Em sua terceira edição, a Comic Con Experience finalmente apresentou um painel sobre Game of Thrones, além de incrementar o caldo consideravelmente ao abrir espaço para a HBO trazer experiências relacionadas a série que já eram conhecidas em outras cons mundo afora.

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Natalie Dormer no auditório Cinemark. (Foto: Daniel Deak)

O painel especial sobre Game of Thrones, que aconteceu na quinta-feira, foi dividido em três partes: Um bate-papo sobre storyboards, com Will Simpson; um bate papo sobre efeitos visuais, com Sven Martin da PIXOMONDO, e um bate papo com a atriz Natalie Dormer, que interpretou a rainha Margaery Tyrell na série durante cinco anos.

 

 

SOBRE STORYBOARDS

Entrevista com Will Simpson – Foto: Daniel Deak

Responsável por criar a arte sequencial de diversas cenas de Game of Thrones, o irlandês extremamente carismático Will Simpson revelou que fez o primeiro esboço da série sem ser comunicado de que se tratava de uma adaptação da obra de George R.R. Martin, mas a qualidade e rapidez de seu trabalho garantiram sua contratação. Seus storyboards são planejados como HQs e ele leva em média um mês e meio para “desenhar” os roteiros que recebe. Will também é responsável por parte das artes dos vídeos de História e Tradição dos blu-rays.

Quando questionado se poderia contar algum segredo da próxima temporada, ele brincou (ou confessou?) que jamais conseguiria, pois costuma “ir para o bar e escolher todas as bebidas mais terríveis para esquecer” o que desenhou. E de fato ele tenta esquecer as coisas que desenha, porque Will não conseguiu dizer qual cena mais gostou de desenhar na temporada passada quando questionado. Talvez essa seja uma técnica ninja para não revelar as coisas em que ele está trabalhando para a próxima temporada sem querer. Ou talvez ele realmente curta uns bons drinks.

Dentre todas as cenas de Game of Thrones, Simpson revelou que o momento que mais sofreu para desenhar foi a morte de Jon Snow, pois ele não havia lido o último livro de As Crônicas, e não sabia desse cliffhanger. Ainda sobre George R. R. Martin, ele contou que os produtores da série se reuniram com eles discutindo a possibilidade de usar os storyboards para criar uma versão em quadrinhos da série, mas isso não foi possível, pois Martin já havia vendido os direitos para outra empresa.

Ele distribuiu muitas dicas pra galera que sonha seguir carreira no mundo da ilustração: “Nunca desistam do trabalho de vocês. Continue, persista. Pegue aquilo que gosta de fazer e invista nisso, deixe de lado trabalhos que não gosta ou aqueles em que você não se dá bem“.

Will Simpson compareceu todos os dias do evento no estande da HBO para autografar pôsteres de suas artes durante algumas poucas horas. Quem topou pegar a fila levou um desses para casa, além de poder conhecer pessoalmente um dos caras mais simpáticos e talentosos da equipe de Game of Thrones:

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esse é meu <3

 

SOBRE EFEITOS ESPECIAIS

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Foto: Daniel Deak

Na segunda parte do painel, conhecemos o alemão Sven Martin, designer da PIXOMONDO,ganhador de dois Emmys e outros prêmios pelo seu trabalho em Game of Thrones. Sven foi mais técnico e sério, e parecia até um pouco nervoso em estar ali apresentando seu trabalho para milhares de pessoas no auditório Cinemark (Quem não estaria? O auditório comporta 3,3 mil lugares). Ele basicamente apresentou um keynote sobre o trabalho que sua equipe desenvolve em Game of Thrones. Foram diversas imagens inéditas do making of da computação gráfica da produtora, e explicações bastante detalhadas sobre como é feito o processo de criação do CGI, desde a aerodinâmica e biologia dos dragões até estruturas arquitetônicas das paisagens de Westeros.

Foto: Daniel Deak
Foto: Daniel Deak

Em relação aos dragões, Sven explicou detalhadamente a criação de Drogon, Viserion e Rhaegal, através das temporadas. O processo envolve análise do esqueleto de aves, referências de dinossauros e texturas de anfíbios e répteis. O designer chegou a levar uma galinha para a equipe de efeitos especiais para entender os movimentos das asas, que seriam replicadas nos dragões. Ele apresentou inclusive a clássica cena de Jurassic Park com o dilophosaurus que serviu de inspiração para as feições de agressividade dos dragões.

Segundo Sven, algo muito importante sobre os dragões é que ele sempre parte do princípio de que eles jamais devam parecer ter emoções humanas. Mas, ainda sim, precisam ter muita personalidade. E que esse é o maior desafio deste trabalho.

SOBRE SER RAINHA

Foto: Daniel Deak

Uma das convidadas mais aguardadas dessa edição da Comic Con, a atriz inglesa Natalie Dormer só tinha sorrisos para a entusiasmada (e muito exagerada e feliz) plateia.

