Olá! Há quanto tempo, não é mesmo? Voltamos com a edição número 14 de Assim Falou Martin, a editoria em que o Gelo & Fogo traz declarações de George R. R. Martin, autor de As Crônicas de Gelo e Fogo. Os registros desta edição estão originalmente no Westeros.org, que gentilmente autorizou que traduzíssemos para o português.

Os relatos publicados hoje são de janeiro de 2000, e são correspondência de George R. R. Martin com fãs e um post em fórum. Tentamos, na tradução, manter a escrita original, na medida do possível. As ilustrações são por nossa conta (e claro, dos autores). Ao final, alguns comentário meus sobre as respostas.

Para acessar a coleção completa de AFMs publicados, clique aqui. Boa leitura!

Algumas notícias

Correspondência com fã, enviada por Elio M. García, Jr.. 6 de janeiro de 2000.

Achei que poderia repassar a mensagem de que o lançamento da versão paperback americana de A FÚRIA DOS REIS foi adiado para setembro. Originalmente estava agendado para fevereiro, um ano depois do lançamento da versão em capa dura, mas a edição em capa dura ainda está vendendo muito bem, então a Bantam decidiu mantê-la nas prateleiras um pouco mais.

Os leitores que não puderem comprar a edição de capa dura podem conferir algumas das livrarias britânicas na web. O paperback britânico de massa já está à venda há alguns meses.

Funeral de Hoster Tully
Ilustração original de Stephen Youll para a capa de A Storm of Swords, retratando o funeral de Hoster Tully. Fonte: site do artista.

Ainda estou trabalhando em A TORMENTA DE ESPADAS. Estou na reta final, quero acreditar, e espero terminar e entregar em breve. Minhas editoras estão prontas e esperando. (Hoje recebi um telefonema de minha editora americana e um email de meu editor holandês, então os leitores não são os únicos que estão perguntando.) A roda da publicação está girando; dos dois lados do Atlântico, minhas editoras começaram a trabalhar nas capas, e os artistas (Jim Burns no Reino Unido e Stephen Youll nos EUA) estão trabalhando nas ilustrações. Eles me dizem que a pintura de Burns retratará um duelo de espadas, e a de Youll um funeral; ambas baseadas em cenas do livro.

Vou deixar outro recado para os webmasters quando o livro estiver terminado, só para manter vocês atualizados. Enquanto isso, ficaria satisfeito se você pudesse pedir aos fãs para parar de me enviar tantos emails perguntando quando o livro será lançado. Aprecio o interesse e todas as palavras amáveis, mas a última coisa de que preciso agora é de um monte de emails para responder. Entenda, por favor – não estou pedindo para que os fãs parem de escrever, apenas para que deem um pouco de tempo até eu terminar o romance. Quando a fera estiver escrita, um pouco do stress vai arrefecer, e vou ter prazer de receber e responder emails de novo… embora sem dúvida vou continuar tão lento como sempre para respondê-los.

Obrigado pela ajuda.

Também tenho recebido perguntas sobre participações pessoais no ano que vem. A Bantam provavelmente vai me enviar em uma turnê promocional de A TORMENTA DE ESPADAS, mas não sei que datas e cidades estarão envolvidas. Vou viajar para a Alemanha em outubro; o plano é aparecer em uma convenção em Leipzig, participar da Feira do Livro de Frankfurt, e fazer uma sessão de autógrafos em uma loja em Berlim. Também estarei em Chicago no Dia do Trabalho para a World SF Convention. A Rivercon em Louisville, Kentucky, em julho, também é uma possibilidade forte, e a Westercon em Honolulu em 4 de julho é uma certeza. Vou fazer sessões de leitores na maioria dessas convenções.

Espero que 2000 seja um ótimo ano para todos nós. (É o ano 300 nos Sete Reinos. Achei que toda a magia pudesse parar de funcionar por conta do bug de feitiços do ano 300, mas depois pensei, “nah”).

Autógrafos na Califórnia

Post em fórum. 13 de janeiro de 2000.

Obrigado pelas palavras amáveis. Espero que goste dos livros que estão por vir tanto quanto gostou dos dois primeiros.

Quanto a autógrafos na Califórnia… nos dois primeiros volumes, a Bantam agendou sessões em San Diego (Mysterious Galaxy), Los Angeles (Dangerous Visions), e a Bay Area (a Kepler’s no Menlo Park e a Dark Carnival em Berkeley). Imagino que voltarei a alguns desses mesmos lugares novamente quando A TORMENTA DE ESPADAS sair.

A Agonia da Terra Jack Vance
Capa de edição brasileira de A Agonia da Terra, de Jack Vance, um dos autores preferidos de GRRM. Fonte: Livraria A Traça.

Hobb e Vance

Correspondência com fã, enviada por ZER0HOUR. 16 de janeiro de 2000.

Primeiramente, queria te parabenizar pelo quão… qual seria uma boa palavra… ansioso você deixou todo mundo ao não revelar o mais novo personagem adicionado em A Tormenta de Espadas. Uma pergunta (não, não vou perguntar quem é, por mais que eu queira saber), você planeja revela a identidade do personagem antes do lançamento do livro, ou vai ficar quieto e deixar o primeiro falastrão anunciar quando o tiver em mãos?

