Demorou, mas saiu. Peço desculpas pelo atraso, mas como o texto tá bem grandinho, acho que não preciso explicar o motivo. Prepare os cavalos (mesmo que você só tenha um) e vamos passear pelas cenas de “The House of Black and White”. Espero que gostem do passeio.
O segundo episódio da quinta temporada de Game of Thrones, dirigido por Michael Slovis e escrito por David Benioff e D. B. Weiss, adaptou os capítulos Arya I (O Festim dos Corvos, pág. 81), O Capitão dos Guardas (OFdC, pág. 32), Cersei IV (OFdC) e Tyrion II (A Dança dos Dragões, pág. 68), com referências a Jon XI e XII (A Tormenta de Espadas) e Cersei II (OFdC, pág. 91).
BRAVOS
“The House of Black and White” foi, no geral, um pouco mais substancial do que a estreia. Embora nenhum rei tenha morrido queimado, o único arco com ar mais “introdutório” mesmo foi o de Arya, que vimos pela última vez nos minutos finais da quarta temporada. Esses novos ares vieram justamente de Bravos, que conhecemos brevemente quando Stannis fez uma visita ao Banco de Ferro em “The Laws of Gods and Men“.
Nos livros, Bravos é descrita como uma cidade multicultural e politeísta, com centenas de pequenas ilhas ligadas por canais e pontes e cheiro de peixe. Acho que a HBO fez um trabalho bem apurado ao traduzir esses aspectos esteticamente. É claro que, nas páginas, as explicações de Denyo – um dos filhos do capitão Ternesio Terys, tornam tudo ainda mais fascinante. Mas suponho que incluir isso em um episódio de cinquenta minutos talvez seja um pouco demais.
Os efeitos especiais aqui foram um show à parte, assim como a experiência de Michael Slovis em direção de fotografia, que parece ter feito diferença. Muitos leitores costumam ligar Bravos à Veneza, mas alguns acreditam que a série tenha se inspirado mais em Amsterdã. De uma forma ou de outra,Sibenik, na Croácia, foi a escolha certa para retratar a maior e mais poderosa das Cidades Livres.
Algo que realmente fez falta foi o fato de que, no Festim dos Corvos, a tripulação do Filha do Titã tratava Arya (ou “Salgada”, como eles a chamavam) extremamente bem, e todos viviam repetindo seus nomes para que ela se lembrasse. É claro que faziam isso por medo, pois sabiam que a menina estava ali para servir ao Deus de Muitas Faces. E ser amigo de um assassino nunca é um mau negócio, certo? A própria Arya que o diga.
Ah, e diferente do que vimos na série, no texto original, Arya é meio que esperada na Casa do Preto e Branco, tanto que as portas se abrem sozinha quando ela chega.
O único trecho que evidencia um pouco do medo que os bravosianos sentem dos Homens sem Rosto (e com razão) é aquele em que os garotos de rua fogem com a chegada do Homem Gentil – que na série nem é tão gentil assim. Pelo menos não até se transformar em Jaqen.
Nós sabemos que, depois de A Fúria dos Reis, o Jaqen H’ghar desaparece dos livros. Teorias apontam que o assassino um dia conhecido por esse nome (e por esse rosto) estaria “jogando seus jogos” na Cidadela, e até ter dado uma passada pelas Ilhas de Ferro. No entanto, acrescentá-lo como guia para Arya nessa nova fase foi uma escolha bem inteligente dos produtores. Vale ressaltar que Arya sempre teve bons professores e, apesar de nunca ter visto outros trabalhos do Tom Wlaschiha, acho que “um homem” manda muito bem neste papel.
Myles McNutt, do A. V. Club, escreveu algo bem interessante a respeito de “The House of Black and White.” Para ele, o tema central do episódio foram os conflitos de identidade. Primeiro, vimos Brienne ter seu título de “cumpridora de promessas” questionado por Sansa, Mindinho e até por ela mesma, além de Tyrion e Varys tentando compreender a relação deles com o poder, Daenerys tendo que sacrificar um de seus (poucos) aliados e Jaime arriscando a vida pelo “legado”.
