo e Fogo já nos falaram sobre isso. Buscaremos entender até onde as duas mídias dialogam, o que as separam, o inevitável abismo de milhares de anos que a versão que a HBO nos apresentou ao revelar alguns aspectos primeiro, e iremos esclarecer alguns mitos criados por conta da maneira que são descritos dos livros.

PARTE I: QUEM SÃO OS WHITE WALKERS E OS WIGHTS?

Teoria White Walkers
Na série de TV, a adaga de obsidiana sempre esteve desenhada no adereço que o Rei da Noite usa no peito.

“O maior perigo de todos vem do norte, das planícies geladas Além da Muralha, onde muitos demônios esquecidos nas lendas, os outros inumanos, levantaram uma horda de mortos-vivos e não nascidos do gelo e se preparam para cavalgar durante os ventos de inverno para extinguir tudo o que conhecemos como “vida”. A única coisa que fica entre os Sete Reinos e a noite eterna é a Muralha e um punhado de homens de negro, que levam o nome de Patrulha da Noite” – trecho do argumento original de As Crônicas de Gelo e Fogo.

Teoria White Walkers
White Walkers por John Picacio para o calendário Song of Ice and Fire 2012

Os Outros, como são conhecidos nos livros (e como eram conhecidos no primeiro rascunho do piloto da série de TV) foram nomeados como “Caminhantes Brancos” pela HBO, apelido citado em certas passagens nos livros, mas não é o nome definitivo que Martin usa para designá-los. Embora os produtores não tenham comentado diretamente os motivos da mudança de nome, o próprio George R. R. Martin revelou que isto foi feito para evitar semelhanças com o enredo da série Lost.

Em aparência, as duas mídias também nos apresentam seres diferentes. Na TV, eles têm cabelos brancos ralos e longos, alguns também exibem uma barba branca. Sua pele é cinza-pálida e enrugada, sua estrutura magra e musculosa, dando-lhes uma aparência mumificada, cadavérica. Quando os vemos, temos a impressão de conhecer a morte.

Nos livros a situação é diferente. Martin os vê como seres elementais, quase “élficos”, e ainda assim terríveis e assustadores. Em um email para auxiliar o artista dos quadrinhos em suas ilustrações, Tommy Patterson, George R. R. Martin escreveu:

Os Outros não são como mortos. Eles são estranhos, lindos … acho que, como… Sídhes feito de gelo, algo assim… um tipo diferente de vida… inumano, elegante, perigoso.

Há descrições específicas que os criadores da HQ disseram ser impossíveis de ser exemplificadas. As armaduras, brancas, translúcidas, “que mudam de cor” quando se movem. E as espadas que eles usam nos livros e HQs, são “vivas de luar, um fragmento de cristal tão fino que parecia desaparecer, uma tênue cintilação azul, e uma luz fantasmagórica“. Até hoje, o único desenho que GRRM aponta como o “correto”, foi o ilustrado por John Picacio para um dos calendários, como podemos ver acima.

Um jornalista certa vez questionou Martin sobre essas espadas, e de que substâncias elas são feitas. A resposta:

“Gelo. Mas não um gelo comum. Os Outros podem fazer certas coisas com gelo que mal podemos imaginar, e inclusive criar substâncias com ele”.

Por motivos práticos e altamente justificáveis, na versão da TV vemos muitas cenas em que os Walkers aparecem em plena luz do dia, como visto nos exércitos em “Valar Morghulis” e “Hardhome”, e nas Terras de Sempre Inverno do episódio “Oathkeeper”. Nos livros, no entanto, o inverno está relacionado a noite e a ausência de qualquer calor, portanto toda cena que envolve um Walker acontece sem a presença da luz do sol.

Quando esfaqueado com uma lâmina de vidro de dragão, nos livros uma criatura dessas se desfaz em uma poça de líquido frio. Na série de TV, quando são esfaqueados, eles se petrificam em gelo para depois desintegrar-se em pedaços.

E por último, temos a questão da línguagem. Nos livros os Walkers falam. Na série, não. Inclusive, a produção chegou a criar uma língua fictícia, mas desistiram de utilizar por motivos diversos (veja aqui e aqui)

“O Outro disse qualquer coisa em uma língua que Will não conhecia; sua voz era como o quebrar de gelo em um lago de inverno, e as palavras escarnecedoras.” – Prólogo de A Guerra dos Tronos

Então os Walkers (ou Outros) são esses cavaleiros, mágicos e malignos, feitos de gelo. Duros, rápidos e terríveis, eles são mortos com obsidiada ou aço valiriano. E os wights são os zumbis, homens revividos pelos Walkers para fazerem parte de seu exército de mortos. Nos livros os wights são lentos e desajeitados, fáceis de se deter. Na série de TV são bestialmente rápidos, numerosos, quase impossíveis de se enfrentar, e são mortos com fogo.

Como podemos perceber, as diferenças e semelhanças do tratamento estético dado por série de TV e livros são consideráveis, e separam muito a direção que eles tomam no nosso imaginário. E também é preciso ter em mente que, na série da HBO, eles aparecem muito mais, dando pouco espaço para que algo seja imaginado, e muito espaço para fatos. Um exemplo que sempre gostamos de dar aqui no site é o fato de que Jon Snow jamais encontrou-se com um deles nos livros, mas na série temos vários encontros, todos bastante épicos. E a proximidade que temos com esse seres na versão da série é ainda mais impressionante quando percebemos que, na verdade, já sabemos basicamente tudo sobre eles: conhecemos as Terras de Sempre Inverno, os treze “cavaleiros” do Inverno, como eles foram criados e como eles criam outros seguidores, tanto Walkers quanto wights. Enquanto a série nos contou muito, os livros não nos contaram nada, e faz total sentido por serem narrativas muito diferentes.

Episódios em que os Walkers e wights apareceram na série:

  • 1.01 Winter is Coming – Gared, Will e Sor Waymar Royce são atacados Além da Muralha. Will é o único que sobrevive, desertando, para depois ser morto por Ned pelo seu “crime”;
  • 1.08 The Pointy End – Os corpos dos patrulheiros que acompanhavam Benjen (Othor e Jafer Flowers) são encontrados. Na calada da noite, Othor em sua versão wight ataca Jon e Jeor Mormont, mas é vencido pelo fogo.
  • 2.02 The Night Lands – Jon Snow presencia um Walker levar um bebê, oferenda de Craster;
  • 2.10 Valar Morghulis – Sam presencia uma horda no Punho dos Primeiros Homens;
  • 3.01 Valar Dohaeris – Batalha offscreen do Punho dos Primeiros Homens, Fantasma socorre Sam de um ataque wight;
  • 3.08 Second Sons – Sam mata um Walker a noite usando obsidiana, para salvar Gilly e o bebê;
  • 4.4 Oathkeeper – Um Walker leva o bebê que Rast deixou como oferenda até as Terras de Sempre Inverno, em uma formação de pedras iluminada pelas luzes da aurora boreal. Lá, ele transforma a criança. O ritual é assistido por treze cavaleiros, entre eles o Rei da Noite;
  • 4.10 The Children – Wights-caveiras atacam a comitiva de Bran quando ele chega do represeiro do Corvo. Jojen é morto por um deles a facadas. A Criança Folha chega para salvar o dia, matando-os com bolas mágicas de fogo.
  • 5.08 Hardhome – Os Walkers atacam com seu exército o vilarejo de Hardhome. Jon Snow mata um deles com Garralonga, mas o massacre é impressionante e muitos selvagens se transformam em wights.
  • 6.05 The Door – Vemos a origem do Rei da Noite em uma era distante. Bran presencia o exército deles nos dias atuais. Mais tarde, o Rei da Noite e mais três Walkers invadem a caverna do Corvo de três Olhos. Meera mata um deles com uma lança de obsidiana. Verão e Folha são mortos por wights, aos montes. O Rei da Noite mata o Corvo. Hodor morre segurando a porta, impedindo que milhares de wights alcancem Bran e Meera, que fogem.
  • 6.06 Blood of my Blood – Benjen “Mãos Frias” Stark mata os wights que perseguem Bran e Meera pela floresta. Benjen é uma espécie de criatura de inverno do bem. Seus olhos não são azuis e ele ainda tem consciência e fala. Ele explica que estava em processo de se tornar um wight, mas as Crianças o curaram.

