Um hiato é sempre difícil para uma série como Game of Thrones, mas no último domingo, depois de longos meses, o inverno finalmente chegou para matar nossa saudade de Westeros (e, infelizmente, alguns pobres camponeses famintos). Com uma temporada que, agora, oficialmente, ultrapassou os livros de George R. R. Martin, a adaptação da HBO é um intrigante mar de incertezas para mim. Apesar dessas dúvidas, aqui estou, com mil navios e duas boas mãos, pronto para navegar com vocês.
Vamos começar?
Esqueçam o Rei da Noite: David e Dan foram os maiores inimigos desta estreia. Desde o ano passado, a dupla de criadores – que assinaram o episódio com o diretor Jeremy Podeswa – anunciam uma temporada com “menos episódios, mas mais momentos épicos™”, e isso gera uma expectativa hiperbólica entre os fãs. Por esta razão, “Dragonstone” pode ter desapontado aqueles que esperavam reviravoltas e sequências memoráveis dignas de “Battle of the Bastards” ou “The Winds of Winter”. Não é o meu caso. Nada contra batalhas campais, navais, dragões ou lobos gigantes (inclusive, Nymeria, te queremos), mas eu geralmente prefiro ver bocas cuspindo palavras em vez de fogo. Os roteiristas foram generosos nesse sentido. Como nos outros anos da série, a premiere foi reservada para estabelecer o novo status quo e as novas dinâmicas de poder, desenhando novas alianças e preparando a mesa de guerra para a tempestade vindoura.
E que tempestade. A marcha dos mortos vista pelos olhos de Bran – cujos poderes, como o novo Corvo de Três Olhos, não parecem ter mais limites ou regras – foi um lembrete pontual da ameaça silenciosa que os Caminhantes Brancos representam, com ou sem gigantes. Vale lembrar que, para muitas pessoas, ter um gigante entre a marcha do inverno não foi novidade alguma, já que a produção de Game of Thrones já tinha dado a dica nos vídeos de bastidores sobre figurinos.
Confesso que meu maior medo nessa cena foi ver outro gigante caminhando entre o exército, mas não aconteceu. A memória de Hodor permanece intacta, e o último filho de Ned Stark está de volta à trama principal… mesmo que por alguns segundos.
Como diabos aquele textão sobre o fim do mundo provou à Edd Doloroso que os dois jovens à sua porta não eram selvagens quaisquer? Claro que seria improvável e, mesmo que fosse o caso, os selvagens estão com a são a Patrulha agora. Ainda assim, por mais que o momento tenha servido bem como ponte entre as duas temporadas (e um gancho perfeito para o sequente debate em Winterfell), ele poderia ter sido agraciado com um pouco mais de tempo.
“Drangonstone” também foi um episódio caracterizado pelo retorno efetivo de personagens que, depois de um tempo afastados da trama principal, precisaram lidar com as mudanças ocorridas fora e dentro de si mesmos.
Para Arya, esse retorno marca a oportunidade de usar tudo o que ela aprendeu para fazer justiça pela família e, para este fim, continuar riscando nomes de sua notória lista. Dessa vez, ela se livrou de todos os “Freys que valem alguma coisa” com um único golpe letal.
Apesar de ter tido a garganta cortada em uma cena que espelhou a morte de Catelyn Stark (como o “Previously” fez bem em lembrar), Walder Frey reaparece nos primeiros segundos do episódio, todo pimpão e serelepe, oferecendo seu melhor vinho a dezenas de parentes que, alegadamente, ajudaram ele a se tornar o Senhor das Terras Fluviais. Ele até usa, pela segunda vez na série, as palavras “We Stand Together”, que podem ou não constituir o lema oficial da Casa, nunca citado nos livros.
Enfim, não demora muito para o brinde desandar e pessoas começarem a tossir sangue e morrer no chão. É claro que era Arya, que ainda se deu o luxo de utilizar ‘mentiras e dourado de Árvore’ em seu discurso, um deleite para os fãs dos livros de George R. R. Martin.