É claro que o tópico também pode ser relacionado aos Homens Sem Rosto, que podem assumir várias identidades e mesmo assim preferem ser chamados de “ninguém”. É isso que o Homem Gentil propõe à Arya, tanto nos livros quanto na série: que ela se torne ninguém… Logo ela, que já teve tantos nomes.
E por falar em nomes, perceberam que a oração da Arya foi inexplicavelmente reduzida? Nomes como o de Melisandre (que a garota nunca chegou a encontrar nos livros) e de Tywin foram simplesmente ignorados. A meio mundo de distância, como ela poderia saber que o Senhor de Rochedo Casterly está morto? Ainda assim, o nome do Meryn Trant, que matou o mestre de dança Syrio Forel em “The Pointy End“, foi mantido. Por que será?
NO VALE
Em “The Wars to Come”, quando vimos a carruagem de Sansa passar por Brienne e Podrick na estrada bateu um certo medo. Afinal, Brienne e Podrick passam O Festim dos Corvos inteiro procurando pelas garotas Starks sem nunca encontrar nenhuma delas, enquanto Alayne fica o livro inteiro escondida no Ninho da Águia.
Tudo bem, talvez esse fosse só mais um daqueles “quase-encontros” típicos de Game of Thrones que nunca chegam a acontecer (vide Bran e Jon na quarta temporada, ou Arya, Robb e Catelyn, na terceira). Mas aconteceu.
É meio engraçado o fato de que, na série, Brienne não só encontrou as duas filhas de Catelyn, como também foi rejeitada por ambas. O que também é muito triste se você pensar que Brienne tem todo um histórico de rejeições na vida dela.
Nesse diálogo com Petyr, Sansa parece muito mais segura do que naquele que tivemos semana passada…. Ou talvez tenha sido a cerveja. Importante destacar a tal proposta de casamento, que provavelmente não tem relação com Harry, o Herdeiro, já que a doença do menino Robert não foi devidamente apresentada na série e, pra falar a verdade, eu duvido que Lorde Arryn volte a aparecer depois de ter sido deixado aos cuidados de Bronze Yohn Royce.
Embora o encontro das duas tenha sido meio inesperado, o resultado dele não foi nada surpreendente. Por que diabos Sansa aceitaria os serviços de alguém que carrega uma espada de ouro Lannister? Espada que, por sinal, é a própria Gelo de Ned Stark reforjada.
E vamos combinar que o currículo de Brienne também não ajuda muito… É claro que Mindinho não poderia deixar uma suposta serva dos Lannisters sair dali numa boa.
Depois da breve porém alucinante cena de perseguição e batalha onde vimos soldados do Vale serem massacrados pela lâmina de aço valiriano, Podrick sugere que Brienne está livre de seus votos, mas ela se recusa a ouvi-lo, com a desculpa de que Sansa não está segura nas mãos do Protetor do Vale, quando nós sabemos que, na real, isso tem mais a ver com a narrativa do que com a personagem em si. Ela não tem muito o que fazer nessa temporada. Na série não veremos Senhora Coração de Pedra, a Irmandade Sem Bandeiras, Hyle Hunt, Randyll Tarly ou Septão Meribald… Então o que ela e Pod fariam sem essa missão? É quase como se eles não tivessem escolha. Mas como a própria Sansa lembrou minutos antes, existe uma escolha.
Talvez Brienne só precise de alguém que diga “you have everywhere else to go.”
NA MURALHA
Verdade seja dita, Kit Harington está longe de ser um bom ator como Liam Cunningham, Stephen Dillane, Carice van Houten ou Ciáran Hinds. Mas ele é um bom Jon Snow – ou ao menos se esforça para isso. Eu não tenho certeza se gostaria de vê-lo como Jon Stark.
No livro, Stannis ainda exige que Jon queime o bosque sagrado em Winterfell para se tornar o Protetor do Norte. É o retorno de Fantasma, separado dele desde a escalada da Muralha, que convence o bastardo a recusar a oferta, pois os olhos e pelos do lobo lembram uma árvore-coração e, consequentemente, os Deuses Antigos de Eddard Stark. Na adaptação, é a honra do pai que torna Snow incapaz de quebrar seus votos.
