O penúltimo episódio da sexta temporada de Game of Thrones, “Battle of the Bastards” – dirigido com maestria por Miguel Sapochnik e escrito por David Benioff e D. B. Weiss – foi o esperado resultado das campanhas que vimos em episódios anteriores. Muitos disseram que a batalha “superou as expectativas”, o que é compreensível, mas acredito que, ao menos no meu caso, ela tenha atendido às expectativas, e isso já é muito bom! Por mais previsível que tenha sido, o incrível e bem filmado espetáculo no Norte nos deu um desfecho mais do que satisfatório… Um desfecho necessário para que a história prossiga em seu arco final.

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A Batalha de Meereen

Se algo realmente superou minhas expectativas (e derreteu meu cérebro) foi aquilo que vimos no Leste. Ao contrário da Batalha dos Bastardos, que foi antecipada de maneira cansativa desde a fase de pré-produção, eu realmente não esperava ver uma sequência tão maravilhosa com Daenerys a frente dos três dragões mostrando aos mestres de Astapor, Yunkai e Volantis quem realmente manda na Baía dos Escravos. É claro que, assim como no caso de Winterfell, a espera natural por este conflito foi o que arrastou moveu esse núcleo ao longo da temporada.

Aliás, os dois únicos núcleos abordados no episódio fizeram dele uma verdadeira canção de gelo e fogo. As composições das cenas parecem ter sido brilhantemente pensadas para criar um contraste entre ambos. Contudo, os personagens e suas ações também ajudaram a estabelecer esse contraponto. Enquanto Jon e Sansa tiveram dificuldades em conciliar a perspicácia marcial dele e as noções políticas dela (o que, por sorte, não lhes custou a vitória), em Meereen, Tyrion e Dany implantaram efetivamente política e força em conjunto para esmagar os inimigos. Se Tyrion é a mente e Daenerys o coração, era de se esperar que, uma vez juntos, eles fizessem com que as outras partes voltassem a funcionar.

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“Queime a todos” é um refrão que, coincidentemente (?), ecoa por vários núcleos da história. Esse foi o primeiro impulso de Daenerys enquanto víamos a frota da Harpia disparar contra a Grande Pirâmide e o povo a sombra dela, em uma formidável tomada aérea onde a câmera seguiu um projétil da catapulta ao alvo. Também seria o primeiro do seu pai, o Rei Louco, como Tyrion, coincidentemente (??), fez questão de apontar. Daenerys sempre oscilou entre piedade e sua autoproclamada justiça nos monólogos frequentemente cansativos sobre rodas e homens quebrados que David e Dan insistem em escrever para ela. Com seus dragões, ela poderia facilmente ter acabado com aquele cerco, mas Tyrion conseguiu fazê-la mudar de ideia enfatizando a loucura de Aerys e referenciando, coincidentemente (???), o estoque de fogovivo que ele escondeu nos túneis sob Porto Real (se Jaime contou isso ao Tyrion, ele também contou à Cersei, certo?). Esse tipo de pensamento foi o que provocou a queda dos Targaryens no final. Se Dany pretende conquistar os Sete Reinos, fogo e sangue não podem ser suas únicas respostas.

A negociação fora dos muros da cidade já estava interessante, mesmo antes de Drogon aparecer para sua gloriosa demonstração de CGI poder. Os diálogos foram conduzidos de maneira apropriada, e a decisão de deixar um dos mestres vivos para servir como testemunha do acontecido foi sabiamente clássica. Com a preciosa ajuda de Rhaegal e Viserion, que parecem ter atendido ao chamado da mãe mesmo depois de sete episódios esquecidos sob a pirâmide, possivelmente sem comida (o que faz deles criaturas mais confiáveis que os cães), Daenerys conseguiu destruir parte da frota enquanto a outra parte foi adicionada ao seu contingente, junto aos escravos que a tripulavam. Visualmente falando, a sequência em si foi uma das coisas mais lindas já vistas em Game of Thrones ou em qualquer outra produção da TV.