A maioria das pessoas declararam que o prólogo foi o melhor momento da estreia. Eu não sei se concordo.
Claro que, por um lado, foi gratificante ver o inverno chegar para os Freys… mas também foi muito previsível? No momento que eu vi o excelente David Bradley (que trouxe uma série de movimentos sutis para indicar que aquele personagem não era quem realmente parecia ser), eu soube exatamente o que iria acontecer. Além disso, como Arya conseguiu escapar das Gêmeas ilesa? Existem ainda implicações na arte dos Homens Sem Face que não foram elucidadas na esquecível passagem da personagem por Bravos, e mesmo que essas questões não precisem ou possam ser explicadas (afinal, existe magia envolvida no processo), meu trabalho é duvidar.
Game of Thrones sempre foi sobre uma história que contemplou desdobramentos a longo prazo, e o espectador mais atento deverá ter percebido que, ao exterminar uma linhagem inteira, Arya copiou o trabalho desenhado por Tywin Lannister e Roose Bolton, subestimando vítimas invisíveis. Como podemos garantir que as mulheres que sobreviveram não estavam grávidas? Ou que crianças, agora órfãs, não poderão se vingar dos Stark em um futuro jamais escrito? Em um mundo assim, a máxima de que os filhos devem pagar pelos pecados dos pais parece quase inevitável.
O massacre dos Freys funciona melhor se analisado em conjunto com outra cena do episódio que revelou uma outra face da garota Stark: a que ela encontra um grupo de soldados comuns que dividem com ela comida, bebida e lembranças de suas próprias casas. É o tipo de cena raramente vista em Game of Thrones, especialmente agora que estamos chegando ao fim. Além de não fazer muito para acelerar o enredo, a passagem não fez uso de nenhum dos recursos que a série normalmente prioriza, como violência, efeitos visuais ou frases de efeito. Ela simplesmente apresenta melhor um cenário, e as pessoas que fazem parte dele.
Apesar de serem jurados à “Casa errada”, os soldados foram amigáveis com Arya, e falaram sobre a falta que sentem de seus entes queridos. Essas palavras pesaram nos ombros dela, pois mostram que são homens como eles que acabam sendo tirados de suas famílias e, eventualmente, morrendo quando Lannisters e Starks se enfrentam em uma guerra ou quando uma linhagem inteira de Freys é misteriosamente extinta em uma única noite. Foi um momento de humanização da personagem depois do massacre, onde vislumbramos uma Arya que, assim como aqueles soldados, também sente falta de casa. Vamos esperar para ver o quanto isso dura.
Outro arco que não movimentou muito as peças nesse episódio, mas ainda funcionou de uma maneira muito interessante, foi o do Cão de Caça em seu caminho para a redenção.
Se Samwell foi o cérebro de “Dragonstone”, Sandor foi o coração. E quem diria que alguém um dia diria isso sobre o bom e velho Clegane. Acompanhando a Irmandade Sem Estandartes em sua jornada para combater algo maior do que ele mesmo – o que já sinaliza uma grande mudança de pensamento no personagem, nosso Cão se depara com a casa da mesma família que acolheu a ele e Arya durante a jornada da dupla para o Vale, no episódio “Breaker of Chains”. Na ocasião, Sandor atacou o pai da pequena Sally para roubar a prata que ele tinha escondido, o que, indiretamente, levou à morte o camponês e sua filha.
Claramente assombrado por esses fantasmas do seu passado – como o capitão nazista no episódio “Deaths Head Revisited”, de The Twilight Zone –, o Cão confrontou Beric sobre o motivo pelo qual o Senhor da Luz permite que ele viva e reviva enquanto pessoas melhores e mais inocentes morrem naquele tipo de situação. Um questionamento real que muitos de nós, religiosos ou não, já devemos ter feito.