Capítulos em que os Outros e wights “apareceram” nos livros:

  • Prólogo de A Guerra dos Tronos – Gared, Will e Sor Waymar Royce são atacados por wights e Walkers Além da Muralha. Gared é o único que sobrevive, desertando da Patrulha, para depois ser morto por Ned Stark.
  • Jon VII de A Guerra dos Tronos, pág 392 Jon Snow salvao Comandante Mormont do ataque de um wight, que era Othor (patrulheiro membro da expedição de Benjen); a criatura parece saber onde Mormont dormia e quem ele era quando tenta matá-lo.
  • Jon III de A Fúria dos Reis, pág. 232 – Na cabana de Craster, Gilly conta a Jon que Craster está oferecendo seus filhos homens aos “deuses do gelo”. Jon então realiza que ela está falando sobre os Outros.
  • Tyrion VI de A Fúria dos Reis, pág 260 – “a mão que se move” de sor Othor é enviada para Porto Real, para ser examinada. Tyrion faz Alliser Throne esperar para uma conversa por tanto tempo que a mão se decompõe antes de poder ser vista.
  • Prólogo de A Tormenta de Espadas – Momentos antes da Batalha do Punho dos Primeiros Homens. Flashs do que aconteceu são recontados no primeiro capítulo de Sam no livro.
  • Sam I, A Tormenta de Espadas, pág. 183 – Sam mata um Outro na Floresta Assombrada.
  • Sam II, A Tormenta de Espadas, pág. 338 – Uma das esposas de Craster avisa Sam que o “filho de Craster” logo chegará para levar o recém nascido de Gilly.
  • Sam III de A Tormenta de Espadas, pág 483 – Somos apresentados a criatura Mãos Frias, que salva Sam e Gilly do ataque de wights. Um dos wights é o patrulheiro Paul Pequeno, a quem Sam tenta matar com a adaga de obsidiana, mas falha.
  • Prólogo de A Dança dos Dragões – Varamyr Seis-Peles luta por sua vida contra os wights, depois da batalha de Castelo Negro. Ele vê a esposa de lanças Thistle, a quem ele tentou tomar o corpo, se transformar em uma criatura, e sente que ela o reconhece.
  • Jon VII de A Dança dos Dragões, pág 396 – Jon mantém nas celas de gelo cadáveres de selvagens para observá-los voltando a vida e tentar estudá-los e se comunicar com eles.
  • Jon XI, A Dança dos Dragões, pág 595 – Tormund conta a Jon que seu filho, Torwynd, morrera de frio durante a batalha de Castelo Negro. O garoto acabou se transformando em um wight e Tormund teve que matá-lo.
  • Jon XII, A Dança dos Dragões, pág. 652 – Jon Snow pergunta a Tormund se os Outros incomodaram os selvagens em sua marcha para a Muralha. Tormund lhe informa que eles nunca tentaram lutar, mas que os seguiram durante todo o caminho. No mesmo capítulo, uma carta de Cotter Pyke que está em Durolar informa Jon que “há coisas mortas da floresta e coisas mortas na água“.

Há apenas um elemento que une série e livros: Os White Walkers não têm motivação humana e parecem de fato ser uma força da natureza feita para destruir tudo o que conhecemos como vida.

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Bran, Summer and the old Nan por Marco Calosci

Há milhares e milhares de anos, caiu um inverno que era mais frio, duro e infinito que qualquer outro na memória do homem. Chegou uma noite que durou uma geração, e tanto tremeram e morreram os reis em seus castelos como os criadores de porcos em suas cabanas. As mulheres preferiram asfixiar os filhos a vê-los passar fome, e choraram, e sentiram as lágrimas congelarem em seu rosto (…) Nessa escuridão, os Outros vieram pela primeira vez (…) Eram coisas frias, mortas, que odiavam o ferro, o fogo, o toque do sol e todas as criaturas com sangue quente nas veias. Arrasaram fortificações, cidades e reinos, derrubaram heróis e exércitos às centenas, montando seus pálidos cavalos mortos e liderando hostes de assassinados. Nem todas as espadas dos homens juntas logravam deter seu avanço, e até donzelas e bebês de peito neles não encontravam piedade. Perseguiam as donzelas através de florestas congeladas e alimentavam seus servos mortos com a carne de crianças. (…) Esses foram os tempos antes da chegada dos ândalos, e muito antes de as mulheres terem fugido das cidades do Roine através do mar estreito, e os cem reinos desses tempos eram os reinos dos Primeiros Homens, que tinham tomado essas terras dos filhos da floresta. Mas aqui e ali, nos bosques mais densos, os filhos ainda viviam em suas cidades de madeira e colinas ocas, e os rostos das árvores mantinham-se vigilantes. E assim, enquanto o frio e a morte enchiam a terra, o último herói decidiu procurar os filhos da floresta, na esperança de que sua antiga magia pudesse reconquistar aquilo que os exércitos dos homens tinham perdido. Partiu para as terras mortas com uma espada, um cavalo, um cão e uma dúzia de companheiros. Procurou durante anos, até perder a esperança de chegar algum dia a encontrar os filhos da floresta em suas cidades secretas. Um por um os amigos morreram, e também o cavalo, e por fim até o cão, e sua espada congelou tanto que a lâmina se quebrou quando tentou usá-la. E os Outros cheiraram nele o sangue quente e seguiram-lhe o rastro em silêncio, perseguindo-o com matilhas de aranhas brancas, grandes como cães de caça…”
(Bran IV – A Guerra dos Tronos, pág. 172)

Algumas pessoas até podem argumentar que, na verdade, há algum tipo de agenda sobre esses seres que desconhecemos. Inclusive já abordamos este tema em um outro artigo. A verdade é que ficção de gênero possui certas estruturas. E embora Martin goste de romper certos paradigmas do gênero, alguns ele mantém para o bem da direção da história. O que queremos dizer com isso é o seguinte: Todo mundo sabe que As Crônicas de Gelo e Fogo varre as concepções tradicionais de ficção fantástica quando cria personagens com vários tons de cinza, fazendo que todos sejam heróis de sua própria história. Mas não é preciso muito para perceber que Martin dedica em sua obra espaço para alguns personagens que são de fato o mal encarnado, muito longe de mostrarem tons diferentes: Joffrey, Ramsay, Montanha, Euron. Os próprios dragões são forças da natureza e agem de acordo com suas necessidades bestiais. E todos estes personagens que citamos aqui, têm origem de um contexto que se justificam pela natureza das coisas. Assim também são os Walkers, criados para matar, como a série de TV nos fez acreditar ao contar sua versão de sua origem.