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Durante seus anos como “rainha pedinte”, vimos Dany negociar alianças com príncipes mercadores qartenos e escravistas, e até queimar e saquear cidades como Astapor e Yunkai. Dessa vez, seu legado político triunfou nas duas frentes, dando à guerra em Meereen, e a nós, uma resolução melhor que o esperado. O único elemento um pouco problemático ainda são os Filhos da Harpia. Os doze mascarados assassinados por Daario e os dothraki nos portões da cidade eram os últimos? Por que diabos estavam matando aqueles figurantes randômicos? Ainda ouviremos algo a respeito deles?

Depois da batalha, que não chegou a ser uma batalha per se, Theon e Yara chegaram a Meereen. Eu realmente queria ter visto a Frota de Ferro tomar parte no cerco à cidade de alguma maneira, mas entendo que isso seria repetitivo, visto que o outro embate do episódio também teve o resultado definido por um deus ex machina.

Peter Dinklage e Alfie Allen – provavelmente meus atores favoritos no elenco – já contracenaram no episódio “Bastards, Cripples and Broken Things”, da primeira temporada. Na ocasião, o Duende também olhava Theon de cima, montado em seu cavalo enquanto zombava justamente da lealdade que ele tinha aos seus captores. Quantas coisas do tipo Theon precisou ouvir ao longo da vida? Se esse tipo de humilhação colaborou para o rompimento de Theon com os Starks, então homens como o próprio Tyrion podem ser considerados minimamente culpados pelo que aconteceu em Winterfell. Estranhamente, os roteiristas decidiram ignorar isso no presente diálogo, transformando Tyrion na vítima de uma piada que o próprio Theon nunca fez em tela. Vimos o anão condenar o Greyjoy pelos seus crimes, como se ele não fosse o cara que matou a amante e o próprio pai. Mais uma vez, tentaram retratar Tyrion como o “bom moço”, mas, por falta de cuidado (ou de memória), fizeram ele soar como um hipócrita.

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Ainda assim, é incrível pensar em como esses dois personagens mudaram com o tempo, e o fato de eles terem se reencontrado nas atuais circunstâncias é ainda mais surpreendente. A sala do trono raramente esteve tão iluminada. Até os tons de azul e amarelo destacados no cenário pareciam prenunciar de alguma forma a união das duas Casas. A própria Daenerys estava vestindo azul, remontando seus momentos de ascensão na terceira temporada.

A cena em si foi uma divertida interseção de personagens que quase me fez agradecer a ausência de Victarion Greyjoy na série. Além de serem mulheres fortes lutando pelo que lhes é devido, Yara e Daenerys ainda partilham a infâmia de seus respectivos pais (e Tyrion também pode ser incluído nessa roda). A coisa mais interessante que veio da aparente bissexualidade de Yara foi o flerte entre ela e a khaleesi. As sobrancelhas arqueadas e o meio sorriso de Emilia Clarke me deram a impressão de que a rainha estava realmente propensa a considerar uma proposta de casamento, o que acabou não sendo necessário já que a aliança entre as duas foi forjada em detrimento do antigo modo de vida dos homens de ferro.

É meio irônico pensar que alguém quer mudar os costumes antigos restaurando uma antiga dinastia ao poder. No entanto, a concessão da independência às Ilhas de Ferro mostra que a Mãe de Dragões tem ideias mais progressistas que as de seus antepassados. Tyrion pode até ver isso como um problema, mas, ao contrário do que a série teima em mostrar, Dany não precisa da aprovação dele, só dos conselhos. E esse é apenas o começo do seu reinado.

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Gostamos!

A Batalha de Winterfell

Ao contrário do que vimos em Correrrio e na própria Meereen, onde investidas militares decorreram sem tantas perdas graças a ameaças disfarçadas de diplomacia, a guerra no Norte se deu da maneira mais violenta, visceral e real possível. Nem mesmo Jon, personagem mais próximo de uma Mary Sue, ficou livre da sujeira e da animosidade do evento.

