Olá! Esta é a quarta edição de Pergunte ao Conselho, nossa editoria em que a equipe do Gelo & Fogo responde perguntas enviadas pelos leitores. Para enviar sua dúvida ou questionamento, use o formulário que está aqui.
Confira a seguir três perguntas desta semana e nossas respostas:
Com a morte de Tommen, para quem, por direito, passaria o Trono de Ferro? Na série, Cersei se apossou do Trono. Ela teria legitimidade para tal, por ser a mãe do Rei? Outra dúvida é sobre o título “Protetor do Reino”. Joffrey possuia esse título, mas Tommen aparentemente não. Há alguma razão em particular? Ambos não haviam atingido a maioridade ainda.
(Thallez Fernandez)
Felipe Bini: Oi, Thallez. Responderei à pergunta com base no que os livros nos informam, uma vez que a série já provou que pode distorcer quaisquer regras ou costumes se isso for necessário para que o enredo avance até onde os roteiristas querem.
A sucessão é, via de regra, definida com base em descendência. Assim, os filhos (e netos, bisnetos etc.) de um rei são quem o sucede, e na ausência desses, surgem como sucessores seus parentes que também sejam descendentes de um rei anterior (os irmãos, por exemplo). O direito de Tommen ao Trono deriva do fato de ele ser (para todos os efeitos) filho de Robert, o rei anterior (cuja pretensão derivava de sua descendência de Rhaelle, filha do Rei Aegon V).
Cersei não faz parte de uma linha sucessória real, mesmo sendo mãe de um rei. Ela não tem ancestrais reais (conhecidos), então não faz qualquer sentido que ela suceda o filho em situações normais. Na eventualidade da morte de Tommen, mesmo em tempos de paz, haveria provavelmente uma crise sucessória. Há alguns anos circularam matérias na web dizendo que uma árvore genealógica Baratheon indicaria que os descendentes deles seriam os próprios Lannisters (o que significaria que Cersei poderia ser legitimamente a herdeira), mas a árvore não é canônica (tendo sido criada para um RPG do Westeros.org).
Os dois principais pretendentes seriam Myrcella e Stannis: a primeira como filha de Robert (o rei mais próximo), e o segundo usando a mesma pretensão de Robert (a descendência de Aegon V). Para o caso de Myrcella, porém, há a complicação de precedentes estabelecidos pela dinastia anterior (Targaryen), da qual a pretensão Baratheon também deriva.
No Grande Conselho de 101, Laenor Velaryon, cuja pretensão derivava de uma linha feminina, foi preterido em favor de Viserys I, o que levou muitos nobres a acreditarem que se estabelecera um precedente no sentido de que uma mulher não podia herdar e nem transmitir indiretamente o Trono de Ferro. Isso foi contradito alguns anos mais tarde, quando o próprio Viserys nomeou a filha Rhaenyra como sua herdeira, contrariando o precedente (e dando origem à Dança dos Dragões). Após o conflito, o costume passou a ser no sentido de que as mulheres vinham atrás de todos os homens na sucessão (não apenas seus irmãos).
Nesse sentido, Stannis teria preferência sobre Myrcella, mas não há qualquer certeza sobre se a dinastia Baratheon também herdaria esse costume Targaryen – que tampouco é muitíssimo firme. Na situação atual dos livros, Stannis é visto como um rebelde para o ramo de Porto Real da Casa Baratheon, logo estaria excluído da sucessão (bem como Shireen). Não haveria, portanto, um herdeiro óbvio.
Diante da ausência de um herdeiro claro, o mais provável é que em um cenário de paz nos Sete Reinos, a eventual morte de Tommen resultaria na convocação de um Grande Conselho, em que os lordes avaliariam vários “candidatos” (claro que todos minimamente aparentados com a dinastia) e escolheriam o novo Rei. Num contexto de guerra, a situação seria um prato cheio para uma guerra civil sucessória.