“ Demônios feitos de neve, gelo e frio (…) O antigo inimigo. O único inimigo que importa ”
— Stannis Baratheon, descrevendo os Outros

Precisamos portanto falar mais sobre essa origem.

PARTE II: A ORIGEM – SEMELHANÇAS ENTRE SÉRIE X LIVROS

COMO A SÉRIE DE TV ABORDOU A QUESTÃO DA ORIGEM

Na sexta temporada de Game of Thrones, através dos olhos de Bran Stark, viajamos no tempo para testemunhar a origem dos White Walkers, no elogiado episódio 6.05 “The Door”.

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Folha parece dizer algo que não é possível decifrar

Mostrar aqueles que trazem o inverno sempre foi algo que a série se propôs a fazer com mais frequência do que os livros. Os produtores e roteiristas contaram primeiro sua versão da origem das criaturas, como seria inevitável agora que a história desenha seu fim na versão televisionada.

Primeiramente, é necessário dizer que, normalmente, os produtores David Benioff e Dan Weiss avisam quando algo mostrado na série foi invenção de George R. R. Martin. Eles disseram isso sobre a morte de Shireen e sobre a revelação de Hodor. Especificamente sobre a origem dos Walkers, nada foi dito, o que já nos leva a crer que a série contou uma história diferente daquela que o autor pretende contar.

De acordo com descrição do material promocional da HBO, a cena revela que, há milhares de anos, em um local verdejante, Bran e o [antigo] Corvo de Três Olhos encontram Folha e outras crianças da floresta reunidas em frente a uma árvore represeiro com um homem amarrado a ela. Folha insere uma lâmina de vidro de dragão no peito do homem, e seus olhos ficam azuis como gelo. Assim, as Crianças da Floresta criaram os White Walkers. De volta para a caverna, no presente, Bran exige saber o porquê. “Precisávamos nos defender,” Folha replica. “De vocês. Dos homens.

Para criar uma linha narrativa visual, a série utilizou os círculos concêntricos em cenas que mostravam as tradições no Norte, os White Walkers e as Crianças. Nos vídeos de Por Dentro do Episódio, os produtores falam sobre os padrões das pedras que aparecem no piloto da série, na cena em que Ned decapita o patrulheiro desertor (assista aqui), fazendo uma ligação com a “arte” dos Walkers e os círculos das Crianças da Floresta na Era da Aurora.

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A série também utilizou ao longo das temporadas a insígnia de obsidiana talhada na armadura do Rei da Noite, em seu peitoral. Portanto, a ligação entre os dois povos sempre esteve ali na série de TV.

A revelação da série foi sem dúvida um dos momentos mais interessantes e esteticamente belos já apresentados. Apesar disso, para algumas pessoas, a explicação pareceu um tanto quanto simplista demais. Certamente por conta da questão da “jardinagem de escrita” que exploramos neste artigo. Mas em uma análise menos abstrata, o uso das pedras com inspiração nas Stonehenge não deixa de ser um elemento bastante usado anteriormente em histórias que tratam de culturas druidas. E essa sensação de que a explicação foi simples demais se justifica ainda mais se pensarmos que, na versão do episódio “The Door”, criou-se uma espécie de buraco na linha do tempo, de milhares de anos. Mas antes de falar sobre a linha do tempo, vamos comparar a cena que a série exibiu e as pistas análogas dos livros:

PISTAS SEMELHANTES EM AS CRÔNICAS DE GELO E FOGO

Teoria White Walkers
Weirwood Tree por Sergey Glushakov para os jogos da Fantasy Flight

Se garimparmos alguns trechos de As Crônicas de Gelo e Fogo, é possível perceber que há semelhanças interessante entre a revelação da série e o que os livros podem nos contar em breve.

Como bem apontou o usuário Lucifer_Lightbringer no reddit, os Outros estão ligados a dois elementos via simbolismo através das lendas que conhecemos: As Crianças da Floresta e as árvores coração. Citaremos a seguir algumas passagens que mostram isso, começando com Cotter Pyke conversando com Sam, incrédulo sobre a história de Sam ter matado um Outro:

“(…)
— Sam, o Matador! — disse ele, em jeito de saudação. — Tem certeza de que apunhalou um Outro, e não um cavaleiro de neve de alguma criança?

Isso não está começando bem.

— Foi o vidro de dragão que o matou, senhor. — explicou debilmente Sam.”
(Samwell V – A Tormenta de Espadas, pág. 802)

Perceba o que Martin fez aqui: “Um cavaleiro de neve de alguma criança” é exatamente o que um Walker é na série de TV, um ser de gelo criado por uma Criança. E mesmo se você escolher acreditar que essa não foi uma dica, lendas de cavaleiros mágicos eram contadas para crianças nas Ilhas de Ferro, como sabemos através dos pensamentos de Asha:

“(…)
Asha só viu árvores e sombras, as colinas iluminadas pelo luar e os picos cobertos de neve mais atrás. Depois percebeu que as árvores estavam se aproximando.

— O-ho — riu — essas cabras da montanha se camuflaram com galhos de pinheiro. — A floresta estava em movimento, rastejando-se em direção ao castelo como uma lenta maré verde. Lembrou-se de uma história que ouvira quando criança, sobre os Filhos da Floresta e suas batalhas com os Primeiros Homens, quando os videntes verdes transformaram as árvores em guerreiros.”
(A Noiva Rebelde – A Dança dos Dragões, pág. 287)

Árvores agindo como guerreiros é um conceito muito presente nos livros. Um outro exemplo é Jon Snow, que enxerga as árvores como guerreiros na região do Punho dos Primeiros Homens:

“(…)
As árvores erguiam-se por baixo, guerreiros com armaduras de casca e folha, alinhados em suas fileiras silenciosas à espera da ordem de atacar o monte. Pareciam negras… Era só quando a luz da tocha por elas passava que Jon vislumbrava um clarão de verde. Tenuemente, ouvia o som de água fluindo sobre rochas. Fantasma desapareceu na vegetação rasteira. Jon lutou para segui-lo, escutando o chamado do riacho, os suspiros das folhas ao vento. Raminhos agarraram-se ao seu manto, enquanto por cima de sua cabeça galhos mais grossos se entrelaçavam e escondiam as estrelas.”
(Jon IV – A Fúria dos Reis, pág. 328)

Mais tarde vemos um conceito parecido pelo ponto de vista de Sam, antes dos Outros atacarem o Punho. Perceba como as criaturas também têm um apelido relacionado a árvores, e que não é usado tão frequentemente:

“O berrante soou três vezes, e longamente, três longos sopros quer dizer Outros. Os caminhantes brancos da floresta, as sombras frias, os monstros das histórias que o faziam gritar e tremer quando garoto, montando as suas, gigantes aranhas de gelo, sedentos de sangue…”
(Sam I – A Tormenta de Espadas, pág. 183)

“Caminhantes Brancos da Floresta.” (Assim como as Crianças também são da floresta).