Buscando sanar as dúvidas do companheiro, Thoros pediu que ele olhasse através das chamas (que ele teme, graças a seu querido irmão) e, para o desespero de Melisandre em seus XXXX anos, ele realmente enxergou alguma coisa (!!!).
Ok. Não sejamos tão injustos com a Mel. A visão do Cão de Caça parece ter sido ligeiramente inspirada na que a própria Mulher Vermelha teve em “A Dança dos Dragões”:
Visões dançaram diante dela, douradas e escarlate, cintilando, criando formas, mesclando-se e dissolvendo-se umas nas outras, formas estranhas, aterrorizantes e sedutoras. Viu os rostos sem olhos novamente, encarando-a com os buracos que choravam sangue. Então viu torres à beira-mar, desintegrando-se quando a maré negra veio varrendo sobre elas, levantando-se das profundezas. Sombras com o formato de caveiras, caveiras que se tornavam névoa, corpos agarrados em luxúria, contorcendo-se, rolando e arranhando-se. Através de cortinas de fogo, grandes sombras aladas revoluteavam contra o firme céu azul.
(A Dança dos Dragões, Capítulo 31, Melisandre)
Sendo sincero, eu acho bem difícil de acreditar que Sandor veria tanta coisa tão claramente olhando as chamas pela primeira vez se esta não fosse a penúltima temporada da série, a não ser que ele seja o próprio Azor Ahai. Enfim, vamos supor que ele foi um instrumento usado pelo Deus Vermelho para avisar a Irmandade sobre o ataque do Rei da Noite à Atalaialeste do Mar. (Pobre Tormund)
Ainda que as cenas em Winterfell tenham trazido à tona várias lembranças da primeira temporada, Jon e Sansa estão entre os personagens que mais foram transformados pelos eventos dos seis últimos anos. As várias ameaças iminentes enfrentadas pelos nortenhos permitiram que os roteiristas explorassem as diferenças de pensamento entre os irmãos na tomada de decisões táticas específicas como, por exemplo, ao definir o destino dos herdeiros de Pequeno Jon Umber e Harold Karstark – que lutaram ao lado de Ramsay na Batalha dos Bastardos. Enquanto Jon está exclusivamente focado na guerra contra o Rei da Noite, Sansa aponta que ele ainda precisará de aliados leais para as outras guerras que virão, e a maneira mais fácil de garantir isso é recompensando os homens por sua lealdade, deixando os traidores fora de suas estratégias. Se os Lannisters fossem os únicos inimigos diante deles, talvez Jon fosse mais receptivo aos conselhos de Sansa (talvez). Mas ele viu o que o exército dos mortos é capaz de fazer e, por isso, deixa-se guiar pelo que acredita ser o certo – o que Sansa claramente enxerga como um erro.
A melhor parte desse dilema é que nenhum dos dois está inteiramente errado. Podemos escolher o lado da Sansa por abrir os olhos do irmão, que insiste em ser idealista em um mundo onde ele foi, literalmente, morto por causa de seu idealismo (O Norte ainda se lembra disso?), ou podemos escolher o lado de Jon porque, bem, existe uma horda de zumbis de gelo marchando em direção à Muralha, e o bastardo é o único ali que sobreviveu a eles mais de uma vez. Perceba que, neste conflito entre Sansa e Jon, é possível fazer o mesmo questionamento sobre legado que fizemos à Arya. Ned Umber e Alys Karstark são o tipo de personagem refém de uma sociedade que se prontificará de torná-los vilões em um futuro próximo. Personagens como Daenerys, Theon, Oberyn – e até mesmo Olly, todos foram colocados em uma posição onde suas motivações existenciais foram semeadas no questionamento sobre a retomada de um lugar legítimo, ou a justiça por familiares mortos. Por que com eles seria diferente?