Eu assistia Game of Thrones como fã, assim como vocês assistem. Me apaixonei pela história na primeira temporada e achei tudo muito bom, muito forte. Então, meu agente me ligou e disse que haveria testes para a série. Fiquei muito nervosa, muito mesmo. Mas deu tudo certo.

Entre vários pontos, ela ressaltou a importância de mulheres em papeis fortes e bem construídos na ficção, principalmente em produções como Jogos Vorazes, onde o público é feminino e de faixa etária menor.

A apresentadora do painel bombardeou Natalie com todo tipo de questão sobre atualidades. Talvez… as questões deram a sensação de que Natalie estava fazendo prova oral sobre agenda de direitos humanos, mas a apresentadora com certeza tinha as melhores intenções, afinal de contas, eventos nerds precisam desses debates. As perguntas falavam desde como a eleição de Trump afetaria as produções dos próximos quatro anos, e a maneira como os roteiros apresentarão diversidade, até questões relacionadas a feminismo dentro dos estúdios de cinema e TV.

Acho que vivemos em uma época muito complicada. O cenário político não está fácil e quando isso acontece as pessoas ficam com medo de não terem suas identidades e famílias protegidas.

Enfática e super politizada, ela discursou sobre o feminismo não ser sobre mulheres querendo destruir homens, mas sobre um mundo igual, com respeito mútuo: “Somos humanos, não importa se você tem uma vagina ou pênis.

Natalie chegou a dizer que David Benioff e Dan Weiss são feministas, e que Game of Thrones representa um novo zeitgeist na cultura pop e pode ensinar muito sobre os acontecimentos sociais e políticos que o mundo vive hoje.

As pessoas têm que entender que se trata de uma indústria. As histórias femininas têm que ser tão rentáveis quanto as protagonizadas por homens”. Para exemplificar, a atriz citou Mad Max – Estrada da Fúria, exaltando o trabalho das colegas Jennifer Lawrence e Charlize Theron.

Sobre a despedida de Margaery em Game of Thrones, ela deu muita risada da situação, disse que nunca fez parte de um projeto por tantos anos, e que sempre intuiu que Margaery não chegaria viva até o fim da história. Ela confessou estar animada em acompanhar a série como os fãs, sem saber o que vai acontecer, e que torce para Olenna concluir sua vingança: “Quero ver a Cersei sofrer”, disse cantando. Sim, ela cantou o nome da Cersei. Que mulher.

Natalie também falou sobre seus personagens favoritos em Game of Thrones, ressaltando que gosta muito de ver a relação entre duplas improváveis como Jamie Lannister e Brienne de Tarth, Arya Stark e Sandor Clegane, e etc. Quando questionada sobre sua cena favorita, ela respondeu: “LOOK! THE PIE!“

Sobre Loras Tyrell, Natalie comentou que a série mostrou um bom relacionamento entre irmãos, algo que considera raro em séries dramáticas, e que se sente feliz pelos dois personagens terem deixado a série juntos.

Amo a ideia de ficar mais velha e minha audiência crescer comigo. Eu não imaginava tantos fãs no Brasil, vocês são demais e eu tive um dia ótimo. Os fãs são tudo, sem vocês não tenho trabalho, e meu trabalho é minha vida. Ou seja, vocês me dão a minha vida”, finalizou. E as pessoas gritavam loucamente, não sei se por estar na presença de uma mulher tão simpática e forte, ou de ver que Margaery está viva e feliz.

foto: Flavio Battaiola/ Galpão de Imagens
foto: Flavio Battaiola/ Galpão de Imagens
Flavio Battaiola/ Galpão de Imagens

Natalie também compareceu a duas sessões de fotos com fãs e participou da live oficial da #CCXP2016. Se você perdeu, chega mais:


Mas a Comic Con não é feita só de painéis. Este ano, a HBO criou um estande com diversas atividades legais. Além da presença do Will Simpson autografando suas artes, foi possível tirar fotos no Trono de Ferro oficial da série, visitar uma pequena exposição com figurinos e adereços de Game of Thrones e assistir a uma experiência 3D com a abertura da série (fantástico, infelizmente proibido de ser fotografado ou filmado).

A empresa também disponibilizou atividades para os fãs de Westworld, com direito de visita ao Saloon do parque temático, experiências de realidade virtual, e uma réplica do “Robô Vitruviano”, uma das instalações mais elogiadas do evento:

Esse foi sem sombra de dúvida o melhor ano da Comic-Con Experience até aqui. Esperamos que a organização produza mais conteúdos sobre Game of Thrones nos próximos anos, e que também consiga trazer outras séries de peso para painéis como esse. Seria incrível assistir a painéis sobre Vikings, Steven Universe, Mr. Robot, Stranger Things, Sherlock e tantas outras.

A sensação que fica é que, se George R. R. Martin realmente vier para o Brasil no ano que vem, esse seria o evento que ele iria gostar de fazer parte. Mas é claro, se o livro seis estiver pronto até lá, seria ainda melhor.