Este é o lugar onde a história começa. Winterfell, é gótica. Suas senhoras e senhores gostam de visitar as criptas, de vestir-se com roupas escuras, de andar com lobos e rezar para suas árvores pagãs. E ali estão eles, a 630 milhas do perigo conspícuo, cientes, atentos, resolutos. Em alerta para a chegada do fim do mundo.
Todos os sentimentos que você criou por Game of Thrones ou As Crônicas de Gelo e Fogo, começam neste lugar. Seu bosque sagrado, milenar. Suas torres em pedra, tão velhas quanto a história dos reinos. Os barulhos das atividades no pátio, onde as crianças treinam, correm e seus pais os observam com amor e cuidado, cheio das expectativas mais absurdas para cada um deles. A aspereza de um mundo antigo, em uma primeira vista, tão diferente do nosso. E no mesmo compasso das sutilezas descritas, somos despertos: O inverno está chegando. São as palavras de um lorde pessimista, que veste roupas pesadas, que exibe uma espada grande demais para ser utilizada, e por isso cada gesto e escolha que ele faz, parece levar com ele o peso de toda uma vida. Um homem que elevou o ideal de todas as grandes histórias de época que vieram antes.
Eddard Stark era um senhor de olhar triste, e ainda afetuoso. Me lembro desta passagem de ‘A Guerra dos Tronos’, quando Bran o descreve: “Tirara a cara de pai, pensou Bran, e colocara a de Lorde Stark de Winterfell“. Catelyn, era diplomata, astuta, orgulhosa. Todos os seus filhos vivos são seus espelhos. Ned tinha um segredo que não podia confidenciar a ninguém. Catelyn, em sua última jornada, colecionou os seus. E, todos esses anos mais tarde, os seus filhos seguem suas vidas, com roupas pesadas demais, e outras histórias impossíveis de ser contadas. E todos retornam às criptas, para confidenciar no escuro, o que ninguém imaginaria escutar.
Catelyn Tully e Ned Stark parecem, na teoria, retratos indeléveis de Winterfell. Ainda assim, na reta final de suas vidas, descobrimos que ainda havia muito mais ali do que conseguíamos ver. E se você passou tempo suficiente na linha de história que se seguiu, assistiu suas escolhas ecoando pelo mundo.
Se a história começasse hoje, se essa que vemos agora fosse a 1ª temporada de Game of Thrones, como as crianças que vivem no castelo pensariam em seus senhores? Em Arya, uma Mulher Sem Rosto, assassina treinada em terras estrangeiras. Em Sansa, que casou-se duas vezes, com homens terríveis, se livrando dos dois para sempre, com venenos e festim de carne humana. Em Bran, uma entidade milenar que invade corpos. Em Jon, que morreu e ressuscitou, lutou mil batalhas, viveu amores e inimizades impossíveis. Será que esses segredos permaneceriam escondidos abaixo de peles grossas, e olhares distantes?
Quando mais penso nestes personagens, mais tenho a sensação de que este é um mundo de infinitas possibilidades. Um ciclo de histórias muito poderoso, que reúne tantas milhões de pessoas ao redor da TV todos os anos. Por isso, não acredito em um personagem me dizendo que não há mais tempo para que essa infinitude seja contada.
O gesto de Jon ao ver Bran, o beijo. A maneira como Arya corre ao encontro do irmão, o orgulho ao exibir Agulha intacta. Arya conhecendo Garralonga. Como queríamos vê-los juntos. Ah, uma Targaryen em Winterfell. Há tanto a ser dito uns aos outros.
Quase todos principais críticos de TV apontaram durante esta ideia durante a semana: Game of Thrones está mais interessada em finalizar a história do que em contar a história. Ao ler o parágrafo acima, não parece ser o caso. Mas mesmo na superfície nos alicerces da trama, é fácil perceber que algo está errado.