Em um episódio que bebeu de fontes como as Batalhas de Canas e Agincourt, a Guerra Civil Americana e até as duas Grandes Guerras, não podíamos deixar de ter o momento em que as duas partes se reúnem para acertar os termos da contenda. A passagem lembrou muito o encontro de Stannis e Renly em “Garden of Bones”. Pena que a Mulher Vermelha não estava em seus melhores dias para lançar olhares sombrios sobre o Ramsay.

Mas Lyanninha estava.

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Foi aqui também que tivemos nosso único vislumbre de um lobo gigante em cena… E infelizmente foi a cabeça de Cão Felpudo, outra vez usada como prova da captura de Rickon. Quem acompanha minhas análises sabe que eu nunca acreditei na possibilidade de que Smalljon fosse virar a casaca em prol dos Starks. No final, assim como a Criança Abandonada no episódio anterior, Lorde Umber mostrou ser exatamente aquilo que parecia ser: um traidor. Ele teve o que mereceu nas mãos (e dentes) de Tormund, e eu ficaria ainda mais feliz se Harald Karstark tivesse encontrado um fim semelhante.

Muita gente tentou justificar a ausência de Fantasma com o fraco argumento de que “aquela batalha não era lugar para um lobo”, inclusive o ator Liam Cunningham. Todo mundo sabe que Vento Cinzento lutava ao lado de Robb em sua campanha contra os sulistas, o que já foi inclusive mostrado na série. Além disso, em uma outra entrevista, o próprio diretor confirmou o óbvio: inserir Fantasma nas cenas teria sido difícil e caro, então tiveram que escolher entre ele e Wun Wun. Escolheram o gigante. Ponto.

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Engraçado que Jon tenha questionado se os homens de Ramsay continuariam leais quando soubessem que o bastardo de Bolton não lutaria por eles. Engraçado, porque foi exatamente o que aconteceu. Os nortenhos odeiam tanto os Starks que continuaram contra eles, mesmo depois que seu líder recusou o combate singular, manteve-se longe da batalha e ainda lançou flechas sobre o próprio exército. Aliás, esse comportamento napoleônico de observar tudo a distância não parece muito a cara do Ramsay, que conseguiu espantar os homens mais temíveis das Ilhas de Ferro do Forte do Pavor lutando sem camisa no meio da noite e ainda sabotou o acampamento de Stannis contando com apenas 20 bons homens. Lembram-se disso? O Norte não.

Falando em memória, os roteiristas aproveitaram bem os diálogos deste episódio para preencher algumas lacunas esquecidas previamente, como quando Ramsay mencionou a “deserção” de Jon, ou quando Rickon foi citado como herdeiro legítimo de Winterfell (depois de Bran), cuja pretensão e as chances de adquirir apoio dos vassalos são maiores que as de Jon (um bastardo) ou Sansa (uma garota).

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Por mais sólidos que os planos arquitetados no último conselho de guerra pudessem parecer, Sansa sabia que Ramsay tinha uma carta na manga para fazer com que Jon agisse da maneira mais previsível. Também sabia que a vida de Rickon estava por um fio, a despeito do fato de que ela mesma encorajou Jon a resgatar o caçula quando os dois leram a carta rosa de Ramsay em “Book of the Stranger”. Ter os medos sumariamente ignorados pelo irmão deve ter sido frustrante… mas frustrante a ponto de fazer com que ela escondesse a valiosa informação sobre os Cavaleiros do Vale? Essa pareceu mais uma daquelas decisões estranhas que os personagens tomam na adaptação, decisões que geralmente os idiotizam em prol da catarse narrativa que se almeja alcançar. Como no caso de Arya em “The Broken Man”, que mesmo sendo procurada pela Waif, foi passear distraída (e desarmada) pelas ruas de Bravos.