O termo “sombra branca” ou “sombra pálida” é usado para descrever os Outros muitas vezes nos livros, incluindo duas vezes no prólogo de A Guerra dos Tronos. Curiosamente, há uma ocasião em que um represeiro é descrito como uma pálida sombra, assim como as criaturas, e isso acontece quando uma árvore parece estar congelada:

“Quando Varamyr empurrou, a neve ainda macia e molhada, desmoronou e abriu caminho. Do lado de fora a noite estava branca como a morte; pálidas nuvens finas dançavam na presença de uma lua prateada, enquanto milhares de estrelas assistiam friamente. Ele podia ver as formas corcundas de outras cabanas sepultadas sob a neve e, além delas, a sombra pálida de um represeiro blindado em gelo. Para sul e oeste, as colinas eram um vasto deserto branco, onde nada se movia exceto a neve soprada pelo vento.”
(Prólogo – A Dança dos Dragões)

Quando Daenerys sonha que sobrevoa o Tridente matando inimigos, a visão envolve guerreiros com armaduras de gelo, e logo assumimos que estes são os Outros. Então, já temos dois links entre as árvores e os Outros: ambos são descritos como “pálidas sombras” e os dois “usam armaduras de gelo”.

“Naquela noite, ela sonhou que era Rhaegar, cavalgando para o Tridente. Mas ela estava montando um dragão, não um cavalo. Quando ela viu os rebeldes do Usurpador do outro lado do rio todos armados em gelo, ela banhou-os em fogo de dragão, e eles derreteram como orvalho, e transformaram o Tridente em uma torrente. Uma pequena parte dela sabia estava que sonhando, mas a outra parte estava exultante. Era assim deveria ser. O outro era um pesadelo, e eu só agora despertei.”
(Daenerys III em A Tormenta de Espadas pág 282)

Em outros momentos, os Outros são descritos como pálidos e brilhantes, e a sua carne branca leitosa; enquanto suas espadas brilham como o luar:

O Outro deslizou para frente sobre pés silenciosos. Na mão trazia uma espada que não era nada que Will tivesse visto. Nenhum metal humano tinha entrado na forja daquela lâmina. Estava viva de luar, translúcida, um fragmento de cristal tão fino que parecia quase desaparecer quando visto de frente. Havia naquela coisa uma tênue cintilação azul, uma luz fantasmagórica que brincava com seus limites, e de algum modo Will soube que era mais afiada do que qualquer navalha.
(Prólogo – A Guerra dos Tronos)

“O Outro deslizou graciosamente da sela e ficou de pé na neve. Era magro como uma espada, e de um branco leitoso.”
(Sam I – A Tormenta de Espadas, pág 183)

Os termos “leitoso” “luar” e “brilho fraco”, voltam e ser adjetivos quando Bran descreve um represeiro, ao chegar no Portão Negro com a ajuda de Sam:

“Uma volta ou duas mais tarde, Sam parou de repente. Estava a um quarto de volta de Bran e Hodor, e dois metros mais abaixo, mas Bran quase não o via. Mas via a porta. O Portão Negro, chamara-lhe Sam, mas não era nada negro.

Era represeiro branco, e havia nele um rosto.

Um brilho saía da madeira, como leite e luar, tão fraco que mal parecia tocar em qualquer coisa além da porta propriamente dita, nem sequer em Sam, que estava bem na sua frente. O rosto era velho e pálido, enrugado e encolhido. Parece morto. A boca estava fechada e os olhos também; as faces eram encovadas, a testa mirrada, o queixo caído. Se um homem pudesse viver durante mil anos e não morrer, mas apenas tornar-se mais velho, seu rosto acabaria parecido com este.”
(Bran IV A Tormenta de Espadas pág 569)

Por último, se retornarmos ao prólogo de A Guerra dos Tronos, é possível perceber que as árvores são descritas quase que como antagonistas de Will. Elas realmente parecem zombar dele.

“Embaixo, o nobre de repente gritou:
– Quem vem lá?

Will ouviu incerteza na chamada. Parou de escalar; escutou; observou. Os bosques deram resposta: um restolhar de folhas, o correr gelado do riacho, o pio distante de uma coruja das neves.

Os Outros não faziam som algum.

Will viu movimento com o canto do olho. Sombras pálidas que deslizavam pela floresta. Virou a cabeça, viu de relance uma sombra branca na escuridão. Logo depois ela desapareceu. Ramos agitaram-se gentilmente ao vento, coçando-se uns aos outros com dedos de madeira.”

Logo após as sombras surgirem através do bosque, a árvore é retratada quase que como humanóide, seus ramos coçando-se uns aos outros com dedos de madeira. E o mesmo acontece antes disso, quando Will está escalando uma das árvores, e ela parece se agarrar as vestes dos patrulheiros:

“Atrás de si ouvia o suave roçar metálico da cota de malha do nobre, o restolhar de folhas e pragas murmuradas quando ramos espetados se agarravam à espada e puxavam o magnífico manto de zibelina do outro homem.”

Sabemos que todas essas passagens podem ser apenas inevitáveis rimas de prosa, já que não há tantos adjetivos assim no dicionário que mostrem como o frio pode ser tão belo e terrível. No entanto, através dessas relatos, é possível sentir, com algum esforço, uma sugestão de que White Walkers e represeiros poderiam ter a mesma origem.

Mas as semelhanças entre série e livros acabam aqui. As diferenças são muito maiores e, inclusive, muito mais interessantes.

PARTE III: A ORIGEM – DIFERENÇAS SÉRIE X LIVROS

BRAN NA CAVERNA DO CORVO DE TRÊS OLHOS

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Bran Stark e os filhos da floresta, por Conor Campbell ©

Em Bran III de A Dança dos Dragões (pág 385) vemos que as Crianças da Floresta e as árvores coração são descritas de maneiras muito diferentes das que vemos na série até então. Temos as lindas descrições das Crianças cantando a canção da terra, em uma língua desconhecida, “com vozes tão puras quanto o ar de inverno”, através dos túneis infinitos, misteriosos e belos onde Bran está sendo treinado. E há a terrível constatação de que, quando uma Criança morre, ela se torna “parte” da árvore-coração.

“Um leitor vive mil vidas antes de morrer. O homem que nunca lê vive apenas uma. Os cantores das florestas não tinham livros. Nem tinta, nem pergaminhos, nem linguagem escrita. Em vez disso, tinham as árvores, e os represeiros acima de tudo. Quando morriam, entravam na floresta, em uma folha, um galho ou uma raiz , e as árvores se lembravam. Todas as suas canções e feitiços, suas histórias e orações, tudo o que sabiam. Os meistres lhe dirão que os represeiros são sagrados para os antigos deuses. Os cantores acreditam que os represeiros são os antigos deuses. Quando os cantores morrem, tornam-se parte desta divindade.” – Jojen, para Bran.

É muito bonito ver como os livros abordam questões que são muito mais trabalho da nossa imaginação tentar compreender. Essa breve fala de Jojen evoca muitos sentimentos sobre a própria origem dos deuses, a morte das coisas na natureza, o ciclo da vida e a origem e destino das coisas que aprendemos sobre o mundo. [Discutimos muito isso no podcast em que lemos esta passagem, escute se possível!].

Ainda neste capítulo do Bran, em uma de suas viagens ao passado de Westeros, ele vê um homem barbudo forçando um cativo de joelhos, e uma mulher de cabelos brancos, matando o cativo com uma foice de bronze. Quando o sangue do homem escorre, ele alimenta as raízes da árvore e Bran consegue sentir o gosto do sangue em sua boca. Essa passagem é interessante porque ela é claramente um sacrifício aos Velhos Deuses. Quando o assunto é a série de TV, na cena em que vemos Folha fazendo o ritual com o homem amarrado à árvore, a árvore parece apenas testemunhar passivamente a criação do Inverno. Não pareceu que fosse um sacrifício conjunto, embora possivelmente tenha sido.