A interação de Shireen e Gilly foi algo bacana de ver. Nos livros, as duas não chegam a se encontrar, já que a selvagem e Sam “fogem” de Castelo Negro com o filho de Mance Rayder. Mas mesmo que não fosse o caso, dificilmente veríamos Goiva se aproximar da princesa já que os selvagens cultivam um certo medo dos “amaldiçoados” que sobreviveram à chamada “morte cinza”, que para eles, pode voltar a qualquer momento… É meio estranho que a Gilly saiba tão pouco sobre a doença na série.
Vejam um trecho interessante do capítulo 53 de “A Dança do Dragões” (Jon XI):
Uma vez do lado de fora e bem distante dos homens da rainha, Val deu vazão à sua ira.– Você mentiu sobre a barba dela. Aquela uma tem mais pelos na cara do que eu tenho entre as pernas. E a filha … o rosto dela …– Escamagris.– A morte cinza é como chamamos isso.– Nem sempre é mortal em crianças.– Ao norte da Muralha é. Cicuta é uma cura certa, mas um travesseiro ou uma lâmina também servem. Se eu tivesse dado à luz aquela pobre criança, teria lhe dado o presente da misericórdia há muito tempo.Aquela era uma Val que Jon nunca vira antes.– A Princesa Shireen é a única filha da rainha.– Uma pena para ambas. A criança não está limpa.– Se Stannis vencer sua guerra, Shireen será a herdeira do Trono de Ferro.– Então, uma pena para seus Sete Reinos.– Os meistres dizem que o escamagris não é…– Os meistres podem acreditar no que quiserem. Pergunte para uma feiticeira da floresta se quer saber a verdade. A morte cinza dorme, apenas para despertar novamente. A criança não está limpa!– Ela parece uma garota doce. Você não pode saber…– Posso. Você não sabe nada, Jon Snow. – Val segurou o braço dele. – Quero o monstro fora de lá. Ele e suas amas de leite. Você não pode deixá-lo na mesma torre que a menina morta.Jon tirou a mão dela.– Ela não está morta.– Está. A mãe dela não consegue ver. Nem você, pelo que parece. Mesmo assim a morte está ali. – Afastou-se dele, parou e virou-se novamente. – Trouxe Tormund Terror dos Gigantes para você. Traga-me meu monstro.– Se eu puder, trarei.– Você trará. Tem uma dívida comigo, Jon Snow.Jon observou-a ir embora. Ela está errada. Tem que estar errada. Escamagris não é tão mortal quanto afirma, não em crianças.
Tara Fitzgerald é outra que merece aplausos por conseguir interpretar tão bem uma personagem detestável como Selyse. E a última resposta que ela deu à Shireen? Será que foi mesmo uma indireta aos leitores dos livros que não fazem ideia do que os personagens andam fazendo na série? Até agora não tivemos nenhuma indicação de que Samwell irá para Vilavelha ou de que Davos irá para Porto Branco, por exemplo.
As coisas mais fielmente retiradas de O Festim dos Corvos aqui foram a carta de Lyanna Mormont e a menção à Osric Stark, Senhor Comandante nomeado aos 10 anos de idade que serviu por sessenta. Claramente, isso serviu para mostrar que Sam já planejava apontar Jon como candidato na votação que viria.
Apesar de bem condensada, a cena da eleição conseguiu ser satisfatória. Na Tormenta de Espadas, Sam e Aemon armam uma verdadeira conspiração para fazer de Snow o 998º Senhor Comandante da Patrulha. Aqui, o Matador só precisou dizer algumas boas verdades sobre o amigo (e sobre Janos), enquanto o meistre ficou responsável pelo voto de minerva – uma boa maneira de honrar o trabalho que ambos tiveram no livro.
Sinceramente, eu não sei se uma grande manipulação dos votos seria necessária nesse contexto. Na série, até mais do que na obra original, Jon já é o único líder com quem os patrulheiros poderão contar na noite mais escura.
NAS TERRAS DA COROA
Quando recebe a ameaça de Dorne – uma víbora vermelha com a efígie dourada do leão em suas presas, Cersei afirma que só existem duas joias iguais àquela. Acontece que isso não é bem verdade… Na primeira temporada, o galante príncipe Joffrey presenteou Sansa com um colar que, se não igual, era muito parecido. Até a finada Ros tinha um daquele tipo. Foi um presente do Tyrion e, inclusive, resultou na surra que ela tomou no lugar de Shae (e de Alayaya).