Nenhum personagem em Game of Thrones tem mais motivos para desconfiar das pessoas do que Sansa. Especialmente dos homens. A frase “Ninguém pode me proteger. Ninguém pode proteger ninguém. ”, é impactante porque é verdadeira. Entretanto, qualquer desconfiança, vergonha, incerteza ou medo perde a importância diante da quantidade de vidas que poderiam ter sido poupadas se Jon soubesse da possibilidade de conseguir aquilo que ele estava absolutamente convencido de que não conseguiria: mais homens.

Todavia, não posso concordar com todo o ódio que os fãs destilaram sobre a personagem na internet. Se ela errou, foi simplesmente porque o roteiro precisava que ela o fizesse. Eu não lembro de ter visto toda essa raiva quando Robb precisou mandar milhares de homens para a morte a fim de enganar e derrotar os Lannisters na primeira temporada.

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Nem todo Stark pode ser Arya 🙁

Como previsto dentro e fora da tela, a morte de Rickon aconteceu. Durante a corrida, houve um breve momento em que eu acreditei que o garoto conseguiria alcançar o irmão, mas uma quarta flecha acabou atravessando seu peito, subvertendo a típica “regra dos três” que nos condicionou a acreditar que ele estava seguro. Alguns criticaram Rickon por ter corrido em linha reta na direção de Jon, mas não podemos desconsiderar as circunstâncias do ocorrido e nem o fato de que estamos falando de uma criança, ainda que o ângulo da câmera frequentemente tentasse mascarar a altura do garoto em relação à Ramsay (o que de forma alguma torna a morte menos lamentável). Como se não bastasse terem trazido Art Parkinson de volta para matá-lo sem que ele tenha tido uma fala, ainda mostraram o corpo do jovem sendo crivado de flechas enquanto jazia esquecido em meio ao campo de batalha.

(Em uma entrevista recente, Parkinson disse que Rickon estaria mais feroz nessa temporada. Como não vimos nada disso, suponho que alguma cena dele tenha sido excluída na edição).

Me pergunto por que motivo Jon se propôs a enterrar Rickon tão rápido ao lado dos ossos do pai (que Catelyn recebeu de Mindinho na segunda temporada), ignorando completamente a sacerdotisa vermelha que ele tem entre seus homens. A ressurreição de Rickon provavelmente não aconteceria, mas Davos deu um tiro no escuro quando sugeriu que Melisandre tentasse reviver Jon. Por que não atirar novamente? Depois de meia temporada sendo tratada como figurante, Mel finalmente deu o ar da graça. Em seu diálogo com Jon, a feiticeira parecia tão deprimida que eu me perguntei se ela não teria enxergado a própria morte no fogo (ela precisa reencontrar a Arya antes). Ou talvez essa depressão fosse simplesmente pelo fato de estar acampando no mesmo lugar em que ela e Stannis queimaram Shireen, sacrifício que trouxe apenas a queda do rei.

Finalmente, depois de nove episódios, Davos descobriu o que realmente aconteceu com a princesa. O aguardado confronto entre e ele e “o demônio que sussurrava no ouvido de Stannis” ficou reservado para o finale. A conversa entre o Cavaleiro das Cebolas e Tormund sobre os reis que eles seguiam foi muito bem roteirizada. “Jon não é rei. ” Esse comentário deixou claro que, assim como Barristan morreu para que Tyrion pudesse assumir a posição de “Mão da Rainha” que é dele nos livros, Stannis e Mance encontraram seu fim para que o bastardo assumisse os seus lugares.

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O enquadramento final da cena de Davos foi um dos mais bonitos do episódio, mostrando os restos da fogueira de Shireen sobrepondo o nascer do sol, como se as chamas ainda ardessem ali. Quando as primeiras imagens do “Snowbowl” surgiram na web, houve uma grande especulação acerca dos corpos esfolados e queimados por Ramsay. Pessoas cogitaram que pudessem ser os corpos de Osha, Rickon ou até do próprio Stannis. Ledo engano. Os corpos não passavam de mera cenografia, ou talvez marcadores de distância para os arqueiros dos Boltons. Em todo caso, serviram como um lembrete brutal do preço pago quando os grandes senhores decidem jogar o jogo dos tronos.

