Olá! Seja bem-vindo à segunda edição de Pergunte ao Conselho, a central de dúvidas para os leitores do portal Gelo & Fogo. Para enviar sua pergunta, use o formulário que está aqui. Confira a seguir três perguntas dessa semana e as respostas de nossos conselheiros:
Oi pessoal. Acabei de ler o quarto Livro e constatei que Brienne não aparece no quinto livro. No livro 4, a demanda de Brienne termina em uma forca, mas Martin deixa incerta a sua morte por enforcamento. Sentdo assim, gostaria de saber a opinião de vocês sobre o desfecho da trama de Brienne nos livros. Ela morreu mesmo nos livros?
(Jorge)
Oi, Jorge! Brienne está em A Dança dos Dragões. Ela aparece no acampamento de Jaime em Centarbor, e pede a ajuda para salvar Sansa do Cão de Caça.
É importante dizer que isso é o que Brienne diz a Jaime, e não necessariamente é a verdade. Na verdade Brienne foi até a ele obedecendo ordens da Senhora Coração de Pedra (de matá-lo), e mencionou Sansa apelando para a promessa que ele fez para Catelyn (de encontrar e proteger as filhas dela). Além disso, o Cão de Caça original é Sandor Clegane, que se não morreu, no mínimo abandonou essa persona. Seu elmo, porém, passou por outras mãos nas Terras Fluviais, por gente que também aterrorizou a região, e os crimes foram atribuídos a ele, dando a impressão de que ainda se trata de Sandor.
Na nossa seção de Artigos e análises dos livros, também há um post sobre a palavra que Brienne disse na forca, que fez com que Coração de Pedra a poupasse.
Por que o filho de Lollys Stokeworth recebeu o sobrenome “Tanner” ao invés de “Waters”?
(Eduardo Yoshinobu Hosoda)
Olá, Eduardo! Essa questão tem a ver com a atribuição de sobrenomes aos bastardos de nobres. À primeira vista, pode parecer que existe uma designação “automática” dos sobrenomes, mas não é bem assim. Não existe uma lei formal que rege essa questão, havendo apenas o costume. George R. R. Martin já esclareceu que o pai de alto nascimento pode conferir ao filho o sobrenome habitual, um novo de sua própria criação, ou até nenhum. Tratamos desta questão em um artigo sobre a bastardia nos Sete Reinos.
No caso de Tyrion Tanner, filho de Lollys Stokeworth, ele é fruto de um estupro durante as revoltas de Porto Real. Como Lollys é nobre, ele é também obviamente um bastardo nobre, ainda que não se saiba quem é seu pai. Sor Bronn da Água Negra, que se casou com Lollys posteriormente à concepção, o nomeia como Tyrion Tanner. O nome faz referência tanto a Tyrion Lannister (a quem Bronn anteriormente servia), quanto ao fato de que Lollys foi estuprada atrás de um curtume (tanner é o termo em inglês para “curtidor”).
Cabe mencionar também que na versão brasileira, o termo tanner foi corretamente traduzido para “curtidor”, mas o termo tanner’s shop foi originalmente traduzido como “tanoaria”, um termo que não corresponde à atividade em questão (sendo relativo à fabricação de vasilhames para armazenar vinho), o que também pode causar confusão. Diante do fato de que tanning designa o processamento do couro cru, tanner’s shop seria o local onde alguém que curte o couro vende seus produtos.
Olá. Antes de tudo parabéns pelo site, o portal ficou ótimo e rico de informações interessantes, a dedicação de vocês é fenomenal. Minha dúvida é sobre o plano de Varys e Illyrio. Sei que não há resposta concreta pois ainda há coisas a serem reveladas, mas talvez vocês tenham percebido algo que deixei escapar. Qual seria o sentido em Viserys e Aegon invadirem Westeros juntos (como Tristan Rivers deu a entender)? A pretensão de um não se sobreporia à do outro? Viserys não ficaria contrariado em ser passado para trás? Se dothrakis são conhecidos por não navegarem, como Varys e Illyrio esperavam que eles cruzassem o Mar Estreito? Se uma restauração Targaryen era o objetivo deles, e tinham Aegon sob sua custódia desde o fim da Rebelião, por que Illyrio não abrigou Dany e Viserys antes? Desculpe se exagerei nas perguntas. É que quanto mais eu penso no plano deles, mais eu fico confuso. Talvez só com os livros seguintes para termos mais clareza, mas de qualquer forma, gostaria de opinião de vocês. Muito obrigado.
(Alexandre Oreiro)
Arthur Maia: Acho que a respeito do plano dos dois, não tem como não ficar confuso. Como tu bem disseste, não tem resposta concreta ainda, então o máximo que nós podemos fazer é um pouco de especulação a respeito dos motivos. Para a primeira pergunta, a respeito de Aegon e Viserys, o que me ocorre é que sim, Viserys provavelmente se sentiria contrariado, mas Illyrio já demonstrou não levar o príncipe muito a sério. Talvez, Viserys e Daenerys serem ligados aos Dothraki seria uma maneira de não arriscar nenhuma peça fundamental (Aegon) e mesmo assim, ficar bem disposto com os Dothraki. Caso Viserys e/ou Daenerys morressem no processo, o plano poderia continuar. Caso Viserys se sentisse contrariado, ele nunca seria uma real ameaça, pois dificilmente os Dothraki o seguiriam, sendo ele como era. Caso tudo desse certo, era lucro pra todo mundo.