Por causa disso, pessoas acreditam que Mindinho possa ter enviado o colar de Sansa para fomentar a guerra entre os Lannisters e Dorne, o que seria bem interessante. Mas eu duvido muito da capacidade de planejamento dos produtores, e até do próprio Mindinho (que, na série, é bem menos calculista em relação a sua contraparte) para acreditar nesse tipo de suposição. O mais provável é que os colares não sejam idênticos de fato, ou que seja um erro de continuidade da adaptação… Não seria o primeiro.
Enquanto no Festim Jaime parte para uma missão nas Terras do Rio a mando de Cersei, nesse episódio vimos que ele irá, por conta própria, resgatar Myrcella do ninho de víboras. Essa decisão, além de minar a pouca autoridade que a rainha possui na série (já que seu filho tem idade suficiente para reinar, embora ela diga que não), ainda transforma Jaime no pai presente que ele nunca foi.
Acho que não preciso falar muito sobre como este plano tem tudo pra dar errado. Como ele planeja chegar aos Jardins de Água e raptar a futura esposa do herdeiro Martell sem ser reconhecido? Com aquela mão de ouro, vai ser difícil se passar por Arys Oakheart.
O lado positivo é que teremos mais Bronn da Água Negra, que nessa altura dos livros é apenas mencionado em alguns capítulos. A parceria de Jerome Flynn com Nikolaj fuciona tão bem quanto seu dueto com Peter Dinklage. Como personagem, Bronn também é muito mais interessante que sor Illyn Payne, né? Embora o Jaime dos livros tenha tido suas razões para levar um mudo a Correrrio ao invés de um dos caras mais falantes dos Sete Reinos.
Na verdade, existem três coisas que a adaptação fez muito bem nessa passagem:
A pequena disputa das irmãs pela herança da mãe também está presente no Festim dos Corvos, embora de outra maneira. Lá, Cersei usa Falyse e seu marido, Balman Byrch, para se livrar de Bronn – considerado traidor por ter dado o nome de Tyrion ao enteado, tudo para afrontar a rainha depois de ela ter recusado que o bebê fosse batizado em homenagem a Tywin. Mas sor Balman acaba sendo morto pelo mercenário em um duelo e Falyse é mandada para as celas negras onde acaba morrendo, vítima dos experimentos de Qyburn.
Coisas ruins acontecem a pessoas ruins.
A reunião do Conselho foi um dos pontos mais altos de “The House of Black and White.” O jeito como Kevan enfrentou a sombrinha foi espetacular. Mas e aquele papo de que ele pretende voltar para o Rochedo? Seria um indicativo de que nós não veremos o epílogo de A Dança dos Dragões ser adaptado na tela?
Mesmo servindo como uma espécie de alívio cômico, Julian Glover ainda consegue brilhar como Pycelle, especialmente nos embates com Qyburn, que fica mais sinistro a cada episódio. Nos livros, ele não pede a cabeça do anão. Será que na série ele pretende enviá-la a Dorne para enganar o príncipe Doran? Sem a pele, vai ser meio difícil provar que o crânio não pertence ao Montanha, a não ser, talvez, pelo tamanho.
Mace Tyrell é outro personagem que teve seus atributos reduzidos em prol de um esteriótipo. Aliás, todos os homens da Casa Tyrell – que, nos livros, já tem um papel bem inferior ao das mulheres – sofreram com isso na série. Sem falar em Wyllas e Garlan, que sequer existem.
Nos livros, os conselheiros de Tommen são Orton Merryweather, Aurane Waters e o sogro de Kevan, sor Harys Swyft (que Cersei nomeia como Mão do Rei a fim de manter o tio na linha) além dos meistres Pycelle e Qyburn, que ela realmente nomeia como Mestre dos Sussurros. É claro que a maioria deles seria limada da série de TV, assim como Taena, seu “pântano de Myr”, e os irmãos Kettleblack. Tudo para que a Rainha-Mãe se sinta mais sozinha.