As Crianças da série não apresentaram nenhuma relação confessa com religião. Temos apenas as imagens que servem como referência. E a verdade é que na série de TV a gente aprendeu muito pouco sobre aquelas meninas. O que é uma pena.

AS CRIANÇAS DA FLORESTA SÃO MENINAS E OS WHITE WALKERS SÃO MENINOS?

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Ilustração da enciclopédia World of Ice and Fire por Magali Villeneuve

Nos livros, no entanto, não podemos afirmar com certeza se as Crianças são mulheres e os Walkers homens, exclusivamente.

Na série de TV as Crianças da Floresta são todas garotas, enquanto os Walkers são todos homens. Nesse sentido, há uma temática que evoca com mais didatismo que as duas raças são fruto de um mesmo poder, as mulheres dedicadas a glorificar a natureza enquanto os homens estão destinados a destruir essa natureza, trazendo o inverno. Esse conceito é muito interessante, e tem muito a ver com as raízes da própria história que está sendo contada.

Primeiro temos Meistre Luwin, em um trecho do livro um, falando sobre “dois sexos”:

“Como eram leves, os filhos eram ligeiros e graciosos. Os dois sexos caçavam juntos, com arcos de represeiros e laços. Seus deuses eram os deuses da floresta, dos rios e das pedras, os velhos deuses cujos nomes são secretos.” (A Guerra dos Tronos, Bran VII pág 514)

Em seguida temos as Crianças com quem Bran se relaciona na caverna do Corvo de Três Olhos em A Dança dos Dragões. Na verdade, pode-se até discutir se estes seres em específico não seriam, de alguma maneira, assexuados, já que o nome que Bran lhes dá nos livros são neutros: Cinza, Folha, Escamas, Faca Negra, Travaneve e Brasas. Porém, a ilustração de Magali Villeneuve para a enciclopédia Mundo de Gelo e Fogo (como podemos ver acima à esquerda) mostra Crianças com feições bem características de ambos os sexos. Como essa imagem ilustra o material oficial e definitivo sobre a história do mundo, fica difícil não dar créditos para essa representação.

Aí temos a questão dos Walkers. Na série, todos os cavaleiros conhecidos são homens. E, no episódio em que Bran testemunha o ritual da criação deles, nos é contado que Folha cria o primeiro White Walker, a quem eles nomeiam o Rei da Noite (Ou Rei Noite, falaremos sobre isso já já).

Mas, se você quiser acreditar na lenda contada pela Velha Ama nos livros, existiram White Walkers mulheres. E foi uma das mulheres que originou o “grande inimigo”:

“Seu verdadeiro nome foi apagado da história. Ele governou a partir de Forte Noite. Ele foi o décimo terceiro Senhor Comandante da Patrulha da Noite. Ele era um grande guerreiro que supostamente não conhecia o medo. Um dia, ele viu uma mulher pálida em cima da Muralha e se apaixonou. Ele a trouxe de volta para Forte Noite e nomeou-a rainha e se nomeou rei. Com Feitiçaria, ele ligou os outros irmãos da Patrulha da Noite a ele e governou por treze anos. Foram necessárias as forças combinadas de Joramun e seus selvagens e os Starks e os seus exércitos para destruir o Rei da Noite. Depois que ele foi destruído, eles descobriram que ele tinha oferecido sacrifícios para os Outros, e por esse crime, todos os registros de seu nome foram dizimados.” (Bran IV – A Tormenta de Espadas pág. 569)

Teoria White Walkers
White Walker mulher, retratada por wolverrain

Curiosamente, em relação entre o Rei da Noite da série e o dos livros, existe um vídeo de História e Tradição, narrado pela Rose Leslie (Ygritte), onde ela fala sobre essa lenda da White Walker mulher (o vídeo está linkado mais abaixo).

Portanto, nos livros e até a segunda temporada da série, de acordo com as lendas, o Rei da Noite foi um Senhor Comandante da Patrulha (leia mais). George R. R. Martin inclusive já se manifestou sobre isso, dizendo que o Rei da Noite dos livros dificilmente estaria vivo hoje, sendo realmente apenas uma lenda romanceada, passada através das gerações. Então, nos livros, o Rei da Noite das lendas não existe mais. Na série ele é uma espécie de ser imortal, que sobreviveu a dezenas de milhares de anos, esperando nas Terras de Sempre Inverno, fazendo sabe-se lá o quê durante esse tempo.

Portanto, na série temos algo pontual, mesmo que incoerente em certo sentido, com Bran presenciando o que de fato aconteceu. Nos livros, temos apenas lendas, passadas em um período de milhares de anos, até que elas cheguem aos ouvidos desta geração. Se contarmos com o fato de que, mesmo as histórias sobre o tempo presente (que data 300 anos após a Conquista de Aegon) são contadas com uma generosa dose de imprecisão, imagine só o que foi perdido ao longo desses milhares e milhares de anos.

Nesta questão sobre os sexos, há também a relação dos bebês que Craster entrega para os cavaleiros do inverno, como vimos na quarta temporada de Game of Thrones. Nos livros, isso também é parte do enredo:

“– Eu e o bebê. Por favor. Serei sua mulher como fui de Craster. Por favor, sor corvo. Ele é um menino, exatamente como Nella disse que seria. Se não o levar, eles levam.

– Eles? – disse Sam, e o corvo ergueu a cabeça negra e repetiu, num eco: “Eles. Eles. Eles.”

– Os irmãos do garoto – disse a velha da esquerda. – Os filhos de Craster, O frio branco está se erguendo lá fora, corvo. Sinto nos meus ossos. Estes pobres ossos velhos não mentem, eles estarão aqui em breve, os filhos.”
(Sam II, A Tormenta de Espadas, pág 338)

Quando o episódio “Oathkeeper” foi ao ar, revelando a cena nas Terras de Sempre Inverno, fãs da série e livros perceberam que a HBO não estava disposta a esperar que Martin escrevesse os livros restantes para explorar esse tipo de revelação com mais profundidade. Na época em que isso aconteceu, Martin esquivou-se do assunto, o que faz sentido se voltarmos a questão de que, nos livros, tudo será muito diferente, e ele não tá com cara de quem quer contar seus melhores segredos antes de mostrá-los nos livros.

E não é só isso. A polêmica questão da origem do Rei da Noite tornou-se ainda mais problemática quando a sexta temporada da série foi ao ar.

“NIGHT’S KING” E “NIGHT KING”

Antes de entrarmos nesta discussão, é bacana apontar que, na série, a nomenclatura usada para referenciar o líder dos White Walkers que vemos nos episódios, às vezes é “Night King“, e às vezes é “Night’s King“, como nos livros. Inclusive, até na loja da HBO, você encontra bonecos com os dois nomes.

Isso porque a HBO chamou esse cara de Rei da Noite por “engano” no material promocional da quarta temporada. Isso causou um verdadeiro festival de indignação na Internet, a ponto da HBO retirar a informação do ar (mais sobre isso, aqui). Depois eles voltaram atrás, chamando o personagem de “Night King” – nome que foi usado por Bran (e quase todo mundo) nesta última temporada.

Portanto, em uma rápida busca no Google, você encontrará artigos em wikis sobre a série e os livros com esses dois títulos, que de certa forma ajudam a separar o personagem da série e o personagem da lenda. Nesse artigo, estamos referenciando os dois personagens como Rei da Noite, pois não somos obrigados a nada, pois em português é a maneira que a comunidade de fãs se acostumou a fazer.