A Batalha dos Bastardos em si foi um deleite cinematográfico. Seus acertos técnicos certamente a tornaram uma das realizações mais significativas da série, ao lado das também incríveis batalhas da Água Negra e da Muralha. E como esquecer do épico “Hardhome”, também orquestrado pelas mãos hábeis de Sapochnik? Com uma coordenação eficaz das câmeras e das centenas de extras (dentre os quais, tínhamos 80 cavalos reais), o cara conseguiu manter uma noção claro de tempo e espaço e, ainda assim, reproduzir extraordinariamente o caos absoluto do confronto. Isso é algo que muitas produções maiores não conseguem capturar, levando a audiência à uma mistura demasiadamente confusa de corpos e cavalos e sujeira e sangue.

Muitas vezes, em filmes que retratam grandes batalhas, os personagens centrais precisam de momentos para disparar linhas de diálogo ou encaminhar o enredo (ex: O Senhor dos Anéis). Esse episódio foi diferente. Sem nenhuma cerimônia, fomos atirados no meio do embate, acompanhando Jon e os acontecimentos em volta dele sem nenhum segundo de descanso.

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For Frodo Rickon!

Parte desta sequência parece ter sido feita em um único take contínuo, onde a câmera manteve-se no protagonista enquanto ele derrubava soldados inimigos, aproximando-se de todos os ângulos, a cavalo e a pé, fugindo repetidamente de morte. A batalha provou eloquentemente, em vários momentos, que sobrevivência não é só uma questão de habilidade, mas também de sorte. Ou talvez tenha até de intervenção divina. Que tipo de Deus faz isso?

O destaque vai para o momento claustrofóbico em que Jon quase foi enterrado vivo em meio a lama e aos cadáveres enquanto seus homens recuavam diante da ameaçadora parede de escudos dos Boltons. A oscilação de cor da tela, o som quase mudo dominado apenas pela respiração e batimentos cardíacos desesperados do bastardo com o caos geral de pessoas lutando acima dele. Os cortes rápidos da câmera, mostrando a incoerente realidade daquela carnificina em massa. Tudo contribuiu para a imersão e dramaticidade da cena. Em casa, nós sabíamos que Jon não morreria, mas vê-lo naquela situação foi fisicamente sufocante. No featurette “Anatomy of a Scene”, Kit Harington afirmou que sua subida foi como uma releitura da cena final de “Mhysa”. Para mim, pareceu mais um reflexo de sua própria ressurreição, visto que ele literalmente emergiu dos mortos. Que cena! Ela nem estava no roteiro original, e foi um improviso do diretor para poupar tempo.

Elogiar o trabalho de Ramin Djawadi é como chover no molhado, mas tivemos alguns momentos onde ele se destacou. Primeiro, quando Jon desembainha a espada diante da cavalaria inimiga (a espada de verdade, não a de borracha), quase refletindo Stannis na sua última batalha, e a trilha sonora sobe, quase nos enganando, só para ser abruptamente interrompida quando as forças dos dois exércitos se chocam. Depois, quando o “herói” é pisoteado ao som de uma variação solene do tema que, curiosamente, chama-se “My Watch Has Ended”. E por último, mas não menos importante, quando os Cavaleiros de Rohan do Vale chegam para salvar o dia.

No episódio “And Now His Watch is Ended”, Varys disse a Olenna que Mindinho era um dos homens mais perigosos de Westeros, que nasceu sem poder, sem terras e sem exército mas tinha conseguido os dois primeiros. “Quanto tempo até que ele consiga um exército?”, a Aranha perguntou. Bem, ele conseguiu.

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The eagles are coming!