AS FAR SOUTH AS SOUTH GOES…
Nos livros, Ellaria Sand é como um eco de Doran Martell. Ela teme por suas filhas pequenas, que podem querer seguir os passos das irmãs mais velhas, e acredita que vingança só trará mais violência desnecessária, já que Tywin, Amory Lorch e Gregor Clegane (os responsáveis diretos pelas mortes de Elia, Rhaenys e “Aegon”) estão mortos. Na adaptação, ela é justamente o oposto.
Elio Garcia, do Westeros.org, comparou esse caso com o de Catelyn, que na série parecia bem mais vingativa do que era nos livros – o que foi uma comparação meio furada se levarmos em conta que, depois de tudo, Cat se transforma na própria vingança encarnada.
Embora tenha sido uma escolha lamentável, eu consigo entender o motivo que levou os produtores a substituírem a princesa “fazedora de rainhas” pela bastarda de Toca do Inferno.
O que não deu para entender muito bem é por que raios Ellaria não só assumiu o lugar de Arianne como também o de suas primas, que estarão presentes na série, e poderiam ter sido introduzidas com um pouco mais de louvor na cena em questão.
Em O Festim dos Corvos, é Obara que invade os Jardins de Água exigindo uma atitude do tio, enquanto ele ainda segura nas mãos a carta com a notícia da morte de Oberyn e Ellaria está a caminho de Dorne com os restos mortais do príncipe. Inclusive, a maioria das falas dadas a ela no episódio são, basicamente, as mesmas escritas pelo Martin, o que talvez explique a fluidez do diálogo entre ela e o Doran – interpretado pelo ótimo Alexander Siddig.
No capítulo O Capitão dos Guardas (primeiro P.O.V. de Areo Hotah), Doran deixa os Jardins de Água em direção a Lançassolar, encontrando as outras duas bastardas do irmão, que também exigem um posicionamento dele a respeito da morte de Oberyn. Na série, pelo que vimos nos previews, parece que Dorne se resumirá àquele palácio.
Falando nisso, só eu tive a impressão de que tudo naquele cenário parecia meio… cru? Como locação, o Alcázar de Sevilha foi, sem sombra de dúvidas, a escolha perfeita, mas ver Myrcella e Trystane caminhando sozinhos no meio das cercas vivas, ao lado de dois figurantes com roupas exatamente iguais às do príncipe não foi tão empolgante.
Nos livros, os Jardins de Água são encantadores, com crianças nobres e de baixo nascimento brincando nas piscinas naturais, laranjas sanguíneas e etc. Na TV, tudo parecia uma versão dornesa dos jardins de King’s Landing. É claro que nada pode se comparar à imaginação do escritor e de seus leitores, ainda mais quando existem questões orçamentárias. Mas acho que faltou um pouco de pós-produção ou até efeitos especiais ali, algo que eles andam esbanjando, às vezes desnecessariamente, em outros núcleos da série.
Outro elemento que vale ser mencionado é a trilha sonora composta por Ramin Djawadi para os Martell, que pôde ser escutada em algumas cenas de Oberyn na quarta temporada, mas frequentemente passa despercebida aos ouvidos dos telespectadores.
Na quarta temporada (mais precisamente em “First of His Name”), também ouvimos Oberyn garantir para Cersei que Myrcella estaria segura nos Jardins de Água. “Não machucamos garotinhas em Dorne”, ele disse, e nesse episódio Doran endossa a afirmação.
No livro, nem Arianne dá voz ao desejo de matar Myrcella, preferindo coroá-la para desafiar os Lannisters. O único que deixa sua natureza assassina bem expressa é Gerold Dayne, o Estrela Negra – tanto que, no final, nós sabemos o que ele faz com a princesa.
“(…) Sor Gerold puxou a espada, que cintilou à luz das estrelas, afiada como mentiras. – É com isto que se começa uma guerra. Não com uma coroa de ouro, mas com uma lâmina de aço.”
É meio irônico que Ellaria esteja tão ávida para desmembrar a menina e enviá-la em pedacinhos para a mãe. Isso só reflete a pretensão dos produtores de transformá-la na própria cabeça da serpente.
Parece que Cersei estava certa naquela ocasião, quando disse a Oberyn que no mundo todo, garotinhas são machucadas.