O fato é que Sansa e Jon possuem pontos de vista extremamente válidos, que os fazem enxergar a situação baseados em suas próprias experiências e alinhamentos. Isso foi muito bem colocado nos diálogos, especialmente nas falas em que Ned, Robb, Joffrey e Cersei foram mencionados. Vocês repararam que o penteado de Sansa lembra bastante o que a rainha usava antes de ter sido capturada pela Fé? Cersei é, certamente, uma inimiga a se temer, mas Jon foi certeiro ao notar que, enquanto o inverno favorece o Rei da Noite e seu séquito, ele também funciona como uma poderosa defesa natural contra os exércitos sulistas (Napoleão que o diga).
Contudo, há um outro perigo, que todo mundo (exceto Brienne) parece ter ignorado até então: Mindinho. O cara pode transformar as discordâncias de Jon e Sansa em uma verdadeira disputa pelo poder em Winterfell, mesmo sem ter a última palavra. É curioso notar que a fala de Sansa sobre “ter aprendido coisas importantes com Cersei” foi largamente mal recebida pela audiência. Assim que assisti a cena, me lembrei de uma entrevista que Sophie Turner cedeu há um mês, falando sobre como Sansa estaria parecida com Cersei nesta temporada:
“Ambas estão obcecadas com o legado da família, e motivadas em manter a família, e farão qualquer coisa pelas pessoas que amam. Consigo ver Sansa se tornando uma Cersei e meio que enlouquecendo por isso, pelas ameaças contra sua família. No final do dia, é por isso que ela faz as coisas que faz, porque sente-se aterrorizada por perder as pessoas que ama. E então ela não irá se deter em função de protegê-los. Se isso significa tornar-se como uma assassina implacável, líder, mulher sádica ou dama má, então assim seja. Eu não acho que isso importa para ela [Cersei], e vejo Sansa influenciada por isso também”.
Como Sansa, Cersei também precisa lidar com problemas vindos de todos os lados.
Apesar das diferenças óbvias, Starks e Lannisters sempre se assemelharam, tematicamente falando, e é interessante analisar a dinâmica entre os dois pares de irmãos sob essa ótica. Enquanto Cersei e Sansa parecem mais astutas e perspicazes, Jaime e Jon são, indiscutivelmente, o lado “ético” das duplas. Em contrapartida, Sansa e Jaime são pragmáticos, enquanto Cersei e Jon estão muito ocupados lidando com os problemas à frente para enxergar os outros à volta.
O núcleo de Porto Real tem muito chão para cobrir desde a coroação de Cersei como Rainha dos Sete Reinos (ou Três Reinos, no máximo). Como a cidade recebeu as notícias do suicídio de Tommen? E, principalmente, como responderam à explosão do Septo de Baelor – maior símbolo da Fé na capital? O diálogo entre os gêmeos deu abertura, mas falhou miseravelmente na missão de responder tais questionamentos. Outra prova de que as reais vítimas da disputa pelo Trono de Ferro jamais terão voz, ainda mais neste ponto da história. Imaginem aqueles que perderam familiares durante a explosão do septo? Aqueles que foram acertados na rua por blocos de pedra, voando pelos ares? Aqueles que perderam tudo o que tinham devido às propriedades voláteis do fogovivo? Aqueles que foram queimados por tabela, machucados por tabela, mortos por tabela?
Aliás, Jaime Lannister é conhecido como Regicida por ter impedido que Aerys fizesse exatamente o que Cersei fez. No Inside the Episode, muito foi dito sobre o irmão respeitar o luto da rainha. Mas o comportamento de Jaime abordado neste episódio, apenas estende aquele que vimos há um ano, quando Myrcella foi morta, e absolutamente nada foi feito a este respeito.
Ainda assim, tivemos alguns insights interessantes, como quando Cersei afirma que Tommen a traiu por ter tirado a própria vida, ou quando ela pergunta se Jaime está com medo de suas atitudes. Só um homem louco não sentiria medo da Cersei, e talvez, um homem louco seja exatamente o aliado que ela precisa.