Foi bem justo que a batalha por Winterfell tenha sido decidida no interior de suas muralhas. O modo como Ramsay negou a derrota mesmo depois de ter sido obrigado a recuar foi típico de Hitler em seu bunker. De certa forma, ele estava certo. Milhares de homens seriam necessários para tomar o castelo. Mas quem precisa de um cerco quando se tem Wun Wun? A morte do gigante foi estranhamente mais dramática que a do próprio Rickon (por que diabos Ramsay não atirou no próprio Jon?), mas ele mereceu a honra, afinal, como Folha, ele era o último de sua espécie.

George R. R. Martin criou Ramsay como uma versão sombria de Jon Snow. Eu não acredito que os dois cheguem a se enfrentar diretamente nos livros, mas a ideia não deixa de ser interessante. Especialmente na série, visto que Iwan Rheon, inicialmente, fez testes para viver o outro bastardo (e fico feliz que não tenha conseguido, o cara deu um ótimo Ramsay). Sou capaz de apostar que todo mundo teve vontade de entrar na TV para ajudar o Jon a quebrar a cara de sua desprezível antítese. Ver os estandartes dos Boltons na neve, como na visão de Melisandre, e os estandartes dos Starks ocupando o seu lugar de direito foi certamente prazeroso, mesmo que a cena tenha sido acompanhada pela amarga lembrança da tomada de Correrrio no episódio anterior.

Winterfell é finalmente nossa… mas por quanto tempo? Se o Rei da Noite invadisse o campo de batalha, com um simples gesto ele adicionaria milhares de mortos ao seu exército. Quando se conhece o perigo que espreita além da Muralha, as guerras mundanas  meio que perdem o sentido.

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Os minutos finais do episódio levantaram algumas controvérsias a respeito de Sansa Stark, e não estou falando dos “sete dias sem alimentar os cachorros” que ela não ouviu.

Jon voltou dos mortos, mas é sua irmã que vive mudando. Nós nunca sabemos ao certo quando veremos a garota que teve medo de atravessar o rio em “The Red Woman”, ou a mulher que assiste friamente um homem ser devorado pelos próprios cães. O método que ela usou para se vingar de Ramsay foi certamente mais Bolton do que Stark. Por mais preocupante que isso pareça, se lembrarmos de todas as atrocidades cometidas pelo Ramsay, perceberemos que aquela Sansa, embora AINDA não fosse a Rainha do Norte que desejávamos ver, era a Sansa que ele merecia. Depois do estupro e de outras escolhas questionáveis no desenvolvimento da personagem, os roteiristas da série não nos deram outra escolha senão comemorar essa vingança.

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O maior problema do episódio foi a falta de equilíbrio entre a antecipação, expectativa e previsibilidade. Se você detalhasse a qualquer pessoa que não assiste a série os pontos básicos do enredo que antecedeu a Batalha dos Bastardos, ela poderia muito bem deduzir que Ramsay mataria Rickon, que Jon seria levado pela emoção, e que seu exército acabaria à beira da derrota, só para ser salvo em cima da hora pelos Cavaleiros do Vale cuja existência Sansa decidiu esconder do meio-irmão até a “hora certa”. A execução dessa série de eventos foi de tirar o fôlego, mas foi suficiente para disfarçar essa ligeira falta de originalidade? Provavelmente sim.

É impossível negar que “Battle of the Bastards” foi uma das mais excitantes e bem-sucedidas horas da televisão mundial, e certamente merece levar todos os prêmios possíveis – principalmente para o diretor que, convenhamos, merece a maior parte do mérito. Outras produções televisivas terão que correr muito para alcançar esse nível que, em termos de escala, não fica muito atrás de blockbusters com orçamentos dez vezes maiores.

Game of Thrones é realmente boa em fazer história, ainda que às vezes acabe esquecendo a sua própria.


A maioria dos gifs que ilustram a análise foram garimpados desse site. O Podcasteros do episódio deve sair em breve. Aguardem!