O texto um pouco atrasado abaixo analisa os dois últimos episódios lançados de Game of Thrones – A Telltale Game Series, “Sons of Winter” (Filhos do Inverno) e “A Nest of Vipers” (Um Ninho de Víboras). Se você ainda não jogou, tome cuidado com os SPOILERS. Você foi avisado.
GARED TUTLE
Depois do épico confronto entre Gared e Britt no topo da Muralha, a única opção do nosso pig farmer foi desertar para evitar a execução. Em comparação aos acontecimentos marcantes do terceiro episódio, a fuga de Tuttle e seus companheiros não foi nada excitante, assim como as aventuras deles no outro lado da Muralha. Sim, tivemos algumas lutas e pudemos conhecer um pouco mais da cultura do povo livre (esposas de lança e a questão dos nomes dos bebês não foram exploradas nem na série de TV), mas, para o arco principal da história… esse núcleo simplesmente não adiantou muito, até agora.
Em “A Nest of Vipers” então, tudo que ele faz é sentar, debater, caçar e esperar o ataque (nem tão) surpresa das esposas de lança, que foram transformadas em wights. A morte de Finn foi lamentável, mas não a ponto de ser considerada um evento relevante, já que não tivemos oportunidade de conhecer o personagem muito bem (e ele provavelmente teria morrido de qualquer maneira, se deixado para em Castelo Negro, para ser executado por Frostfinger).
A irmã de Cotter sim parece uma personagem interessante. Por ter nascido albina, ela recebeu o apelido de Little Moon até os dois anos, bem como o desprezo de toda a sua tribo, o que a torna uma figura ainda mais cativante. Sylvi talvez seja o único motivo pelo qual eu continuo interessado nessa storyline… bem, ela e o segredo escondido em North Grove, que parece ter sido propositalmente (e infelizmente) empurrado para o último episódio.
MIRA FORRESTER
Desde o início o arco de Mira na capital foi, sem sombra de dúvidas, um dos mais envolventes. Não pelas cenas de ação e sequências de botões, mas pelos ricos diálogos e tramas envolvendo personagens da série como Tyrion, Margaery e Cersei. No entanto, nesses dois últimos episódios, o plot perdeu o ritmo de tal maneira que nem essas figuras conhecidas conseguiram salvar.
Jogar durante o banquete de coroação de Tommen foi interessante, especialmente por ter revelado um lado mais imoral da personagem que, inicialmente, parecia a mais frágil. Pena que isso só nos levou à revelação pouco surpreendente de que Andros estava contratando mercenários para lutarem pelos Whitehills, e foi a única participação de Mira em “Sons of Winter”.
Em “A Nest of Vipers”, tudo que a handmaiden conseguiu foi perder de vez o apoio de Margaery e até o de sua antiga cúmplice, Sera. Além disso, não tivemos sinal de Tom (que ainda suspeito ser uma dos passarinhos de Varys)… só um tremendo rolo entre Tyrion e Cersei.
Aqueles que jogaram outros títulos da Telltale sabem que suas histórias são praticamente lineares, e que variam muito pouco com as escolhas do jogador (são raros os casos em que as escolhas fazem uma diferença realmente notável, a cena final do episódio 5 foi um exemplo disso), mas que dessa vez eles conseguiram se superar. As únicas duas alternativas que nos deram na hora do confronto com Tyrion nas celas negras foram: 1) contar a verdade sobre o plano de Cersei e parecer idiota ou 2) mentir e parecer idiota. Tudo isso pra mostrar como o Duende consegue fazer qualquer um de idiota – inclusive nós, jogadores.
ASHER FORRESTER
Em “The Sword in the Darkness”, a saga de Asher para conseguir seu exército de mercenários e salvar Ironrath o levou a um encontro com Daenerys. No entanto, apesar da forte atuação de Emilia Clarke, a personagem parece um pouco descaracterizada no jogo. Por algum motivo, em todos os diálogos com Asher, a khaleesi soa mais como uma antagonista do que com a paladina da justiça que vemos na série. É claro que sabemos como Dany pode ser severa (lembram de como ela queimou os nobres mestres e deu de comer aos dragões em “Kill the Boy”), mas tratar potenciais aliados da maneira como ela tratou Asher não faz muito sentido, embora o aliado em questão seja suspeito de ter atacado seu dragão.
Colocando tudo isso de lado, o arco de Asher em “Sons of Winter” é digno de nota principalmente por ter focado a história de Beskha, que sem sombra de dúvidas é um dos melhores personagens secundários do jogo (senão a melhor). Embora a razão pela qual ela não queria voltar a Meereen seja bastante óbvia, a história do seu passado foi contada de maneira cuidadosa e dramática, e o encerramento dela depende da escolha do jogador. É claro que eu deixei minha “irmã” fazer tudo o que ela queria com seu antigo mestre. Apesar da objeção de Daenerys, isso era o mínimo que eu podia fazer pra compensar Beshka pela queimadura que ela adquiriu quando eu escolhi salvar Tio Malcolm da fúria de Drogon.
Em “A Nest of Vipers”, as cenas de Asher foram as únicas que conseguiram manter o ritmo dos demais episódios. Tendo ajudado Dany a libertar Meereen no ótimo seguimento final do episódio anterior, o filho pródigo dos Forresters finalmente teve oportunidade de conquistar seu exército – embora, graças à rabugência da rainha (que continua a agir como uma megera, mesmo se você fizer tudo como ela pediu), esse exército seja pequeno e deveras… inconvencional. A sequência de luta na arena foi incrível, e os diálogos provenientes das interações com coadjuvantes bem escritos como os ex-escravos Bloodsong (que pode ser morto pelo jogador) e Amaya, que prometem tornar o sexto episódio bem interessante.