Se Westeros foi invadida por seres mágicos movidos pela morte e devastação, se a Muralha caiu, qual a diferença da Westeros antes disso para Westeros de agora? A quem os outros reinos respondem? Se o inverno chegou, onde está a neve e a escuridão, que eram mais intensos quando Stannis ainda tentava salvar o mundo? Não temos ideia sobre como Theon conseguiu resgatar sua irmã. Não sabemos nada sobre como são as viagens de Daenerys através do continente que ela deseja governar. Não temos a história sobre como o povo de Cersei se preparou para o inverno que começou a ser anunciado há oito anos. Após a passagem do Alto Pardal, e a destruição de uma religião, qual o legado da Guerra dos Cinco Reis em Porto Real, no funcionamento da cidade? Vemos um personagem declarar que ele vai fazer algo e, da próxima vez que o encontramos, ele terá feito isso sem que nenhuma questão narrativa importe. Onde estão os imprevistos dos caminhos que levam a um mesmo castelo?
Sansa enviou uma criança para o castelo mais próximo da invasão, e esta criança morreu. Isto não é imprevisto, é imprudência.
Quando há algum tipo de situação lúdica que conte algo novo, todo tipo de lógica interna é esmagado para que a questão seja resolvida rapidamente. Quando Robb Stark precisou passar com seu exército por um lugar e, para isso, teve que assinar um contrato de casamento, esta era uma história. Quando o luto de uma criança era tão perturbador que ela pegou um barco, fugiu, e se vestiu com a própria morte, para só então voltar para casa, esta era uma história. Ou quando Tyrion Lannister foi preso em uma emboscada e levado para o castelo inexpugnável, fazendo alianças improváveis no caminho para se livrar de seu destino, esta era uma história.
Todos esses caminhos foram trilhados há muitos anos. Mas voltar para casa deveria ser mais difícil do que sair dela. Estamos correndo da história, ou em direção a ela?
Em mais um exemplo, sabemos através de diálogos simples e deliberadamente inocentes que Daenerys sente-se muito feliz na companhia de Jon Snow. Também sabemos que ela se ressente pela falsa cortesia de Sansa Stark. Mas quem realmente gosta de Daenerys não poderia se importar menos com isso. Daenerys é a Mhysa. Sua missão é com o povo, não com grandes senhoras em grandes vestidos. Desde os pescadores, plebeus e pequenos senhores das Terras da Coroa, até as orgulhosas crianças no Norte. A Daenerys de Emilia Clarke é doce, sentimental, principesca. Em muitas fases, é o oposto da personagem dos livros. Mas é cheia de força, e sua beleza e ruína estão por toda parte, em tudo o que ela faz. Sua campanha por liberdade e justiça é o coração da história. É impossível olhar para ela com desdém. Deveria haver o menor traço de curiosidade sobre sua presença, sua vida pregressa. Mesmo que cause raiva, medo e intolerância, sua chegada a Winterfell merecia ser ainda mais ensurdecedora.
Na 5ª temporada, Dany encontra pessoas crucificadas ao longo do caminho pela Baía dos Escravos. Em resposta, ela crucifica 163 homens que traficavam escravos em Meereen. Na mesma temporada, Dany alimenta um escravagista para seus dragões quando os Filhos da Harpia matam Barristan e os Imaculados. Na 6ª temporada, Dany queima os khals vivos. Todas essas tramas fazem parte da retórica sobre o poder. Queimar os Tarlys foi algo terrível, mas Daenerys já fez sacrifícios ainda mais dantescos. Eu gostaria de ver Daenerys ser verdadeiramente temida. Se é para ser desagradável, seja.
Mas veja, eu acredito que esse anti-clímax seja intencional. É claro que ela será amada. Mas o que terá que fazer para tal?
Lena Headey, sempre entre os talentos mais fortes da série, abraçou a vilã que incomoda até ela mesma. “Você pode ser o homem mais arrogante que já conheci“, ela diz a Euron após se deitar com ele. “Eu gosto disso”.
Em entrevista com a Entertainment Weekly, Lena Headey disse que não concordou em ter Cersei e Euron como parceiros sexuais, sentindo que ela não se rebaixaria a este nível, e que só fez sexo com duas pessoas a vida inteira, o rei Robert e seu irmão Jaime. Ela disse que os showrunners Benioff e Weiss tiveram que gastar muito tempo argumentando que a personagem faria qualquer coisa para sobreviver. Lena se esqueceu que teve relações com Lancel, verdade seja dita. E a personagem original de Martin flertou e teve relações com homens e mulheres, ora por tédio, ora por política. Independente disso, é interessante como a cena com Euron reflete a incerteza da atriz. É uma cena feita para incomodar, e consegue.