O REI DA NOITE DA HBO FOI UM HOMEM ÂNDALO?

No storyboard da cena da origem do Rei da Noite, que foi publicado no blog de bastidores, podemos ver que o homem interpretado por Vladimir Furdik era um ândalo (embora role um typo ali, a escrita certa seria “andal“). Veja:

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“O ândalo* está em agonia”. (ândalo escrito com grafia errada)

Então quer dizer que o primeiro White Walker foi na verdade um ândalo, e não um dos Primeiros Homens?

Vale lembrar que o blog de bastidores tem histórico de publicar material com inconsistências lógicas. Isso foi notável com a carta que Sansa envia ao Peixe Negro, por exemplo.

Contudo, até que os próximos livros sejam publicados, restam três opções a se considerar:

  1. Este foi um erro de continuidade da HBO;
  2. A série está contando uma história inteiramente diferente dos livros;
  3. Tudo o que sabemos sobre o período de história desde a primeira invasão dos Primeiros Homens até o fim da Longa Noite, tanto nos livros quanto na série, estaria errado.

Uma curiosidade é que os ândalos são descritos no cânone como homens de cabelos loiros, e é daí que vem a característica genética de casas como a Lannister. E esta também é uma característica dos dois atores que interpretaram o Rei da Noite na série de TV: Richard Brake (temporadas 4 e 5) e Vladimir Furdik (temporadas 6). Então é como se os caras fossem ândalos mesmo.

Se esse fosse o caso, quando Folha fala para Bran que ela “precisava se defender de vocês”, ela não estava se referindo aos ancestrais de Bran (Primeiros Homens), mas aos homens em geral. Parece dificil de acreditar? Não tá entendendo mais nada, atordoado, olhando pro teclado do PC? A gente também. Vamos entender essa linha do tempo, e tentar achar uma resposta para essas questões.

PARTE IV: ENTENDENDO A LINHA DO TEMPO

O QUE NOS É CONTADO EM AS CRÔNICAS DE GELO E FOGO?

Uma questão importante, apontada pelo próprio George R. R. Martin, é que, como diz o ditado, a história tende a ser escrita pelos vencedores. Portanto, como na vida real, os habitantes de Westeros e Essos não possuem um registro objetivo da história. A história tende a ser mais precisa conforme está mais próxima do presente, mas mesmo assim, grande parte dela é contada através de fábulas, lendas e mitos. Principalmente quando a história se passa durante a Era dos Heróis (incluindo personagens grandiosos demais como Azor Ahai, Brandon, o Construtor, Lann o Esperto – possivelmente um dos únicos ândalos entre os heróis ; o Rei Cinzento, entre outros).

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A construção da Muralha por Chase Stone – enciclopédia O Mundo de Gelo e Fogo

Os livros mais antigos da história escrita de Westeros foram feitos pelos invasores ândalo, e eles sempre se descrevem sob uma luz positiva. Os nortenhos, que descendem dos Primeiros Homens e nunca foram conquistados pelos ândalos, têm uma visão mais negativa sobre estes invasores e vice-versa. E quando os ândalos chegaram, eles também trouxeram um método de escrita “superior” que substituiu as runas dos Primeiros Homens. Vale lembrar que a biblioteca da Cidadela, onde se deita parte fundamental do conhecimento escrito do mundo, está de pé, funcionando, gloriosa e apenas para serviço dos próprios meistres. A de Winterfell, que possivelmente poderia ter algum tipo de conhecimento raro apenas conhecido pelos Primeiros Homens, foi parcialmente queimada na noite em que Bran sofreu uma segunda tentativa de assassinato em A Guerra dos Tronos, para depois ser completamente destruída pelos Boltons em A Fúria dos Reis. No livro A Dança dos Dragões, Jojen fala para Bran que “os segredos dos deuses antigos, verdades que os Primeiros Homens sabiam, foram esquecidos em Winterfell“. Há também a biblioteca da Patrulha, que era ainda maior do que a de Winterfell, e onde Sam encontrou dicas preciosas, mas nenhuma informação definitiva.

Seja como for, temos três fontes de pesquisa para a linha do tempo usada hoje, especificamente sobre o período que estamos tratando neste artigo:

  • Primeiro, o capítulo Bran VII do livro A Guerra dos Tronos (pág 514), um dos melhores capítulos dos livros, imersivo, informativo, temático e triste. Nele, Bran, Rickon e Osha escutam Meistre Luwin falar sobre obsidiana e as Crianças da Floresta. Através da sabedoria do meistre, Martin nos apresenta essa parte importante do cânone, usada como base para quase tudo o que se é discutido. A história que Luwin conta é conveniente interrompida quando chega a mensagem da morte de Ned Stark e então, como leitores, somos tirados da aula de história para contemplarmos a tragédia do presente.
  • Depois temos o HBO Viewers Guide criado pela produção da série de TV em 2011. Lá, todas as informações dadas por Luwin no capítulo que citamos são confirmadas como parte do cânone da série também.
  • Por último, temos um relato da Cidadela na enciclopedia O Mundo de Gelo e Fogo, publicado em 2014. Falaremos sobre esse relato já já, pois ele destoa em uma parte importante da narrativa de Luwin.

Reunindo as três fontes, temos a linha do tempo que segue a seguinte ordem:

Pré-história > Era da Aurora > Invasão dos Primeiros Homens > Pacto > Era dos Heróis > Longa Noite (Criação da Muralha e da Patrulha da Noite) > Fundação de Valíria > Invasão dos ândalos > Conquista Ghiscar > Pedição de Valíria > Conquista Targaryen > Dinastia Targaryen > História Recente:

São 2.000 anos entre o Pacto das Crianças e os Homens e o começo da Longa Noite na timeline conhecida e aceita.

A cronologia dos eventos, descrita em A Guerra dos Tronos é a seguinte: Os Primeiros Homens chegaram naquela terra verde e frutífera em que as Crianças habitavam há 12.000 anos. Eles lutaram e disputaram as terras por gerações e gerações até que, um dia, fizeram um pacto de paz para que todos os povos pudessem partilhar o que restara da terra e manter suas tradições. As Crianças poderiam manter as florestas (ou o que sobrou delas) em pé, e os Primeiros Homens prometeram não destruir mais os represeiros e macular o verde, sendo permitido que explorassem as terras abertas, ou seja, o litoral, planaltos, montanhas e pântanos.

Em A Fúria dos Reis e A Tormenta de Espadas, personagens como Bran, Sansa e Sam reiteram as informações de A Guerra dos Tronos, quando descrevem que a Patrulha da Noite e Muralha foram criadas há 8.000 anos. Isso é interessante porque são personagens que têm origem em reinos diferentes. Então sabemos que as crianças da Campina aprendem a mesma coisa que as crianças do Norte sobre a linha do tempo da história conhecida.

Se seguirmos portanto as informações passadas em As Crônicas de Gelo e Fogo, que estão ilustradas na linha desenhada acima, concluímos que a amizade entre Crianças e Primeiros Homens reinou durante 4.000 anos, período conhecido como a Era dos Heróis. Metade desse período contemplou a paz, e a outra metade conheceu a Longa Noite.