Vou ficar quieto, então acho que a revelação vai ficar para o supracitado falastrão.

<>

Robin Hobb é muito boa. A série da Saga do Assassino dela foi excelente, mas acho que a atual Os Mercadores de Navios-Vivos é ainda melhor. Se você ainda não experimentou, tem sempre o Jack Vance, que considero o maior fantasista vivo. Experimente qualquer um da série Agonia da Terra, ou a trilogia de Lyonnesse. Coisa magnífica.

Influência da Guerra das Rosas

Correspondência com fã, enviada por ZER0HOUR. 18 de janeiro de 2000.

É verdade que você baseou As Crônicas de Gelo e Fogo na Guerra das Rosas?

Não, na verdade. Eu com certeza quis dar à minha série uma base forte da história medieval real, ao contrário do que acontece em outros romances de fantasia, mas bebi em um grande número de fontes e períodos. A Guerra das Rosas, sim, mas também a Guerra dos Cem Anos, as Cruzadas, a Conquista Normanda… e por aí vai.

Conquista normanda
O desembarque normando na Inglaterra. Cena da Tapeçaria de Bayeux. Fonte: Wikimedia Commons.

Tecnologia em Westeros

Correspondência com fã, enviada por G. Rome. 21 de janeiro de 2000.

Tem um aspecto de G&F (e de toda a alta fantasia/fantasia medieval) que me quebra a cabeça. Por que há tão pouco progresso tecnológico? Os Stark são senhores e reis medievais por milênios, e parece que há pouquíssima chance de Westeros jamais progredir para além de uma sociedade medieval. Isso é porque a existência de magia inibe ou impede um progresso tecnológico linear?

Oh, eu não iria tão longe.

Corrente de meistre
The Chain, por Mike Capprotti. © Fantasy Flight Games.

Não sei se “progresso tecnológico linear” é necessariamente inevitável em uma sociedade. Na verdade, se você olhar o mundo real, só aconteceu uma vez. Outras culturas e sociedades existiram por centenas e em alguns casos milhares de anos sem nunca vivenciarem mudanças tecnológicas significativas.

No caso específico de Westeros, a natureza imprevisível das mudanças de estação e a severidade dos invernos devem desempenhar algum papel.

Acredito, sim, que a magia talvez torne o desenvolvimento do método científico menos provável. Se os homens podem voar por meio de um feitiço, os Irmãos Wright vão aparecer? Ou até o Da Vinci? Pergunta interessante, e não tenho certeza se sei a resposta.

Boas notícias e más notícias

Correspondência com fã, enviada por Elio M. García, Jr.. 27 de janeiro de 2000.

As Boas Notícias: A FÚRIA DOS REIS recebeu indicações suficientes para aparecer na lista preliminar do Prêmio Nebula. Os membros da SFWA (os Escritores de Ficção Científica da América) agora estão votando para decidir quais cinco ou seis livros farão parte da lista final e serão indicados ao Nebula. Todos estão convidados a manter os dedos cruzados.

As Más Notícias: Ainda não entreguei A TORMENTA DE ESPADAS a minhas editoras. Porém, estou chegando muito perto, e espero que não demore muito mais.

Há exatos 19 anos acontecia uma situação nada desconhecida dos fãs atuais de George R. R. Martin: ansiedade total pelo lançamento do volume seguinte de As Crônicas de Gelo e Fogo – à época, ainda o terceiro livro, A Tormenta de Espadas. E já podíamos observar tanto o otimismo de George quanto sua dificuldade de fazer estimativas concretas (exatamente como agora).

A Guerra das Rosas, já mencionada em vários AFMs (1, 2 e 12, por exemplo) volta à tona nas perguntas dos fãs, e George reitera que não se trata de correspondências exatas (como alguns leitores parecem presumir), e que também se inspirou em elementos de diversos outros períodos históricos.

A pergunta mais interessante talvez seja mesmo a que se refere ao desenvolvimento tecnológico em Westeros. Já traduzimos um artigo a esse respeito aqui no site, mas a verdade é que não existe realmente muita resposta. Um breakthrough tecnológico, como apontou George, não é uma regra ao longo da história do mundo real, mas uma exceção.

Especificamente quanto à questão tecnológica em Westeros, existem algumas hipóteses populares na web de que não só a magia de forma geral, mas os dragões especificamente seriam a razão para essa aparente estagnação. Essa ideia não me parece razoável: os dragões só estão em Westeros há 300 e poucos anos, e a sociedade do continente é como é há milhares.

De fato é um tanto estranho que a sociedade westerosi seja tão consistente ao longo de vários milêniosa. Ainda que não houvesse avanços tecnológicos significativos, seria de se presumir que pelo menos alterações mais relevantes na configuração geopolítica existissem. No final das contas, me pareceu que não existe mesmo uma explicação tão racional para tanto: acaba ficando mesmo na conta da conveniência do autor.

E assim o AFM número 14, o primeiro de 2019 (e do ano 2000), chega ao fim. A décima quinta edição de Assim Falou Martin está a caminho. A caixa de comentários para discussão da edição 14 de falas de George R. R. Martin está aberta abaixo. Para acessar a coleção completa, clique aqui.