Desde a temporada anterior, tenho achado interessante que Cersei não comente sobre os dragões de Daenerys. Cersei tem essa peculiar mania por fogo, destruição, monstruosidades. Gostaria muito de ver espaço para que isso seja desenvolvido nestes últimos capítulos.
Um quadro feio: Grávida do bebê de seu irmão, sozinha, alcoólatra, e com um último motivo para viver, mesmo que esse motivo se anule se a profecia de Maggy a Rã estiver correta (e se realmente lemos a profecia com o cuidado suficiente). Cersei tem tudo pra ter um arco final surpreendente.
Quando Harry Strickland fala sobre ter perdido homens no caminho, e não poder trazer seus elefantes, pensei em um primeiro momento que Varys, Daario ou Tyrion pudessem ter sabotado sua viagem. Tyrion no entanto realmente parece estar em outro momento.
Sansa está certa, ele sempre esteve um movimento à frente. O que aconteceu?
Com o tempo, a estreia revela o paradeiro de personagens incluindo Theon (Alfie Allen), Yara (Gemma Whelan), além de Tormund (Kristofer Hivju) e Beric (Richard Dormer) e várias das figuras que estavam na Muralha quando Viserion transformado aniquilou um dos pilares da civilização.
As cenas com Euron e o resgate no Silêncio são problemáticas por inconsistência, mas o diálogo dos irmãos Greyjoy é muito bonito. Ambos ótimos atores, se entreolhando com muita verdade e beleza. A certeza que Theon precisa voltar ao Norte para lutar pelos Starks é quase engraçada, porque na teoria ele sequer é necessário ali. Há muita gente para ajudar, e ele não tem relação com ninguém. Mas na prática, ele tem motivos para lutar, mesmo que ninguém se importe. Um reencontro dele com Bran teria condições de ser interessantíssimo, como monólogos internos do personagem nos livros, perambulando ao redor do represeiro.
Além disso, a cena com Yara tem ares de despedida. Ele sabe que não há outra pessoa que Robb queria a seu lado na guerra. E agora ele poderá lutar, nem que seja pela última vez.
A minha parte preferida da cena em Última Lareira são os audíveis ventos de inverno. Depois disso, os gritos soando antes que muitos percebessem o que havia errado ali. Que cena impressionante. Quando Game of Thrones faz terror, ela é certeira.
A história da Casa Umber na série é bastante arrevesada. Greatjon Umber é icônico na 1ª temporada. Smalljon mancha a memória do pai ao se aliar aos Boltons, eliminando Rickon com covardia. Nunca superamos isso. O pequeno Ned (Harry Grasby) era uma promessa muito bem-vinda até que deixa de ser. Sua presença em Winterfell foi muito interessante, e sua cena no começo do episódio muito espirituosa. Em vários núcleos vemos esses personagens muito jovens carregando sozinhos o legado de suas Casas. Arryn, Mormont, Karstark. Que desconsolo ver a morte de mais uma criança, quanta tristeza.
O episódio consegue desenhar um bonito tecido ao mostrar o árduo trabalho de preparação em Winterfell, com a chegada de Daenerys e a preparação das armas, valas e catapultas (além da curiosa argamassa de vidro de dragão).
Cada um dos personagens parece estar preparado para o que está por vir. Mesmo que isso condense suas próprias individualidades, como a de Arya.
Sua cena com Gendry é açucarada, assim como foi parte das cenas de Arya na 7ª temporada.
Mas o encontro que a personagem tem com Clegane é a cena mais difícil do episódio pra mim. Entendo que tenha sido um espelho de diálogos antigos, e que ambos possuam problemas severos de traquejo social. Mas Sandor, você está na casa dela.
A simplicidade de algumas falas são muito evidenciadas quando combinadas com o espetáculo visual que a equipe técnica da série proporciona. Além disso a própria estrutura da história idealizada por George R. R. Martin é um convite para que, constantemente, busquemos desvendar cada centímetro da história. Dizer que Daenerys é a única chance, por exemplo. Isso é óbvio. Para que andar em círculos com isso? Se Sansa é tão inteligente como Arya diz, porque não traçamos um caminho para que ela descubra isso em seus próprios méritos, sem a bengala do diálogo expositivo?
Toda hora esse texto sobre alguém ser a pessoa mais forte ou a pessoa mais inteligente.