Quanto aos Dothraki atravessando o Mar Estreito, muito embora não navegar seja uma tradição do povo, tradições podem ser quebradas com bons motivos. Relacionado ao que disse no parágrafo anterior, não sei nem se eles estavam esperando ganharem os Dothraki. Se conseguissem de fato, seria, provavelmente, de uma maneira persuasiva o suficiente para que eles o acompanhassem para o outro lado do Mar Estreito.
Sobre a última questão, não consigo nem esboçar uma resposta, mas tenho alguma segurança para dizer que não acho que eles estejam planejando uma restauração Targaryen por si só, e que sou adepto da especulação de que Aegon não seja o verdadeiro filho de Elia e Rhaegar, que já tem um post aqui no site. Sendo assim, talvez fosse melhor ter Daenerys e Viserys em situações instáveis, mas isso já é mais especulação do que eu me sinto seguro a fazer.
Felipe Bini: Penso que os planos de Varys e Illyrio, na prática, nunca saíram bem como eles haviam planejado. De saída, esclareço que acredito fortemente na ideia de que Jovem Griff não seja na verdade Aegon Targaryen, filho de Rhaegar e Elia (ainda que nem ele mesmo, nem seu tutor Jon Connington saibam disso). Não sou convicto sobre qual seria a real identidade do rapaz (se um pretendente Blackfyre ou possivelmente um filho de Illyrio), mas ao que tudo indica ele sempre foi o plano principal da dupla, e Viserys e Daenerys apenas acessórios. O plano deles aparentemente não é restaurar a dinastia Targaryen, mas colocar Aegon no Trono (qualquer que seja a identidade dele).
É importante lembrar que Viserys e Daenerys haviam sido acolhidos na casa de Illyrio apenas meses antes do início dos eventos de A Guerra dos Tronos, enquanto que Aegon havia sido criado por eles desde pequeno (via Jon Connington), seja ele verdadeiro ou falso. A fala de Tristan Rivers não necessariamente corresponde ao que eles planejavam que acontecesse desde o início. Outros membros da Companhia comentam que “o plano do queijeiro” muda com frequência, e Jon Connington diz que eles eram conhecidos apenas por Varys, Illyrio e Myles Toyne (o que empresta força à hipótese de Aegon não ser realmente um Targaryen, visto que os Toyne historicamente tiveram rixas coms os dragões nos Sete Reinos). Além disso, em momento algum Viserys e Daenerys são informados da existência de Aegon.
Minha suspeita é a de que na verdade a ideia de Illyrio e Varys ao unir Viserys aos dohtraki seria a de que eles invadissem os Sete Reinos primeiro, aterrorizando o continente. A recepção dos westerosi, naturalmente, seria péssima: uma horda de bárbados estrangeiros assolando o reino, aliados/comandados pelo filho do Rei Louco Aerys. Nesse contexto é que chegaria Aegon como um salvador do reino, um contraste completo com Viserys: filho de Rhaegar (muito mais querido pelos nobres e pelo povo que Aerys) e muito mais bem-educado, apoiado por westerosis exilados. Sobre como eles planejavam que os dothraki atravessassem o Mar Estreito com seu notório medo da água, realmente não sei, mas aparentemente isso vai ser respondido indiretamente nos próximos livros (quando eles cruzarem o mar com Daenerys).
Rayane Molinario: Não há, de fato, uma resposta conclusiva para essa questão, mas até onde eu entendi, Viserys era só mais um peça no jogo de Varys e Illyrio, e seria descartado assim que não fosse mais necessário. O próprio Tyrion o configura dessa forma “Ele joga o jogo dos tronos (…) você, Griff e Pato são apenas peças para serem movidas ao desejo dele, ou sacrificadas se necessário, exatamente como ele sacrificou Viserys. (ADWD, Tyrion III)”.
Eles certamente não esperavam que Daenerys fosse sobreviver, de forma que podemos supor que eles descartariam Viserys tão facilmente quanto o fizeram com ela, quando o momento chegasse. A opinião de Illyrio sobre ele não era das melhores, e é possível que a tentativa dele de manter Viserys com ele em Pentos fosse mais uma forma de manter o controle sobre suas peças, mas desde que ele insistiu e acabou morto, o plano seguiu o curso naturalmente. De qualquer forma, o exército Dothraki ainda estaria com eles, porque embora Viserys achasse que Drogo devia a ele pela mão da irmã, quem fez toda a negociação e troca foi o próprio Illyrio, que sabia lidar com a política de presente/dívida dos Dothraki, então tecnicamente, independente deles estarem vivos ou mortos, ele ainda teria o exército pela oferta que entregou a eles antes.
Agora, sobre como ele planejava fazer com que eles navegassem, é algo que eu também me questiono bastante. Tristan Rivers não saberia disso, é claro, pois ele não tem conhecimento sobre o plano real. Como Jon Connington aponta, os planos que Illyrio havia feito com Coração Negro eram conhecidos apenas por eles dois, e o resto da Companhia foi deixada no escuro sobre a real intenção dele naquilo. Porque ele não ajudou Viserys e Daenerys antes? Bem, talvez ele simplesmente estivesse esperando pela morte deles para que pudessem sair do caminho de Aegon, mas desde que eles sobreviveram o suficiente para poderem ser usados no plano, ele os acolheu sob o pretexto de ajudar. Mas essa também é uma questão aberta, e não posso afirmar categoricamente ser o caso.
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