Na Longa Noite, há 8.000 anos, os White Walkers invadiram o Norte. Neste mesma época, a Patrulha da Noite é criada e a Muralha é erguida. Portanto, presumia-se que os Walkers nasceram durante esses milhares de anos de paz. Inclusive é dito que as Crianças da Floresta lutaram junto aos homens contra o inverno, e que os ajudaram a construir a Muralha com o auxílio dos Gigantes (como a ilustração da enciclopédia mostra). As Crianças também costumavam presentear os patrulheiros com centenas de adagas de obsidiana a cada ano, ajudando os homens contra um inimigo em comum.

Esse conhecimento é compartilhado com as informações da propria HBO através do Viewers Guide e dos vídeos de História e Tradição.

O QUE NOS É CONTADO NO MATERIAL DA HBO

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As criminosas planejando o crime.

Os vídeos de História e Tradição que linkamos abaixo seguem fielmente o conteúdo de As Crônicas de Gelo e Fogo. Isso não acontece com todos os vídeos de História e Tradição, mas essa temática é uma aparente exceção.

Através dos vídeos, sabemos que as Crianças conseguiam falar com animais e manipular elementos da natureza, como a água. Isso porque, durante a guerra, elas usaram sua magia para destruir o Braço de Dorne, que era a ponte de terra por onde os primeiros homens chegaram, numa tentativa de impedir o avanço da invasão. Essa região hoje é conhecida como Degraus ou Passopedra. Depois disso, elas também invocaram as águas e acabaram alagando a região do Gargalo que hoje é o pântano onde os cranogmanos vivem no Norte.

Também sabemos que elas conseguem manipular o gelo, já que ajudaram os nortenhos a erguerem a Muralha e a enfeitiça-la. Inclusive, elas sabiam dos feitiços que deixariam os Walkers não conseguir ultrapassá-la. Não teria como as Crianças dominarem esse conhecimento sem ter algum tipo de familiaridade ou sabedoria em comum com os Outros.

Há toda a relação de xamanismo em que vemos elas adorando deuses da natureza, e que com o tempo eles esculpiram faces nas árvores de galhos branco. E a habilidade de trocar pele com animais, além de possuir a visão verde, todos ensinamentos que foram passados aos Primeiros Homens, incluindo até mesmo a habilidade de criar corvos (que segundo Brynden Rivers, “todos os corvos têm cantores neles”) para enviar mensagens.

E perceba como as Crianças, depois da construção da Muralha, escolheram ficar, basicamente do lado “errado” da mesma. Ali não era mais a terra verde e frutífera que elas lutaram para conservar. Elas tinham o Norte inteiro para se estabelecer. Por que escolheram o lado dos “mortos”? É como se esse sentimento de culpa sempre estivesse presente, mas só o percebemos agora.

No final da guerra entre as Crianças e os Primeiros Homens, poucos da raça dos pequenos sobraram para contar história. Quem não iria querer se vingar disso? Sabemos que as Casas de Westeros se vingam de seus inimigos por bem menos.

O QUE NOS É CONTADO EM O MUNDO DE GELO E FOGO

Em O Mundo de Gelo e Fogo, Martin deixou essa linha do tempo ainda mais abstrata. Ele coloca a chegada dos Primeiros Homens entre 12.000 e 8.000 anos atrás, dando margem para que a chegada dos estrangeiros e a criação dos White Walkers estejam mais próximas e sugerindo que, assim como na série, uma coisa tenha sido consequência imediata da outra.

O período de história em que temos entre o Pacto e a Longa Noite é gigantesco. Concluímos então que são quase quatro mil anos de incerteza histórica, mesmo no cânone.

Portanto, no que diz respeito aos livros, os White Walkers foram criados no intervalo de tempo entre a Invasão dos Primeiros Homens e a Era dos Heróis. No caso da série, os White Walkers foram criados… Quando?

PARTE V: TEORIAS E POSSIBILIDADES

[Parte das possibilidades apresentadas aqui foram tiradas deste tópico no reddit]

Quando a HBO exibiu sua versão da origem, muitas perguntas surgiram. Se os Walkers foram criados para ser uma arma contra os Primeiros Homens, em que momento dos 2.000 anos de paz depois do Pacto isso foi feito?

E como dissemos, a HBO ainda sugere que o Rei da Noite foi um ândalo. É basicamente impossível que ele seja um ândalo, já que a invasão ândala aconteceu depois que a Longa Noite deixou de existir.

E então, como podemos concluir isso? A HBO cometeu um erro de continuidade? Martin mudou de ideia quando escreveu o Mundo de Gelo e Fogo e a HBO está certa? Martin escreveria uma enciclopédia inteira sobre uma concepção errada da história do mundo? Vamos tentar organizar essas ideias a seguir.

ALGUMAS POSSIBILIDADES GERAIS PARA A SÉRIE DA HBO

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Vladimir Furdik com seus cabelos loiros, uma característica étnica do povo ândalo
  • Série e livro estão contato histórias diferentes. Não há distinção entre ândalos e Primeiros Homens na série, e todos chegaram a Westeros em um período de tempo parecido, mesmo que os vídeos de História e Tradição digam o contrário. Todas as linhas do tempo (mesmo aquelas descritas nos vídeos de História e Tradição) estão erradas porque são dezenas de milhares de anos para e levar em conta e a sabedoria do que realmente aconteceu se perdeu no tempo.
  • Citar o Rei da Noite como um ândalo foi um erro de produção e o Rei da Noite na série era um dos Primeiros Homens e o fato de Vladimir Furdik ter cabelo loiro foi apenas uma coincidência, já que ele na verdade ele também é dublê de Arthur Dayne na cena da Torre da Alegria (veja aqui) e a HBO não está podendo desperdiçar guerreiros bons para estrelar cenas legais.

ALGUMAS POSSIBILIDADES GERAIS PARA OS LIVROS

  • Os Outros foram criados pelas Crianças da Floresta durante a guerra com os Primeiros Homens, mas nunca usados antes do Pacto (ou seu uso na guerra entre Crianças e Primeiros Homens foi esquecido pelos homens). As Crianças criaram essa arma em desespero e, algum tempo depois, os seres criados fugiram do controle, começaram a se reproduzir da mesma maneira que fazem com os bebês de Craster, e começou a Longa Noite. Desta forma, a linha do tempo se mantém.
  • A linha do tempo não faz sentido mesmo, por se tratar de um período de história que se baseia mais em lendas do que em fatos registrados. Portanto, provavelmente a Longa Noite aconteceu antes do Pacto, e na verdade fez parte da guerra entre Primeiros Homens e Crianças. Então, em algum momento, as Crianças perderam o controle sobre os Outros e tiveram que fazer causa comum com os homens, sendo este o verdadeiro Pacto criado.
  • Assim como na série, a Longa Noite realmente começou com a invasão dos ândalos, e todo o período de história registrado está errado – o que não importa por enquanto, já que tudo deve ser esclarecido nos próximos livros.

UMA TEORIA CONHECIDA, DESCONSTRUÍDA

  • A Longa Noite teria acontecido para que As Crianças da Floresta expulsassem os ândalos de seu território.

Essa teoria já era discutida entre os leitores de As Crônicas antes do “erro honesto” da HBO em relação ao ândalo ser o Rei da Noite ir ao ar. Ela é baseada nesta passagem no livro:

– Eu encontrei um relato da Longa Noite que falava do Último Herói matando Outros com uma lâmina de aço de dragão. Supostamente, eles não conseguiam resistir a ela.

Aço de dragão? — Jon franziu a sobrancelha. — Aço valiriano?

— Essa foi minha primeira idéia também.”