A cena mais bonita do episódio é a primeira. O desfile de personagens entrando em Winterfell a cavalo, cada um deles passando por Arya, escondida sem ser notado na multidão. Sua curiosidade pelo mundo é uma das coisas mais bonitas que a história contou. Ela expressa tanto, mesmo com tão pouco. Aqui está a cena que Dave Hill acertou.
Então temos a rainha Daenerys e seu sobrinho Jon Snow chegando em Winterfell, alimentando Sansa com uma justificada insegurança e todos os outros personagens com uma espécie de demanda final.
O confronto velado entre a Senhora de Winterfell e a Rainha Targaryen dá o tom de tudo o que é indigesto no episódio. Não há como alimentar a todos os que acabam de chegar ao castelo. Mesmo se ninguém chegasse, talvez não houvesse como. Na 5ª temporada, a falta de suprimentos é o principal fator que leva Stannis à queda, moral, física, espiritual.
No conselho de Winterfell temos os melhores: Tyrion que foi mestre da moeda, Varys sempre soube de tudo o que acontece em Westeros e além, Davos que viveu na miséria e tem conhecimento em comércio e negociações. Por que não têm opinião sobre isso? Esta dinâmica não é justa estes personagens, que se limitam a comentar sobre casamentos, e piadas com pênis. Mas gosto de Varys. Comento sobre isso no final.
Jon e Daenerys podem ser imprudentes o quando for necessário, são jovens, cheios de ego e paixões, renasceram para estar aqui. Mas espera-se mais dos velhos sábios. Eles fizeram essa história acontecer.
É como se Tyrion tivesse desaprendido a calcular o jogo a partir do momento que passou a ser respeitado por alguém que ama. Dado o completo fracasso de seu governo na ausência de Daenerys em Meereen, e ainda assim ganhar o cargo de mais alta confiança da rainha, é notável que algo mudou dentro dele. Antes, Tyrion não tinha permissão de errar. E este constante estado de culpa e miséria o fazia desafiar a família que o esmagava, em um clássico caso de tortura emocional. Ele era bom, porque sua mente e língua eram as coisas que podia usar para se fazer presente. Apenas viver não era o suficiente.
Me pergunto se, nas batalhas que estão por vir, Tyrion poderia retornar ao estado de completa engenhosidade como fez em Água Negra.
Outro questão que o episódio levanta são variadas pessoas que agora são Winterfell. No começo a história, Winterfell basta em si. As pessoas que servem aos Starks são pessoas que sempre estiveram ali. Mikken, Luwin, Jory e Rodrik Cassell, Mordane. Mas agora vemos Tyrion, Sandor Clegane e Brienne de Tarth, que vieram do sul, para protegê-los. Winterfell agora é a casa de todos.
Dave Hill omite do texto o fato de Dany ter prometido ajudar Jon na guerra contra o Rei da Noite antes que ele dobrasse o joelho. Em sua conversa com Sansa, Jon não esclarece para a irmã com argumentos claros como Daenerys poderá ser uma boa rainha. Se esta é a mulher que ele ama, gosta e quer bem, e ele teve semanas ou meses de viagem para pensar no que dizer. Por que então as palavras parecem não fazer justiça à realidade? Daenerys arriscou sua vida e seus dragões, e perdeu um de seus filhos para salvá-lo. Apenas depois deste gesto, Jon resolveu dobrar o joelho.
Ambos personagens passaram por jornadas espirituais inimagináveis. Mas no episódio, seus diálogos foram muito simplificados. É como se não houvesse mais o que ser dito. Há tanto a ser dito.
O romance entre Daenerys Targaryen e Jon Snow está condenado, e isto é evidente. O mundo está acabando e suas interações são quase irresponsáveis. Pra mim está claro que algo terrível irá acontecer, e quando acontecer, ficaremos muito confusos ao perceber que não foi justo. Que queríamos tê-los juntos. Que queríamos vê-los felizes.
Mesmo que este seja o caso de duas pessoas muito jovens que estão apenas dançando nos portões do fim do mundo, gritando para o abismo, experimentando uma falsa liberdade juntos. Suas cenas sugerem que esta é a melhor experiência amorosa que já tiveram. Como qualquer tragédia shakespeariana, a ideia é a completa imprudência em detrimento da natureza do sentimento. Jon não sabe nada sobre Daenerys, e Daenerys não sabe nada sobre Jon. E eles não parecem interessados em descobrir. Tudo aqui é construído em diálogos jamais filmados e aqui temos mais uma história que não está sendo contada. Mas que muito provavelmente será sentida no final.