RODRIK FORRESTER
Desde “Iron From Ice”, os eventos mais memoráveis do game aconteceram no Norte, especialmente em Ironrath, que é o centro de tudo, e onde o jogador teve oportunidade de fazer escolhas significativas, primeiro como o inexperiente Lorde Ethan e depois como o quebrado Rodrik Forrester, que apesar de ter sido preparado para assumir esse papel desde o nascimento, teve que enfrentar os invasores de Gryff Whitehill, as ameaças de Ludd, um traidor agindo secretamente dentro de suas muralhas além de suas próprias limitações. “Sons of Winter” foi o primeiro episódio que, inicialmente, trouxe a ilusão de uma possível vitória para os Forresters.
Primeiro, Rodrik ganhou o apoio de Arthur Glenmore e sua legião de arqueiros para lidar com Gryff e seu contingente. A cena em si foi bem poderosa, com os soldados Glenmore invadindo o salão principal ao som da bengala de Rodrik. Dar uma surra em Gryff era tudo que eu queria desde que ele deu as caras em Ironrath, uma pena que isso não tenha significado nada no fim, já que em “A Nest of Vipers” Gryff é libertado pelo traidor e faz o que faz. Mas vamos falar disso daqui a pouco. O encontro entre em Highpoint também soou como vitória quando Rodrik consegue passar por cima do blefe de Ludd e marcar uma troca de prisioneiros. Por falar em Highpoint: a Telltale tem se esforçado bastante para que os lugares criados exclusivamente para o jogo realmente pareçam saídos das Crônicas de Gelo e Fogo. Com a sede dos Whitehill, o estúdio ganhou mais um ponto positivo pela ambientação. Pena que no retorno a Ironrath, Rodrik tenha encontrado o pior de seus pesadelos, que liquidou toda e qualquer esperança de um final feliz: Ramsay.
Como Ramsay consegue capturar Quiver mesmo que Rodrik tenha decidido levar ele e seus soldados para Highpoint é um mistério. Talvez Arthur tenha decidido ficar com a irmã em Ironrath e a Telltale esqueceu de nos avisar, mas é provável que tenha sido mesmo um grande furo no roteiro. A não ser que Ramsay tenha recebido ajuda de seu amigo Ser Twenty da Casa Goodmen – o que explicaria todas as suas manobras. Enfim, “A Nest of Vipers” começou com um soco no estômago (e terminou com uma facada no coração), mostrando Rodrik passar por mais uma série de humilhações que, nesse caso, pareceram ainda mais injustas já que Ramsay tem a poderosa vantagem de ser um personagem original de Game of Thrones, o que significa que nós não podemos fazer nada com ele, quem dirá matá-lo (ainda assim, eu simplesmente tive que tentar).
O momento romântico com Elaena pareceu um pouco fora de contexto, considerando a morte de Arthur e toda a situação, mas claramente serviu como a despedida do casal antes do fatídico encontro no Porto, de onde Rodrik só voltará se o jogador quiser. A revelação do traidor também deixou um pouco a desejar, começando pela exigência de Talia. “Oh, claro. Prometo matar essa pessoa, mesmo sem saber quem ela é ou por que motivos resolveu trair a própria Casa”… Sim, eu fiz a promessa. Não é legal magoar Talia, mas forçar a barra também não é, Telltale.
No fim, a identidade do vira-casacas não foi nenhuma surpresa. Se Rodrik constantemente enfrentou os Whitehills durante seu “mandato” de quatro episódios, Duncan será o espião, mas se Rodrik decidiu usar diplomacia na maioria das vezes, Royland o trairá por sua “covardia”. Em todo caso, eu decidi cumprir meu dever e matar Duncan depois de ouvir umas (meia) verdades, e fiquei feliz com essa escolha já que deixar ele vivo de nada serve para livrar os Forresters de seu destino.
O FINAL
O encerramento de “A Nest of Vipers” foi verdadeiramente digno de um produto das obras de George R. R. Martin. Era meio esperado que quando os arcos de Asher e Rodrik convergessem, alguma coisa os separaria, já que os dois são personagens jogáveis. Mas ninguém achou que seria tão rápido – e pior – ninguém esperava ter que escolher entre os dois. Sim, a Telltale finalmente nos deu a chance de fazer uma escolha de impacto… e que impacto.
Por mais que seja interessante a perspectiva de ver Rodrik liderando o “exército” de Asher, e por mais que Rodrik fosse meu personagem preferido da série, achei melhor deixá-lo no meio do ninho de víboras. Como Duncan apontou, Rodrik era um homem quebrado, que cometeu alguns erros e sofreu várias humilhações para chegar até ali. Para a história, fez mais sentido que ele se sacrificasse para salvar o irmão, que tem maior chance de garantir o futuro da Casa Forrester. Além disso, qual seria o ponto da jornada de Asher em Essos se ele morresse no momento que pisa os pés no Norte? Pensar dessa maneira certamente tornou a escolha mais fácil, mas não menos triste. Maldito Gryff Whitehill. Maldita Telltale.
Contudo, um final poderoso e significativo não muda o fato de que “A Nest of Vipers” foi marjoritariamente trivial, com um monte de pontas soltas que precisarão ser amarradas no episódio seguinte. Será que teremos uma conclusão satisfatória? Espero que não precisem correr com as coisas, e nos entreguem um final digno para essa saga que, apesar de algumas falhas aqui e ali, nos proporcionou quase tantas emoções quanto a obra em que se inspirou.
PONTOS ADICIONAIS