(O Festim dos Corvos – Samwell I; pág 68)

Citar “aço de dragão” em uma época em que os ândalos não haviam chegado a Westeros ainda, parece algo interessante, certo? Sabemos que obsidiana tem matéria prima que é possível encontrar em Westeros (como em Pedra do Dragão por exemplo). Mas aço de dragão é um termo que nos faz relacionar as propriedades do aço valiriano, e a civilização valiriana, junto à arte valiriana de fazer armas ainda, ainda não existiam durante a Longa Noite.

Sabemos apenas que, quando os Primeiros Homens chegaram, eles trouxeram cavalos, espadas de bronze e grandes escudos em batalhas. Nada relacionado a dragões.

Além dessa conjectura, há uma passagem curiosa em O Mundo de Gelo e Fogo sobre a construção de Winterfell:

Dentro das muralhas, o castelo se espalha por vários acres de terra, abrangendo muitos edifícios independentes. O mais antigo deles – uma torre há muito abandonada, redonda e achatada, coberta de gárgulas – ficou conhecida como a Primeira Fortaleza. Alguns acham que isso significa que ela foi construída pelos Primeiros Homens, mas Meistre Kennet provou definitivamente que ela não podia ter existir antes da chegada dos ândalos, visto que os Primeiros Homens e os primeiros ândalos, erguiam torres quadradas e fortalezas. Torres redondas surgiram em algum momento mais tarde.
(O Mundo de Gelo e Fogo – Winterfell, pág 142)

Sabemos que Brandon, o Construtor, foi o tipo de ser humano incrível que deveria estar muito a frente de seu tempo para ter a criatividade e o empreendedorismo de desenhar Winterfell e a Muralha, além de ter ajudado a construir Ponta Tempestade enquanto criança a até mesmo a Torre Alta da Cidadela. Por outro lado, essa especificidade citada na enciclopédia nos faz pensar em como Brandon pode não ser o cara virtuoso que desenvolveu sozinho tecnologias conhecidas milhares de anos mais tarde.

E é claro que, falando em heróis, há o boato de que Lann, o Esperto, fundados da Casa Lannister, era um ândalo zoeiro vivendo na Era dos Heróis entre homens de outra etnia. Portanto, teríamos aí um indício de que ândalos chegaram a Westeros antes do que a linha do tempo sugere.

Poderíamos até imaginar que, no começo dos tempos, existiu uma civilização pré-valiriana que também convivia com seres mágicos como dragões e que, de alguma maneira, houve uma herança de geração para geração, tanto para criação de armas, quanto para desenhos arquitetônicos. Acreditamos no entanto que, se fosse o caso, George teria citado algo em sua enciclopédia para que isso não ficasse apenas no campo retórico.

É por isso que queremos acreditar que, quando a HBO usa o Rei da Noite como ândalo, ela provavelmente está criando um erro de continuidade, e apenas isso. Não é provável que a enciclopédia O Mundo de Gelo e Fogo seja baseada em um grande erro histórico. Até porque, é muito difícil conceber a ideia de que George R. R. Martin escreveria uma enciclopédia inteira (inclusive atrasando a publicação de outros livros), com informações que fossem enganar o leitor sobre a verdade do que aconteceu naquela época.

OUTROS ARGUMENTOS CONTRA A TEORIA DOS ÂNDALOS COMO OS VERDADEIROS VILÕES

  • Se os ândalos lutaram na Longa Noite, testemunharam seres mágicos, o Inverno, as crianças da floresta, gigantes e heróis imagináveis… como eles continuaram acreditando em sua fé e em seus deuses? Como bem sabemos, em As Crônicas de Gelo e Fogo, elementos mágicos são muito persuasivos.
  • Isso também vale para o caso de um possível rei da noite ândalo. Se ele realmente fosse um homem ândalo, e se os ândalos estivessem em Westeros no período da Longa Noite, como a Fé dos Sete não teria incorporado as leias mágicas presenciadas durante a guerra na Estrela de Sete Pontas?

SINCRONISMOS COM A LENDA DO AZOR AHAI

A maneira que a série de TV mostrou a criação dos White Walkers evoca a lenda de Azor Ahai nos livros, o último dos heróis que venceu o Grande Outro, e a quem Melisandre promete que foi renascido nos tempos atuais na forma de Stannis Baratheon e/ou Jon Snow, enquanto outros profetas enxergam neste salvador a rainha Daenerys.

Na lenda, para ajudar a temperar sua espada Luminífera, Azor Ahai chamou sua esposa, Nissa Nissa, e pediu que ela desnudasse os seios. Ele então cravou a espada em seu peito, e sua alma combinada com o aço deu origem à Luminífera.

Acontece que, na versão da TV, vemos Folha fazendo algo parecido. Para criar uma arma poderosa, ela crava uma adaga de obsidiana no coração de um homem, dando origem ao Outro. Justamente o Outro que Azor Ahai teria que enfrentar anos mais tarde.

CONCLUSÕES

A versão da série de TV sobre quem são os Outros é simplista e direta. A dos livros é muito complexa e está prestes a ser apropriadamente desenvolvida. Muito provavelmente também acontecerá através das viagens de Bran, o único capaz de extrair o conhecimento das Crianças da Floresta e o único capaz de ir até o passado ver o que aconteceu pra contar pra gente. E como sabemos, as coisas que Bran vê nos livros, mesmo aquelas que parecem não ter importância alguma, são muito mais ricas e mais poderosas do que a versão da HBO, o que é ótimo. Assim, viajaremos por duas estradas. Primeiro, a da nossa imaginação que usa como escada a impressionante capacidade que George R. R. Martin tem para descrever ambientes, sensações, cores e formas. Depois a passiva, que tem o auxilio da maravilhosa magia do audiovisual, que nos auxilia com sons, trilha sonora, atuações, maquiagem, figurino e maneirismos artísticos de câmera e fotografia.

David Benioff e Dan Weiss não se manifestaram dizendo que a cena de “The Door” foi inspirada em algo que Martin lhes disse. É altamente possível, através dos exemplos apresentados aqui, que a origem dos Walkers nos livros também será fruto de um último recurso que as Crianças da Floresta usaram para lutar contra os homens. Os Primeiros Homens. Tematicamente, os Velhos Deuses e os Walkers estão ligados nos livros também. Mas, com certeza, George R. R. Martin nos mostrará mais detalhes e mais nuances sobre essa relação. Arriscamos dizer no entanto que a inspiração tenha sido apenas essa. Todo o resto, incluindo o aparente erro de continuidade da série quando aborda o Rei da Noite como uma ândalo, é texto original de D&D.

Sobre os livros, há um sentimento de que George R. R. Martin de fato “mudou de ideia” quando estabeleceu que a chegada dos Primeiros Homens pode ter acontecido próxima demais da origem da Longa Noite. Questionamos alguns especialistas no lore e eles disseram que, provavelmente, O Mundo de Gelo e Fogo é apenas uma amostra de como os meistres podem discordar em alguns pontos, mas que, em última análise, a concepção que temos de que os ândalos chegaram muito tempo depois da Longa Noite é a correta.

Este texto não aborda a influência das armas (fogo, obsidiana e aço valiriano) no comportamento dos White Walkers. Este assunto merece uma análise à parte. Mas contamos com vocês para apontar esses e outras detalhes que podemos abordar ao discutirmos este recorte da história. Também são bem-vindas as conjecturas e teorias sobre o tema.

O Inverno chegou, na série e nos livros. E precisamos falar sobre ele.