Daenerys não tem opinião alguma sobre Westeros, exceto sobre Pedra do Dragão não tê-la agradado, e o Norte ser belo. Todos ao redor de Jon acreditam que ele tem mais qualidades do que a filha da Aerys. E ela continue expandindo o mundo de Jon de maneiras que eles jamais imaginou, mesmo sendo uma das pessoas que mais tiveram coragem de desbravar o mundo.
Este é um episódio em que Jon Snow está cercado de afeto. Apesar dos confrontos com Sansa e os nobres, outros personagens distribuem generosos sentimentos. Jon acostumou-se a impôr o que pensa. Morreu por isso, afinal. Há algo nele que sabe que voltou à vida para que pudesse continuar a lutar. Gostaria muito de ver como esse tipo de pensamento ecoa dentro dele, como se vê após encarar o assustador vazio da morte, e onde sua relação com os velhos deuses se alinha dentro de todas essas questões. Quando ele olha para a árvore, o que pensa?
No vídeo especial para a HBO, David Benioff implica que apenas Targaryens podem montar dragões. Por qual motivo o produtor da série estabelece esse tipo de regra na história? Daenerys convida Jon a montar, logo, nem ela sabe desta regra. Dinastia, ancestralidade e legado são temas centrais em Game of Thrones, justamente porque estamos constantemente discutindo se o sangue de uma pessoa define seu valor. A série, desde o começo, nos convida a conversar sobre o que faz um bom líder. Jon Snow sempre foi este homem que excedia valores e humanidade, como nenhum outro, um governante corajoso e carismático. Então porque o produtor da série se apressa em consagrar o sangue de uma pessoa como o ingrediente que define quanto poderosa ela pode ser?
Nos livros de Martin, ao que tudo indica, você também precisa ter sangue valiriano para montar um dragão. No entanto, os horizontes dos livros são mais largos, e temos centenas de milhares de pessoas nas Cidades Livres que poderiam fazer fila para experimentar um, afinal, o império valiriano existiu ali. Em Westeros, muitas sementes de dragão criaram vínculos especiais com as mais belas criaturas.
Seu sangue define o que você é capaz de fazer no mundo? Sim. No caso de grande parte dos reis Targaryen, foi usado para perpetuar práticas de eugênia que justificavam o abuso de pessoas especialmente mulheres. Por que definir algo que é tão melhor quando é apenas um discurso?
No episódio 1.02 ‘The Kingsroad’, Ned promete a Jon que “da próxima vez que nos virmos, falaremos sobre sua mãe, eu prometo“. No episódio desta semana, Jon olha para a estátua de Ned nas criptas de Winterfell; Naquele momento, Sam chega para responder à pergunta de Jon.
Eu não acho que, para o personagem, a informação importante seja sua legitimidade como rei. A minha parte preferida da história é descobrir que ele foi gerado por Lyanna. Que era amado, esperado, como todos os outros Starks. E que seus pais eram lunáticos varridos. Esta é a essência de Jon. O segredo e os desdobramentos sobre a rebelião do Robert também são fascinantes, eu sei. A discussão sobre o trono não é, para mim, tão interessante agora.
Deixei Sam para último, porque acho que foi a cena que mais me deixou pensando durante a semana. A questão que mais me fascina é a sobreposição entre o que Sam sente em relação a família, e o que Cersei sente em relação a família. Enquanto Cersei invoca as armas de Joffrey e contrata Bronn para assassinar os irmãos, Sam se quebra quando a violência do mundo atinge aqueles que ele considerava mais fortes que ele.
Esta foi uma atuação muito interessante, mais uma sequência de pequenos súbitos de raiva que Sam demostra desde a temporada passada. Ele roubou a espada, os livros, deixou um sentimento de ódio genuíno florescer. Essa é uma das poucas partes da história que continuam germinando. Estou ansiosa para ver a atuação do personagens nestes derradeiros episódios.
Se, como muitos acreditam, ele será um dos escritores desta história, sua relação estranha com Daenerys demonstra os lados que inevitavelmente tomará, assim como Gyldayn, Yandel, e tantos outros. Interessantíssimo.