Não existe maquiagem nos Sete Reinos que faça o Euron da série chegar perto de ser o que o Olho de Corvo é nos livros. O novo visual do Greyjoy, de ar um pouco mais rebelde, é de fato melhor que o anterior, no cinza padronizado das Ilhas Ferro. Mas ainda assim foi pouco para impressionar Cersei.
Eu realmente gosto de diálogos ricos, com trocas inteligentes que, às vezes, só Game of Thrones pode proporcionar. Mas quando uma discussão inteira é baseada nessas tiradas quase cômicas, uma se sobrepondo a outra, a coisa termina ficando forçada e vazia. O embate entre Jaime e Euron começou interessante, mas logo cansou. O capitão da Frota de Ferro subestimou Cersei ao acreditar que ela aceitaria sua proposta de imediato e, por essa cena, ficou claro que a intenção da rainha é usá-lo para conseguir a maior quantidade de “presentes” possível. Se esse Euron for pelo menos um pouco parecido com o personagem original, ele não será manipulado tão facilmente. Nesse caso, Cersei que se cuide. “Os presentes de Euron são envenenados”.
Essa semana, boa parte da narrativa foi concentrada em Samwell Tarly e em sua quest pelas maravilhas da Cidadela – o que é bem compreensível, visto que se trata de uma nova locação (propriamente introduzida na abertura) com um papel chave na mudança de foco da série que, nessa temporada, deve priorizar a batalha contra os Caminhantes Brancos em vez da guerra pelo Trono de Ferro.
A montagem inicial, muito bem filmada e editada, contrastou sabiamente a enorme biblioteca cheia de promessas que conhecemos no final da sexta temporada, com a realidade dos fluidos e odores a que nosso herói é exposto em sua rotina interminável. A vida de um noviço não é fácil nem para o jovem Tarly, mesmo com os anos de experiência que ele tem como intendente em Castelo Negro. Talvez seja a essa realidade, mais escatológica do que filosófica, que os produtores se referiam quando disseram que Sam seria uma espécie de “anti-Harry Potter” em sua jornada este ano.
Por falar em Harry Potter, vários fãs perderam a cabeça ao se debruçarem sobre os intermináveis paralelos entre as sagas. O mais claro, para mim, foi na cena em que Sam pediu acesso à “seção restrita” da biblioteca, da mesma maneira que Tom Riddle (o jovem Voldemort) pediu ao professor Horace Slughorn em uma passagem de “Harry Potter e o Enigma do Príncipe”. E a maior semelhança entre as cenas ainda está no ator que interpreta tanto o professor quanto o Arquimeistre, o incrível Jim Broadbent – que está longe de ser apenas uma referência à outra história de fantasia. O ator tem na estante prêmios como Oscar, Globo de Ouro e Bafta. Uma adição inspirada ao elenco.
Ao contrário de Slughorn, o Arquimeistre apresentado neste episódio não é “o Mago” que muitos acreditam, mas sim o Arquimeistre Ebrose, especialista em medicina que certamente terá um papel fundamental na recuperação de Sor Jorah Mormont – ou você achou que aquela mão fosse de outra pessoa?
Um dos livros posteriormente roubados por Sam conta com um trecho que ressalta as propriedades curativas do vidro de dragão (sim, mil utilidades e mais uma), além de conter um mapa para uma reserva gigantesca do mineral em Pedra do Dragão, reserva que já foi mencionada por Stannis quando os dois personagens se conheceram em “Kill the Boy”.
Essa descoberta, além de vital para a batalha contra os Outros, é o motivo perfeito para o aguardado encontro entre Jon e Daenerys.
Dito isso, vamos falar sobre os minutos finais do episódio – suficientemente importantes para ter dado nome ao mesmo (embora a expressão “dragonstone” também possa ser uma referência indireta à obsidiana, tema amplamente explorado tanto no Norte quanto na Cidadela).
