Cada um dos grandes castelos dos Sete Reinos é especial à sua maneira, e o Ninho da Águia não é diferente. George R. R. Martin descreve a sede da casa Arryn como uma fortaleza inexpugnável, incrustada em um pico de uma cadeia montanhosa, muitos metros acima do Vale de Arryn. Será que esse castelo de As Crônicas de Gelo e Fogo tem alguma inspiração no mundo real?

Martin já falou que o Ninho da Águia é baseado no famoso castelo de Neuschwanstein, situado na Alemanha. No entanto, a descrição e o próprio nome da sede dos Arryn sugerem que GRRM pode ter se inspirado em outra fortaleza do mundo real para criá-lo: o castelo de Alamut, localizado no Irã.

Descubra conosco um pouco sobre essas duas construções históricas, e como elas podem ter influenciado Martin na criação do Ninho da Águia.

O castelo de Neuschwanstein

Castelo de Neuschwanstein
O Castelo de Neuschwanstein. Foto: Valerio Bruscianelli (Wikimedia Commons).

Localizado na Alemanha, Neuschwanstein é um dos castelos mais famosos do mundo. Construído no final do século XIX, por encomenda do rei Luís II da Baviera, se situa no topo de uma colina escarpada, acima da vila de Hohenschawangau.

A construção pertence ao estilo neorromânico, que se baseia no arquitetura românica dos séculos XI e XII, e é na verdade mais um palácio que um castelo. Luís II se viu motivado a construí-lo após visitas a outros projetos do século XIX que construíam castelos de certa forma imitando uma forma antiga, ou revitalizavam velhas construções. Luís II era um grande apreciador do compositor Richard Wagner, e desejou construir um castelo que evocasse tanto as óperas de Wagner quanto uma interpretação romântica da Idade Média.

Anos mais tarde, na década de 1950, o castelo ficaria famoso também por servir de inspiração para o castelo da Bela Adormecida, o primeiro construído nos parques da Disney. Não foi apenas nesse mundo fantástico que a arquitetura de Neuschwanstein ressooaria, porém.

Em uma visita a Frankfurt em 2000, George R. R. Martin revelou que imagina o Ninho da Águia como Neuschwanstein (especialmente a subida para se chegar ao castelo). Quando o ilustrador Ted Nasmith foi contratado para ilustrar o calendário de 2011 de As Crônicas de Gelo e Fogo, retratou um grande castelo dos Sete Reinos em cada um dos meses, e um deles foi é, claro, o Ninho da Águia.

Martin disse que Nasmith consultou com ele de perto para criar cada ilustração, e que essas versões eram as mais definitivas dos castelos de Westeros até então. O (lindo) resultado foi um Ninho da Águia claramente inspirado em Neuschwanstein:

Ninho da Águia
O Ninho da Águia, por Ted Nasmith.

O castelo de Alamut

Se Neuschwanstein foi construído para exaltar uma visão romântica da Idade Média, o outro castelo que pode ter inspirado o Ninho da Águia tem uma história bastante diferente. A fortaleza de Alamut, atualmente localizada no Irã, viu muitos confrontos sangrentos durante sua existência, dos séculos VI a XIII.

“Alamut”, em persa, significa literalmente “ninho da águia”. Acredita-se que o nome tenha surgido quando um governante persa, em uma expedição em um vale remoto, viu uma enorme águia pousar no topo de uma montanha de difícil alcance, e percebeu o potencial estratégico do local, construindo ali sua fortaleza.

Castelo de Alamut
Montanha e ruínas do castelo de Alamut. Foto: Alireza Javaheri (Wikimedia Commons).

Séculos mais tarde, em 1090, o líder ismaelita Hassan Sabah, em meio a um conflito de seu povo com os seljúcidas, tomou o castelo sem derramar nenhuma gota de sangue, ao infiltrar pessoas de sua confiança entre os que trabalhavam na fortaleza. A partir daí, os ismaelitas (xiitas) declararam guerra aberta contra os seljúcidas (sunitas) – mais tarde os seguidores de Sabah dariam origem à seita dos assassinos. Alamut se tornou auto-suficiente na produção de alimentos e também um centro de aprendizado de ciências, e serviu como a capital do Estado ismaelita.

O castelo era tido como inexpugnável, impossível de ser tomado por qualquer ataque militar direto. Localizava-se no centro de um vale, e mais especificamente no topo de um rocha a 180 metros do nível do solo. Em 1256, em um conflito dos ismaelitas com invasores mongóis, o castelo foi destruído. Foi rendido pelo líder ismaelita, o Imam Rukn al-Din Khurshah, na esperança de que os habitantes e guarnição dos castelos fossem poupados pelo khan mongol invasor, que demoliu a fortaleza.

Alamut Castle
Retratação imaginada do Castelo de Alamut.

Os castelos e o Ninho da Águia

George R. R. Martin já admitiu publicamente que arquitetonicamente falando imagina seu Ninho da Águia como Neuschwanstein, e também a subida para se atingir o castelo. A experiência de Martin na subida para Neuchswanstein talvez tenha se refletido nas diversas e complicadas etapas para a ascensão ao Ninho da Águia, descritas em detalhes em capítulos de Catelyn em A Guerra dos Tronos.

Por outro lado, o conceito de uma fortaleza inexpugnável em um pico situado no meio de um vale claramente remete a Alamut, cujo próprio nome também é muitíssimo sugestivo. É importante ressaltar porém, que, em inglês, o nome do castelo dos Arryn em As Crônicas de Gelo e Fogo é Eyrie, uma palavra que designa ninhos não apenas de águias, mas de aves de rapina em geral. Como não existe palavra correspondente em língua portuguesa, a decisão na tradução foi por não se colocar apenas “Ninho” – o que, por outro lado, criou uma confusão um tanto estranha, visto que se especificou uma águia no nome, mas o brasão da Casa Arryn retrata um falcão.

Ninho da Águia
O Ninho da Águia, por Lino Drieghe. © Fantasy Flight Games

Por acaso, dois povos envolvidos com a história de Alamut também encontram paralelos (ainda que inexatos) em As Crônicas de Gelo e Fogo. A Ordem dos Assassinos, que dominou o castelo por vários séculos, era, é claro, muito mais do que pequenas guildas de assassinos, formando de fato uma ordem militar. Ainda assim, grupos como os Homens sem Rosto e os Homens Pesarosos também existem na obra de Martin. Os responsáveis pela destruição de Alamut, os mongóis, eram notórios cavaleiros arqueiros. Foram, claramente, um dos vários povos que inspiraram os dothraki de GRRM.

A história da tomada pacífica de Alamut por Hassan Sabah também é muitísismo sugestiva, mas será possível que uma invasão dothraki nos Sete Reinos também cause em algum momento a rendição e a destruição do Ninho da Águia no Vale de Arryn? Ou será que os Homens sem Rosto terão algum papel envolvendo o castelo? Nada disso parece especialmente provável, mas Elio García e Linda Antonsson já disseram acreditar que coisas interessantes acontecerão no Vale em Os Ventos do Inverno. Aguardemos!


Para ler “Alayane”, um capítulo completo de The Winds of Winter que se passa no Vale de Arryn, clique aqui.