Eu jamais concordei com o ideário de jornalistas que colocam os episódios de estreia de Game of Thrones em caixas como “episódio que reordena os personagens no tabuleiro”. Que profunda preguiça disso. Mesmo quando se trata disso, acho esta descrição pouco sólida. Neste episódio, por exemplo, demos boas risadas, presenciamos várias hostilidades e escaramuças verbais bem merecidas, além de algumas revelações, encontros e reencontros que esperávamos há muitos anos. O episódio foi um literal desfile de pequenos prazeres, com um bom punhado de emoções, um bom susto e dramas pontuais temperados (alguns doces demais ou amargos demais).
No entanto, é possível perceber que, no conceito, muitos personagens voltaram para ao ponto zero neste último ato. Ninguém ouve Tyrion, e ele terá que se provar. Jaime tem que prestar contas pra um Stark, e ele odiará cada segundo. Daenerys precisa conquistar uma população inteira e provar seu valor. Sansa é soberba sim, mas foi ensinada pela vida a garantir o que lhe é de direito, e lutará por isso. Arya se sente mais a vontade entre o povo do que em trajes finos na mesa de jantar. Clegane é arrogante e uma triste figura, que perambula em busca de servir por servir. Davos é um agregado. Cersei esconde um segredo sobre um filho.
A melhor fala do episódio é a declaração de Varys de que os jovens usam o “respeito” como um mecanismo para manter os mais velhos afastados, “para que não os lembremos de uma verdade desagradável: nada dura“. É uma ótima frase, é talvez a melhor fala escrita para o episódio. Não concordo com ela, e gosto da provocação. As coisas duram sim, caro Aranha. Olha como os filhos da Casa Stark estão dando continuidade ao legado dos pais. Esta é uma casa que sobreviveu a tanta coisa. Como disse Meistre Aemon:
O fogo consome, mas o frio preserva.
(O Festim dos Corvos, capítulo 26)
NOTAS FINAIS
– E mais dos principais callbacks do episódio, aqui.
– É muito interessante comparar Daenerys sendo vendida e Daenerys escolhendo como viver sua vida. Recomendo.
– Também é interessante comparar Arya e sua relação com dragões.
– Richard Dormer revelou que Beric Dondarrion profere um feitiço para sua espada antes de acendê-la. É um termo em alto valiriano, para “luz do senhor“. Escreve-se “āeksiō ōños,” e pronuncia-se “assundeh-oh.”
– Compare as localidades das cenas de abertura, antes e depois.
– Perceberam o homem preparando uma espécie de pasta de vidro de dragão?
A obsidiana do nosso mundo não se comporta como a obsidiana de Game of Thrones, e, possivelmente, e nem com a de As Crônicas de Gelo e Fogo. Não há informações sobre os Primeiros Homens utilizares armas feitas de vidro de dragão, apenas o bronze. Isso porque o material usado pelas Crianças da Floresta não é tão maleável, e provavelmente por isso, apenas adagas rústicas são conhecidas na história dos livros. Mas… é magia!
– Eu não só acho que o figurino da Daenerys é uma homenagem as árvores-coração, como também nos faz recordar de ilustrações da personagem Val, dos livros.
– Uma fala foi cortada da cena do vôo dos dragões, mas pode ser ouvida no episódio “Game Revealed” dos bastidores deste episódio. Após Jon desmontar de Rhaegal e dizer “Você arruinou completamente os cavalos para mim“, ele originalmente fala “parecia que ele sabia onde eu queria ir“. A fala cortada deixaria óbvio que Jon tem algum tipo de vínculo especial com o dragão.
– George Lucas visitou os estúdios de filmagens na cena em que Daenerys e Jon conversam no pátio antes da cena do vôo:
– Há um erro de continuidade quando Daenerys está chegando em Winterfell: entre diferentes cenas (aparentemente filmadas em dias diferentes), seu cabelo muda entre ter uma trança dupla em volta de sua cabeça e um coque mais complexo:
– Na cena do resgate de Yara, três dos homens derrubados por Theon são conhecidos da audiência. Um é Rob McElhenney de It’s Always Sunny in Philadelphia. O outro é o comediante Martin Starr. E o último é Dave Hill, roteirista do episódio.
Faltou algum detalhe no texto? Sabemos que vocês são sempre afiadíssimos. Divida com a gente nos comentários suas impressões.
E escute nosso podcast sobre o episódio.