Quanto à segunda pergunta, o título de “Protetor do Reino” é tradicionalmente conferido ao Rei dos Sete Reinos, mas não necessariamente. O título aparentemente se aplica ao comando militar das tropas submetidas ao Trono de Ferro. Ao longo da história (imaginária), houve casos de pessoas que atuaram como Protetor do Reino sem serem reis – Robert, em seu testamento, declara Eddard como Regente e Protetor do Reino até que seu herdeiro atinja a maioridade, por exemplo.
Os casos de Protetores do Reino não-reis foram de regentes ou Mãos, em situações em que o rei estava incapacitado ou ainda fosse menor, mas não há uma regra posta que preveja em que circunstâncias exatas isso ocorrerá – acaba mesmo dependendo de conveniência e oportunidade, caso a caso.
Como não há norma absoluta, o título foi conferido a Joffrey mas não a Tommen, ainda que ambos ainda fossem menores. No caso de Tommen, Cersei recebe esse título, que depois é passado para Kevan (na obra original). Na adaptação televisiva, o título é conferido a Tywin a princípio, e após sua morte Margaery sugere que ele teria sido revertido ao próprio Tommen.
Quais são as principais diferenças entre Euron dos livros e o da série?
(Oscar Alves)
Felipe Bini: Obrigado pela participação, Oscar! Listaremos em tópicos as diferenças entre o Euron original e sua versão da série de TV (incluindo informações de Os Ventos do Inverno):
Olá, uma questão que tem me gerado dúvida a respeito das crônicas é ver as pessoas insistindo que os filhos de Rhaegar foram deserdados pelo Aerys. Elas usam como base o trecho do Mundo de Gelo e Fogo que diz que após a morte de Rhaegar, seu pai mandou seu novo herdeiro, Viserys, para Pedra do Dragão, sendo que pela linha sucessória, Aegon, filho de Rhaegar, deveria ser o herdeiro. Nesse trecho o que fica claro para mim é que Aerys simplesmente colocou Viserys a frente de Aegon, não que ele deserdou os netos. Mas ultimamente vejo muito as pessoas afirmarem que nem Aegon (seja ele verdadeiro ou não) nem Jon (que até onde sabemos continua sendo bastardo) tem alguma pretensão ao trono que pela linha sucessória dos Targaryen deve passar para a Daenerys. O fato é que Aerys nem sabia sabia que Rhaella estava grávida, pois ela estava no comecinho da gravidez quando foi para Pedra do Dragão, então não há como afirmar que ele declarou que seus filhos estavam a frente de seus netos, pois filho ele só tinha um, e o trecho de o Mundo de Gelo e Fogo não dá indícios de que Aegon e Rhaenys tenham sido deserdados, apenas que perderam sua posição regular para o tio. Em a Dança dos Dragões, Tyrion diz para o Jovem Griff que Daenerys não iria apreciar um sobrinho que viesse suplicando a ela, princialmente se esse sobrinho tivesse a pretenção maior que a dela. É possível dizer que a descendência de Rhaegar está realmente deserdada ou isso é realmente só um equívoco de interpretação?
(Sanny Oliveira de Jesus)
Felipe Bini: Olá, Sanny! Você está certa, não há menção nos livros a que os filhos de Rhaegar tenham sido deserdados por Aerys. A única menção ao fato de que Viserys foi nomeado herdeiro de Aerys é esta:
Quando as novidades chegaram à Fortaleza Vermelha, dizem que Aerys amaldiçoou os dorneses, certo de que Lewyn traíra Rhaegar. Ele mandou sua rainha grávida, Rhaella, e seu filho mais jovem e novo herdeiro, Viserys, para Pedra do Dragão, mas a princesa Elia foi obrigada a permanecer em Porto Real com os filhos de Rhaegar como reféns contra Dorne.
(O Mundo de Gelo e Fogo – A Queda dos Dragões – O Fim)
Em termos gerais, o fato de um lorde (ou rei) nomear outra pessoa que não seu primogênito como herdeiro (que é o costume) não significa automaticamente deserção das outras pessoas presentes na linha de sucessão. Nesse caso específico dos herdeiros de Aerys, a discussão se torna até um tanto vazia, pois no contexto futuro das Crônicas uma guerra será inevitável para a decisão de um novo Rei ou Rainha, e nesses casos a legitimidade das pretensões se torna bastante menos rigorosa.
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