Em uma sequência marcada pela ausência total (e oportuna) de diálogos, a linguagem corporal é fundamental. A dificuldade da Emilia Clarke em encarar horizontes distantes imaginários sem fazer caretas estranhas me incomodou um pouco no início, mas a atriz logo conseguiu encontrar o tom necessário para a performance. No entanto, os responsáveis por tornar a cena digna deste acontecimento tão esperado pelos fãs foi o trabalho do diretor Jeremy Podeswa; a trilha épica reinando sobre o silêncio; a belíssima cinematografia e os impressionantes efeitos visuais.
Eu sempre achei Pedra do Dragão um cenário muito bom para ser subaproveitado e depois esquecido como o malfadado rei que há pouco tempo viveu ali. Saber que a última descendente dos Targaryens fará uso da fortaleza de seus ancestrais para conquistar novamente os Sete Reinos (ou não) é revigorante para nós, espectadores, e para o próprio curso da história. Depois dos seis longos anos que padecemos juntos além do Mar Estreito, a chegada de Daenerys a Pedra do Dragão quase parece justiça divina.
NOTAS FINAIS
✖ As personagens femininas tiveram um destaque merecido nesta estreia, da expressão cansada de Meera Reed, à chegada vitoriosa de Daenerys, passando por Brienne e pelo discurso empoderado da pequena Lyanna Mormont. Lyanna, inclusive, não tem agradado a todos, mas é impressionante como a esmagadora maioria da audiência se afeiçoa à ela. Fica a esperança de que o poder feminino da série não seja compreendido apenas através de discursos inflamados ou de violência.
✖ A decisão de Jon, que ordenou seus vassalos a treinarem tanto garotos quanto garotas, veio dos livros, onde ele, ainda no comando da Patrulha, recrutou esposas de lança do povo livre e até prostitutas de Vila Toupeira para ajudarem a defender a Muralha.
✖ Tivemos outras pequenas referências aos livros ao longo do episódio, como
“Cavalgou pelas ruas da cidade, desde o alto de sua colina,
Por becos e degraus e calçadas, para os braços de sua menina.
Porque ela era o secreto tesouro, sua vergonha e seu prazer.
E a corrente e o forte nada são, comparados com beijos de mulher.”– Há mais – disse o homem quando parou de tocar. – Ah, bem mais. O refrão é particularmente bonito, na minha opinião. “Porque mãos de ouro são sempre frias, mas há calor em mãos de mulher…”
– Basta. – Tyrion puxou os dedos de dentro do manto, vazios. – Isso não é canção que eu queira ouvir novamente. Nunca mais.
(A Tormenta de Espadas, Capítulo 32, Tyrion IV)
✖ Além de ser uma belíssima peça de cenário, o mapa gigante pintado à mão na Fortaleza Vermelha foi alvo de uma curiosa teoria desde sua primeira aparição, em um dos trailers da temporada.
Observando o quadro abaixo, percebemos que Jaime está de pé sobre a região conhecida como Os Dedos, enquanto Cersei permanece sobre o Gargalo (The Neck), o que muitos ligaram à profecia do valonqar.
Essa “coincidência” pode muito bem ter sido um easter egg mas, considerando que a terceira parte da profecia (quem leu o livro sabe qual é) não foi mencionada na série, pode ser apenas isso.
✖ Muitos questionaram o fato de estar nevando em uma parte das Terras Fluviais (onde esteve o Cão) e não na outra (onde esteve Arya). Bem, basta considerarmos que 1) a Irmandade está, supostamente, indo para o Norte enquanto Arya está, supostamente, indo para o Sul e que 2) o clima em Westeros é mesmo insano.
✖ A adaga de aço valiriano que pertenceu à Mindinho e foi usada na tentativa de assassinar Bran na primeira temporada apareceu como uma das ilustrações do livro roubado por Sam. Coincidência, ou os produtores queriam nos lembrar dessa arma por algum motivo?
✖ Falando em aço valiriano, ninguém foi atrás do Sam por ele ter roubado a lâmina ancestral da Casa Tarly?
✖ Que tipo de vitamina o Pequeno Sam anda tomando?