VOLANTIS
Em A Dança dos Dragões, Tyrion viaja com Illyrio no lugar de Varys, enquanto na série o magíster foi apenas mencionado. Mas cá entre nós, o anão e o eunuco formam uma dupla muito mais interessante. Novamente eles entregaram um dos momentos mais prazerosos do episódio, filosofando dentro de uma caixa um pouco maior. Eu só não tenho certeza se esse diálogo precisava mesmo ter turado todo aquele tempo, mas é nítido que Peter Dinklage e Conleth Hill estão se divertindo com essa versão bêbada e auto-destrutiva do Duende. Nós também estamos.
O destaque dado ao escamagris na cena de Shireen me deu uma pequena esperança de que talvez eles mostrem os Homens de Pedra, nem que seja de longe. Mesmo que Tyrion não esteja indo encontrar Griff, ele está indo para Meereen, o que significa que em algum momento da viagem ele precisará de um barco para atravessar Os Sofrimentos, certo? Seja com Varys, Jorah ou qualquer outra pessoa.
MEEREEN
Sabemos que Daario não é o melhor partido da série. E não é nem de longe tão bonito quanto o Daario dos livros. Então, para justificar a paixão de Daenerys, é natural que os roteiristas adotem certo de exagero, a fim de torná-lo interessante aos olhos de Dany e do público. É por isso que ele conquistou Yunkai quase sozinho na terceira temporada; derrotou o campeão de Meereen com um único golpe na quarta e, agora, pode até enxergar através das paredes.
Talvez o que Daenerys ache atrativo nele sejam as famosas frases de efeito. Nisso, parece que os dois combinam bastante.
Demoraram cinco temporadas para que Dany descobrisse a verdade a respeito do pai, mas mesmo assim a revelação serviu seu propósito já que, com ela, Barristan conseguiu frear a sede de fogo e sangue da rainha, convencendo ela a julgar o Filho da Harpia antes da execução. Infelizmente as coisas não saíram como o planejado, já que Mossador – um dos escravos que ajudou Daenerys a conquistar Meereen na quarta temporada (e que, nos livros, é irmão da Missandei), assassinou o condenado a sangue frio e exibiu seu corpo em praça pública, o que resultou em um dos quadros mais fortes da série.
A cena da execução de Mossador rimou bastante com aquela da terceira temporada, onde vimos Robb decapitar Lorde Rickard Karstark depois de ele ter matado dois jovens prisioneiros. Lannisters. Mas é claro que, no caso de Robb, o homem que sentencia, deve brandir a espada.
Além dos escravos, muitos fãs também jogaram pedras na Daenerys depois do que ela fez com Mossador. Executa-lo daquela maneira pode não ter sido a atitude mais inteligente. Mas foi a atitude certa? Bom, tirar a vida de alguém que não te pertence, desobedecendo uma ordem direta da rainha parece traição para mim, não importando se o traidor é um membro do conselho ou um amigo. Se Dany é mesmo defensora da justiça como ela clama, foi justo punir o escravo da mesma maneira que puniria qualquer um dos antigos mestres. A lei é a lei.
Além disso, existe aquele papo de que é melhor ser temido (e respeitado) do que ser amado. Maquiavel poderia concordar, embora, no momento, Daenerys não pareça tão amada, respeitada, ou muito menos temida pelos seus súditos.
Vale lembrar que, no Dança, além dos Filhos da Harpia, a mãe dos dragões também enfrenta ameaças externas, como a praga e a guerra contra Astapor e Yunkai. Mas todos os acontecimentos específicos da série parecem apontar, de forma insistente, para o quanto Daenerys necessita de bons conselheiros em seu atual (e futuro) governo – o que pode até ser verdade nos livros, só que não de maneira tão escancarada.
E quem foi que, curiosamente, teve seu mandato como Mão do Rei elogiado neste mesmo episódio? Tyrion.
Graças às imagens das gravações que vazaram há algum tempo nós sabemos que os destinos destes dois personagens se cruzarão nessa temporada (algo que também ainda não lemos nas Crônicas).
Pode ser que, talvez, de uma forma ou de outra, o Drogon também saiba do que a mãe precisa. Afinal, quem viu o trailer sabe para onde o dragão voou naquela última cena.
A maioria das imagens que ilustram esta crítica foram retiradas daqui e daqui.